Colunistas| 14/05/2012 | Copyleft
DEBATE ABERTO
Poder da mídia: diferenças entre Brasil e Inglaterra
Ao contrário da Inglaterra, onde a denúncia sobre o News of the World se tornou pública pela ação de um veículo da grande mídia (The Guardian), aqui a primeira reação – salvo uma rede de TV (Record) e uma revista semanal (Carta Capital) – foi ignorar o envolvimento da mídia no escândalo Carlinhos Cachoeira.
(*) Publicado originalmente na revista Teoria e Debate.
A Inglaterra do século 17 constitui a referência moderna obrigatória para o entendimento da liberdade de expressão republicana centrada na vita activa e no autogoverno. A terra de John Milton e Tom Paine tem sido um dos palcos fundamentais do debate entre republicanos e liberais em torno da ideia de liberdade, ao mesmo tempo em que lá se constituíram modelos importantes de prestação do serviço público de radiodifusão (BBC), de regulamentação (OfCom) e de autorregulamentação (PCC) das atividades da mídia.
Por tudo isso, as revelações tornadas públicas originalmente pelo tradicional The Guardian, no início de 2011, de práticas “jornalísticas” criminosas desenvolvidas rotineiramente pelo tabloide News of the World, do grupo News Corporation, desencadearam reações imediatas por parte do governo britânico, de instituições privadas e de cidadãos.
Uma investigação já foi concluída na Comissão de Cultura, Mídia e Esporte da Câmara dos Comuns e seu relatório divulgado no último dia 30 de abril; pelo menos outras três ainda estão em andamento no âmbito da polícia (Weeting, Eldeven e Tutela); várias ações civis impetradas por cidadãos que se consideram vítimas de invasão de privacidade também estão tramitando. E o inquérito mais importante de todos, mandado instalar pelo primeiro-ministro com o objetivo de esclarecer “o papel da mídia e da polícia no escândalo de escutas telefônicas ilegais” (Inquérito Levison), em julho de 2011, prossegue interrogando, entre outros, jornalistas e empresários.
Uma das consequências mais concretas das denúncias até agora foi o anúncio da agência autorreguladora (PCC), em fevereiro passado, de que estava sendo descontinuada para dar lugar a outra, com poderes de interferência mais eficazes. E no Brasil?
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Nas últimas semanas os brasileiros estão tomando conhecimento de atividades criminosas entre grupos empresariais privados, políticos profissionais no exercício do mandato, setores da polícia e do Judiciário, além da aparente cumplicidade de importantes órgãos da mídia tradicional. A se confirmar, estaríamos diante de um gravíssimo desvirtuamento profissional e ético do papel da imprensa, colocada a serviço de interesses políticos e empresarias privados e criminosos.
Escutas telefônicas apontam para uma relação que vai muito além daquela admissível entre o jornalista e sua fonte. Há indícios não só de um comando da fonte criminosa sobre a pauta jornalística, mas, sobretudo, de uma cumplicidade em relação a objetivos empresariais e políticos.
Lá e cá
Ao contrário da Inglaterra, onde a denúncia sobre o News of the World se tornou pública pela ação de um veículo da grande mídia (The Guardian), aqui a primeira reação – salvo uma rede de TV (Record) e uma revista semanal (Carta Capital) de menor circulação – foi ignorar o envolvimento da mídia no escândalo. Num segundo momento, a solidariedade explícita e ameaçadora dos principais grupos privados de mídia com o grupo sob suspeita.
Uma CPMI foi instalada no Congresso Nacional, mas até agora não há indicação clara sobre a disposição de investigar o envolvimento de grupos de mídia com as ações criminosas.
No Brasil não há órgão de regulação ou de autorregulação da mídia, portanto, ações específicas nessas áreas não existem nem existirão.
Já o governo brasileiro tem revelado total inapetência para assumir o papel de protagonista em relação à regulação democrática do setor de mídia. Nem mesmo os princípios e normas da Constituição de 1988 foram regulamentados, e portanto, na sua maioria, não são cumpridos. Há décadas se anuncia um projeto de marco regulatório para o setor de comunicações que, até agora, não se materializou.
Ao contrário da Inglaterra, no Brasil não há compromisso histórico com a liberdade de expressão. Nosso liberalismo nunca foi democrático e prevalece uma interdição branca até mesmo do debate público das questões ligadas à regulação do setor de mídia. Recentemente, a bandeira da liberdade de expressão foi indevidamente apropriada pelos mesmos grupos que apoiaram o golpe de 1964, responsável pela censura oficial que vitimou, inclusive, seus próprios apoiadores por mais de duas décadas. Aparentemente, todavia, temos algo em comum com a Inglaterra: graves desvios no comportamento de jornalistas e de seus patrões. Mas ainda não temos no Brasil nem os instrumentos institucionais, nem a vontade e a força políticas para enfrentar o poder desmesurado da grande mídia.
*Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.
Comentários
TV Cultura: Audiência pública nesta quarta-feira « Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Venício Lima: Diferenças entre o Brasil e a Inglaterra […]
Mário SF Alves
Melhor que fosse Grana (Bufunfa, Money, et caterva)?!! Mas, afinal, por quê Cuba tem sempre de vir à tona como sendo “a referência”? E desde quando a luta pelo desenvolvimento socio-econômico do Brasil pode ser comparado à revolução cubana, ou a Cuba dos dias que seguem? E mais, qual o problema – porque tanto ódio? – contra o pequeno-grande País que há décadas e décadas vem enfrentando com honras aquela máquina de triturar autonomias, os EUA?
Fabio Passos
Nassif analisando o retorno de rupert civita fingindo ser “editor” da revista veja…
Porque Civita reassumiu o cargo de editor de Veja
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/porque-civita-reassumiu-o-cargo-de-editor-de-veja
”
Só hoje me alertaram para um detalhe significativo na última edição de Veja. Em meio a páginas de puro pânico, há um boxe com um artigo de Roberto Civita, apresentando-se como Editor da Veja.
Por que isso, se tempos atrás ele se afastou de tudo, inclusive da direção editorial, delegando ao sucessor Fábio Barbosa? E no final de uma semana em que houve fortes rumores de pedido de demissão de Barbosa?
Simples de entender:
Ao passar o cargo de diretor editorial a Barbosa, Roberto Civita enredou-o em uma armadilha. Agravando a situação da revista – na CPMI ou na Justiça – o responsável legal passaria a ser o novo presidente.
Aparentemente, Barbosa deu-se conta disso nos últimos dias. Percebendo, ameaçou pedir demissão, o que jogaria a Veja no inferno.
Aparentemente, a solução negociada foi o tal registro de Civita nas páginas da revista, apresentando-se como seu editor.
Tudo tem seu preço. Até então Civita aparecia meramente como presidente do Conselho de Administração da Abril. Com a pequena nota, a CPMI encontrou elementos para futuramente convocá-lo.
“
Fabio Passos
O PIG desesperado para esconder o envolvimento da quadrilha veja com rupert civita…
e o PHA se divertindo:
CPI, a Veja e a Globo:
“somos todos policarpos”
http://www.conversaafiada.com.br/pig/2012/05/17/cpi-a-veja-e-a-globo-somos-todos-policarpos/
Marcio H Silva
HISTÓRIA MAL CONTADA
Queimado de sol, cabelos brancos displicentemente penteados, terno azul, sem gravata, Antonio Galotti entrou como um furacão no saudoso Antonio’s, no Leblon, naquele fim de noite de fevereiro de 79. O restaurante explodiu numa salva de palmas continuada e sarcástica. Alguém gritou: “Apaguem-se as luzes! Não precisa mais! A luz chegou!”
Tarso de Castro respondeu:
– Ótimo! Todas as contas pagas!
Paulo Casé, desconsolado:
– Que pena, eu acabei de pagar a conta.
Todo mundo já sabia do último escândalo nacional. Geisel, que ia entregar o governo a Figueiredo no dia 15 de março, antes de sair comprou por uma fortuna a Light, presidida por Galotti, que teria que ser devolvida de graça ao governo brasileiro porque o prazo de concessão estava terminando.
Uma mesa começou a cantar, com a música do Flamengo:
“Galotti, Galotti, tua glória é lucrar! Galotti, Galotti, campeão de faturar!”
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GALOTTI E CHICO
Galotti senta-se à mesa de Miguel Lins, Otto Lara Rezende, Mauro Salles:
– Meus amigos, que foi bonito, foi! Foi ou não foi bonito? Foi maravilhoso! Não ganhei zero da Light na transação. Tive só 39 do Brascan (US$ 39 milhões que recebeu do grupo canadense Brascan, que “vendeu” ao Brasil a Light que já era do Brasil). Estou emocionado! Tô chorando! Me dá um lenço que vou chorar! Me dá teu lenço, Mauro, para eu enxugar minhas lágrimas! Como no samba, eu chorei!
E as lágrimas lhe rolavam rosto abaixo, indisfarçadas. Falava agitado. Em outras mesas, Rubem Braga, João Nelson Sena, Arnaldo Jabor, Norma Benguel, os Miguel Faria, pai e filho, Chico Buarque.
Na mesa atrás da de Galotti, amparado pelo vinho e pelo jantar, fui discreto anotando toda a estrepitosa euforia dele, que contou tudo noite adentro e no dia seguinte publiquei na “Tribuna da Imprensa”: “O Delírio de Galotti”. A IstoÉ reproduziu e está em meu livro “Pais e Padrastos da Pátria”. Chico Buarque ia saindo, Miguel Lins o chamou: “Antonio, você conhece o Chico?”
“Muito prazer, meu filho. Você ainda é muito mais charmoso pessoalmente do que nas fotos. Você sabe quem eu sou?
– Sei, sim. O senhor não é o homem da história mal contada?”
O governo de Geisel acabou assim, com uma história mal contada.
Fonte: Sebastião Neri, o único que presta na Tribuna da Imprensa.
Mário SF Alves
Legal, Márcio. Mas, afinal, quem foi que lucrou com isso? Não. Não vá me dizer que foram os de sempre, os ilustres donos da Casa-Grande.
Vaffanculo
Não tenho a menor duvida que nossa imprensa é tudo que de ruim se diz dela senão pior (tenho pra mim que tudo que os políticos dizem uns dos outros é a mais pura verdade)…mas pensemos por um segundo na alternativa…e…maravilhas da grande rede.. não é que essa experiencia está ao alcance de um click????? então dão uma olhadinha em http://www.granma.cu Não é uma graça???
neopartisan
A Comissão da Verdade revelará a malignidade do PIG desde tempos imemoriais?
http://www.youtube.com/watch?v=n6HV-Jpc3I8
ricardo
Começar um texto em defesa da “regulamentação” da mídia mencionando o poeta John Milton é o fim da picada. Nota-se que o articulista não fez o dever de casa. Areopagítica nele!
Fabio Passos
Autorregulação?
A proposta do PIG é o carlinhos cachoeira continuar monitorando conteúdo?
A sociedade da quadrilha veja com o crime organizado é ainda pior do que fez rupert murdoch.
civita publicou “reportagens” que tinham objetivo de favorecer negócios de bandidos.
O pilantra do civita tem de ser investigado e exemplarmente punido.
Gustavo Pamplona
É… tem muita diferença…
Eles vivem uma monarquia secular, uma das mas longevas ditaduras “travestidas” já existentes onde os cidadãos sustentam a séculos uma mesma família.
E outro dia até o Jornal Nacional e o tal do Marcos Losekann confessaram que os cidadãos britânicos não tem democracia de fato… bom… foi uma reportagem falando que a Rainha (Sim! a Rainha!) dizendo que faltava democracia na Inglaterra e os cidadãos teriam que ter o direito de votar em seus representantes na Câmara dos Lordes (equivalente ao Senado), bom… até hoje só podem votar na Câmara dos Comuns.
http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos/t/edicoes/v/rainha-elizabeth-menciona-tema-polemico-em-projeto-do-governo-britanico/1940330/
E não se esqueçam do restante dos países do Commonwealth, todos subordinados a coroa… onde elegem um governador geral ou primeiro-ministro, caso de Austrálias, Canadás, etc.
Acho que o único que se salva é um que se rebelou totalmente lá no ano de 1776 num dia 4 de julho, um tal de Estados Unidos e que hoje tecnicamente falando a Inglaterra é que é subordinada a ele.
Mas se bem que isto acontece também com um certo país de nome Portugal e um outro de nome Brasil! hahahahahaha
—-
Desde Jun/2007 subordinando a países no “Vi o Mundo”! ;-)
Gil Rocha
O mais interessante são esses
bobocas doutor disso e daquilo
falando em censura.
Falou da rede Record que é a única
que é isenta e blábláblá.
Hoje vi uma reportagem sobre o caso.
Obviamente lembraram da Veja, lembraram
da Delta.
Mas esqueceram por exemplo, do governador
Sérgio Cabral e as festinhas e viagens com
o ex dono da Delta.
E olha que foto e filmagem não faltou.
Aliás, o Cabral não é lembrado por ninguém por
aqui também.
Eu já disse aqui uma vez, todas as empresas
de mídia do Brasil tem seus interesses.
Só é bobo quem acha que não.
Gersier
“mas ainda há vida inteligente no Brasil e que não permitirá, como querem alguns, o controle ou censura da nossa imprensa.”
Pelo seu comentário,nota-se.
Ligue pro cerra,pro aócio,pro anestesiado,pro aidemim e pro mineiro azêdo e avise que as vidas inteligentes brasileiras não permitirão “o controle ou censura da nossa imprensa”
Ou não são eles que pedem as cabeças de reporteres?que os ameaçam perguntando onde trabalham?que compram a peso de ouro milhares de assinaturas para serem vesgos? que processam blogueiros?que querem censurar a internet?
marco
inclui o quessab aí que ligou na Band pra chiar q estavam noticiando o acidente metrô-SP. a coisa tá tão feia que teve gente do psdb que disse que só podia ser “sabotagem” e ninguem pergunta “Todos os dias?”
Mario Silva Lima
Acorda lulipe!Esqueceu-se da tentativa de invasão do apartamento do José Dirceu?
Gil Rocha
E isso prova o que?
Prova que o repórter fez
algo ilegal.
Mas prova que a revista tinha
conhecimento?
Marcio H Silva
Tu é muito bobinho. Não sei se bobinho de nascença ou profissionalmente bobinho……
lulipe
Não tem nada a ver o que aconteceu na Inglaterra e o que aconteceu aqui.Na Inglaterra o jornal realizou escutas ilegais de celebridades e vítimas do 11 de junho em Londres, ou seja, cometeram crimes.Aqui foi, como bem frisou um dos delegados da PF, relação fonte-jornalista.Não adianta deturpar os fatos, talvez alguns alienados acreditem nisso, mas ainda há vida inteligente no Brasil e que não permitirá, como querem alguns, o controle ou censura da nossa imprensa.Próximo…
Jackson Filgueiras
Aqui não houve monitoramento ilegal de pessoas?
Não houve arapongagem, grampo, recolhimento de informações por meios ilícitos?
lulipe
Desafio você, caro Jackson, a mostrar uma prova apenas que a Veja fez escutas ilegais de quem quer que seja, como aconteceu na Inglaterra.Não vale suposições ou achismo, certo???
Gil Rocha
lulipe, você precisa entender
que a maioria aqui não quer saber
de prova nenhuma.
Arapongagem, grampo, recolhimento de
informações por meios ilícitos não existe
uma prova de que foi feito por jornalistas
da Veja ou qualquer outro veículo de imprensa.
Não tem prova mas e daí, eles estão até sem
mostrar as tais de 198 ligações do Policarpo e
o Cachoeira que diziam que existia.
E mesmo que exista, sem se ouvir o que falaram
prova o que?
É a ladainha de sempre, muito barulho por nada.
Quando tiver provas, eu vou vir aqui e meter o
pau na Veja.
Não só eu como boa parte do Brasil.
marco
vamo que o policarpo pusesse matéria que o demo era assim cum os home, será que seria eleito senador? pé no chão quem tá voando é vc…
Bonifa
Em verdade, até agora, não há indícios de crime cometido pelo jornalista Policarpo. Não é crime ser amigo de um criminoso, mesmo que esta amizade ajude o parceiro em sua carreira de crimes. Não é crime conhecer e omitir de seus leitores qual a verdadeira personalidade do senador Demóstenes Torres. Afinal, desmascarar Demóstenes significaria secar a fonte mais preciosa de informações. Não é crime publicar notinhas que atendam aos interesses de alguém, mesmo que ele seja um bandido. Mas o que espanta é que a sucursal de Veja em Brasília tenha se transformado em uma pequena usina de grandes escândalos, muitos dos quais sem provas e sem apoio em fatos. E era uma usina cujo fornecedor era um só: O criminoso Cachoeira. Verdade que Policarpo tentou trabalhar separadamente com os arapongas de Cachoeira, mas este logo os enquadrou nas regras de unidade e fidelidade do bando. E mesmo quando Policarpo obtinha informação de outra fonte, como na inexistente reunião de Dirceu com Cavendish, corria a procurar confirmação do Cachoeira, para saber sobre sua exatidão. Anos a fio de uma simbiose perfeita. Cachoeira usava a Veja como uma arma contra seus concorrentes e inimigos. E a Veja fazia o mesmo com Cachoeira, dependia de suas informações para atacar seus inimigos político-ideológicos.
Regina Braga
Corja de bandidos, escondidos por uma elite medieval.Que venha a lei dos médios e vamos ver como a turminha se adapta fácil,fácil!Acima do bem e do mal,nem em sonho jacaré.
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