Rodrigo Vianna: Moro quebra sigilo de Edu Guimarães, para intimidar blogueiros e lideranças críticas à Lava-Jato

Tempo de leitura: 4 min

Juiz das camisas negras sequestra computador e quebra sigilo de blogueiro: objetivo é intimidar

O objetivo da Lava-Jato era sequestrar Eduardo Guimarães para que ele revelasse a fonte que lhe vazou informações em 2016? Ou o objetivo era sequestrar o celular do Eduardo e o computador do Eduardo?  Os camisas negras poderão usar seus prepostos na internet para vazar diálogos, mensagens ou qualquer coisa que sirva pra intimidar blogueiros e lideranças críticas à Lava-Jato (e não faltam antagonistas e porra loucas de extrema direita pra cumprir esse papel).

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador

O juiz das camisas negras cometeu mais uma arbitrariedade. Não é novidade. Um juiz que vaza ilegalmente conversa sigilosa de presidente da República (como Sérgio Moro fez com Dilma); um juiz que oferece à mídia conversas pessoais da ex-primeira dama Marisa Letícia; um juiz que vai às redes sociais pedir apoio popular, como se fosse um justiceiro de filme de bang-bang; um juiz que confraterniza com a direção do PSDB, entre conversas de pé de ouvido e risos cínicos… Esse ser ainda pode ser chamado de juiz?

Hoje, Sérgio Moro deu mais um passo em sua carreira de arbitrariedades. Mandou a Polícia Federal bater à porta do blogueiro Eduardo Guimarães, um dos mais ácidos críticos da Lava-Jato. E determinou que se apreendessem todos equipamentos (laptop, computador, celulares) do blogueiro que, há 12 anos, cumpre papel jornalístico divulgando informações relevantes e expressando opinião no Blog da Cidadania.

Percebam a gravidade do ato praticado neste dia 21 de março de 2017. Ninguém mais está a salvo das arbitrariedades da vara de Curitiba. Depois de atentar contra a Democracia e o voto, depois de enterrar segmentos importantes da economia nacional, Moro e a Lava-Jato investem agora contra a liberdade de informação.

Isso só já seria grave. Mas pretendo mostrar que a ação tresloucada do juiz pode ter outro objetivo, que indica o caminho sem volta adotado pela Lava-Jato nesta terça-feira, 21 de março.

Em fevereiro de 2016, Eduardo Guimarães publicou em primeira mão a informação de que a Lava-Jato se preparava para conduzir Lula coercitivamente e invadir o Instituto Lula. Alguns dias depois, em 4 de março de 2016, os fatos se confirmaram. Isso enfureceu os procuradores da Lava-Jato e o próprio Moro. O jornal de direita “O Globo” fez reportagens mostrando que Guimarães deveria ser alvo de investigação. E assim se fez.

Oficialmente, o juiz das camisas negras determinou agora condução coercitiva de Eduardo Guimarães para que ele revelasse, na qualidade de “testemunha”, quem foi a fonte que lhe vazou a informação sobre a operação. Trata-se de um atentado à liberdade de informação. A Constituição estabelece o princípio do “sigilo da fonte”.

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Reparem: a Globo e outros meios tradicionais vazam tudo o que querem da Lava-Jato. Jornalistas jamais foram incomodados por isso. E é bom que assim seja, apesar do caráter unilateral e abjeto dos vazamentos globais. Mas a regra do sigilo da fonte não vale quando o jornalista que faz o vazamento é o dono de um blog com posições políticas claramente contrárias à Globo e a Moro.

Moro argumenta que Eduardo não é jornalista, por isso não estaria coberto por tal garantia. Aí está a malandragem. O provável é que Moro saia derrotado nesse debate jurídico, já que o STF já deu decisão clara sobre o fato.

Por que então conduzir Eduardo?

Pra mim, não resta dúvida: todo o show teve dupla função…

Primeiro, intimidar quem ouse criticar a Lava-Jato (nesse ponto, acho que o tiro sai pela culatra, e sei de vários jornalistas da chamada grande mídia que se mostram indignados com o ato ditatorial do juiz de fala mole).

Qualquer cidadão minimamente informado sobre a história sabe que a tendência é a seguinte: com o poder desmedido que angariou, Moro num primeiro momento vai intimidar os críticos mais identificados com a esquerda; depois, partirá pra cima de qualquer um. Não é à toa que jornalistas com posições tão diferentes como Ricardo Noblat, Kennedy Alencar e André Forastieri já se manifestaram publicamente contra a ação ilegal.

Em segundo lugar (e aí está o pulo do gato): o objetivo da Lava-Jato não foi apenas sequestrar Eduardo Guimarães para que ele revelasse a fonte que lhe vazou informações em 2016 (até porque o blogueiro saiu da PF, no início da tarde de terça, com a nítida impressão de que seus interrogadores já sabem quem foi o vazador)… O objetivo pode ter sido sequestrar o celular do Eduardo, o computador do Eduardo, e vazar de forma lenta, a conta-gotas, qualquer conversa reservada, pessoal, que possa ser constrangedora ao Eduardo ou a outros personagens que cumprem a tarefa de enfrentar Moro e sua tropa de assalto.

Moro já fez isso com grampos de Lula. Vazou primeiro. A Globo fez a festa. O STF, através do ministro Teori, aplicou-lhe uma leve reprimenda. Moro então pediu desculpas, e seguiu adiante. Mas o estrago já estava feito.

Objetivo agora é idêntico: os camisas negras poderão usar seus prepostos na internet para vazar diálogos, mensagens ou qualquer coisa que sirva pra intimidar blogueiros e lideranças críticas à Lava-Jato (e não faltam antagonistas e porra loucas de extrema direita pra cumprir esse papel).

O celular e o computador do Eduardo Guimarães serão torturados, até confessar o que a Lava-Jato quer ouvir. A tortura física de uma prisão indefinida (instrumento adotado pelo juiz das camisas negras) pode ser tão grave quanto a tortura psicológica de conversas pessoais tornadas públicas. Dona Marisa que o diga…

Se não houver contenção organizada ao juiz arbitrário, ele se sentirá livre pra partir pra cima de qualquer um que ficar à sua frente. Ninguém estará a salvo. Ou a sociedade contem agora o juiz das camisas negras, ou ele fará jus ao uniforme que nos lembra os tempos tristes de Mussolini na Itália.

P.S.: o objetivo deste texto é interpretar o grave momento pelo qual passamos; mas não poderia deixar de manifestar minha solidariedade pessoal ao Eduardo Guimarães e à família dele; a forma altiva como Eduardo saiu da PF, depois de passar pela intimidação judiciária determinada por Moro, mostra a fibra do blogueiro, que é também um combatente pela Democracia. Se Moro pensou que iria intimidá-lo, errou feio. Avante, Eduardo!

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Comentários

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Morvan

Boa tarde.

Vou repetir pela enésima vez, pois insistimos em tratar o Moron como alguém à parte do judiciário. A caixa baixa no nome de uma instituição burguesa, hipócrita, seletiva, revanchista, é intencional. Moron é só um dos golpistas. Ele chega a ser uma conveniência, um anteparo aos que gostariam de agir com o mesmo protagonismo mas que não gozam da proteção dos verdadeiros mandantes, aqueles que habitam as camadas do universo de Hades, submarinamente falando, os abissais.

Sem o concurso do judiciário, Moron, imbecignoll e Janot[a], Cunha e outros trêfegos seriam apenas histriônicas figuras de retóricas, ou seja, não teria havido golpe. Onde esta os Custus Legis, Constitutionis?. Estão garantindo o golpe. C. E. Cunha só foi tirado, mesmo que figuradamente, de circulação, após a efetivação do Impeachment sem causa determinante, nova jabuticaba

Saudações “#ForaTemerGolpsista; Eleger o ‘Jara’, recobrar o país das mãos dos destruidores. Reformas Política e do Midiaciário são indispensáveis“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

antonio inacio de lima

Aí eu pergunto na minha simples ignorância: para que serve essa Instituição “vulgo” STF ?

Nelson

“Um juiz que vaza ilegalmente conversa sigilosa de presidente da República (como Sérgio Moro fez com Dilma); um juiz que oferece à mídia conversas pessoais da ex-primeira dama Marisa Letícia; um juiz que vai às redes sociais pedir apoio popular, como se fosse um justiceiro de filme de bang-bang; um juiz que confraterniza com a direção do PSDB, entre conversas de pé de ouvido e risos cínicos… “Esse ser ainda pode ser chamado de juiz?”

Pois é, Viana. Em uma terra em que o Estado de Direito estivesse em pleno vigor, Sérgio Moro não seria mais admitido como juiz. E a pergunta é: como é que um juiz desse tipo pode se achar no direito de dizer quem pod eou não pode fazer às vezes de jornalista?

a.ali

À luta! não deixemos nos abater pelo verdugo e suas “medidas” desmedidas …

Policarpo

Para o “mercado”, verdadeiro promotor e beneficiário direto do Golpe de 2016, toda essa bagunça institucional e todo esse retrocesso político e democrático só lhe interessa a medida que lhe auxilie ou que se torne um estorvo à sua “agenda de reformas” que consiste basicamente na “solução de mercado” ironicamente executadas pelas “mãos visíveis” do Estado:
1. “flexibilizar” as leis trabalhistas facilitando a contratação, reduzindo a proteção e barateando a demissão dos trabalhadores,
2. “reformar” a previdência social ao mesmo tempo desobrigando o Estado uma de suas missões mais precípuas e oferecendo ao mercado um suculento negócio a ser explorado.
3. “privatizar” empresas públicas e serviços públicos oferecendo aos grupos privados nacionais e internacionais negócios em condições claramente favoráveis em termos de rentabilidade e condições de mercado.
4. “engessar” do ponto de vista da despesa de custeio e do investimento o orçamento federal (de preferência através de regras constitucionais como sempre insistiu o FMI) e manter capturado o tesouro via BC na dívida pública.
Portanto, para os piratas do mercado a única coisa que importa é retomar aquela “agenda de reformas” interrompida não só pela vitória do PT em 2002 como também devido a própria incompetência e ao fracasso do projeto de poder da nobreza tucana no segundo principado sociológico. A tal profecia dos 30 anos de poder do Serjão acabou se transformando numa maldição do PSDB.
O “mercado” opera no vazio e no caos político e institucional: delegados, promotores, juízes, todos os papagaios de pirata da grande imprensa e a pior corja da política brasileira são apenas vozes dessa cacofonia do golpe, cujo tom mesmo quem dita são os maestro dessa orquestra, os piratas do mercado.

Mirtes

Por que não ser faz algo para que ele devolva? É uma questão de dignidade pessoal.

Bel

Acho que o objetivo maior é desviar o foco da Operação Carne Fraca e dos nomes dos tucanos da lista de Janot. Ou
ainda, colocar os vazamentos na conta da PGR e trocar assim forçar a troca do procurador por um engavetador geral da república.

MAAR

CÂNCER EM METÁSTASE

O que se vê neste deplorável episódio é a enésima comprovação de que já não vigora o Estado Democrático de Direito. O regime de exceção, aprofundado a partir do impixe, tem se alastrado com rapidez, pois a continuada violação da legalidade constitucional é um câncer político, que corrói o tecido social em metástase acelerada.

E o mais gritante da condução coercitiva de Eduardo Guimarães é o fato de haver sido determinada por Juiz que litiga contra o blogueiro em outra lide. A escancarada violação do requisito da isenção e imparcialidade do julgador agride de forma gravíssima os mais elementares princípios jurídicos. E demonstra a patológica degeneração das instituições do Estado brasileiro, pois absurdos deste tipo não ocorreriam sem a garantia da impunidade, que deriva da politização da justiça (sic).

Apesar de lamentável, este descalabro de acintoso desrespeito à lei e à Constituição é mais uma prova da necessidade urgentíssima de resgatar a legalidade democrática através da construção coletiva de um projeto político capaz de reverter a trajetória acachapante, agravada após a farsa midiática da AP470. É preciso recriar as formas de fazer política, para transcender o círculo vicioso do messianismo, que tem sido utilizado como modus operandi do fisiologismo espoliador.

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