Eliara Santana: Datafolha revela papel da mídia na construção/descontrução de Bolsonaro

Tempo de leitura: 3 min
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Por Eliara Santana

Fotos: Reprodução de vídeo e de redes sociais

BOLETIM EXTRA DO JN: A pesquisa Datafolha, Jair e o papel da mídia

Pesquisa revela detalhes interessantes para além dos índices de aprovação/desaprovação

Por Eliara Santana, em seu blog

A recente pesquisa Datafolha sobre o desempenho de Jair na pandemia revela, de modo muito interessante, o papel da narrativa midiática.

Vamos aos dados, como mostrados na edição de hoje (14-12) do JN.

Como vemos, a partir de abril deste ano, a avaliação ótimo/bom para o desempenho de Jair na pandemia cai, assim como a avaliação regular.

Isso começa a se alterar a partir do final do final de julho, começo de agosto, quando a avaliação positiva de Jair volta a subir, o que permanece no patamar até este mês de dezembro.

Recuperando a história recente, vamos comparar o comportamento da mídia, e aqui evidencio a atuação do JN, mas não somente. O que temos então:

No final do mês de março, reportagens no JN mostram que a pandemia chega ao país com força.

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O ministro da Saúde era Mandetta, e a situação era mostrada como estando sob controle, com várias ações em todos os estados, hospitais de campanha sendo construídos, preparação para o caos.

Começava também a discussão sobre ações necessárias para ajudar os desempregados e as pessoas que estavam sem renda. Bolsonaro já começa a ser negligenciado, colocado de lado; o protagonismo é do ministro Mandetta.

No início do mês de abril, com a crise da pandemia se agravando, vemos surgir outra crise, delineada por William Bonner na abertura do jornal. O anúncio grave de Bonner resumindo as inquietações do dia:

“Desde o início do dia, rumores correram de Brasília para o Brasil inteiro sobre uma saída de Luis Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde. O Brasil acompanhou isso com aflição porque, como todos sabem, o ministro defende medidas de isolamento para combater a disseminação da doença enquanto o presidente da República, que é o chefe dele, discorda, diverge, presidente que o desautorizou na semana passada, inclusive ameaçou o ministro de demissão no fim de semana. Por tudo isso, foi uma segunda-feira de enorme tensão com esses rumores todos”.

No dia 16-04, a saída do ministro Mandetta evidencia o tamanho do problema do país e dimensiona, para a opinião pública, a postura anticiência do presidente da Republica.

No dia 20-04, após Bolsonaro dar seu apoio a manifestantes que pediam a volta do AI-5, a edição do JN dimensiona o caos que o país vive com a Covid e a falta de ação do presidente.

Ao longo do mês de abril, a pandemia se torna uma realidade cada vez mais grave no Brasil e presença marcante, pela mídia, nos lares brasileiros.

Edições tomadas pelo tema, manchetes nas capas de jornais e revistas, reportagens enormes mostrando covas abertas aos montes. A completa ausência de Jair do centro de comando é super evidente.

No dia 24-04, novo clímax do caos, com a saída tumultuada de Sergio Moro do governo. A edição do JN foi memorável, quase uma peça antecipada de campanha.

No dia 29, a edição do JN se dedica a desconstruir Jair depois que ele diz que a pandemia é uma “gripezinha”: em 13 minutos, entre outros assuntos, o JN mostrou que Jair Bolsonaro é o chefe de Estado no mundo que tem a pior postura em relação ao enfrentamento da pandemia.

E fez isso de forma inquestionável, reconstruindo a memória do espectador e fazendo a ligação entre a fala do mito e a explosão do vírus.

Os meses de maio e junho mantêm essa toada de desconstrução de Jair.

Ele foi deixado ao natural, livre, leve e solto para falar todas as asneiras e idiotices que quisesse.

Aparecia sem máscara, comia churrasquinho na praça, fazia propaganda de cloroquina, conversava com as emas, criticava a OMS. E tudo era mostrado, em detalhes, sem cortes nem edições. Jair ao natural.

Por muito tempo. Todo dia. O que sem dúvida se refletiu na queda de apoio de que já falamos, mostrada pela pesquisa.

Até entrar em cena a parte 2 do grande acordo nacional.

A partir de 16 de agosto, há uma reordenação no tom da cobertura: a Covid ganha novo enfoque (perde a dramaticidade, a urgência na cobertura), política e economia desaparecem de cena, temas alto astral passam a ocupar as edições.

Nova ordem, novos arranjos.

Jair volta a aparecer quase como presidente: comportado, terno impecável, cabelo alinhado, falando manso, sem arroubos, falas editadas, sempre ao lado dos líderes da Câmara e do Senado.

Enfim, empacotado adequadamente. O momento já era outro.

Exatamente quando a pesquisa mostra a recuperação da avaliação positiva dele.

É evidente que o cenário é todo muito complexo, que há vários fatores e atores que se coadunam para explicar esse estado de coisas que o país vive.

No entanto, não dá pra desprezar o fato de que, quando a mídia corporativa achincalhou Jair, o desconstruiu, o golpe foi sentido.

Ou seja, há espaço para nova desconstrução. Aguardemos.

*Eliara Santana é jornalista e doutora em Estudos Linguísticos pela PUC/UFMG.

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Eliara Santana

Eliara Santana, jornalista, doutora em Estudos Linguísticos, pesquisadora do Observatório das Eleições.


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Comentários

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claudio

Seguir forte batendo no bozo, talvez tenhamos alguma chance de salvar o resto do braziu.

    Nelson

    Caro amigo.

    A mídia hegemônica e seus comentaristas só batem nas piruadas e bobajadas ditas e cometidas pelo Bozo. Trata-se de uma tática para fazer com que as pessoas se fixem no “animador de picadeiro”, na expressão usada pelo ex-senador Roberto Requião, e esqueçam da pauta principal que é o desmantelamento, a demolição final do Estado brasileiro que virá via privatizações e desestruturação completa do serviço pública.

    E esta pauta vem sendo implementada de forma quase que completamente silenciosa pelo governo do Bozo. Eu não duvidaria de que o motivo para que o Guedes tenha optado por se afastar dos holofotes seja este. Silenciosamente, sem fazer muito alarde, fica bem mais fácil para eles “passarem a boiada” das privatizações e desmantelamento do Estado.

    Então, amigo. Eu te digo que a mídia hegemônica é tão ou mais podre que o governo Bolsonaro e dela a esmagadora maioria do povo brasileiro deve esperar absolutamente nada. Essa mídia tem compromisso apenas com o grande capital, nacional ou estrangeiro.

    A esta altura, só vejo duas formas de “salvar o resto do braziu”. A primeira deve passar pelo povo, que precisa se cientificar do que está a passar com seu país, se unir, se organizar e partir para a pressão sem tréguas sobre as autoridades, seja no Executivo, seja Legislativo ou no Judiciário, exigindo que governem e decidam para o todo e não apenas em benefício do grande capital.

    Como, apesar da imensa gravidade da situação do país, a vontade de se unir e passar a lutar anda bem magra entre o povo brasileiro, creio que nos resta somente esperar pela misericórdia do “Patrão Velho”.

Zé Maria

Resiliência de Bolsonaro mostra que ele
não chegou até onde chegou por acidente

Por Matheus Pichonelli*, no Yahoo/Notícias

Quando tomou posse como presidente, em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro levou para o centro do Palácio do Planalto uma legião de Bolsonaros anônimos.
Não foi dele que ouvimos pela primeira vez que todo mundo vai morrer um dia.
Nem que o temor do vírus ou da morte é coisa de maricas.
Da mesma forma, ele não foi o primeiro a associar o feminino a uma “fraquejada”.
Ou a dizer que prefere um filho morto em acidente a um filho homossexual.
Nem a afirmar que o mundo anda chato demais por não poder dizer em paz as
barbaridades de sempre.

Isso tudo já ouvimos de parentes, vizinhos e amigos.
As declarações podem causar arrepio às mentes supostamente mais ilustradas,
mas calam fundo no coração de boa parte dos conterrâneos.
Ninguém atravessa o século 21 com tantas tralhas de séculos passados apenas
por acidente.
É preciso muito esforço e muita convicção para conservá-las.

Todo mundo conhece quem cruzou o novo milênio e morreu convicto
de narrativas particulares segundo as quais o homem nunca foi à lua,
que vacinação é uma forma de implementar moléculas destruidoras
no organismo do cidadão de bem, que a Terra é plana, que o mundo é dominado
há anos por meia dúzia de pessoas que se reúne anualmente para decretar
os destinos do planeta. Inclusive quem serão os ganhadores da Copa do Mundo.
Se soubéssemos o que aconteceu nos bastidores da final do Mundial de 98,
ficaríamos enojados, eles dizem.
É tudo armação, garantem.

Nascer e crescer não é um constante encontro e desencontro com a verdade e a
sabedoria;
dá para embrutecer muito com a idade e guardar no armário uma coletânea
de teimosias sem qualquer relação com a realidade, do chupa-cabra ao ET Bilu …

Quem saiu da toca após o período mais tenso da pandemia provavelmente já percebeu quanto é gritante o número de pessoas que circula convicta de que a China criou um vírus em laboratório para destruir as potências capitalistas ocidentais e assumir a dianteira do controle mundial. Não é um ou dois. São vários embaixadores dessa tese. Unidos no WhatsApp, as vozes dispersas viram multidão. E, como multidão, vira também força política –bem alimentada por gabinetes de ódio de todo tipo, diga-se.

Medo, desespero e desinformação são armas poderosas em tempos de crise. Elas permitem o surgimento de teorias da conspiração que oferecem sentido às convicções, ainda que sem relação com os fatos. Na conta entram também as manias de perseguição e a crença na salvação pelo milagre, da cloroquina aos imunizantes naturais de quem, olha lá, nada até em rio poluído e não acontece nada.

Bolsonaro não é o primeiro a expor tais ideias. Mas é quem levou essas ideias mais longe. É o presidente que escreve errado por linhas tortas.

As armas usadas aqui para trazer eleitores, leitores e espectadores para a realidade são inócuas. Elas trazem no léxico palavras como genocídio, fascismo, nepotismo, crime de responsabilidade, xenofobia, conflito de interesses. O esforço em direção à palavra certa pra doutor não reclamar parece não mover sobrancelhas nos estratos preocupados apenas com a sobrevivência –e que, no auge da pandemia, vê no presidente um defensor de seus interesses quando ele diz que não se pode obrigar alguém a ficar em casa sem poder trabalhar. Ou quando esse presidente ora posa como o poderoso protetor dos oprimidos pelo lockdown, ora posa como vítima de perseguição dos poderosos e seus interesses.

Protocolos de combate à epidemia podem ter sido eficazes em diversos países. Aqui, as particularidades são outras, a começar pela informalidade do trabalho e por aspectos também culturais, que fazem boa parte da população esquecer dos riscos da aglomeração e lotar festas e bares com ou sem as recomendações da Organização Mundial da Saúde, entidade bombardeada por quem vende teimosia como soberania.

Tudo isso desemboca num quadro confuso como o desenhado pela pesquisa Datafolha divulgada neste domingo. O instituto mostra que, apesar de todos os esforços para liderar a corrida de pior liderança do planeta na gestão da pandemia, o governo Bolsonaro ainda tem a aprovação de 37% dos brasileiros, ante 32% que o consideram ruim ou péssimo. É ainda a pior avaliação de um presidente em primeiro mandato desde Fernando Collor, mas ainda assim é um sinal de resiliência e tanto.

Por ironia, 37% é também o número de brasileiros que dizem nunca confiar no presidente, contra 39% dos que confiam às vezes e 21% dos que confiam sempre. Não é motivo de regozijo, mas não deixa de espantar que 2 em cada 10 brasileiros acreditem que a pandemia esteja no finalzinho e que, se não estiver, ainda temos a cloroquina como salvação. Provavelmente acreditam também que churrasqueiros amigos da família foram parar por acaso no sítio do advogado da família ou que os esforços para estancar a sangria de investigações contra os filhos, com uso de equipamento e dinheiro público, sejam movidos por patriotismo.

Entre os brasileiros que confiam sempre em seu presidente, 35% são empresários –parte deles diretamente impactados pelas medidas de isolamento, que os impedem de abrir suas lojas, bares, restaurantes ou centros de serviço caso as autoridades estaduais, com quem Bolsonaro rivaliza, acentuem as restrições. Entre os empresários o governo Bolsonaro tem 56% de aprovação. Todos estão no corre para não deixar a fonte de renda secar.

A mesma pesquisa mostra que, para 52% dos entrevistados, o presidente não tem culpa nenhuma pelo total de mortos por coronavírus. Ele é apontado como um dos culpados por 38%, enquanto 8% dizem que ele é o principal culpado. Quantos deles sabem que, não fosse o Congresso, medidas como auxílio emergencial sequer sairiam do papel? Ou que parte dos recursos de combate à pandemia foi parar em projetos da primeira-dama?

O Brasil é um dos países onde mais se morre de coronavírus do mundo. Poucos se lembram dos prognósticos do governo de que a pandemia mal faria estragos por aqui, que seria como um vírus da gripe comum, que os estragos na economia seriam maiores do que no sistema de saúde, que dois ministros da área foram demitidos e o terceiro só está onde está porque é obediente e não contesta o chefe quando este manda boicotar os esforços de adversários políticos em torno da vacinação ou espalha mentiras sobre o imunizante no país onde só 73% pretendem se vacinar (contra 89% em agosto, quando a eficácia da produção não estava em xeque pelo presidente).

No caso da vacina chinesa, apenas 47% dos brasileiros dizem que pretendem tomá-la, contra 50% que se negam. O nome disso é preconceito e Bolsonaro pode até surfar na sinofobia, a rejeição a tudo o que vem da China. Mas não foi ele quem a inventou. Para entendê-la, é preciso resgatar o imaginário criado sobre os povos chineses desde Hollywood.

Em 2017, uma pesquisa do instituto Ipsos Mori, da Grã Bretanha, mostrou que num ranking de 38 países o Brasil ficava à frente apenas da África do Sul em capacidade de perceber a própria realidade em diversas questões.

É neste contexto que Bolsonaro e congêneres moldam não a realidade, mas a narrativa sobre a realidade, em canais próprios que não só desdenham dos filtros da ciência e dos fatos como os atacam diariamente. É o que permite negar os riscos da pandemia da mesma forma como se nega o racismo no país em que negros são estatisticamente a maioria dos mortos pela violência.

Não se pode dizer que Bolsonaro não tem sido bem-sucedido até aqui. Quatro em cada dez brasileiros estão fechados com ele. Pensam como ele e não se espantam com o que pensam.

*Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero e em Ciências Sociais pela USP.

Íntegra em: https://br.noticias.yahoo.com/datafolha-aprovacao-jair-bolsonaro-142225391.html

Zé Maria

Foi preciso para a Mídia Venal de Direita
maneirar com Jair Bolsonaro no Período
das Campanhas Eleitorais Municipais,
vez que havia Vári@s Candidat@s de
Esquerda com Boas Chances de Vitória.
E a Direita Neoliberal do Mercado, da qual
a ‘Emprensa’ braZileira é Representante,
precisava – e precisa* – da Extrema-Direita
Fascista (dos Anti-Esquerdistas** Fanáticos)
para fazer a Campanha Suja das Fake News,
Calúnias, Difamações e outras Infâmias, na
Internet e Alhures.

* É por isso, inclusive, que as dezenas de pedidos
de impeachment continuam engavetados na
mesa do Presidente da Câmara dos Deputados.

** Aí se incluem as Milícias Digitais Bolsonaristas
Anti-Lulopetistas e ‘Anticomunistas’, em geral,
abastecidos pelas Manchetes da Mídia Venal,
numa Articulação Tácita contra @s Candidat@s
da Esquerda nas Eleições Municipais de 2020.
Aliás, esse Conluio do Grupo G.AF.E (Globo, Abril,
Folha, e Estadão) e seus Respectivos Replicantes
Fascistas já vem de longa data.

Henrique Martins

Se é problema do senhor ou não se sua vida está em risco não me interessa. Até porque, agora que o senhor já teve a doença e está imunizado é muito fácil falar isso.
Ocorre que é problema do senhor colocar a vida dos brasileiros em risco. Genocida.

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