Constância Lima e Eduardo de Assis: Os caquéticos Cunha boys na cena do golpe

Tempo de leitura: 3 min

votação do impeachment

Os Cunha boys na cena do golpe

por Constância Lima Duarte e Eduardo de Assis Duarte, especial para o Viomundo

A sessão da Câmara dos Deputados de 17 de abril de 2016 entrará para a história como o mais deprimente vexame que o Brasil podia dar ao mundo.

Num espetáculo grotesco, os donos do poder mostraram suas caras, muitas delas invisíveis ou desconhecidas da população: entre os votantes, além dos velhos coronéis cheios de babas nas bochechas, dos porta-vozes da ditadura, latifundiários, e demais serviçais do capital, chamou a atenção a nova geração de demagogos da direita.

Numa Câmara comprometida com o banditismo mais sórdido, assistimos a um bando de filhinhos de papai dar voz e vez à truculência histórica das elites brasileiras. Abrigados em partidos que se inventam da noite para o dia, deixaram cair a máscara do bom mocismo jovem e se comportaram como são de verdade desde pequenos: herdeiros mimados da casa-grande.

É impressionante o número de deputados e deputadas filhos-netos-bisnetos-tetranetos dos velhos patriarcas oriundos do império e da colônia. Os sobrenomes remetem a clãs quase medievais, agraciados séculos atrás pelo rei de Portugal com as capitanias hereditárias. Receberam glebas de grande extensão tomadas dos índios e, desde então, construíram seus impérios familiares. Donos das terras, das mercadorias, do dinheiro, dos escravos, do poder. E, desde então, de pai para filho, de avô para neto, de bisavô para bisneto, de tetravô para tetraneto, o poder persiste sempre com os mesmos donos. Pode até mudar de mãos – as mãos que assinam os cheques, por exemplo. Mas nunca de donos.

A prova disso é que a política brasileira está cada vez mais povoada de nomes como Sarney Filho, Newton Junior, ACM Neto e, até mesmo, Artur Bisneto! E não são poucos, talvez metade ou mais daquele plenário não tenha ainda 50 anos…

São muitos: vereadores, prefeitos, deputados e senadores ungidos nos currais eleitorais contemporâneos – aí inclusa a manipulação midiática e religiosa – não para representar o povo, mas para obedecer a papai e vovô. São herdeiros dos “votos de cabresto”, que não constam dos testamentos, mas compõem a melhor parte da herança. Meninos e meninas obedientes, responsáveis pela continuidade do poder patriarcal, tornam-se ventríloquos do discurso conservador e falam em nome da moral e da ética, como se não fossem produtos do histórico processo de corrupção instalado na frágil democracia brasileira.

As cenas patéticas de 17 de abril estão escandalizando o mundo, provocando críticas em forma de editoriais, artigos, manifestos e muitos memes nas redes sociais. Somos motivo de horror e chacota. O clima de arquibancada da tropa de choque formada pelos Cunha boys, no entorno do microfone, escandalizou a todos.

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Desrespeitosos, debochados, agiam como se estivessem numa pelada de várzea ou numa rinha de galos, onde o grito substitui o argumento. Se convocados pelo chefe, não titubeariam em “partir pra ignorância”, no melhor estilo das gangues neonazistas. Agressivos, ofendiam e tentavam calar as falas contrárias ao impeachment. Machistas, jogaram o decoro no lixo e afrontaram parlamentares como Jandira Feghali, Jean Willys, Luiza Erundina, Margarida Salomão e muitos mais.

Vergonha!

Essa é a palavra que não sai da cabeça dos brasileiros conscientes do que sejam bons costumes e do verdadeiro significado da democracia. Entre muitas perguntas, o óbvio: será que essa turma não teve pais e mães para lhes ensinar que o respeito ao Outro é a base da convivência civilizada? Exaltados, comportaram-se como antigos senhores, chicote à mão. Donos da bola, acostumados a mandar, exibiram sem pejo seu reacionarismo. Comandados por um dos maiores gangsteres da política brasileira, atuaram como paus mandados do golpe, e passaram por cima da constituição e da vontade de milhões de eleitores.

Seus rostos jovens mal escondem seus pensamentos caquéticos.

O que será desse país quando crescerem?

Constância Lima Duarte e Eduardo de Assis Duarte são professores de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Veja também:

Fotos e vídeo do escracho na casa de Temer em São Paulo

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Comentários

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Ronan

Constância foi minha professora (de Clarice Lispector) na Faculdade de Letras da UFMG. Tenho orgulho de vê-la neste espaço opinando contra o golpe ao lado do professor Eduardo, salvo engano, seu marido. Na universidade, só os ignorantes não veem tantos benefícios nos últimos governos. As coisas não serão fáceis com Dilma, mas serão impossíveis com um presidente sem voto…

FrancoAtirador

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Bancada BBB é Phoderosa
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(https://twitter.com/palmeriodoria/status/723288333774917633)
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Sérgio

Um circo dos horrores. Anos e anos se passam e a Casa Grande não larga mão e faz de tudo, como agora, para manter seu status intacto. Não quer ceder anel, corre o risco ficar sem os dedos. O Brasil mudou e não quer mais ser Senzala, e tampouco colônia.
Será que a Globo e os Marinho vão esperar vinte anos para pedirem desculpas novamente e dizerem que erraram ao chamar este golpe de impitman? https://www.youtube.com/watch?v=bABCjGS-_M4

José Carlos Vieira Filho

Faltou aquela mocinha dos peitos de fora.

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