Bolsonaro e Comparato concordam em uma coisa: privatização da Vale foi mesmo O grande crime de Fernando Henrique Cardoso
Tempo de leitura: 5 minO jurista Comparato deu entrevista ao Viomundo sobre a privatização da Vale: a empresa tinha o mais completo mapa geológico do Brasil; ele criticou a privatização do pré-sal no governo Dilma sem saber o que viria adiante, nos governos Temer e Bolsonaro
Esse é um país que é roubado há 500 anos. A gente conhece o potencial mineral do Brasil. Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC, o direito mineral no Brasil. O crime que aconteceu. Jair Bolsonaro, presidente da República, em entrevista à imprensa sobre a Amazônia
Da Redação
Em uma coisa o presidente da República de extrema-direita, Jair Bolsonaro, e o jurista de esquerda Fábio Konder Comparato concordam: o Brasil foi roubado nos anos 90, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, durante a privatização da estatal Vale do Rio Doce.
A maior mineradora do Brasil, uma das maiores do mundo, é controlada hoje por investidores estrangeiros (45,1%), com 5,7% nas mãos da Bradespar, a companhia de investimentos do Bradesco.
O BNDES, através do BNDESPar, tem apenas 6,3% da maior jazida de minério de ferro do mundo, em Carajás, sem falar de tantos outros direitos minerários.
O minério embarca em trens gigantescos, atravessa a miséria do Pará e do Maranhão e embarca rumo ao Japão e à China (a Mitsui tem 5,6% das ações da empresa).
Diz-se que Shangai foi construída com o minério de ferro de Carajás.
Com a privatização da Vale, o Brasil abriu mão de ajudar a “fazer o preço” internacional do minério de ferro e do aço, que praticamente entregou aos intermediários e aos chineses.
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“A Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas, matérias-primas essenciais para a fabricação de aço. As rochas encontradas em Carajás são formadas, em média, por 67% de teor de minério de ferro (o teor mais alto do planeta)”, informa orgulhosamente a Vale em seu site.
A empresa foi vendida em 6 de maio de 1997 por R$ 3,3 bilhões, mas com imensas reservas minerais não apenas de minério de ferro, mas de manganês, níquel e cobre.
Um verdadeiro assalto ao patrimônio público promovido pelo então ministro do Planejamento, José Serra, com aval de FHC.
“O Brasil possui 10% das reservas mundiais de manganês, atrás apenas da Ucrânia (24%), África do Sul (22%) e Austrália (16%). A Vale é a maior produtora de manganês no Brasil e responde por cerca de 70% do mercado nacional. A Mina do Azul, no Pará, é responsável por 80% da nossa produção. Somos também líderes em ferroligas a base de manganês. As minas brasileiras do Azul, no Pará, e de Urucum, no Mato Grosso do Sul, destacam-se por terem minério de alto teor – pelo menos 40% de teor de manganês”, informa a própria Vale.
“A Vale é a maior produtora global de níquel, um dos metais mais versáteis do mundo, utilizado em diversas aplicações. Duro e maleável, o níquel é resistente à corrosão e mantém suas propriedades físicas e mecânicas mesmo quando submetido a temperaturas extremas. O níquel de alta qualidade produzido pela Vale é muito valorizado para aplicações em galvanização e em baterias”, diz a empresa.
Completa: “Na sua casa, o nosso níquel garante o brilho do acabamento das torneiras de metal e a energia do seu controle remoto. O minério é essencial na produção de itens que vão das moedinhas do seu bolso ao carro estacionado na sua garagem”.
“O cobre é o terceiro metal mais utilizado no mundo, atrás do ferro e do alumínio. 66% do consumo anual de cobre é voltado para aplicações elétricas. Produzimos cobre no Brasil e no Canadá. Nossas operações no Brasil estão localizadas em Carajás e se beneficiam da infraestrutura logística que já temos para o escoamento de minério de ferro”, informa a Vale.
Ligas de cobre e manganês com o alumínio são essenciais para a fabricação de aeronaves, mísseis e foguetes.
Em 13 de setembro de 1996, menos de oito meses antes de vender a Vale, o então presidente FHC colocou em vigor a Lei Kandir, de autoria do deputado tucano Antonio Kandir (substituiu Serra no Planejamento depois da venda da Vale), isentando do imposto de circulação de mercadorias os produtos primários ou semi-industrializados destinados à exportação.
Ou seja, o minério da Vale!
O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, que montou um blog exclusivamente dedicado à Vale, resumiu em artigo que reproduzimos no Viomundo, em 2012, referindo-se ao ano anterior:
“A Vale exportou no ano passado 97 milhões de toneladas de minério de ferro de Carajás, com faturamento de 11,7 bilhões de dólares, correspondentes a quase 20 bilhões de reais. Pois bem: esses R$ 20 bilhões renderam R$ 30 milhões de ICMS [ao Pará]. Ou 0,15%. Alíquota de desmoralizar qualquer erário; de massacrar qualquer povo”.
Em 1996, bem que o jurista Fábio Konder Comparato tentou paralisar o leilão, mas a “Justiça” brasileira dobrou-se a Fernando Henrique Cardoso e sua turma — Serra, Pedro Malan, Kandir e outros, que seguem por aí repaginando velhas ideias e causando danos.
Comparato contou os bastidores ao jornalista Gilberto Maringoni, em entrevista publicada na revista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA:
Desenvolvimento – O senhor se opôs às privatizações de empresas estatais nos anos 1990. Que balanço faz daquele processo hoje?
Comparato — Estou cada vez mais convencido de que aquilo foi um crime contra o patrimônio nacional. Se nós tivéssemos tido uma evolução humanista da mentalidade coletiva e uma verdadeira democratização, e não essa falsa democratização que se diz ter ocorrido em 1988, os autores desse crime deveriam ser julgados.
O episódio da venda da Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, revelou até que ponto o Poder Judiciário sofre a dominação do poder capitalista. Vou contar um episódio que não foi divulgado, mas é o retrato dessa submissão.
Foi proposta uma ação popular contra a privatização, em uma vara da Justiça Federal em São Paulo. Em seguida, foi concedida uma liminar para suspender o leilão, que deveria ocorrer na bolsa do Rio de Janeiro.
O governo da época apresentou recurso contra essa liminar ao Tribunal Regional Federal, que manteve suspensão. Em seguida, o governo produziu um recurso inexistente para que o processo chegasse ao Superior Tribunal de Justiça.
No STJ, armou-se todo um cerco em torno dos desembargadores, sobretudo daquele a quem foi distribuído o processo. Esse desembargador, imediatamente, deslocou a jurisdição do caso de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Lá, o caso chegou às mãos de uma juíza. Mais tarde, segundo seu próprio relato, ela recebeu um comunicado pessoal de outro juiz, dizendo ser ela obrigada a reformar a sentença oficial e julgar improcedente a ação popular proposta.
Até hoje, ainda não há uma solução para isso, porque a Vale do Rio Doce e o governo federal multiplicaram recursos.
Chegamos até o Superior Tribunal Federal, mas ainda não conseguimos uma decisão definitiva, mais de uma década depois. Isso é o retrato da Justiça neste país.
Desafios – Que crime o senhor alega terem sido cometidos nas privatizações?
Comparato – Os bens públicos não pertencem ao Estado, eles são geridos, administrados pelo Estado. Pertencem ao povo brasileiro.
A Vale do Rio Doce não foi vendida, foi doada. Em seu processo de avaliação, participou o banco que acabou sendo um dos compradores.
Eu digo crime não no sentido técnico, mas num sentido mais profundo: um patrimônio de importância econômica e política considerável foi tirado da propriedade do povo e foi entregue a pessoas privadas.
O conjunto dos meios de comunicação de massa foi unânime em sustentar as privatizações.
Comentários
Carlos Magno de Oliveira
Venderam o Brasil em 1964 com a desculpa ideológica de se transformar em regime comunista, de lá pra cá só tivemos fantoches no poder e o capitalismo internacional ditando as regras do jogo.
Lula e o PT nada mais foram que um instrumento utilizado pelo sistema visando iludir o povo brasileiro impedindo que políticos capacitados, corajosos e honestos assumissem a administração de nosso país nas eleições de 1989.
FHC e muitos outros deveriam sofrer processo de crimes de lesa pátria, e o MPF/PF deveriam fazer investigação criteriosa referente o enriquecimento nos últimos 55 anos de diversos empresários, empresas, políticos e outros que se beneficiaram explirando as empresas estatais contribuindo para os prejuízos destas empresas quando estatais e que eram patrimônios da nação e do povo brasileiro, não justificando que presidentes desqualificados e despreparados entregassem irresponsavelmente estes patrimônios sem consultar seus verdadeiros donos.
Hoje somos um país atrasado e totalmente dependente das tecnologias externas e reféns da economia monopolista dos investidores internacionais que dominam a maior parte de nossas riquezas.
Eugênio Antônio Zamprogno
Lamento mas; a justiça no Brasil é uma prostituta que nos anais de uma noitada dita se preço…estamos torcendo para que o novo governo faça alguma coisa pra mudar, estamos vendo algo no fim do túnel.
Zé Maria
Mariana e Brumadinho são testemunhas
da Tragédia, para não dizer Crime, que é
entrega de uma Estatal Gigante ao Setor
Privado, que só se interessa pelo Lucro
desmedido, alheio aos Seres Humanos.
Aliás, com a Privatização da Petrobras,
o Brasil está também condenado a
sofrer Crimes Ecológicos cometidos
em Águas Brasileiras pelas Petroleiras
Estrangeiras, como historicamente
vem ocorrendo em diversos Países,
inclusive pela BP no Golfo do México,
quando, em 2010, houve a Explosão
da Plataforma Deepwater Horizon,
o Maior Desastre Ambiental dos EUA.
https://www.publico.pt/2017/04/25/ciencia/noticia/quanto-custou-a-natureza-o-derrame-da-plataforma-deepwater-horizon-1769901
Ou os reiterados vazamentos de Óleo
da Shell no Delta do Rio Níger,
contaminando os manguezais e
poluindo a água potável, na região
habitada pelo Povo Ogoni, na Nigéria.
https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br/noticias/100129847/shell-e-re-na-justica-holandesa-por-vazamento-de-oleo-na-nigeria
https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=226657¬icia=derramamento-de-petroleo-na-nigeria-leva-shell-a-parar-producao-em-campo
https://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/08/05/73033-descontaminacao-do-delta-do-niger-vai-demorar-ate-30-anos-diz-onu.html
Nelson
O (des)governo de Fernando Henrique Cardoso colocou o Brasil definitivamente de joelhos diante do imenso poderio do grande capital privado, nacional e internacional, notadamente este último.
–
Genuflexos, só conseguiremos sair desta posição – se sairmos – em muitas décadas e, assim mesmo, se tivermos muito espírito nacional e patriótico. E convenhamos que, espírito nacional e patriótico são virtudes que andam escassas entre os homens públicos do nosso país.
–
Lamentavelmente, tais virtudes andam bem escassas também em uma parte muito grande do próprio povo brasileiro. Estamos enxergando nosso país sendo desestruturado, demolido, arrasado, suas [nossas] riquezas sendo doadas, e teimamos em esboçar a reação necessária.
–
A vileza se incrustou em nosso meio de um jeito que parece que nunca mais nos deixará.
Netho
A lamentar e censurar foi o silêncio reverencial tanto de Lula quanto de Dilma em relação à Vale, para reverter a criminosa entrega de uma verdadeira agência de desenvolvimento na bacia das almas, com um programa de estatização da Vale.
Da mesma forma com a Petrobrás para reverter a quebra do monopólio estatal do petróleo.
Vale a pena reler a entrevista do falecido Chico de Oliveira em 2012 ao Zero Hora dizendo que o único estadista que o Brasil teve foi Getúlio Vargas.
Zé Maria
Excerto:
“Os bens públicos não pertencem ao Estado, eles são geridos, administrados pelo Estado [‘pêluGuvêrnu’, no vulgar].
Pertencem ao povo brasileiro.”
Ideia que até hoje não foi assimilada pela População Brasileira,
por culpa em grande parte, senão na totalidade, dessa Mídia
Empresarial Anti-Nacional, Globo à frente. “A Burguesia Féde!”.
Por falar nisso, vão presentear a FEDEx com os Correios …
Zé Maria
Assim como tod@s concordamos
que a Privatização da Petrobras
é, dentre tantos, o Maior Crime
Praticado por Jair Bolsonaro,
em toda a História do Brasil.
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