Daniel Valença: Aos que não se cansam de lutar

Tempo de leitura: 3 min

Manifestantesalvorada contra o impeachment - Lula Marques AgPT

Manifestantes contra o impeachment em frente ao Palácio do Alvorada. Fotos: Lula Marques/AGPT

Aos que não cansam de lutar

por Daniel Valença, especial para o Viomundo

Sofremos hoje uma difícil derrota. Sem dúvida, corações e mentes por todo o país encontram-se dilacerados enquanto, em ilustres ambientes, misoginias e preconceitos de classe pululam em meio a gargalhadas.

É um momento que marca a nossa história, mas que nela não se encontra só. Palmares, Canudos, Praieira, Eldorado dos Carajás, Vargas, Goulart, Diretas Já, Colégio Eleitoral, eleições de 1989…. Um país de dimensões continentais não poderia ter poucas experiências de derrotas dos trabalhadores.

Mas é inquestionável que a cada movimento desse mar da história, a cada fluxo e refluxo, os que vivem do seu próprio trabalho levantam a cabeça e respiram, nem que seja por um breve momento.

Fim da escravidão, direito a férias, negras médicas, domésticas não condenadas à persistente semiescravidão, como bem lembrou o combatente senador Lindbergh. São respiros. Respiros em meio ao turbilhão, mas nem por isso menos importantes, não para os que respiram.

Mas, por anos desprezamos esse movimento das marés, esquecemos o que os momentos passados tinham a nos ensinar. Era como se esses anos, essas décadas, esses séculos, fossem coisas de um passado, distante. Críamos que era possível um movimento sem ressacas, sem torrentes.

Em 2013, algo estranho estava no ar. Após outubro de 2014, alguns já diziam haver um golpe em curso, enquanto se acreditava ser um arrocho econômico algo necessário ao interesse nacional.

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Interesse de quem? Dos que sempre se negaram a permitir que “os outros” respirassem? Dos que sempre cortaram pela raiz as ressacas e torrentes?

O momento mais épico desse golpe, que perdurou quase dois anos em gestação, sem dúvida, foi justamente aquele em que a sobrevivente da tortura e da ditadura enfrentou os seus algozes e denunciou ao país e ao mundo o que ocorre no movimento da história.

Este momento, que tanto intimidou e constrangeu aos que no passado bradavam firmemente, nos possibilitará novas torrentes com uma brevidade sem precedentes na história.

Dele não é possível sair sem lições.

A primeira é que as elites latino-americanas nunca aceitarão que seus co-nacionais respirem. No passado, companheiros nossos disseram que o que ocorrera na Venezuela, Paraguai, Honduras, era coisa de país pobre. Os que negam a história, seja ao transladar esquemas fixos para outras realidades ou para simplesmente ignorar lições que chegam do outro, viram o que era sólido se desmanchando no ar.

A segunda é que, ocorra o que houver, nunca os que lutam podem vir a ser confundidos, pelos que dependem dos esporádicos respiros, com aqueles que os sufocam. Entre nós há uma fronteira; intransponível, a não ser quando alcancemos outro patamar de sociabilidade.

Perdemos uma batalha. Não qualquer batalha, uma importante. Mas há batalhas em que uma derrota vale mais que inúmeras vitórias.

A resistência apenas começou. Como diria Gonzaguinha, fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos tudo, nós podemos mais; vamos lá fazer o que será.

Daniel Araújo Valença é professor do curso de Direito da UFERSA e militante do PT.

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Comentários

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Joao ricardo

Se é de batalhas que se vive a vida…

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