Eduardo Condé: Bolsonaro faz de Moro, enfraquecido, um reles peãozinho que ele manipula

Tempo de leitura: 3 min

por Eduardo Salomão Condé, especial para o Viomundo

O que tem o Bolsonaro, ora presidente, com todo o escândalo do Judiciário?

Absolutamente tudo. Basta se afastar da cena imediata e observar o panorama em seu conjunto.

O que o governo inapetente, entreguista e destruidor de direitos sociais tem com as revelações do The Intercept, que parece operar em outra esfera?

Absolutamente tudo. O movimento de longa duração, desde 2013 até o presente, vincula a parte indecente e midiática do poder judiciário, a ação deletéria e destrutiva da denominada “grande imprensa” e a ascensão de um “poder conservador” que permanecia subterrâneo e ascendeu, e que pode chegar perto de 30% do eleitorado (o que é alarmante, não por ser liberal, o que não é, mas por suas inclinações ao comportamento fascista).

Ombro a ombro a estes fatores, a operação associada à virada conservadora e reativa que envolve a inversão das prioridades em política social e a entrega das riquezas nacionais ao capital internacional (com implicações na política externa desde Temer), o comportamento crescentemente anti-democrático e golpista que tomou conta do conluio burguesia rentista/judiciário indecente/imprensa de pensamento único e com a ajuda dela, sempre ela, a classe média oscilante e eventualmente com mentalidade udenista.

A destruição da política como atividade essencial para a vida democrática e, por cima de tudo, a desmontagem de um projeto nacional de desenvolvimento, envolvendo, algo surpreendente para quem o vê com binóculo e não de perto, os militares identificados aos interesses externos e liberais de ocasião.

Para tudo dar certo era preciso:

1 – criminalizar a esquerda e desmontar a política democrática – isto vai do impeachment até a desconstrução partidária, arrastando inclusive o centro;

2 – transformar a parcela midiática do judiciário em ator decisivo para “limpar” o Brasil “a qualquer preço”;

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3 – garantir reformas estruturais que mantenham intocáveis privilégios seculares e a rota rentista, longe da economia real que mostra fome, desemprego, desordem produtiva,salários comprometidos e mercado de trabalho colonizado pela “liberdade do indivíduo”;

4 – a imprensa ser o veículo demonstrativo das reformas e da glorificação do judiciário midiático, para o controle da narrativa.

Este conjunto produziu esse senhor que desonra a cadeira presidencial.

Em uma metáfora enxadrística, os peões do jogo são a matilha em camisa da CBF, deputados sem noção do PSL e alhures e os ingênuos crédulos de que Moro e Paulo Guedes são a salvação do governo medíocre.

As torres são a justiça midiática e a imprensa, os bispos, movendo-se diagonalmente, são os políticos e religiosos oportunistas e os cavalos são as forças armadas, uma guarda que salta sobre os ombros de todos e oscilam em proteção à rainha e ao rei.

A rainha é Bolsonaro e seus movimentos por todos os lados. O rei? Ora, a economia, o alfa e o ômega onde tudo se realiza, onde a burguesia nacional se locupleta e mata a própria indústria e as empresas nacionais.

Resta saber quem joga com as peças brancas. Este cenário indica que eles começaram o jogo com as brancas e acuaram as pretas. Esta semana as pretas encontraram um caminho de defesa e, quem sabe, estarão a armar um contra-ataque.

O caráter do ora presidente é visivelmente distorcido. Recentemente praticou o mais baixo e elementar populismo, no pior sentido do termo (e fora do sentido sociológico), e levou o enfraquecido e conhecido ex-juiz parcial e golpista, o Moro, a um jogo do Flamengo.

Foi testar sua popularidade e do ministro em um estádio mais da metade vazio e não sei bem se há algo a comemorar. Ele faz o ministro de um peãozinho reles que ele manipula. E o sujeito merece, dado conjunto da obra.

Quem não merece é o país, com este conluio mídia, direita proto-fascista, justiça midiática e burguesia rentista dando as cartas, um território destroçado em sua economia real.

Graças ao The Intercept  uma bolha furou. Que venha mais.

Afinal, dizem inclusive os ingênuos apoiadores de Moro e Guedes e todo o conluio golpista, o pais não precisa “ser passado a limpo” e “não temos político de estimação”? Pois vamos, é a tarefa do momento.

Ah sim, e “Lula livre”, porque um processo fraudulento não pode manter nenhum cidadão condenado. Além de Lula trata-se de mim, de você , de todos nós. E dos nossos direitos.
A primavera sempre chega. Seus sinais começam dentro do inverno.

*Eduardo Salomão Condé é  professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mestre em ciência Política e Doutor Em Economia Aplicada pela Unicamp

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Zé Maria

As Milícias dos Milicos, do Moro e do Bolsonaro são Vaquinhas de presépio do Governo dos EUA.

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