Em carta a secretário de Estado, congressistas dos EUA preocupados com ameaças de Bolsonaro; leia
Tempo de leitura: 4 minPT na Câmara
Abaixo, a tradução de carta enviada ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Michael Pompeo, por 30 membros do Congresso daquele país, na qual manifestam preocupação com a democracia no Brasil e todas as ameaças patrocinadas por Bolsonaro.
No documento, os parlamentares lembram também que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – “reconhecido como o líder político mais popular no Brasil – foi impedido de concorrer em circunstâncias polêmicas que colocam em risco o direito do povo do Brasil de escolher livremente seu presidente.”
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Congresso dos Estados Unidos
4 de Março, 2019
Ao honorável Michael R. Pompeo
Secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos
Caro Secretário Pompeo:
Estamos escrevendo para enfatizar publicamente a importância de defender os direitos humanos do povo brasileiro. Desde a eleição do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro como presidente, ficamos particularmente alarmados com a ameaça que a agenda de Bolsonaro representa para a comunidade LGBTQ + e outras comunidades minoritárias, mulheres, ativistas trabalhistas e dissidentes políticos no Brasil.
Estamos profundamente preocupados que, ao atacar direitos políticos e sociais duramente conquistados, Bolsonaro esteja pondo em perigo o futuro democrático do Brasil a longo prazo.
Como uma democracia ainda em desenvolvimento, o Brasil deve ser particularmente vigilante na proteção de suas instituições e na garantia da separação de poderes no país. Mesmo antes de Bolsonaro tomar posse, as tendências regressivas que pressionavam contra a democracia do Brasil eram claras.
Deveria preocupar a todos aqueles que estão comprometidos com a democracia brasileira que Bolsonaro foi eleito depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – amplamente reconhecido como o líder político mais popular no Brasil – foi impedido de concorrer em circunstâncias polêmicas que colocam em risco o direito do povo do Brasil de escolher livremente seu presidente.
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Embora as eleições de outubro de 2018 tenham colocado Bolsonaro na Presidência, acreditamos que aqueles de nós que representam os Estados Unidos devem deixar claro que a fala e as ações que aumentam a divisão, o ódio e a exclusão ameaçam a democracia e suas instituições vitais. Estamos particularmente alarmados com o impacto que Bolsonaro, que se descreveu como “homofóbico” – e muito orgulhoso disso”, e fez afirmações odiosas contra indivíduos LGBTQ + ao longo de sua carreira política, terá sobre a comunidade LGBTQ + e dissidentes políticos.
Num sinal claro do perigo enfrentado pela comunidade brasileira LGBTQ+ e dissidentes políticos, o primeiro membro abertamente gay do Congresso Nacional do Brasil, Jean Wyllys, anunciou recentemente que renunciaria a sua posição e deixaria o Brasil devido aos temores por sua segurança em meio à crescente violência e intimidação contra indivíduos LGBTQ +.
Nas semanas que se seguiram à posse de Bolsonaro, ele já começou a minar os direitos dos indivíduos LGBTQ + e membros de outras comunidades minoritárias.
No primeiro dia na Presidência, ele assinou decretos retirando os direitos LGBTQ + de seu status de direitos humanos protegidos bem como reduzindo as proteções à terra para comunidades indígenas e descendentes de escravos.
A decisão de Bolsonaro de transferir o poder de regulamentar e criar reservas indígenas para o Ministério da Agricultura, juntamente com outras políticas que sinalizam sua intenção de buscar agressivamente o desmatamento na Amazônia, despertou profunda preocupação entre os defensores dos direitos indígenas e proteção ambiental – tanto no Brasil quanto no mundo.
Nós também estamos preocupados com os direitos das mulheres sendo infringidos pelo governo Bolsonaro.
A alta taxa de homicídios e outras formas de violência contra as mulheres no Brasil está bem documentada, e o histórico de declarações violentas e machistas de Bolsonaro contra as mulheres é extenso.
A retórica degradante e desumanizante de Bolsonaro, combinada com ações como a assinatura de um decreto que amplia significativamente o acesso a armas, sugere que o abuso doméstico e outras formas de violência contra as mulheres não serão uma prioridade para seu governo.
Recentemente, o governo de Bolsonaro anunciou que removeria as referências ao feminismo e à violência contra as mulheres dos livros escolares das escolas públicas, além das referências relacionadas à comunidade LGBTQ +.
Os direitos dos trabalhadores e aqueles que os defendem também estão em perigo desde que o governo Bolsonaro eliminou o Ministério do Trabalho do Brasil, com as responsabilidades anteriormente consagradas no Ministério do Trabalho agora divididas entre três ministérios distintos.
O Ministério da Justiça – normalmente voltado para atividades criminosas – recebeu a autoridade de conceder ou negar direitos de representação legal aos sindicatos em um processo cada vez mais politizado, capaz de estigmatizar e reduzir a atividade sindical vital e legítima.
Bolsonaro também demonstrou uma clara hostilidade à própria democracia.
Ele expressou sua admiração pela ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, elogiou a tortura e prometeu designar dissidentes como inimigos internos e membros de organizações terroristas.
Em uma passeata, uma semana antes de sua eleição, Bolsonaro prometeu levar a cabo seus opositores políticos em “uma limpeza nunca vista antes na história do Brasil”, sugerindo que adversários políticos como o candidato presidencial rival de 2018, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, poderiam ser presos ou enfrentar a violência.
Estamos profundamente decepcionados pelo fato de que, longe de expressar a preocupação dos Estados Unidos com a defesa dos direitos humanos no Brasil, o governo fez declarações públicas elogiando Bolsonaro.
Como membros do Congresso, pretendemos continuar acompanhando de perto essa situação à medida que ela se desenrola.
Como o principal diplomata de nossa nação, cabe a você representar os valores mais elevados da nação, defendendo os direitos fundamentais e a dignidade de todas as pessoas no Brasil.
Sinceramente,
Assinado por 30 Deputados Federais dos EUA; confira os nomes no original, em inglês, abaixo
Comentários
Zé Maria
Ruralista Salles fez uma comparação com o nazismo
ao criticar uma coluna escrita pelo jornalista alemão
Philipp Lichterbeck para a DW.
Na coluna Cartas do Rio, que Lichterbeck mantém na DW Brasil, o jornalista alemão criticou o governo Bolsonaro em texto intitulado O Projeto de Mefistófeles (https://www.dw.com/pt-br/o-projeto-de-mefist%C3%B3feles/a-47784823).
“A destruição do meio ambiente brasileiro parece ser
um dos principais projetos do novo governo.
Ele está numa missão mefistofélica:
quer acabar com os bons costumes.
Com os direitos humanos. Com a ciência.
Com os projetos de emancipação.
Com o próprio pensamento esclarecido.
São pessoas que agem e falam com arrogância e crueldade.
São pessoas que riem quando morre uma criança de sete anos.
Que comemoram quando a polícia comete massacres em favelas,
quando morrem ambientalistas ou vereadoras negras.
Pessoas que não conhecem a diferença entre flertar e assediar.
Pessoas com relações com milícias.
Pessoas que falam toda hora em Deus mas mentem, xingam e difamam.
Pessoas que gritam ‘zero corrupção!’, mas que são corruptas.”
Salles compartilhou a coluna na sua conta no Twitter,
destacando o segundo parágrafo acima e acrescentando seu próprio comentário à coluna.
“Lamentável que um canal público alemão escreva isso do Brasil. Essa sua descrição se parece mais com o que a própria Alemanha fez com as crianças judias e tantos outros milhões de torturados e mortos em seus campos de concentração…”, escreveu o ministro.
íntegra:
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/ministro-evoca-nazismo-para-responder-a-colunista-da-dw,10f655d1bd528171fca4e0dbacfdd88dgb20wqsw.html
Júlio Curvêllo
Há que se receber esse tipo de “apoio” dos congressistas dos EUA com alguma reserva.
É sempre bom lembrar que não há tantas diferenças assim, entre Democratas e Republicanos, as duas principais forças políticas Estadunidenses.
Nada garante que a maneira como o atual Executivo Estadunidense incensa Bolsonaro, estimulando-o em seus excessos (que não são poucos), não esteja concatenado (ou, pelo menos, conte) com a reprovação do Congresso Americano.
E, para quê?
Para justificar, aos olhos do mundo, uma intervenção saneadora, que – para consumo externo – viria proteger a Democracia, os Direitos Humanos e o Meio Ambiente, quando, na verdade, iria apenas servir como pretexto para retirar do controle Brasileiro a Amazônia e outras áreas de interesse, supostamente ameaçadas na sua função de Reservas Indígenas e “Pulmão do Planeta”.
O libelo dos Congressistas Estadunidenses pode até ser correto e despido de segundas intenções, mas a História não aconselha acreditar nessa hipótese.
Nossos problemas devem ser resolvidos internamente. Já é bastante ruim termos que conviver com os problemas que eles nos impõe.
Que não nos forcem a conviver com as “soluções” que nos oferecem.
Bel
O mesmo que estão fazendo com o Brasil, querem fazer na Venezuela. Será que o povo venezuelano é tão mal informado quanto o brasileiro e vai trocar Maduro por Guaidó?
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