Daniel Valença: Esquerda repete 2013, com a base em dúvida sobre greve
Tempo de leitura: 2 minA paralisação dos caminhoneiros e a dessintonia entre as esquerdas e suas direções
por Daniel Valença*, especial para o Viomundo
A atual mobilização dos caminhoneiros relembra, em parte, os impasses e desafios que a esquerda brasileira enfrentou durante as jornadas de junho de 2013.
Apesar das várias diferenças entre os dois processos políticos, ambos tiveram, como elemento comum, algum nível de adesão espontânea e disputas de seus sentidos, pela esquerda e pela direita.
Nas jornadas de junho, no intervalo entre 02 e 20 de junho, as direções majoritárias das esquerdas negligenciaram os acontecimentos, bem como a possibilidade de dirigi-lo politicamente.
Consequentemente, as direitas ressignificaram os atos e transformaram o dia 20 em um grande ato de direita, mesmo tendo as esquerdas comparecido ao fatídico dia.
Agora, na paralisação dos caminhoneiros, as direções foram precisas: a Frente Brasil Popular, as centrais sindicais e os partidos de esquerda declararam apoio ao movimento, e desde o início o politizaram.
O problema central estaria na tentativa de privatização e sucateamento da Petrobrás, bem como na política de preços de Temer, que atrela reajuste automático dos combustíveis quando da alta do dólar e do petróleo, e não nos impostos.
Por outro lado, sua base social não as seguiu: foram dias de intermináveis discussões sobre se estaríamos perante uma greve ou locaute, frequentemente pautadas no senso comum e sem nenhuma implicação prática.
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É como se a esquerda renunciasse a disputar hegemonia — os valores e sentidos comuns que orientam a sociedade – e a luta política.
É como se aguardasse a sublevação ideal, existente apenas em nossos cérebros e devaneios.
A marxista Rosa Luxemburgo dizia, há um século, que as grandes transformações derivam de explosões populares autônomas, pois apenas elas têm o condão de mobilizar grandes massas.
Ao surgir de demandas reais, concretas, econômicas, de sobrevivência, elas arrastam multidões.
Mas, por outro lado, é nesse processo de luta que é possível politizar e fazer com que uma reivindicação pontual se transforme em estrutural.
Somente lutando e buscando uma direção política é possível politizar-se e, ao mesmo tempo, alterar profundamente a realidade.
Por enquanto, desperdiçamos as duas últimas mobilizações de massas no Brasil.
Não que a paralisação atual tenha levado milhares às ruas, mas ela irradiou-se pelo país e por toda sua composição social.
De imediato, nos resta recuperar a palavra de ordem “O Petróleo é nosso”, nos solidarizarmos com os caminhoneiros e, assim, preparar as condições objetivas para que a greve dos petroleiros transforme-se em greve dos brasileiros em luta pela soberania nacional.
Porém, a médio prazo, a dessintonia entre direção e base precisa ser superada.
É necessário aprofundar a relação orgânica entre a base social e suas entidades representativas, a formação política, a capacidade de agir, em bloco, diante de qualquer mudança de conjuntura.
Ou seja, quem se pretende de esquerda — enxerga-se no mundo e quer transformá-lo — tem de reconhecer que não apenas as nossas direções e representantes, mas todos e todas nós ainda estamos aquém do que nos exige o momento histórico do país.
*Daniel Araújo Valença, professor do curso de Direito da Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa).
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Comentários
Maurício
Francamente, aqui em Floripa e em SC no geral o movimento dos caminhoneiros é de direita das mais malucas possíveis, gente que ve a Globo e o Temer com comunistas! E com esse tipo de gente q a esquerda vai marchar? To fora irmãos.
MAAR
A escalada de factoides observada em 2013 foi planejada, promovida e financiada por organizações a serviço do imperialismo predatório, e tem muitas semelhanças com o atual locaute dos caminhões.
Li há pouco uma declaração do dirigente de uma confederação de caminhoneiros com a expressa afirmação de que interesses estranhos à categoria têm forçado a continuidade dos bloqueios nas estradas. E fato é que são esses ‘interesses estranhos’ que têm impedido a reversão do desabastecimento crescente.
E a própria pauta de exigências encampada pelos caminhoneiros evidencia o esdrúxulo favorecimento de interesses que são contrários aos da classe trabalhadora, visto que a extinção de impostos prejudica toda a população, e em especial trabalhadores precarizados como os motoristas de caminhão autônomos.
Olinto A. F. de godoy
Que esquerda Zé Mané? É a mania de se aproveitar da “benevolência” dos sites ditos progressistas com a titulação de pseudocomentaristas. Ninguém da esquerda sabe a diferença entre greve e locaute? Ninguém da esquerda sabe que a cosmovisão de Rosa Luxemburgo diz mais respeito à Alemanha do que à Rússia? Ninguém da esquerda sabe que Lula roubou o imposto de renda negativo do PSDB daí a magoa sem fim dos liberais? Etc etc. Etc. Volta pra academia…
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