Bolsonaro nega relação com milícia, diz que Adriano não tem condenação definitiva mas não explica mãe e mulher de miliciano em gabinete de Flávio

Tempo de leitura: 4 min

Da Redação

Em 12 de agosto de 2003, o deputado federal Jair Bolsonaro saudou o “crime de extermínio” em discurso na Câmara Federal.

“Se não houver espaço para ele [crime de extermínio] na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas”, afirmou na fala.

O filho de Jair Bolsonaro, então deputado estadual Flávio, também elogiou as milícias durante sua atuação parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

“A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos. Em todas essas milícias sempre há um, dois, três policiais que são da comunidade e contam com a ajuda de outros colegas de farda para somar forças e tentar garantir o mínimo de segurança nos locais onde moram. Há uma série de benefícios nisso”, afirmou Flávio em sua fala.

Em dezembro de 2008, Jair Bolsonaro criticou o relatório final da CPI das Milícias, presidida na Alerj por Marcelo Freixo, então deputado estadual.

Na ocasião, novo elogio a milicianos:

“Existe miliciano que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás. Como ele ganha 850 reais por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de gatonet, venda de gás ou transporte alternativo. Então, Sr. Presidente, não podemos generalizar”, afirmou Bolsonaro.

Hoje, em cerimônia no Rio ao lado de Flávio Bolsonaro, o presidente da República disse que foi ele quem determinou que o filho homenageasse o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega com a mais alta condecoração do Rio de Janeiro, a medalha Tiradentes, em 2005.


“Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano (2005), era herói da Polícia Militar. Como é muito comum, um PM quando está em operação mata vagabundo, traficante”, afirmou Bolsonaro, de acordo com O Globo.

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Adriano estava preso quando recebeu a homenagem, acusado de homicídio. Em seguida ele seria condenado pelo crime. Bolsonaro compareceu ao julgamento do então sub-tenente da PM e subiu à tribuna da Câmara para criticar a condenação, posteriormente revertida.

No evento de hoje, Bolsonaro e o filho Flávio negaram qualquer relação com milícias do Rio.

Os dois não responderam às perguntas sobre a contratação da mãe e da esposa de Adriano para trabalhar no gabinete de Flávio.

Danielle, hoje ex-mulher, foi empregada em 6 de setembro de 2007 e demitida apenas em 13 de novembro de 2018.

Raimunda, a mãe, trabalhou primeiro no gabinete da liderança do PP, partido de Flávio à época, antes de migrar para o gabinete do filho de Bolsonaro.

Danielle e Raimunda receberam na Alerj um total de R$ 1.029.042,48, do qual repassaram R$ 203.002,57 a Fabrício Queiroz, de acordo com o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.

Outros R$ 202.184, 64 foram sacados em dinheiro.

As duas são suspeitas de terem sido funcionárias fantasmas, que participaram do esquema de rachadinha pilotado por Fabrício Queiroz.

O destinatário final do esquema seria Flávio Bolsonaro, que nega.

“Vocês estão passando para o absurdo”, disse Jair Bolsonaro quando questionado pela repórter da Folha de S. Paulo sobre a contratação das duas.

“Fica quieta, vai, deixa ele falar. Educação”, voltou a falar o presidente da República, quando a repórter tentou insistir sobre o tema com Flávio.

O senador disse que sempre homenageou policiais e que a medalha a Adriano foi concedida “há 15 anos”.

Adriano foi expulso da Polícia Militar por envolvimento com o crime organizado em dezembro de 2013.

Flávio Bolsonaro não explicou o motivo de ter mantido a esposa de Adriano em seu gabinete depois da expulsão, nem a contratação posterior da mãe do capitão, Raimunda, em 2 de março de 2015 (liderança do PP) e em 29 de junho de 2016 (gabinete parlamentar).

Abaixo, o discurso de Jair Bolsonaro sobre os crimes de extermínio, feito em agosto de 2003:

O SR. JAIR BOLSONARO (PTB-RJ. Sem revisão do orador.) — Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desde que a política de direitos humanos chegou ao País a violência só aumentou e passou a ocupar grandes espaços nos jornais.

A marginalidade tem estado cada vez mais à vontade, tendo em vista os advogados para defendê-la.

Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um Parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo.

Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.

Na Bahia, pelas informações que tenho — lógico que são grupos ilegais —, a marginalidade tem decrescido. Meus parabéns!

Outra questão que quero enfatizar é que o País não pode discutir a diminuição da fome, da miséria e da violência se não discutirmos antes uma rígida política de controle da natalidade.

Chega de vaselina, de baboseira, de falar em educação, em saúde, porque esta não é a nossa realidade primeira. Não vamos atingir nossos objetivos se não atacarmos o descontrole da natalidade.

Agora há pouco uma Parlamentar do PT estava dizendo que um jovem, numa escola dessas de recuperação, agradeceu porque não mais cheirava e agora já sabia escrever o seu nome.

Ora, Sr. Presidente, demagogia barata igual a essa é uma vergonha para o Parlamentar! Não é porque uma pessoa sabe ler e escrever que está livre da marginalidade.

Temos de adotar urgentemente, sim, contra tudo e contra todos os defensores de direitos humanos, uma rígida política de controle da natalidade.

Chega de não darmos meios para evitar que casais coloquem no mundo mais crianças que não terão a mínima condição de cidadania no futuro.

Tenho uma proposta modesta: a liberação da laqueadura e da vasectomia para todos os maiores de 18 anos.

Espero ter o apoio dos meus pares. Talvez seja verdadeiramente o primeiro passo para o fim da miséria e da violência em nosso País.

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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1229513231863033856

“Olhem essa pérola:
@jairbolsonaro defendendo na tribuna da Câmara, em 2005, o miliciano Adriano, cuja esposa e mãe foram empregadas da família Bolsonaro e eram do esquema de rachadinha.
O presidente da República defendendo bandido, a quem chamou de herói.
#BolsonaroMiliciano

https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1229513231863033856

Zé Maria

Nota do Partido dos Trabalhadores (PT)

“Não há nenhum Queiróz no PT, nenhum Adriano. Nenhum foragido, protegido pela PF, pelo Ministério da Justiça ou pela Presidência da República.”

“Bolsonaro precisa parar de se esconder por trás de mentiras, como o covarde que é.”

“Bolsonaro tem sim de explicar suas ligações e de sua família com o mundo do crime, antes de lançar mentiras e insultos contra o PT”

16/02/2020

Jair Bolsonaro é viciado em mentir.
Diante de denúncias, suspeitas e problemas reais, sua reação é fazer acusações sem provas. Fez isso com Leonardo DiCaprio, com o Greenpeace, com a Miriam Leitão, com o presidente francês Macron, com ex-presidentes do INPE, do IBGE, do BNDES, já mentiu até sobre seus ministros e parceiros do PSL.
Mas seu alvo principal sempre foi o PT, e contra nós e nossos dirigentes montou uma fábrica de mentiras nas eleições de 2018.

Bolsonaro volta a mentir e fazer acusações falsas ao PT e ao governador Rui Costa, para desviar a atenção sobre a morte do miliciano Adriano, testemunha das ligações da família Bolsonaro com o mundo do crime, das milícias e dos desvios de dinheiro no gabinete do filho Flávio.
Ultrapassa os limites do cinismo ao exigir esclarecimentos sobre essa morte e as de Marielle e Anderson, sobre as quais quem deve saber muito são pessoas próximas a ele, e volta a fazer insinuações covardes sobre a morte do prefeito Celso Daniel, 18 anos atrás.

Bolsonaro tem sim de explicar suas ligações e de sua família com o mundo do crime, antes de lançar mentiras e insultos contra o PT.

Nossos dirigentes enfrentaram e responderam na Justiça todas as denúncias, mesmo as mais falsas, em processos marcados pela parcialidade, como está evidente no caso do ex-presidente Lula.
Não fugiram de suas responsabilidades, não se esconderam, não mentiram.
E a cada dia que passa a verdade vai ficando mais clara sobre esses processos de mentiras e perseguição.

Não há nenhum Queiróz no PT, nenhum Adriano.
Nenhum foragido, protegido pela PF, pelo Ministério da Justiça ou pela Presidência da República.

Bolsonaro precisa parar de se esconder por trás de mentiras, como o covarde que é.

O Brasil precisa de coragem para enfrentar e superar a dura realidade que se abate sobre nosso país e nosso povo: fome, desemprego, destruição do estado e das políticas públicas que protegiam os mais pobres.

O Brasil precisa da verdade!

Gleisi Hoffmann
Presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores

Sem Chance

Tiro de fuzil já diz bem qual era a intenção da polícia baiana às ordens dos poderosos. Nem carro de passeio blindado “segura” tiro de fuzil.

Zé Maria

Entrevista Especial:José Cláudio Alves, Estudioso das Milícias no Estado do RJ

“As milícias crescem velozmente por dentro do Estado”

“A relação das milícias com o Estado é determinante
para o que ela se transformou nos dias de hoje,
uma estrutura de poder absoluta, ampla, autoritária,
expressiva e crescente no Rio de Janeiro”

“O braço político [das Milícias] tem se ampliado desde as últimas eleições [2018]
no campo federal, principalmente, e estadual, com a eleição, se não de milicianos
diretamente eleitos, de bancadas de partidos de ultradireita, conservadores, permitindo a eleição de uma bancada fundamentalista, voltada para a lógica de que ‘bandido bom é bandido morto’.”

” Nesse sentido, a Bancada da Bala se ampliou muito no Rio de Janeiro,
projetando figuras simplesmente insignificantes, ignoradas pela população
daqueles que atuavam politicamente, que vieram numa onda extremamente
conservadora projetadas por esse discurso do aumento da violência, aumento
da execução sumária, da prática da eliminação do outro, da lógica do armamento,
e tudo isso tem ampliado o poder político desses grupos.”

“Tenho dito que cinco décadas de grupos de extermínio se reverteram em
70 a 75% da votação que Bolsonaro e a extrema direita – que se associou a ele –
obtiveram na última eleição na Baixada Fluminense.”

“Isso não é uma surpresa; foi algo construído ao longo das últimas cinco décadas,
se contarmos tudo que aconteceu desde a ditadura empresarial militar no Brasil.
É sob essa égide que vivemos ainda.”

“Desde o início eu sabia que havia o ‘dedo da milícia’ e a prática típica
de execução sumária de grupos de extermínio, e que isso levaria
aos negócios e aos interesses econômicos de políticos que a milícia estabelece
a partir daquela região, mas numa rede que é muito maior do que Rio das Pedras.”

“Então, toda essa rede pode ter algum grau de envolvimento no assassinato de Marielle,
na sua organização, na sua proteção e no seu financiamento.
Demorou um ano para se dar um retorno muito pífio desse caso,
que foi a prisão de duas pessoas.
Essa é uma estrutura muito mais ampla e com muito mais relações,
uma rede muito maior que deveria ser revelada e apresentada nesse quadro.”

Íntegra em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/587500-as-milicias-crescem-velozmente-por-dentro-do-estado-entrevista-especial-com-jose-claudio-alves

Zé Maria

O Beáto Dalanhól e o Marréco de Maringá *
não quiseram fazer o Páuer Pôinti da Milícia
do Clã Bolsonaro, mas o pessoal fez igual:

https://pbs.twimg.com/media/EQ1VyNSXsAAZHKD?format=jpg

*O “Marréco de Maringá” é também conhecido como
“Jagunço de Miliciano” e “Capanga de Milícia” …

https://twitter.com/revistaforum/status/1228719599505592327

Lava Jato “tem seu mentor envolvido até o pescoço” na máfia das delações,
diz o @DeputadoFederal Paulo Pimenta (PT=RS):

“Esse esquema envolveu Carlos Zucolotto, compadre do então juiz da operação,
Sérgio Moro, e o procurador que dava nome ao principal grupo de whatsapp
da mesma”, tuitou o deputado, referindo-se ao grupo “Filhos de Januário”,
revelado pela #VazaJato no The Intercept BR.

https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1228657201750978560
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1228661672602198017

https://revistaforum.com.br/noticias/lava-jato-tem-seu-mentor-envolvido-ate-o-pescoco-na-mafia-das-delacoes-diz-paulo-pimenta/

Zé Maria

“JULIA EMILIA MELLO LOTUFO”, hoje viúva do Miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-Capitão do BOPE/PMRJ executado no interior da Bahia,
também trabalhou na Assembléia Legislativa do Rio (ALERJ) no Cargo de
ASSISTENTE VII com Salário Líquido de R$ 3.446,76
(vide página 33 de 77 da Folha de Pagamento do mês de abril de 2017 da ALERJ:
http://www2.alerj.rj.gov.br/leideacesso/spic/arquivo/folha-de-pagamento-2017-04.pdf)

Nesse período, também trabalhavam na Alerj Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, respectivamente mãe e ex-esposa
de Adriano.
As duas eram lotadas no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro
e são suspeitas de terem participado do esquema …

https://revistaforum.com.br/politica/namorada-de-adriano-da-nobrega-foi-parada-e-liberada-pela-policia-rodoviaria-federal/

Clairton Felicio

Parece que somente o sr. rui costa, este INCOMPETENTE (para dizer o menos) que (des)governa a Bahia, não sabia que o miliciano Adriano tinha ligações com o clã Bolsonaro. Ele e sua maravilhosa policia, da qual ele, como governador, é o comandante.
Era fundamental, na verdade decisivo para o futuro do país, que este miliciano fosse capturado com vida e devidamente interrogado pela polícia baiana, pois ele sabia muito sobre os podres do clã Bolsonaro.
Onde anda o LULA, que depois de solto parece que se esqueceu de como se faz POLÍTICA.

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