Ben White: A solução de dois estados está morta

Tempo de leitura: 3 min

The two state solution is dead

Votação na candidatura plena da OLP nas Nações Unidas marca o fim dos acordos de Oslo, diz o autor

por Ben White* Last Modified: 22 Sep 2011 08:37, na Al Jazeera

Esta semana deveria marcar o fim do assim-chamado processo de paz — e da “solução de dois estados”. O que quer que aconteça nas Nações Unidas, o jogo terminou e a transição para algo completamente diferente está em andamento.

Este mês marca 18 anos desde a assinatura dos tratados de Oslo e da declaração do lado palestino de que reconhecia o direito de Israel de existir. Em retorno, Israel reconheceu a legitimidade da Organização para a Libertação da Palestina [OLP] para representar os palestinos. Aquela foi a troca e esta assimetria moldou o “processo de paz” desde então.

Outro aniversário — este ano marca os 20 anos da Conferência de Madrid que deu origem a Oslo. Duas décadas de negociações e”autonomia temporária”; duas décadas de colonização israelense, construção de muros, e criação de situações de fato. Mas para melhor entender porque isto é, como diz Ali Abunimah, o funeral da solução de dois estados, relembre uma frase curta usada pelo primeiro-ministro israelense Netanyahu na semana passada, que ecoou palavras do ex-primeiro ministro Yitzhak Rabin.

Discutindo a iniciativa palestina das Nações Unidas, Netanyahu disse: “Enquanto for menos que um estado, estou pronto para falar sobre isso”. Aí está o resumo de décadas de negociações e “compromissos” de Israel.

Voltando a 1995, apenas um mês antes de seu assassinato, o então primeiro ministro Rabin disse ao Knesset [Parlamento de Israel] que “gostaríamos que isso fosse uma entidade que é menos que um estado”. Rabin, canonizado pelos pregadores da “coexistência”, em seguida definiu o que entendia como “solução permanente”: Jerusalem como capital de Israel e o “o estabelecimento de blocos de assentamentos na Judéia e Samaria”.

Então, como aconteceu com os surpreendentemente convertidos à causa (Sharon, Olmert, etc.) que viriam depois dele, a conversa de Rabin sobre um “estado” palestino foi moldada por uma motivação principal: o desejo de preservar um “estado judeu” e evitar um “estado binacional”.

Assim, enquanto muitos no Ocidente consideravam o processo de paz como sendo sobre geografia, na verdade para Israel sempre foi sobre demografia. O máximo de terra, o mínimo de árabes — e através de seus parceiros da Autoridade Palestina, “máximo de poder, mínimo de responsabilidade”.

Apoie o VIOMUNDO

Recentemente, um debate aconteceu em Londres sobre o estado palestino com a presença de proeminentes comentaristas e diplomatas israelenses. O consenso foi de que a “demografia” tornava a solução de dois estados imperativa para salvar Israel como um estado judeu. Como um convidado regular da Fox News, Alon Pinkas, resumidamente colocou: “Nossa pátria tem muitos árabes, por azar”.

David Landau, ex-jornalista do Ha’aretz e agora na The Economist, era o mais preocupado de todos. Deveríamos estar comemorando, ele disse, que os palestinos sob Mahmoud Abbas ainda querem uma solução de dois estados e não estão pedindo “uma pessoa, um voto”.

Até certo ponto, ele está certo; não é a atual liderança palestina que vai redesenhar a luta. Mas a hora disso acontecer está chegando. Enquanto os palestinos e seus apoiadores crescentemente e inteligentemente colocam “direitos” no centro de suas campanhas, em breve o reconhecimento de que judeus e palestinos precisam compartilhar um país como iguais vai significar que os únicos que vão sobrar falando sobre um estado palestino serão aqueles que tentam preservar um regime de exclusividade etno-religiosa judaica.

*Ben White é jornalista freelance e escritor, especializado em Palestina e Israel. Seu primeiro livro, “O apartheid de Israel: Guia para iniciantes”, foi publicado pela Pluto Press em 2009, recebendo elogios, entre outros, de Desmond Tutu, Nur Masalha e Ghada Karmi.

The views expressed in this article are the author’s own and do not necessarily reflect Al Jazeera’s editorial policy.

Tradução: Luiz Carlos Azenha

Leia também:

A Grécia, forçada a abandonar a zona do euro

Paul Krugman: O sangramento enfraquece o paciente

Nouriel Roubini: Danou-se, então, o capitalismo?

Naomi Klein: Preparem os canhões de água e as balas de borracha

Doutor Doom guarda dinheiro no colchão

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Luca K

Acho este texto do Alan Hart(q estou repostando) fundamental para entender o q ocorreu e o tamanho da injustiça cometida. Recomendo seus livros, a coleção "Zionism: The real enemy of the Jews".
Para que as pessoas possam entender melhor o assunto, ofereço uma traduçao grosseira – mas suficiente – de parte de um texto recente do veterano jornalista e autor britanico Alan Hart, que cobriu durante muitos anos o conflito árabe-israelense, inclusive para o programa Panorama da BBC. Ele é autor de vários livros sobre o conflito na Palestina.

“[…]
Mas primeiro um pouco de luz sobre a questão do direito de Israel de existir ou não.

De acordo com a primeira versão ainda existente do rascunho da história judaico-cristã ou ocidental, Israel recebeu a sua certidão de nascimento e portanto, legitimidade, através da Resolução de Partilha da ONU de 29 de novembro de 1947. Isto é uma BOBAGEM.

* Em primeiro lugar, a ONU sem o consentimento da maioria do povo da Palestina NÃO TINHA o direito de decidir dividir a Palestina ou atribuir qualquer parte do seu território a uma minoria de imigrantes estrangeiros a fim de que estes estabelessem um estado próprio. (O termo "estrangeiro" está correto porque quase todos, se não todos, os judeus que foram para a Palestina em resposta ao chamado sionista não tinham qualquer ligação biológica com os antigos hebreus. Eram principalmente europeus que se converteram ao Judaísmo muito tempo depois do fim da primeira ocupação israelita da Palestina. A noção de que há dois povos com uma reivindicação igual à mesma terra é um absurdo).
* Apesar disso, pela mais estreita das margens, e só depois de uma VOTAÇÃO FRAUDADA, a Assembléia Geral da ONU passou uma resolução de dividir a Palestina e criar dois Estados, um árabe, um judeu, com Jerusalém não fazendo parte de nenhum dos dois. Mas a resolução da Assembleia Geral foi apenas uma proposta – o que significava que poderia NÃO ter qualquer efeito, não se tornaria política, A MENOS que aprovada pelo Conselho de Segurança.
* A verdade é que a proposta da Assembléia Geral para partição NUNCA foi enviada para o Conselho de Segurança para apreciação. Por que não? Porque os EUA sabiam que, se aprovada, só poderia ser implementada pela força, e o presidente Truman não estava preparado para usar a força para dividir a Palestina.
* Assim, o plano de partilha foi viciado (TORNOU-SE INVÁLIDO) e a questão do que diabos fazer sobre a Palestina após a Grã-Bretanha ter feito uma bagunça e se afastado foi levado de volta à Assembléia Geral para mais discussão. A opção favorecida e proposta pelos EUA foi de tutela temporária da ONU. Foi enquanto a Assembléia Geral estava debatendo o que fazer que Israel unilateralmente declarou-se em existência – na verdade desafiando a vontade da comunidade internacional organizada, incluindo a administração Truman.

A verdade da época era que o estado sionista que (como já mencionei anteriormente) surgiu principalmente como conseqüência do terrorismo sionista e limpeza étnica, NÃO tinha o direito de existir e, mais ao ponto, NÃO PODERIA TER O DIREITO DE EXISTIR a menos … A menos que fosse reconhecida e legitimada por aqueles que foram despojados de suas terras e seus direitos durante a criação do estado sionista.

No direito internacional apenas os palestinos poderiam dar a Israel a legitimidade que ansiava. E ESTA LEGITIMIDADE foi a única coisa que os sionistas não puderam tirar a força dos palestinos.”

A continuar…

Luca K

Vejam um pouco do documentário TEARS OF GAZA. [youtube U0WKVhIpgr4&feature=player_embedded http://www.youtube.com/watch?v=U0WKVhIpgr4&feature=player_embedded youtube]

Roberto Locatelli

A revolta dos povos árabes cresce exponencialmente. Cresce também em organização e consciência.

Ou Israel reconhece a Palestina ou Israel será riscado do mapa por um levante de todo o Oriente Médio.

    annac

    Israel tem armas convencionais e atomicas fornecidas pelos USA. É o que viabiliza Israel como Estado. .

Ricardo

Já que estamos sugerindo textos: http://www.haaretz.com/print-edition/opinion/the-

"Why is it that there aren't enough Israelis who see the opportunity and hope for Israel represented by this diplomatic step? Yes, for Israel too. And why is it that there aren't enough Israelis who properly see the clear fact that the heart of almost the entire world is with the Palestinians, and that it isn't ringing a belated and deafening wake-up call for them?".

Beto_W

Emocionante e histórico discurso de Abbas na ONU (em inglês) http://gadebate.un.org/sites/default/files/gastat

    Luca K

    Ah Abbas!! O mais que provado colaboracionista de Israel e EUA.

Beto_W

Acho que a frase de David Landau resume a realidade da situação: Abbas, ao se dirigir à ONU com o pedido de reconhecimento da Palestina, estará abrindo mão de parte das reivindicações do povo palestino, e estará formalmente demonstrando a predisposição a aceitar as fronteiras de 1967 – implicitamente aceitando por consequência a existência de Israel delimitada pelas mesmas fronteiras. Infelizmente, o governo de Israel não consegue enxergar isso.

    Luca K

    E vc acha linda tal situação neh Beto; da tua perspectiva de sionista bonzinho, vejamos; salvaguardaria Israel como estado judeu sobre 80% das terras roubadas dos palestinos. Parece bom não? Pena que os sionistas hard core não aceitem entregar aos legítimos habitantes da terra nem essas migalhas né? Em seu extremismo, os sionistas correm o risco de ver a entidade sionista fracassar por completo.. entendo sua frustração. :P

    Beto_W

    Puxa, Luca, eu gostava mais de sionista "light"…

    Não, eu não acho linda essa situação, mas para o momento acho que é tangível – e nas atuais circunstâncias, o tangível é muito importante. Talvez, no futuro, se os dois povos conviverem em paz por tempo suficiente, eles perceberão o quanto têm em comum, e se unirão para formar um único estado, onde toda e qualquer etnia e religião seja protegida de perseguição, e nenhuma se sobreponha às outras.

HMS TIRELESS

Por mais enxovalhada que seja, a única solução viável é a dois Estados. Oportunistas, esquerdalhas e fascistas ou seja, aqueles que não reconhecem o Estado de Israel e pregam o seu fim, tentam maldosamente vender a utopia de um só país.

    Sergio Barbosa

    Dúvdo que exista um Estado mais Fascista do que Israel !

    Leider_Lincoln

    "Esquerdalhas"? Que nível intelectual, hein? Vou aprender a zurrar e depois volto para teclar com você no mesmo idioma. Ah, lembranças minhas ao Cabeção!

Zé Fake

A solução de dois estados está morta desde 1967. O que espanta é a quantidade de gente que se deixou enganar com esse negócio, sendo que todo ano, entra ano sai ano, impreterivelmente, os israelenses continuaram (e continuam) aumentando o número de "colônias" na Palestina ocupada. A Cisjordânia não tem mais volta, os palestinos já a perderam. E a Faixa de Gaza sozinha é inviável como estado. Enfim, sinto muito pelos palestinos, mas eles já perderam a Palestina.

    Luca K

    Talvez Zé… mas as coisas mudam… às vezes muito súbita e rapidamente. Quem imaginaria q o imperio soviético desmoronaria da maneira que desmoronou? Por ex, a realidade demográfica na região é terrível para os sionistas. E como diz o outro; demografia eh tudo…

    Zé Fake

    Se fosse pra ter acontecido alguma coisa já teria acontecido…afinal, já se passaram 45 anos.

    A "realidade demográfica" leva tempo, muito tempo, tempo demais. Enquanto isso o governo israelenses vai criando as "situações de fato" impossíveis de serem revertidas.

    Na verdade eu acho que a situação até tende a piorar para os palestinos, visto que a insanidade e a irracionalidade continuam avançando na política americana (Tea Party, etc). Eu acho que posição de americana de hostilidade aos palestinos deve aumentar no futuro próximo.

FrancoAtirador

.
.
The one-sided US veto: an astounding display of hypocrisy

By Neve Gordon and Yinon Cohen > Palestine > Redress Information & Analysis

21 September 2011

Neve Gordon and Yinon Cohen argue that the US plan to veto the Palestinians’ bid for UN recognition, under the pretext that unilateralism is misguided, is an astounding display of hypocrisy and double standards.

http://occupiedpalestine.wordpress.com/2011/09/22

Lucas

A solução de dois Estados tem certo mérito. Um Estado único colocaria dois povos que se odeiam num mesmo país. Isso não costuma dar certo (vide, Iugoslávia).

Mas, é claro, o ideal seria uma Palestina unida, e que árabes, judeus, cristãos cópticos, e todo o resto dos povos da região convivessem sem problema sob um único Estado (Ou, mais ideal ainda, sob Estado nenhum).

Qualquer solução que eles encontrem, espero apenas que essa votação na ONU ajude-os a encontrar mais depressa.

francisco.latorre

limpeza étnica. é o cão.
http://video.google.com/videoplay?docid=739357207

..

pra garantir. que todo mundo entenda.

e responder. antecipadamente. o conversê sionista.

..

    Paulo

    é bom lembrar a limpeza étnica que varreu os judeus dos territórios que ficaram sob controle árabe depois de 1947. Obs: os judeus não foram expulsos, foram exterminados.

    Luca K

    Buahahahhaha, vc não tem a menor idéia do q está falando!!! Ou pior, mente descaradamente!!

    francisco.latorre

    mente o cara.

    cinicamente.

    ..

    francisco.latorre

    ops..

    essa história de judeus exterminados foi outra.

    [ mistura canal pra confundir. pouco muito pouco.

    ..

    pois.

    de exterminados a exterminadores.

    choca.

    ..

    Paulo

    o curioso é como uma etnia submetida (supostamente) a uma "limpeza" tem crescido significativamente de tamanho. O faxina mal feita!

    Leider_Lincoln

    Você é muito cínico. Fez bem em adotar este nome para comentar aqui…

    francisco.latorre

    cínico o cara.

    descaradamente.

    ..

    cronopio

    Desculpem, mas vocês não entenderam meu comentário… não há nenhum cinismo, Benny Morris é um dos novos historiadores que, após ser ameaçado pelo estado israelense, mudou de lado. Outro dos novos historiadores, Pappé, foi mais corajoso e manteve suas posições. Benny Morris usou uma estratégia "cínica", para fazer uso do adjetivo que me imputaram: ele não desmentiu a limpeza étnica, como os sionistas tradicionais, mas lamentou que ela não tenha sido completa. Ele o fez comparando a limpeza étnica promovida por Israel com a conquista das Américas, entre outros exemplos. Entendem agora?

    cronopio

    Essa é a posição do Sionista Benny Morris, que lamenta apenas "que a limpeza não tenha sido completa". A propósito, chamar de faxina o extermínio de um povo me traz más recordações. A consolo é ver o sionismo de direita perdendo cada vez mais força política e angariando a antipatia de todos os setores democráticos, em escala mundial.

Deixe seu comentário

Leia também

Política

Roberto Amaral: Basta de banditismo militar e recuo republicano

Governo Lula tem a chance de escapar do corner

Política

Manuel Domingos Neto: Questões correntes

Comandantes militares golpistas, kids pretos, prisões, Múcio, Lula…

Política

Jeferson Miola: O CNPJ do golpe

Cumplicidade corporativa e institucional