Censura a relatório da Comissão Nacional da Verdade viola direito à verdade e à memória das vítimas da ditadura militar

Tempo de leitura: 5 min
Alguns dos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Reprodução

Censura judicial ao relatório da Comissão Nacional da Verdade é inadmissível e um atentado ao direito à verdade e à memória no Brasil.

A decisão do Juiz Hélio Silvio Ourém Campos, da 6a Vara da Justiça Federal de Pernambuco, determinando a retirada de trechos do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) é censura inaceitável e uma violação ao direito à memória e à verdade das vítimas da ditadura, de seus familiares e de toda a sociedade brasileira.

Segundo informação pública, menções ao nome de c, ex-coronel da Polícia Militar de Pernambuco, foram censuradas judicialmente no relatório final da CNV disponibilizado no Arquivo Nacional.

Olinto de Sousa Ferraz foi diretor da Casa de Detenção do Recife à época em que o militante Amaro Luiz de Carvalho foi morto no local.

A CNV aponta em seu relatório a sua “responsabilidade pela gestão de estruturas e condução de procedimentos destinados à prática de graves violações de direitos humanos”.

Já havíamos acompanhado um outro precedente de 2017, no qual o juiz Friedmann Anderson Wendpap, responsável pelo último despacho do caso, determinou a modificação de documentos custodiados em caráter permanente pelo Arquivo Nacional e não apenas decidiu que a instituição deveria suprimir trechos de documentos, como também impôs a inclusão de novas páginas em relatório recolhido meses antes.

O caso envolve os documentos que mencionam Ney Braga (1917–2000), militar e político paranaense que exerceu diferentes cargos durante o período da ditadura. Neste caso, a União conseguiu reverter, pelo menos, a decisão de suprimir partes do relatório. A apelação, no entanto, não foi capaz de deter a decisão pela inserção de documentos no dossiê oficial.

Este tipo de sentença judicial é ofensiva aos familiares e vítimas da ditadura, fere a Lei de Acesso à Informação (LAI) que proíbe a restrição de acesso a “informações ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violação dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas” e determina que “a restrição de acesso à informação relativa à vida privada, honra e imagem de pessoa não poderá ser invocada com o intuito de prejudicar processo de apuração de irregularidades em que o titular das informações estiver envolvido, bem como em ações voltadas para a recuperação de fatos históricos de maior relevância”.

As decisões judiciais ofendem também a ampla jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos em matéria de memória, verdade e justiça, além das sentenças especificamente dirigidas ao Brasil (Caso Gomes Lund e Caso Vladimir Herzog) que determinou a todas as autoridades de todos os poderes do país a adotar medidas para garantir o direito à memória e à verdade.

Ademais, a ação judicial da Vara de Pernambuco foi conduzida sem a necessária intervenção do Ministério Público Federal, obrigatória em matéria de justiça de transição, especialmente quando se discute o direito à verdade e à memória.

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Frente a esse novo e gravíssimo precedente, responsabilizamos o governo de Jair Bolsonaro, notório negacionista da ditadura e abjeto defensor da repressão, pela omissão da Advocacia-Geral da União em seu dever de defender o direito fundamental de acesso à informação, à memória e à verdade, ao não apresentar recurso contra a decisão e emitir parecer interno pela sua imediata execução, inclusive, determinando ao Arquivo Nacional uma execução excessiva da sentença.

As motivações formais e públicas para a não interposição de recurso devem ser transparentes e explicadas pela AGU e, se necessário, apuradas pelos órgãos de controle da Administração Pública.

Demandamos ao sistema de justiça brasileiro a anulação da sentença, e que as autoridades pertinentes proponham uma ação rescisória pois se trata de decisão atentatória às leis nacionais, que viola os compromissos internacionais do Brasil e, principalmente, viola os direitos das vítimas e dos familiares de vítimas.

Para que não se esqueça. Para nunca mais aconteça.

Assinam:

Ex-Conselheiros e ex-conselheiras da Comissão de Anistia Manoel Moraes

CASC – Comitê de Acompanhamento da Sociedade Civil (vítimas e familiares)

Entidades

ABRAPSO – Associação Brasileira de Psicologia Social.

ADNAM – Associação Democrática e Nacionalista dos Militares

Associação Cultural José Martí-RJ

Associação dos Metalúrgicos Anistiados e Anistiandos do ABC- AMA-A ABC.

ATAMIG

Casa da América Latina

Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco- CCML-PE

Centro de Estudos e Ação Social Dom Helder Camara – Cendhec

Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu

CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço

Coletivo Fernando Santa Cruz

Coletivo Filhos e Netos por Memória Verdade Justiça

Coletivo RJ Memória Verdade Justiça e Reparação

Coletivo Testemunho e Ação POA/RG

Comitê Memória, Verdade e Justiça para a Democracia-PE- CMVJD-PE

CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço

ELO Ligação e Organização

Equipe Clínico Política RJ

Fórum de Reparação e Memória do RJ

Fórum Memória, Verdade, Justiça do ES.

Grupo Os Amigos de 68

Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia

Grupo Tortura Nunca Mais/ RJ- GTNM/RJ

Grupo Tortura Nunca Mais – Foz do Iguaçu

Grupo Tortura Nunca Mais/ SP

Laboratório de Psicanálise e Laço Social – UFF

Movimento de Justiça e Direitos Humanos

Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Política / UFF

Núcleo de Preservação da Memória Política, saúde São Paulo

Núcleo Transdisciplinar Subjetividades, Violências e Processos de Criminalização, Transcrim – UFF

Observatório de DH, Saúde e Justiça Criminal do Espírito Santo

Observatório Nacional de Saúde Mental, Justiça e Direitos Humanos da UFF

Plenária Anistia Rio

Portal Favelas

Psicanalistas Unidos pela Democracia

ABJD Associação Brasileira de Juristas pela Democracia

AJD Associação Juízes para a Democracia

Comitê Memória, Verdade e Justiça do Ceará.

Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial

Instituto Augusto Boal

Instituto de Cidadania e Direitos Humanos MG

Instituto de Estudos da Religião – ISER

Justiça Global

NAPAVE- Núcleo de Atenção Psicossocial a Afetados pela Violência de Estado Apoios individuais:

Adelino Ribeiro Chaves – diretor da ASTAPE-RJ FENASPE

Aderson Bussinger – diretor do Centro de Documentação e Pesquisa OAB/RJ

Álvaro Caldas, jornalista

Aluizio Palmar

Amparo Araújo, Comissão Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Ana Maria Muller, advogada

Ana Maria Sarzedas, Professora

Anacleto Julião, antropólogo e ex-exilado político.

Ângela Arruda

Beth Formaggini – documentarista

Cecilia Boal – psicanalista e atriz

César Augusto Chaves Fernandes, jornalista

Célia Regina Pereira Lago – militante

Comandante Luiz Carlos S. Moreira, oficial cassado em 1964

Diva Soares Santana

Edival Nunes Cajá, sociólogo, ex-preso político.

Edson de Oliveira- Edinho Ferramenta- ATAMIG

Eliete Ferrer, militante da Direitos Humanos

Eliana Bellini Rolemberg, socióloga

Elysio de Oliveira Castro Filho, Músico e Artista Plástico

Jandyra Uehara Alves – secretária nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT

Eneida Canedo Guimarães dos Santos, Anistiada Política

Jandilson Soares Junior – Professor

Jane de Alencar- ColetivoRJ MVJR

Jair Krischke – MJDH

Jessie Jane Vieira – UFRJ

Jitman Vibranovski – ator de Militantes em Cena

Leta Vieira de Sousa

Lilia Gondim, economista, militante de Direitos Humanos

Liszt Vieira – advogado

Luiz Alberto Moreira da Silva, Professor de História

Manoel Severino Moraes de Almeida – presidente do Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social

Marcelo Santa Cruz, advogado e ativista dos Direitos Humanos.

Maria América Diniz Reis- anistiada politica

Maria das Dores Machado – professora

Maria Elisabete Barbosa de Almeida, Comitê por Memória, Verdade e Justiça do DF

Rosa Cimiana dos Santos, anistiada e representante dos anistiandos/as

Tânia Soares Castro, Socióloga

Tamara André, sindicalista e presidente do CDHMP

Tânia Felicidade Costa Lino de Oliveira, professora

Movimento de Educação Popular em Saúde

Vera Joana Bornstein

Vera Vital Brasil, psicóloga

Leia também:

Mídia silencia sobre relatório da Anistia Internacional que denuncia violações de Israel contra palestinos

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Comentários

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abelardo

Parece que alguns “famosos quem?” – do judiciário – para se fazerem aparecer na mídia chegam ao ponto de se travestirem de ditadores. Então, para tanto, chegam ao ponto de promoverem decisões que conflitam absurdamente com os preceitos legais e constitucionais, conforme cita a matéria. Deixam a impressão que mais valem os 10 minutos da fama efêmera, do que a mancha suja e o vexame eterno que ficará registrado pela história.

Zé Maria

http://cnv.memoriasreveladas.gov.br

Militares Neo-Fascistas, hoje no Governo BolsonaroGenocida,
fizeram Laboratório no Judiciário de Pernambuco, para suprimir
ilegalmente e, além, inconstitucionalmente as Informações
constantes do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV)
que foi regularmente instituída pela Lei Federal Nº 12.528 (18/11/2011),
cujo Parágrafo Único do Artigo 11 dispõe o seguinte:

“Art. 11. A Comissão Nacional da Verdade terá prazo até 16 de dezembro de 2014,
para a conclusão dos trabalhos, e deverá apresentar, ao final, relatório
circunstanciado contendo as atividades realizadas, os fatos examinados,
as conclusões e as recomendações.
(Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014 [Cap. XVII, Art. 24]).

Parágrafo único. Todo o acervo documental e de multimídia resultante
da conclusão dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade deverá
ser encaminhado ao Arquivo Nacional para integrar o Projeto Memórias Reveladas.”

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12528.htm

    Zé Maria

    Aliás, a Comissão Nacional da Verdade (CNV)
    foi o motivo pelo qual houve a Insurreição dos
    Oficiais Militares das Forças Armadas contra o
    Governo da Presidente Dilma Rousseff (PT).

    Por sinal, o General Hamilton Mourão – hoje Vice
    do Presidente Jair Bolsonaro – o Capitão-Fake –
    foi um dos Oficiais Militares que, ainda na Ativa
    como Comandante Militar do Sul, se insurgiu
    contra a CNV, e por isso fez críticas ofensivas ao
    Governo Dilma, em entrevistas no Estado RS (*),
    articulando o Golpe de 2016, ao mesmo tempo
    em que preparava a Candidatura de Bolsonaro.

    *(https://youtu.be/P_rgmz_eqJ8?t=851)

    Zé Maria

    Veio daí inclusive o Movimento Inconstitucional de Intervenção Militar.

Henrique Martins

Aguarde Dudu bananinha que somos nós que vamos acabar com o seu pai sem golpe viu. A gente vai jogar o seu paizinho no lixo da história, que é onde ele merece ficar.

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