Cacique denuncia: 30 tupinambás já foram executados no Sul da Bahia por falta de demarcação das terras

Tempo de leitura: 2 min
Alex foi morto quando roçava. Reprodução.

Cacique responsabiliza governo federal por morte de indígena Tupinambá na Bahia

Ausência de demarcação da área habitada está na origem do conflito de terra

Por Lúcia Rodrigues

Mais um indígena foi executado no sul da Bahia. O tupinambá Alex Barros Santos Silva, 38 anos, casado, pai de uma menina de 9 anos e um adolescente de 15 anos, é a vítima mais recente da luta pela terra.

Ele vivia em uma área retomada de fazendeiros e foi assassinado a tiros por três homens encapuzados, no útimo dia 23, em uma aldeia do munícipio de Ilhéus.

Até o momento, a polícia ainda não identificou o mandante nem quem são os assassinos, segundo a cacique Maria Valdelice Amaral de Jesus.

Ainda de acordo com ela, desde 2014 mais de 30 indígenas foram executados na região e ninguém foi responsabilizado pelas mortes.

“Nosso territorio tá todo aberto. É uma região propícia a matança de indígenas. A gente não sabe de onde vem a bala que mata. Mas sempre é o índio que tomba”, lamenta.

A cacique considera que o principal responsável pela violência que impera contra os indígenas na região é o governo federal por não fazer a demarcação das terras.

“Se os fazendeiros fossem indenizados, não voltavam lá (na área onde vivem os indígenas). Quantos Alex ainda vão ter de morrer (para a demarcação das terras ocorrer)?”, indaga.

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Ela suspeita que os mandantes das mortes sejam fazendeiros que tiveram as áreas retomadas pelos Tupinambás. Ela mesma já foi presa em 2011 por participar dessas retomadas.

“A gente suspeita que é quem não recebeu pelo território. Temos áreas retomadas de fazendeiros nessa região. Esperamos que o governo faça a indenização aos fazendeiros.”

Valdelice conta que os proprietários rurais moram próximos às vítimas e se cercam de capangas. “Os fazendeiros botam policiais aposentados para fazer a segurança”, frisa.

A última vítima antes da execução de Alex foi justamente um primo da cacique. Pinduca Tupinambá era agente de saúde e uma liderança de sua etnia, assim como Alex.

“Será que eu, como cacique, não estou conseguindo ser a líder de um povo que está sendo assassinado? Me sinto sem chão. É uma realidade dolorosa.”

Valdelice conta que após o assassinato de Alex, a família dele (esposa, dois filhos, mãe, irmão e dois enteados) foi embora da terra onde vivia com medo de também ser assassinada.

Para a cacique, o marco temporal que está em discussão no Supremo Tribunal Federal representa outro ataque aos indígenas.

“O marco temporal não pode existir. Não pode ser a partir de 1988. Nós estávamos aqui antes de 1.500 (quando Cabral chegou ao Brasil). Tem de ter o direito originário dos povos.”

Ela explica que o território Tupinambá também é cobiçado por grandes empresas hoteleiras por estar localizado a beira mar, em uma região de praias belíssimas.

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Comentários

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Cláudio

Isso vai ser permitido (por nós) até quando? É um verdadeiro genocídio, semelhante ao do povo negro e ao dos pobres em geral. Até quando?

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