Cerimônia celebra os 212 anos do início da libertação da Venezuela do domínio espanhol; assista e leia o discurso da ministra no Brasil

Tempo de leitura: 5 min
A diplomata Irene Rondón, Conselheira e Encarregada dos Negócios da Embaixada da Venezuela no Brasil, discursou na cerimônia que comemorou o 212º aniversário da declaração de independência do país do domínio espanhol

Da Redação

19 de abril é uma data histórica para o povo venezuelano.

Em 19 de abril de 1810, portanto há 212 anos, o conselho da cidade de Caracas, depôs o governador espanhol e seus colaboradores, mandando-os para o exílio.

Era o ponto de partida para a Venezuela se livrar do domínio espanhol.

Por isso, ontem, 19 de abril, foi dia de celebração na embaixada da Venezuela, em Brasília.

Durante a cerimônia Irene Rondón, ministra Conselheira e Encarregada dos Negócios da Embaixada da Venezuela no Brasil, discursou (veja vídeo acima).

“Hoje, mais do que nunca, o espírito de 19 de abril de 1810 permanece em nossos corações. Viva Bolívar!”, finalizou  Rondón, que é diplomata de carreira, cientista política e mestre em Política Exterior.

A cerimônia terminou com uma homenagem do trompetista Fabiano Leitão à data nacional da Venezuela. Assista-a partir do minuto 14 do vídeo no topo.

A fala da Conselheira e Encarregada dos Negócios da Embaixada da Venezuela no Brasil é antológica.

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Em 13min25, ela dialoga com o passado, o presente e o futuro do seu povo e da sua nação.

Como a cerimônia foi transmitida ao vivo pela TV Comunitária do DF,  conseguimos degravar todo o seu discurso.

Segue a íntegra da fala em português.

“Um dia como hoje, 212 anos atrás, na cidade de Caracas, capital da Venezuela, aconteceu um evento que marcou o início de uma nova etapa para a nação, como o humanista Andrés Bello o batizou.

Naquela quinta-feira santa de 1810, o conselho de Caracas, com o apoio do povo, soldados da época, figuras do clero, sociedade e intelectuais, depôs o governador e capitão-general Vicente Emparan e outros altos funcionários espanhóis, enviando-os para o exílio, marcando o início da luta pela independência do domínio espanhol na Venezuela.

Naquele 19 de abril, Caracas tornou-se a gênese da luta contra a opressão monárquica e os venezuelanos começaram a desenhar em suas consciências a possibilidade de criar um governo independente do império espanhol.

Esse primeiro ato constituiu o ponto de partida para a conquista da independência venezuelana e a fundação da Primeira República. Desde então, não houve dúvidas sobre a necessidade de ser livre e independente da Espanha.

O impacto político, econômico, social e cultural do clamor popular pela independência atravessou as terras venezuelanas e foi sentido em toda a América do Sul.

Após esse momento histórico, formou-se a Junta Suprema de Caracas que governaria a Capitania Geral da Venezuela até a instalação do primeiro Congresso Constituinte.

O ato elaborado em 19 de abril de 1810 pelo Cabildo de Caracas após a sessão extraordinária, que culminou com a renúncia de Vicente Emparan ao cargo de capitão-geral e deu início à emancipação da Venezuela, ainda existe e repousa na Capela Santa Rosa de Lima, no Palácio Municipal de Caracas.

Naquele 19 de abril de 1810, combinaram-se quatro elementos que marcaram a primeira etapa libertária da independência:

1. soberania

2. autonomia

3. liberdade 

4. O sentimento anti-imperialista do glorioso povo venezuelano contra o império espanhol.

Aquela frase quase ultrajante do capitão-general da Venezuela, Don Vicente Emparan, na Plaza Mayor de Caracas — hoje Plaza Bolívar — quando disse: … “se você não me quer, então eu também não quero mandar” ante a recusa popular do digno povo de Caracas de NÃO aceitar seu mandato sob a égide da Junta Suprema da Espanha, significava simplesmente a expressão do poder popular contra a colonização imposta desde 1492 até a era da independência bolivariana.

Nosso povo entendeu, sem arrogância e com muita humildade, que merecíamos um destino melhor, longe da escravidão, longe das imposições e, principalmente, longe da pilhagem de nossos recursos naturais.

Os elementos teológicos do chamado poder divino que nos haviam sido impostos desde a metrópole foram deixados de lado, para colocar o HOMEM no centro, como o principal elemento antropológico para o futuro de nossa nação.

A partir de 19 de abril de 1810, o Poder Popular se estruturou na Venezuela, resgatado 200 anos depois pelo comandante Hugo Rafael Chávez Frías.

Segundo renomados filósofos e historiadores da contemporaneidade, a maior importância do 19 de abril de 1810 está na vontade de um povo que se autonomiza e decide seu próprio futuro.

É o conceito genético primário de soberania. É a vontade popular de escolher seu próprio futuro.

Essa vontade do povo venezuelano se concretizou pouco mais de um ano depois, em 5 de julho de 1811, pelo voto majoritário de 43 deputados patriotas que declararam independência absoluta do Reino da Espanha durante o Primeiro Congresso Constituinte.

A liberdade era e é concebida como um valor único, mas não exclusivo do povo de Caracas da época.

Desde o início, nossos precursores lhe deram conotações americanas. Mas essa visão futurista de verdadeira solidariedade e integração bolivariana ameaçava o conceito hegemônico que a grande nação do norte havia planejado para este hemisfério e que conseguiu, sabotando as iniciativas libertadoras, obter, como agora, conformistas traidores de recompensas e parcelas que ajudou a forjar o modelo hemisférico decadente do pan-americanismo da OEA.

O exemplo que Caracas deu – como se refere a bela letra do nosso Hino Nacional – ficou na gênese de Caracas e se espalhou como espuma na consciência dos habitantes de Nossa América Latina e Caribe.

O pensamento visionário de nosso Libertador Simón Bolívar foi, é e sempre será o epicentro de um legado que exportou liberdades para outros povos.

O povo venezuelano, como no passado, nunca atravessou, nem cruzará fronteiras, mas é para libertar outros povos irmãos do continente da opressão.

É por isso que Caracas é o berço dos exércitos populares que saíram de suas fronteiras e terminaram no que hoje é a República da Colômbia, a República do Panamá, a República do Equador, a República do Peru e o que então se chamava, Alto Peru, que hoje conhecemos como Estado Plurinacional da Bolívia.

O momento atual que vive nossa Venezuela não é muito diferente daquele passado.

Uma oligarquia apoiada por forças tradicionais do império norte-americano conspira constantemente com uma oposição traiçoeira, beligerante e anárquica, para tentar desestabilizar uma nação que luta pelo bem comum de um povo glorioso que nasceu, vive, acredita e luta pela Revolução Bolivariana, criada pelo Comandante Eterno Hugo Rafael Chávez Frías e continuada pelo primeiro operário e presidente chavista, Nicolás Maduro Moros.

Hoje, como as pretensões coloniais espanholas do passado, a República Bolivariana da Venezuela enfrenta sanções econômicas e bloqueios financeiros que pairam sobre nosso Povo e as legítimas instituições democráticas venezuelanas. Essas mesmas ameaças imperiais convertidas hoje em novas e inovadoras formas de sabotagem econômica, financeira e comercial, que, no nosso caso, denunciamos ao mundo como as chamadas “medidas coercitivas unilaterais”.

O dia 19 de abril de 1810 foi o ponto de partida histórico para o nascimento em nosso povo do sentimento de rebeldia que foi a semente que deu origem à atual Revolução Bolivariana, que já dura mais de 200 anos e continua a forjar liberdades não apenas em Caracas, não só na Venezuela, mas em muitas cidades do sul do mundo.

Hoje mais do que nunca levantamos nossas vozes, nós homens e mulheres de Caracas, homens e mulheres venezuelanos, contra qualquer império que, usando meios militares ou midiáticos, queira decidir por nós o futuro de nossos povos.

Juntamente com o povo brasileiro da cidade de Brasília ratificamos nosso desejo de paz e diálogo para resolver nossas diferenças, mas, ao mesmo tempo, expressamos nossa bravura e determinação em lutar e defender, no nosso caso desta trincheira diplomática, a liberdade , justiça, igualdade e verdadeira integração com que sonharam os nossos Libertadores.

O espírito de 19 de abril de 1810 ainda está em vigor na Venezuela!

Viva o Poder Popular venezuelano que nasceu em 19 de abril de 1810!

Muito obrigado…

De Brasília comemoramos os 212 anos daquele histórico 19 de abril de 1810, data nacional que representou o ponto de partida para a conquista da independência venezuelana. Hoje, mais do que nunca, o espírito de 19 de abril de 1810 permanece em nossos corações. Viva Bolívar!’

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Comentários

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Zé Maria

O Companheiro Fabiano, Camarada Trompetista, continua arrasando.

Zé Maria

Excerto

“Caracas é o berço dos exércitos populares que saíram de suas fronteiras
e terminaram no que hoje é a República da Colômbia, a República do Panamá,
a República do Equador, a República do Peru e o que então se chamava,
Alto Peru, que hoje conhecemos como Estado Plurinacional da Bolívia.”
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    Zé Maria

    Felicitações aos Irmãos da Venezuela, um País verdadeiramente Independente.

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