Chacina de jovens em Belém foi convocada pelo Facebook

Tempo de leitura: 4 min

rotam

 No Pará, mais uma chacina para a PM explicar

por Sulamita Esteliam, em seu blog, A Tal Mineira, sugestão de Urariano Mota

Às 6:20 da manhã alguém no Twitter anunciava “40 mortos” em chacina que teria sido levada a cabo pela PM em bairros periféricos em Belém do Pará. Retaliação à morte de um cabo da corporação.

Assustada, nem retuitei. Degluti meu “bom-dia!” junto com o desjejum. E esperei clarear as informações – se é possível em casos assim.

Mais tarde, mas ainda pela manhã, as notícias davam conta de que o governo de Simão Jatene (PSDB), reeleito, admite oito mortes, além do defunto causador. No fim da tarde, as informações oficiais mantinha em nove o número de mortos, todos homens, a maioria jovens entre 16 e 27 anos.

Seis corpos identificados até meados da tarde, todos com características de execução. Dos nove na contagem oficial, “pelo menos seis”, admitidos pelo secretário de Segurança Pública com sinais de. Nessa conta se inclui o policial.

Consta que Antônio Marcos da Silva Figueiredo, 43 anos, o CB Pety, integrava milícia no bairro de Guamá. E seria responsável pelo luto de algumas famílias, lá e em outros bairros pobres da capital paraense.

Destarte, seu passamento forçado teria sido devidamente comemorado pelas populações do cinturão desassistido da exuberante Belém do Pará.

O massacre, qualquer que seja o número real, foi convocado pelo Facebook. E anunciado na página da própria Rotam paraense na rede social. Para se ter ideia a que ponto chega a nossa Polícia Militar, ou esquadrões que vicejam dentro da corporação; e não são coibidos, do contrário não proliferariam.

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A imagem teve 938 compartilhamentos e 9.967 curtidas até as 18:51 horas [ 5 de novembro], em que escrevo. A revelar que parte da população concorda com a máxima que orienta a revanche policial: a de que “bandido bom é bandido morto”.

rotam -- ocabo-defunto

Talvez por isso, a título de “informação”, a Rotam não se avexa de usar os comentários da própria postagem da homenagem-veredito para contabilizar a faxina, por volta de 1:30h da madrugada: 35 assassinatos até então – em Guamá, onde o policial foi morto, Terra Firme, Canudos e Cremação.

A “prestação de contas” está na imagem abaixo, que atualizei no início da noite. Notem o recado na “OBS: Ainda não acabou Ananindeua, Marituba, Santa Izabel e Castanhal.”

Contagem dos mortos à 1:30 da madrugada deste 05.11.2014, em Belém, segundo a Rotam.

rotam contagem-mortos

A Corregedoria de Polícia não confirma nem descarta a participação de policiais na chacina. E as autoridades da segurança pública recomendam cautela na interpretação do que circula nas redes sociais.

De fato, a rede aceita tudo – e a mídia pratica a seletividade de pauta, e também não apura nada que não lhe convenha, quando dá como fato o que lhe interessa mesmo sem provas.

Ainda viva está na memória a barbárie de Pinheirinho, em São José dos Campos, em São Paulo. Não se pode esquecer a violência gratuita da PM pernambucana contra os manifestantes do #OccupeEstelita, em maio deste ano, e da PM mineira contra os professores em Belo Horizonte a cada greve.

O furor repressivo contra os manifestantes de junho do ano passado, e não apenas black blocs  – em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sobretudo – ainda está para ser explicado. A truculência do Choque  fluminense e das forças de pacificação” na Maré, desde há poucos meses, e nas favelas cariocas desde sempre, não se explica.

Isso no passado recente e na cidade. A onda de violência no campo também é alimentada pela cultura do olho por olho e pela impunidade, ainda hoje.

Há 18 anos, o mesmo Pará era palco do que ficou na História como o Massacre de Eldorado de Carajás. O trucidamento de 19 trabalhadores sem terra, também por policiais militares – e também num governo tucano, de Almir Gabriel. Pelo menos 10 dos mortos foram executados com tiros a queima-roupa.

A chacina aconteceu em 17 de abril de 1996. Os 155 soldados que participaram do massacre não foram julgados. Os mandantes, o coronel Mário Pantoja, comandante da PM e o major José Maria Pereira da Silva, que comandou a operação só foram presos e condenados em 2012. Pegaram, respectivamente, 258 e 158 anos de condenação.

Nas cidades brasileiras, e não apenas nas capitais, o cotidiano das periferias é feito de suor e sangue, pouco estado e nenhuma justiça. Apesar dos avanços nas políticas públicas federais.

Nossos jovens estão sendo exterminados, e a cor da pele que, normalmente, anda junto com a escala social é a sentença de culpa, independentemente do feito. Estão aí, ano após anos, o Mapa da Violência, que não me deixa mentir.

A polícia, as milícias e os soldados do tráfico matam mais – não que atropelamento de automóvel, como cantava Adoniran Barbosa – do que as guerras planeta afora.

O que torna mais grave, se possível gravidade maior do que apagar uma vida, que dirá várias, dezenas – e com subsídio do Estado – é o desplante.  E este deriva da certeza da impunidade.  A gente sempre se pergunta: até quando?

Taí mais uma tarefa hercúlea para a próxima gestão Dilma Roussef: assumir a condução da política de segurança pública, até agora a cargo da esfera estadual, conforme prometeu em campanha.

Aqui o áudio que circulou pelas redes sociais com o aviso da chacina.  Recomenda aos “senhores”  do Guamá, Canudos e Terra Firme – não se sabe se moradores ou milicianos –, que fiquem em casa, “para sua própria segurança”, porque “mataram um policial nosso e vai ter limpeza na área. Ninguém segura ninguém, nem o coronel das galáxias.”

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Comentários

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marlene

“parte da população concorda com a máxima que orienta a revanche policial: a de que “bandido bom é bandido morto””, até que eventos penais batam em sua porte, ou de amigos, ou de parentes. Nesse momento se lembram das garantias constitucionais, de que existem direitos individuais, de que todo mundo tem direito ao processo LEGAL. Esse é o chamado “direito” penal do inimigo, cujo inimigo tem cor, condição social e endereço certos
Essas chacinas são o remanescente vivo da ditadura, a mesma ditadura que estava sendo chamada pelos apoiadores dos tucanos, a propósito, o governo do Pará é tucano reeleito.

O Mar da Silva

A herança da ditadura. Sem desmilitarização isso vai continuar.

Adilson

Azenha,

Melhorando a informação anterior: A TV Câmara no dia 04/11/2014, exibiu o programa “O Expressão Nacional ” promoveu um debate sobre a cobertura da mídia brasileira nas eleições de 2014. Esse tipo de assunto não é visto nas emissoras abertas. Os assuntos abordados começam com o “manchetrômetro”, propriedade cruzada, democratização dos meios de comunicação, monopólio, oligopólio, regulamentação dos artigos 220 a 224 da Constituição, o caso Rupert Murdoch, a tentativa de estelionato eleitoral da Veja, regulação dos meios de comunicação, dentre outros.
Os convidados são os deputados Beto Mansur, do PRB de São Paulo, e Emiliano José, do PT da Bahia; Janaíne Aires, doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ; e Rogério Gimenes Giuliano, mestre em Sociologia, especialista em Monitoramento e Avaliação de Programas da Mídia.
É um programa revelador, pois restou provado que as principais democracia do mundo tem regulação da mídia, a título de exemplo, cito: EUA. Inglaterra, França, Espanha e Portugal.
PS:É UM PROGRAMA QUE DEVERIA SER ASSISTIDO POR TODOS OS CIDADÃOS DO AIAPOQUE AO CHUI (revisor, é em caixa alta).
PS 2: Há um projeto de iniciativa popular coletando assinaturas para ser entregue na Câmara e no Senado, tratando de Mídia Democrática.
Eis o link do programa: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/476839.html

MAAR

Infelizmente, este parece ser o resultado padrão da violência policial incrementada pela administração da segurança pública em governos do psdb. A notícia reporta indícios de atuação sistemática de grupos de extermínio cuja estruturação e modus operandi não constituem nenhuma novidade em nosso país desde há muito. A semelhança com a tragédia observada em São Paulo em 2006 é assustadora. Inclusive no que tange à abjeta e criminosa apologia da violência assassina, que constitui uma forma de genocídio, e está vinculada à mecanismos de opressão, exclusão e discriminação, racial e social. É preciso que a sociedade reaja, através de suas instituições democráticas representativas, e exija do poder judiciário a única medida apta a erradicar de verdade a impunidade: o puro, simples e rigoroso cumprimento das leis. Este quadro crônico de implantação crescente de uma inescrupulosa deliquência hierarquizada no interior das corporações policiais é resultado da cristalização das distorções perpetuadas pelas arbitrariedades e ilegalidades praticadas em nome da ‘justiça’.

Bacellar

As PMs são um dos grandes problemas a serem enfrentados nesse mandato. Infelizmente são corporações corruptas, que vem ganhando um perigoso viés ideológico e estão infestadas de sociopatas e assassinos…Uma situação insustentável. Claro que existem PMs honestos, bons prestadores públicos…Mas nos grandes centros urbanos são cada vez mais raros.

    Jairo

    Existe pulica honesto? Onde? Em marte?

Narr

Vocês nunca leram Engels ou Rosa Luxemburg? É a barbárie, amigos.

Mauro Silva

já passou da hora de armar o cidadão, não apenas contra bandidos, mas, principalmente, contra bandidos fardados.
em tempo: a direita “punhos de renda” e a esquerda festiva são visceralmente contra cidadão armado.
bom sinal!

Adilson

Azenha,

A TV Câmara no dia 04/11/2014 promoveu um debate sobre a cobertura da mídia nas eleições de 2014. Esse tipo de assunto não é visto nas emissoras abertas. Dentre os assuntos é abordado a dobradinha Veja e JN.
Há a participação de um deputado petista da Bahia, que no meu sentir deveria ser ouvido pelos blog’s, uma vez que nos veículos de mídia tradicional o assunto regulamentação é tabu. Eis o link do programa: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/476839.html

Julio Silveira

Ao cidadão comum cumpre um alerta, primeiro começam com os que são definidos como bandidos, termina com os que eles definem como bandidos. E aí pode ser qualquer um, até você, se não aceitar calado tapa na cara, ou alguma outra violência inconstitucional qualquer.

Luiz

Até quando as pessoas vão aturar o Facebook, estava lendo outro dia que crianças jihadistas na Síria estão CONVERSANDO como militantes do “Estado Islâmico” no Facebook.

Rede Social está se mostrando outra coisa

    leonardo marques arnaldo

    endeusada pela midia”americana”brasileira! essa”rede social”é a maior desgraça da humanidade atual!

    Andre

    Concordo plenamente como você. Sempre aparecem denúncias de mensagens de ódio e glorificam de práticas de ódio no facebook. Sempre se olha para as pessoas que postam as mensagens. MAs e o facebook? Uma empresa capaz de capturar todas as suas preferencias transformando em dinheiro de progaganda – ou seja que faz quem usa a tal rede trabalhar de graça para eles – não é capaz de identicar esse tipo de mensagem? Qual a ligação dos proprietários do facebook com os grupos de extrema direita no mundo tudo? nenhuma??!!! Acho que deve ser iniciado pelas pessoas de esquerda e democráticas uma campanha de boicote ao facebook. A vida digital é possivel sem o facebook – que eu carinhosamente chamo de ‘fuhrerbook’. Eu não tenho, nunca tive e nunca vou ter facebook. Se houver uma saída em massa a empresa morre sem dinheiro. A janela dos fascistas para fazer propaganda no mundo todo se fechará.

luís alfredo chinali

barbárie!

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