André Singer: Vaivém de Dilma revela choque de correntes submersas

Tempo de leitura: 2 min

por André Singer, na Folha de S. Paulo, sugestão de Júlio Cesar Amorim Macedo

O quiproquó africano, em que a presidente Dilma Rousseff disse o que queria e foi obrigada a engolir o que falou, revela o momento peculiar da política brasileira.

Vitaminada por excelente performance popular, a mandatária foi traída pelo desejo de não ceder aos desígnios do mercado. Depois, contrariada, diante da realidade dos interesses de quem joga com dinheiro, precisou recuar.

Trata-se de mais um episódio no longo braço de ferro que opõem desenvolvimentistas e mercadistas no centro das decisões nacionais. Em agosto de 2011, empurrado pelo recrudescimento da crise globalizada, o Banco Central pegou os agentes financeiros de surpresa e iniciou uma escalada para baixo da taxa básica de juros. Até outubro de 2012 rebaixou a Selic de 12,25% ao ano para os 7,25% atuais, deixando para trás, no país, a marca dos dois dígitos e a condição de campeão mundial do rentismo.

Numa ação coordenada, inexistente no período Lula, no qual o BC rezava por outra cartilha, o Planalto fez a sua parte. Em maio passado, bancou a mudança da remuneração da caderneta de poupança e, em seguida, comprou briga com os bancos privados para obter a redução dos “spreads”, ou seja, obrigá-los a cortar na carne. Pouco antes, para completar, havia realizado uma mididesvalorização do real, tornando o câmbio pouco flutuante.

Em suma, sem alterar as premissas do lulismo, pois nada disso foi realizado com mobilização popular, ocorreu um ensaio desenvolvimentista. Atacou-se os pilares da orientação neoliberal e tentou-se criar as condições para um forte investimento produtivo, sobretudo na indústria. O problema é que o investimento não veio e os resultados, em matéria de crescimento, foram pífios. Pior, na área capitalista só faz crescer a toada de que sem reduzir o custo da mão de obra, leia-se, aumentar o desemprego, o Brasil ficará estagnado.

Diante da decepção com a falta de coragem para investir, da pressão por diminuir o valor do trabalho e de algum soluço inflacionário, a ousadia desenvolvimentista arrefeceu. Em lugar de seguir a necessária redução de juros e do valor do real, vieram do governo medidas privatizantes e desoneração sobre a folha de salários. O experimento ficou no meio do caminho, criando uma situação híbrida.

Os próximos rounds se darão nas reuniões do Copom de abril e, sobretudo, de maio, quando a gritaria para esquecer de vez o desenvolvimentismo e voltar por inteiro à direção antiga será máxima.

Enquanto isso, o mercado já elevou, por conta, os juros futuros. Foram eles que Dilma derrubou com a sua fala desejosa, depois contida, em Durban. O vaivém na África do Sul expressa o choque de poderosas correntes submersas.

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Comentários

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[…] aqui […]

antonio fernandes

Calma ai Fernandes

MariaC

Acho que governo deve ser governo. Não se deixar chantagear.
No final os “empresários” que só sabem viver aqui, vão abrir, e querer investir aqui, e vão querer o BNDS.

As agências internacionais estão pressionanado o Brasil, na nota.Digo a máfia internacional.

Francisco

Num país em que “nacionalismo” é xingamento e NINGUÉM se dispõe a mudar isso, dá nisso…

Dilma ainda é do tempo em que acha que se governar “bem” papai do céu dá um doce.

Ela que abra o olho para a possibilidade de nem terminar o mandato…

Sem direita (que é prostituta) e sem esquerda (que ela não aciona), o corpo…

CAI!

Wanderson

Dilma e o PT nunca privatizaram qualquer ‘meio de produção’. Agora, as condições ideológicas precisam ser definidas. E isso requer uma regulamentação da mídia.

Leonardo Meireles Câmara

A vida quer é coragem…

jaime

Com uma dívida pública de mais de 3 trilhões de reais, é melhor ter muita cautela mesmo nesse assunto. O problema da Dilma fica claro quando ela diz que desconcentração da mídia é um vespeiro no qual ela não quer mexer. Mas não é o problema da mídia, qualquer área que demande habilidade política é um vespeiro e nessa questão dos juros, da dívida e do investimento ela achou que bastaria medidas estritamente técnicas para resolver; as medidas que ela aprendeu na faculdade. Agora, qual é a percentagem de economistas que têm uma visão política de esquerda? Qual é o economista que não justifica a dívida pública (isso sim, um vespeiro) dizendo que o importante é a correlação com o crescimento do PIB? Bom, o PIB do ano passado ficou abaixo de 1%, e agora?

Marisa

Boa a análise do André Singer; a presidenta, como uma das lideranças do PT, precisa começar o movimento que agregue as forças desenvolvimentistas do país.

simas

O fato é q a Dona Dilma se doeu ao ser questionada por um trabalhador. braçal, da mídia, maldita e terrorista.
O engraçado é q a Dona Dilma mostrou desconforto, na real, com as consequências, danosas, da pregação, terrorista, midiática; não o fora, teria, apenas, usado o seu velho… Ou, então, deixado a resposta à cargo de seus Assistentes, de área. No fundo, no fundo… ela perdeu o equilíbrio; pq, afinal, ela já está acionando uma liquidação, no nobre mercado, promovendo o leilão de área do pré-sal e mandando pro espaço um pretendido monopólio da Petrobrás. Afinal, ela já está, igualmente, dando asas ao Paulo Bernardo em sua corrida, particular, pra engavetar o trabalho do Franklin e a privatização, total, da Telefonia… E. tdo isso, sem uma contrapartida da mídia, mafiosa e terrorista, em sua luta por mais investimentos. Claro, neh? Essa gente quer o lugar, dela. E ela sabe q depende do sucesso administrativo, pessoal. Ela sabe, mto bem, q se não mostrar trabalho, os seus votos escorrerão por entre os dedos, direto pro lixo. da oposição. E ela não vai ter militância, alguma, pra lhes respaldar, nessa luta; isso, depois de desfraldar a bandeira do desprezo, pra tda gente boa de briga… Ou ela não anda escolhendo péssimas parcerias?
Dona Dilma acende vela pra Deus e pro diabo; e vai ter de se ver, nos “finalmentes”, com a figura. Vai.

Willian

Mas ela disse ou não disse? Vi aqui que ela não disse e que foi o PIG que manipulou? Disse o que então?

    paulo roberto

    Tá vendo como só ler a Veja deixa a pessoa (no mínimo) mal informada?

    Willian

    Você que é bem informado, que não lê a Veja, que deve ler o Le Monde Diplomatique no francês, então me diga: o que Dilma disse e qual foi a manipulação da mídia?

    Afinal, ela disse ou não disse?

Silvio I

Nosso problema e não ter uma ideologia. Vejam Chaves na Venezuela em 14 anos criou uma ideologia de pátria com o Herói Nacional Simon Bolívar. Eles cantam o Hino Nacional nos nem sabemos a letra. Tanto no governo de Lula como o que vai do governo Dilma não se fala de Pátria, de Brasilidade. Somos patriotas cada quatro anos quando a pátria esta de chuteiras. O Congresso dominado por interesses particulares e religiosos..Não se tem dado a importância devida a Lei dos Médios.Argentina esta a nossa frente um milhão de anos Luz.

marcio gaúcho

Nossos empresários não são nacionalistas: são, antes de tudo, capitalistas!
Magoados pelas decisões do governo Dilma, resolveram desindustrializar o Brasil. Estão fechando as fábricas, causando desemprego e importando tudo da China. De industriais a meros comerciantes, da noite para o dia.
O Brasil é afiliado da OMC, aceitando assim as regras da comunidade internacional sobre comércio de produtos. A China, não afiliada da OMC, é usada indecente e cinicamente pelos países da OMC para produzir sem as mínimas condições de regras econômicas, de saúde, meio ambiente e trabalhistas. Enquanto essa questão internacional sobre a China não for equacionada e resolvida, viveremos tempos difíceis aqui no Brasil e na maioria dos países em desenvolvimento. Quanto aos nossos empresários, são um bando de covardes!

    MariaC

    Empresário brasileiro em geral é:

    pegar tudo prontinho do estado.
    não competir com estrangeiras pois não tem a mínima condição
    não fazer pesquisa tecnolígica pois isso demora
    não saber fazer uma escova de dentes que se encaixe na boca, direitinho.
    o industrial é na verdade comerciante
    o comerciante é comerciante e sonegador e descaminhador, com excessões

Vinícius

falta de coragem não, a idéia é não alimentar uma futura anti-campanha dentro do próprio partido dos trabalhadores, pagar um pouco mais de verbas federais destinadas a públicidade, e continuar apanhando das grandes corporações.

Fabio Passos

Ganhar esta disputa contra o rentismo parasita defendido pelo PiG e fundamental para o Brasil.

Dilma teve a ousadia de reduzir os juros. Nesta questao fundamental Dilma foi alem dos avancos promovidos por Lula.
A luta e entre 50 mil familias de ricacos vagabundos x toda a massa de trabalhadores brasileiros.

Para o Brasil decolar com altas taxas de crescimento falta uma desvalorizacao mais significativa do cambio e dobrar a aposta em uma ampliacao do PAC, com novos investimentos publicos, e no aumento da participacao da renda do trabalho no PIB. Os resultados desta politica pos crise de 2008 sao conhecidos… foram um sucesso e elegeram Dilma.

Apostar nas reproducao das politicas neoliberais de fhc que, todos sabemos, foram desastrosas e quebraram o Brasil 3 vezes… e dar corda para se enforcar.

Carlos Cruz

O governo de D.Dilma não tem coragem de enfrentar os “poderosos”. Basta um rugir e corre, com mil desculpas e baixando-se (aos poderosos!). Efetua desoneração, empresta dinheiro a juros irrisorios, privatiza, leiloa cargos ministeriais entre “aliados”. Baixa-se vergonhosamente aos esquemas politicos que tanto condenava. O Pt, na realidade, virou burgues, hoje é elite. Demagogicamente ainda se diz “do trabalhador”, mas apenas para enganar os incautos. E burgues anda com burgues. Viva a Globo, Folha, O Globo, Veja, os maiores recebedores das verbas federais de propaganda. Viva as multis, que recebem dinheiro do BNDES para investir e o remete para as matrizes no esterior. Viva a nova burgesia petista!!!

Fernandes

Certo! Corretíssimo o texto.

Agora, se o pt e seu governo ficar nessa de medinho, é bom falar logo.
Pelo menos não terei vã esperança!
Tá no hora do “ser” da Dilma buscá-la!
Tá na hora dela atualizar sua prática com sua vontade.
É bom esticar; tensionar; jogar uma ceta histórica em direção à esquerda e à igualdade; esquerda medrosa é esquerda morta.
É bom ela pensar na sua própria história.

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