Em semana quente, CPI quer saber como reverendo conseguiu mais acesso ao governo que a Pfizer
Tempo de leitura: 3 minDa Redação
Esta será uma semana quente na CPI da Pandemia.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) está encafifado com um fato: como o PM da ativa Luiz Paulo Dominghetti e o reverendo Amilton Gomes de Paula conseguiram mais acesso ao governo Bolsonaro para negociar vacinas do que empresas renomadas como a Pfizer e a Janssen?
Encafifado é palavra antiga: bolado ou intrigado seria melhor.
Em entrevista ao Jornal das Dez, da Globonews, Randolfe apresentou uma cronologia que realmente surpreende.
Ela demonstra que o dono da Precisa/Global, Francisco Emerson Maximiano, desembarcou em Nova Deli, a capital da Índia, para fazer a intermediação com a empresa local Bharat Biotech, argumentando que pretendia “acabar” com o monopólio da Pfizer.
Maximiano contou com o apoio do embaixador brasileiro e mensagem do presidente Jair Bolsonaro ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, falando em interesse na Covaxin.
Isso, enquanto as negociações com a Pfizer e a Janssen patinavam, para não falar do desprezo explícito de Bolsonaro pela Coronavac, produzida no Instituto Butantan.
O preço da dose da Covaxin saltou rapidamente de U$ 10 para U$ 15, superior à da Pfizer, uma inflação que Randolfe considera surpreendente.
O governo chegou a reservar R$ 1,6 bilhão do orçamento para a compra, que só não foi bem sucedida porque o servidor público Luís Ricardo Miranda se negou a concordar com um adiantamento de U$ 45 milhões, que seriam depositados em conta no paraíso fiscal de Cingapura em nome de uma empresa, a Madison, que nem constava do contrato.
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No início do ano, emenda do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), a MP do governo, autorizou o pagamento antecipado por vacinas, sem que a empresa vendedora pudesse ser punida se não entregasse todas as doses prometidas.
De acordo com o deputado Luís Miranda (DEM-DF), que denunciou o esquema em encontro pessoal com Jair Bolsonaro, o presidente atribuiu a tramoia a Barros — até hoje, o ocupante do Planalto não falou sobre o assunto, nem Barros deixou sua posição de líder na Câmara.
Randolfe lembra que, assim como Maximiano, o cabo da ativa da PM de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominghetti, teve acesso inédito a integrantes do Ministério da Saúde para vender vacinas.
Mensagens encontradas no celular dele, reveladas pelo Jornal Nacional, mostram que Dominghetti e seus parceiros, ainda não identificados, iam embolsar 25 centavos de dólar por dose.
Como eles prometiam 400 milhões de doses, embolsariam U$ 100 milhões, ou R$ 509 milhões de comissão.
Dominghetti diz ter negociado com o secretário executivo do Ministério da Saúde, o coronel da reserva Élcio Franco, e com o tenente-coronel Marcelo Blanco, diretor substituto do Departamento de Logística.
Ambos deixaram seus cargos, Élcio em 26 de março e Blanco no dia 30 de junho.
Os militares teriam participado de um “jantar da propina” em um restaurante de um shopping de Brasília, quando Élcio teria pedido ao PM o acréscimo de preço de U$ 1 dólar por dose.
O PM dizia atuar em nome de outra intermediária, a Davati Medical Supplies, dos Estados Unidos, que enxergou na venda de vacinas uma chance de ganhar dinheiro.
O terceiro intermediário identificado nas negociações é o reverendo Amilton Gomes de Paula.
Mensagens divulgadas pelo Jornal Nacional mostram que o reverendo, da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, uma ONG, recebeu autorização do diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz, para negociar — também através da Davati — a compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca.
“Nós solicitamos com urgência o FCO atualizado, com o valor de US$17,50 como acordado em 5 de março e com a data de entrega”, escreveu o reverendo ao presidente da Davati, Herman Cardenas.
Desta negociação teria participado o presidente do Instituto Força Brasil, coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida.
O Brasil acabou comprando doses da AstraZeneca por U$ 5,25.
Com os depoimentos desta semana, a CPI pretende apurar quais eram os grupos que se digladiavam dentro do Ministério da Saúde para ganhar dinheiro enquanto os brasileiros morriam de covid-19.
Em recente entrevista ao Viomundo, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha — que enfrentou a H1N1 — disse que nunca recorreu a intermediários para a compra de vacinas e que as compras tradicionalmente sempre foram feitas diretamente entre o governo e empresas farmacêuticas.
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