Putin faz a coisa certa
Ao reconhecer as repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk, Moscou não expressa qualquer inclinação de ceder aos arreganhos expansionistas dos EUA
Por Breno Altman*, em Ópera Mundi
O presidente da Rússia decidiu promulgar o reconhecimento das repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia.
De maioria russa, esses estados autônomos são frutos do golpe de Estado que derrubou, em 2014, o então presidente Viktor Yanukovytch, aliado de Moscou. Um bloco de direita tomou o poder em Kiev, alimentado tanto pelos Estados Unidos quanto pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o condomínio militar europeu comandado por Washington.
A reação russa foi a ocupação da Criméia, área estratégica por seu acesso ao Mar Negro, que havia sido cedida à Ucrânia em 1954. Um referendo popular consagrou a reintegração desse território à Rússia, embora o resultado tenha sofrido questionamentos externos.
Além desse episódio, forças de esquerda e pró-russas se acantonaram no Donbass e criaram os Estados autônomos que Vladimir Putin acabou de reconhecer, tornando possível a constituição de tratados e alianças militares, à luz do direito internacional.
A derrubada do governo constitucional, há quase oito anos, teve como principal bandeira a incorporação do país à União Europeia. Sob essa plataforma, unificaram-se desde grupos sociais-democratas a neonazistas.
Desde então, comunistas e nacionalistas panrussos foram colocados na clandestinidade e perseguidos implacavelmente, ao mesmo tempo em que Kiev confrontava militarmente as repúblicas rebeldes.
Acordos negociados em Minsk, na Belarus, colocaram um fim à guerra civil, prevendo referendos para as regiões separatistas escolherem seu destino.
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Mas o governo ucraniano continuou a ser gostosamente utilizado pela Casa Branca e a OTAN para servir de cinturão militar contra Moscou, rompendo todos os pactos de segurança coletiva estabelecidos após a II Guerra Mundial.
No outono da revolução russa, em 1989, o secretário de Estado da administração George Bush, James Baker, prometeu a Mikhail Gorbachev, presidente da URSS e secretário-geral do Partido Comunista, que a OTAN não avançaria “nenhuma polegada para o leste” de suas fronteiras originais.
Tudo mentira. Foram incorporados à coalizão militar atlântica várias das nações outrora pertencentes ao campo socialista, além dos países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia – que antes eram repúblicas soviéticas.
Kremlin
Os Estados Unidos e os vassalos europeus também interferiram nos assuntos internos da Belarus e da Geórgia, além da Ucrânia, com o propósito de estimular forças locais que se dispusessem a colocar sob sua hegemonia toda a fronteira ocidental com a Rússia. Fracassaram nas duas primeiras nações e transformaram a aposta ucraniana em disputa estratégica.
As exigências de Moscou são relativamente simples e defensivas: implementar os acordos de Minsk, proibir a integração da Ucrânia à OTAN, impedir que esse país sirva de plataforma bélica contra a Rússia.
Adotando discurso hipócrita em favor da soberania ucraniana, os EUA e a União Europeia não dão, até o momento, qualquer sinal de que estariam dispostos a ceder em sua escalada imperialista.
A primeira resposta de Putin foi a mobilização de tropas, desde dezembro, colocando-as de prontidão no caso de Kiev dar novas provas de servilismo e efetivar seu papel de posto avançado das forças militares ocidentais. Um claro sinal de que a Rússia se dispõe à negociação diplomática, mas excluindo a capitulação como opção aceitável.
A segunda medida estratégica está representada pelo reconhecimento das repúblicas do Donbass.
A premissa é básica: sem que sejam respeitadas as exigências russas acerca de sua segurança frente ao Ocidente, tampouco serão levadas a sério as reivindicações ucranianas quanto ao seu território. E qualquer ataque de Kiev contra essas repúblicas poderá ser contraposto pela máquina de guerra comandada por Putin.
A hora de diplomacia pode estar chegando ao fim. O governo Biden, por razões geopolíticas e eleitorais, parece claramente interessado na radicalização do conflito, imaginando que possa colocar os russos de joelhos, como fizeram nos primeiros dez anos de restauração capitalista, durante a liderança de Gorbachev e Boris Yeltsin. Mas Moscou, dessa vez, não expressa qualquer inclinação de ceder aos arreganhos expansionistas dos Estados Unidos.
No encontro de chanceleres, previsto para essa semana, em Paris, Sergey Lavrov, ministro russo de Relações Exteriores, deverá repetir a mesma mensagem das últimas semanas: com a Ucrânia fora da OTAN e sem armas estratégicas ocidentais, haverá paz e a crise termina.
No entanto, se Washington quiser impor seus planos, através de qualquer ação militar ou provocação operada por Kiev, especialmente contras as repúblicas rebeldes, a Rússia deu o recado: estará pronta para se defender pelas armas.
*Breno Altman é Jornalista e fundador de Opera Mundi.
Comentários
Riaj Otim
eu queria ver a cara desses esquerdopatas quando o Guidoroavski venezuelano declarar independência de um bairro e o mito mandar os tanques destruir o país para garantia a liberdade em nome do bem
Henrique Martins
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/lira-declara-apoio-a-reeleicao-de-bolsonaro-e-fara-campanha,0f7c56ad7fc1441dd15f17af5dc1a2d9vu5sfqj3.html
É isso mesmo Lira. Torço para você não mudar um milímetro nesta sua ideia. O país precisa que você e o Centrão encontrem a lata de lixo com Bolsonaro.
Zé Maria
Repúblicas Populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL)
declararam Independência da Ucrânia, após o Golpe de 2014.
Faz 8 Anos que a População dessas Regiões de Donbass
se defendem de Ataques Militares e Paramilitares da Ucrânia
esperando pelo reconhecimento do Mundo e da ONU.
A Rússia poderia tê-las anexado ao Território Russo, mas
preferiu reconhecê-las como Repúblicas Independentes.
Kosovo declarou-se unilateralmente um país independente
da Sérvia em 17 de fevereiro de 2008, sob o nome “República
do Kosovo”, sendo reconhecido no dia seguinte pelos EUA [sic]*
e alguns países europeus, como França, Portugal, Reino Unido
da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia, Gales) & I.N. e Alemanha.
* Será que os Estados Unidos da América (EUA) reconheceu
imediatamente a independência da República do Kosovo
só porque a Sérvia não é membro da OTAN?
Em 27 de outubro de 2017, o Parlamento Catalão aprovou uma
Resolução declarando a Independência da Catalunha do Reino
da Espanha – que é membro da OTAN – (re)fundando a República
Catalã. Os Estados Unidos da América (EUA) foram um dos primeiros
países a se manifestar contra a decisão do Parlamento Catalão.
O Departamento de Estado dos EUA afirmou que a Catalunha é
uma “parte integral” da Espanha e destacou que o governo
americano apoia as medidas tomadas pelo Executivo Espanhol
liderado à época [pelo Neoliberal] Mariano Rajoy . [DW, 27/10/2017]
Zé Maria
https://www.dn.pt/globo/europa/donetsk-e-lugansk-declaram-independencia-da-ucrania-3858480.html
Zé Maria
Questionamento Complementar
Será que os Estados Unidos da América (EUA)
não reconheceria a República da Catalunha,
numa situação inversa, em que o Reino Espanhol
não fosse membro da OTAN e em que os Catalãos
prometessem aderir à Aliança Militar do Ocidente?
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