Mobilização das frentes populares contra agenda golpista está no caminho certo
“(…) a democracia jamais poderia ser arrebatada dos trabalhadores quando eles vêm à rua, à praça, que é do povo.” João Goulart, discurso de 13 de março de 1964, Central do Brasil
Por Carlos Ocké*
As frentes populares estão organizando uma jornada de lutas nos meses de março, abril e maio, para alertar a sociedade brasileira sobre o golpismo bolsonarista.
De forma combinada e articulada, visando acumular forças, as frentes apresentarão as reivindicações políticas, econômicas e culturais do campo democrático, popular e socialista, em uma peça dividida em três atos, no dia internacional das mulheres, na manifestação em defesa da democracia e no dia de luta da classe trabalhadora no primeiro de maio.
Sem dúvida, na atual conjuntura, considerando as difíceis condições para organizar a juventude, a periferia e o conjunto dos trabalhadores, a mobilização das massas é uma tarefa gigantesca, porém chegou a hora de mudar a qualidade da intervenção da esquerda, presidida tão somente por uma lógica institucional, às vésperas das eleições municipais.
Muitos não acreditavam no golpe de 64, no golpe contra Dilma, ou na tentativa de golpe de oito de janeiro do ano passado.
Lula, os partidos da base aliada e setores do centrismo foram convidados para participar do ato no próximo dia 23 de março, para exatamente intensificar o diálogo entre as frentes populares e os setores progressistas da frente ampla do governo contra a direita golpista.
Sob pressão da opinião pública, os crimes cometidos por Bolsonaro não ficarão impunes: respeitando as normas do estado democrático de direito, que foram – vergonhosamente – rasgadas pela Lava Jato na prisão ilegal de Lula (lawfare), quem traiu a pátria deve ser julgado e condenado.
Mas, afinal, devemos denunciar os sessenta anos do golpe civil-militar de 1964 para dizer “golpe nunca mais!” e recusar a proposta de anistia defendida pelo bolsonarismo, no seu último comício na Paulista? A resposta é decididamente sim!
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Se as eleições presidenciais significaram uma espécie de referendo sobre os governos Temer e Bolsonaro, o resultado eleitoral mostrou a força da extrema-direita. Ela perdeu as eleições, mas não foi derrotada politicamente, tampouco desmobilizada, seja nas redes, nas ruas, ou ainda, no parlamento.
Parte desta força reside na crítica à democracia liberal, que, em tese, teria permitido a corrupção do sistema político, supostamente encarnada hoje no Partido dos Trabalhadores (antipetismo), que compõe o núcleo dirigente do governo Lula.
Essa retórica ideológica alimenta o golpismo da extrema-direita, que precisa ser combatido com toda energia pelo bloco de esquerda com setores do centrismo dentro e fora das instituições, embora seja também necessário superar a agenda neoliberal, que faz sombra ao governo, sustentada pelos interesses rentistas da burguesia nacional e internacional.
A principal contradição da frente ampla do governo Lula reside, exatamente, no fato de que os mesmos setores centristas, que se dispõem a ampliar o cerco sobre a extrema-direita, são aqueles que defendem o neoliberalismo, cuja crise favoreceu o crescimento do neofascismo no Brasil, na América Latina e na Europa.
Nos antecipando de uma eventual vitória de Trump nas eleições nos Estados Unidos, tendo em mente as experiências de luta antifascista do século passado seria um erro não caminharmos com a base social do centrismo em defesa do alargamento da democracia brasileira, na perspectiva de colocar em movimento um programa mínimo em defesa da soberania nacional, do crescimento econômico e dos direitos sociais, contra a financeirização da economia brasileira.
No interior da frente ampla, o campo representado pela esquerda no governo Lula sabe a importância de fortalecer o Estado e o mercado interno para o êxito de um programa antineoliberal, sabe inclusive a importância de acelerar o passo com o surgimento de condições políticas concretas.
Contudo, em uma disputa cada vez mais acirrada, uma vez que o bloco de esquerda dentro e fora do governo não consegue superar sozinho o neoliberalismo, parte da classe dominante, representada pelo centrismo, interessada em combater a extrema direita, tenderia a resistir um movimento de Lula nessa direção.
Isso provocaria o seguinte dilema: se, de um lado, o apoio do Estado ao crescimento econômico permitiria frações da burguesia manter ou avançar sua posição na nova divisão internacional do trabalho, de outro lado, o atendimento das demandas populares fortaleceria o Lulismo e as esquerdas na sociedade e no parlamento hoje controlado pelo centrão, desafiando a hegemonia neoliberal.
Dito de outra maneira, se bem entendido, existe uma tensão nos planos teórico e político: se as evidências históricas ontem e hoje demonstram que as políticas de austeridade neoliberais abriram caminho para o fascismo e o neofascismo, de outro, o campo democrático e popular no Brasil não tem força sozinho, na atual conjuntura, para isolar, derrotar e criminalizar a extrema-direita, sem o apoio de setores do centrismo (neoliberais em sua maioria), dentro e fora das instituições.
A questão democrática está, portanto, no centro da conjuntura, e precisamos acumular forças para sair dessa defensiva estratégica.
Nesse fio da navalha, além do papel pedagógico diante das massas (golpe nunca mais!), a mobilização puxada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Brasil Sem Medo procura mediar a ação tática das esquerdas, reforçando sua política de alianças com setores do centrismo dentro da institucionalidade, mas sem renunciar à mobilização popular para mudar a correlação de forças, em busca da retomada da estratégia democrático e popular, das reformas estruturais, da transição ao socialismo democrático.
Se é insuficiente o grau de consciência da população sobre a importância da democracia e da política para melhoria das suas condições de vida, essa constatação dá mais razão ainda para militância se engajar na mobilização das frentes populares contra a agenda golpista, que está no caminho certo para sairmos da defensiva na atual conjuntura histórica.
*Carlos Ocké é economista e militante do PT-RJ.
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Comentários
Zé Maria
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As Frentes ‘Brasil Popular’ e ‘Povo Sem Medo’
escolheram a data correta: 23 de Março, Sábado,
para a Manifestação Contra a Direita Golpista.
O Movimento Democrático Popular no Brasil
deve ser Permanente e Incansável Contra Golpes
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