Carlos Cleto: Da última vez em que o filho de um presidente da República se meteu em assuntos de governo o pai acabou em um caixão

Tempo de leitura: 3 min

por Carlos Cleto, especial para o Viomundo

O governo Bolsonaro mal começou, mas já mostra uma característica muito perigosa: o envolvimento dos filhos do presidente em questões de governo.

Além de inconstitucional, essa anomalia é politicamente explosiva.

É bom lembrar que da última vez em que o filho de um presidente da República se meteu em assuntos de governo o pai acabou em um caixão.

Refiro-me a Getúlio Vargas e ao “Crime da Rua Tonelero’’, que deflagrou a crise que acabou levando Getúlio ao túmulo, em 24 de agosto de 1954.

O jornalista Carlos Lacerda, um dos principais opositores do governo Vargas, tinha lançado sua candidatura a deputado federal pela UDN.

Através de seu jornal, a Tribuna da Imprensa, Lacerda promovia uma incessante campanha de desmoralização do presidente, marcada por ataques pessoais a Getúlio e aos seus familiares.

Em uma coisa, Lacerda tinha razão…

Getúlio não sabia conter seu filho Luthero Vargas e seu irmão Benjamin Vargas, o Bejo; os dois viviam dando problemas.

Osvaldo Aranha, outro gauchão, já tinha dito: “se não for pela trela, que seja pelo relho; mas o Presidente precisa controlar esses dois”.

Apoie o VIOMUNDO

Getúlio não controlou, e o fim da história é esse que estamos contando.

Como Lacerda colecionava inimigos, um grupo de simpatizantes, oficiais de Aeronáutica, decidiu fazer sua segurança durante seus comícios.

Na madrugada de 5 de agosto de 1954, ao voltar de um comício, Lacerda sofreu um atentado na entrada do edifício, onde morava: o Albervânia, Rua Toneleros 180, Copacabana, Rio de Janeiro.

O jornalista foi ferido no pé, mas o major-aviador Rubens Vaz, que naquele dia lhe dava proteção, foi morto.

Lacerda imediatamente acusou o presidente Getúlio Vargas de ser o mandante do atentado de que fora vítima e que acabara provocando a morte do oficial.

Nesse dia, Lacerda escreveu na Tribuna da Imprensa:

“… perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os desta noite. Êsse [na época, tinha circunflexo] homem chama-se Getúlio Vargas’’.

Como a placa do táxi em que fugira o autor dos disparos havia sido anotada, foi possível identificar o motorista: Nelson Raimundo de Sousa.

Edição extra de O Globo que saiu no dia do atentado, 5 de agosto, já dizia que o taxista envolvido no crime servia habitualmente ao Palácio do Catete.

Acervo O Globo

A partir do depoimento do motorista, em 7 de agosto, a crise político-militar, até então apenas delineada, se agravou.

O motorista admitiu que o autor do atentado havia fugido em seu táxi e acusou Climério Euribes de Almeida, membro da guarda pessoal de Getúlio, de envolvimento no episódio.

A essa altura, Getúlio disse “os tiros da Rua Tonelero me acertaram pelas costas”.

Como o major assassinado pertencia à Aeronáutica, no dia 12 de agosto, o ministro da pasta, Nero Moura, autorizou a instauração de um Inquérito Policial Militar, que trouxe as investigações em curso para a Base Aérea do Galeão.

Pelo desembaraço e autonomia com que passou a atuar na condução do inquérito, passou a ser chamada de “República do Galeão”.

As investigações chegaram ao “Anjo Negro” de Getúlio, Gregório Fortunato, “cão fiel” da família Vargas.

O problema é que se sabia que Gregório jamais agiria por iniciativa própria: se promoveu o atentado, foi porque alguém acima mandou!

Em 23 de agosto de 1954, o jornal O Globo revelou que a polícia havia fechado o cerco, e os pistoleiros do Crime da Toneleros entregaram que os mandantes seriam Luthero e Bejo, filho e irmão de Getúlio.

Nesse mesmo dia, a Tribuna da Imprensa saiu com a notícia do indiciamento de Luthero.

Tancredo Neves, então ministro da Justiça de Getúlio, levou-lhe a notícia que ambos seriam presos no dia seguinte.

Getúlio meteu uma bala no peito.

Por culpa do filho doido e do irmão 15 anos mais novo, quase um filho, igualmente doido.

Leia também:

Histórias para boi dormir que Bolsonaro e Guedes vão espalhar para dilapidar a sua aposentadoria

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Carlos Sobrinho Ribeiro Gomes

O Governo que mau começou já se revelou autofágico, típico de vermes

Era dos Boçais

mesma a hipótese mais fraca, haver algum bolsonarista capaz de ter vergonha de alguma coisa, já de um alto nível de estupidez, supor que ainda seria capaz de suicidar por algo é de uma demência patente

Zé Maria

[É Melhor Jair se acostumando…]

De acordo com as fontes ocultas
do Camarote da Globo em braz-ilha:

“Bebianno diz que deve desculpas ao país
por ter viabilizado candidatura de Bolsonaro”

“Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”,
disse Bebianno para um aliado, numa referência à influência
dos filhos do presidente no rumos do governo, especialmente
o vereador Carlos Bolsonaro.

Já o Colunista Jardim, do Jornal O Globo,
noticia que Bebianno disse a ‘um interlocutor’:

“O problema não é o pimpolho. O Jair é o problema.
Ele usa o Carlos como instrumento. É assustador.”

E complementou:

“Perdi a confiança no Jair. Tenho vergonha de ter acreditado nele.
É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil.”

[Da Série: “Eu Avisei!”]

Zé Maria

Na época de GV, os Pais cometiam Suicídio
pelos Crimes praticados pelos Filhos.

Hoje em dia – e no tempo de Nero e de Calígula –
são os Filhos Criminosos que matam os Pais,
para tomarem o Poder.

    a.ali

    ou aliados, ou ministros, ou a mídia, ou um obscuro qualquer a mando de um nada qualquer e nada obscuro, ou algum fanático de qualquer linha ou um lunático, ou alguem próximo, ou alguem distante, ou um extremista, ou a consciência – ôpa! ou, ou… são tantas possibilidades… ou a própria sombra tb., porque não ?

Deixe seu comentário

Leia também