Foto Tânia Rego, Agência Brasil
OS AMARILDOS, A CPI DOS ÔNIBUS E OS VÂNDALOS
por Raquel Boechat, no Facebook
A CPI dos Ônibus terá nova sessão com início previsto para daqui a pouco, às 10h da manhã de hoje. A mesa é composta por membros da base governista de modo avassalador: apenas um é da oposição.
A investigação, que tem legitimidade constitucional, foi proposta pela oposição, e tem sido boicotada, sequencialmente, pela situação. É como chamar o assassino para julgar seu próprio crime, se quisermos uma analogia bem vulgar.
E é contra esse velho modelo que a Câmara do Rio já foi ocupada mais de uma vez: a primeira, de modo relâmpago, ainda em julho, e a última, treze dias atrás, que culminou em sua ocupação efetiva – e não planejada – na data da abertura dos trabalhos que, ao invés de se dar no plenário, foi a portas fechadas e em meio a artimanhas claras para impedir a entrada da população na casa e compor a bancada que só interessa a quem não interessa a CPI.
Aquela sessão foi à revelia de qualquer argumentação da oposição, que ainda pediu 20 minutos para que a população, ou parte dela, que coubesse no espaço do plenário, pudesse entrar, mas veio o golpe atropelando mesmo a fala de quem argumentava: o presidente da CPI, vereador Brazão, do PMDB de Cabral, Paes, Picciane, Renan e Sarney (para citar alguns), seguiu sua ditadura, finalizou aos trancos a votação da mesa que comporia a comissão, e deu por encerrado o serviço.
Revoltados, os cerca de 40 cidadãos que estavam no interior da sessão para acompanhar, desde cedo, os trabalhos, tentaram de todo modo argumentar, e foi dessa indignação que deu-se a ocupação da plenária (vazia de vereadores) por cerca de parte daqueles quarenta e de mais outros tantos que estavam do lado de fora, até então impedidos de entrar, totalizando cerca de 100 a 150 manifestantes, que deram início, ali mesmo, aos debates políticos sobre o que fazer, e como, em relação a uma CPI dos ônibus que não termine em pizza.
A ocupação teve esvaziamento significativo dos integrantes do interior do prédio, desde o primeiro dia, por motivos pessoais e por posicionamento político de alguns, já que nada havia sido premeditado. O #ocupacamarario, na parte de dentro, terminou ontem por força de um mandato judicial, com a retirada dos sete ocupantes que resistiram, durante 12 dias, de modo articulado, organizado, pacífico, ordeiro.
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Mesmo tendo sendo sido privados, nas primeiras 7 horas do 1o dia, de água, alimentos, luz e banheiro, puderam seguir graças ao total apoio dos manifestantes que acamparam na escadaria da Câmara e na calçada da Cinelândia, mesmo com o frio e a chuva que arrebataram o inverno carioca.
Houve ainda a solidariedade de pessoas simples, como um senhor de Nova Iguaçu, que foi de ônibus só para entregar duas quentinhas para os manifestantes veganos, alimentados também por um restaurante que os abasteceu sempre com um bilhete que assinava: “vocês me representam”. A solidariedade não parou por aí, houve ainda a doação de livros, cobertas, alimentos, dinheiro; o excedente foi distribuído para as ocupações da Aldeia Maracanã e do #ocupacabral, no Leblon.
O mandato judicial de reintegração de posse do prédio da Câmara do Rio foi publicado, em primeira mão, mesmo antes que advogados pudessem ter acesso ao seu teor, na coluna do Alcelmo Goes de O Globo, às 22h da terça-feira (20/08). Imediatamente, a primeira providência foi a retirada dos pertences pessoais dos ocupantes do interior do prédio, com a decisão unânime de que não resistiriam à decisão da justiça.
Minha madrugada de terça para quarta foi de vigília, buscando notícias de fontes seguras e articulando com a mídia independente, jornalistas, fotógrafos e advogados voluntários por suas presenças no local, assim que possível. Antes das seis da manhã eu já estava na porta, ao lado dos que ainda dormiam, dos que nem tinham dormido, e sem autorização para entrar, comecei a conversar com os Amarildos, um por um, entre as grades fechadas a corrente e cadeado.
Da conversa com eles, que só ratificaram minha esperança e certeza – entre as tantas de que uma parte do melhor do Brasil estava lá dentro, e de que eles, de fato, me representam, saiu uma longa conversa, que alcançou a hora do almoço. Lanço aqui um recorte da visão que eles têm da própria CPI que defendem, em nome de todos, e da decência.
Era pouco mais de duas da tarde, e foi um dia inesquecível, emocionante, de romper o choro e a alegria ao vê-los saindo amordaçados, cartazes em punho, cabeça erguida, faces de alegria e convicção seguindo, da porta lateral à escadaria. Em seguida, as mordaças foram retiradas, e foram eles que iniciaram os aplausos em meio a uma Cinelândia ocupada pela imprensa, manifestantes e transeuntes. Na linha final, próxima ao meio fio, PMs.
A pergunta, para as respostas abaixo, foi: “Qual sua avaliação até agora e no que você acha que vai dar a CPI?”
AMARILDO
Sinceramente eu não tenho expectativas quanto a CPI, a base governista aqui de dentro é muito grande, o PMDB comanda essa casa, eu acho que o que eles podem fazer, se a pressão continuar, é ter que reinstalar a CPI, mas vai continuar sendo o PMDB que vai comandar a presidência , o relator vai continuar sendo também da bancada governista, mas espero que, pelo menos, a oposição tenha mais posição – entraram na justiça pedindo proporcionalidade.
É no mínimo estranho uma CPI que quer investigar o poder público e suas ligações com as empresas sendo comandada por eles, gente que faz o que quer. E que toda essa movimentação nossa, as 5 mil assinaturas na internet, as 20 mil assinaturas em papel, e a mídia, sejam capazes de fazer com que os vereadores da base aliada repensem como o Estado está lidando com a política, porque as coisas mudaram e eles não tomaram consciência disso, ou não querem mudar.
AMARILDO
Quatro pessoas que estão nessa comissão atualmente não possuem interesse na CPI, pelo contrário, há fortes rumores de que empresários de ônibus banquem campanhas da base governista. A gente questiona: é chapa branca para uma falsa aparência de legitimidade, porque democracia só é para quando lhes é conveniente. Criaram uma página na internet para emular.
A página (Facebook) que estimulou a CPI dos ônibus, ainda em junho e julho, é a página O RIO QUER: CPI DOS ÔNIBUS, a nova é O RIO FAZ: A CPI DOS ÔNIBUS – esta, criada pela base governista, divulgada no jornal interno da Câmara e no Diário Oficial, dando a ilusão de que vai ser efetiva a CPI. Se é tão neutra e supostamente a favor dos fatos, claramente é uma máscara de democracia. Não vivemos em democracia, temos constituição, leis boas, mas alguns setores da mídia e o desembargador, tentam colocar outro olhar sobre a participação popular porque esta é mais rápida que a mídia, a política e suas autoridades.
AMARILDO
Temos que avançar e exigir que a Constituição de 1988 seja respeitada, e em 2013 temos ainda que estar nas ruas pra isso – pensávamos que a ditadura era de nossos tios e avós. Vivemos um momento crucial de realmente engajar e não negligenciar a vida política, porque se a população quer se ver representada tem que estar em conselhos populares e ir pras ruas, deve participar da vida política, e não se intimidar pela policia que é o braço do Estado.
O que queremos é uma CPI de verdade, limpa. E nada de vândalos, baderneiros! Qual violência existe em exercer o direito da Constituição? A violência é a física, promovida nas periferias, e que desceu às ruas.
AMARILDO
Se essa CPI continuar com a atual mesa, ela não vai levar a nada até porque quem leva à frente é o presidente que não tem interesse nenhum nela, apenas com os corruptos do Rio. Querem levar a CPI para quartel, Ministério Público, mas está evidente que sua atual composição tem sua legitimidade contestada: temos 20 mil assinaturas manuscritas que reafirmam isso. Mesmo que tentem manipular os fatos para conferir certa legalidade, temos que considerar que a legitimidade é importante.
AMARILDO
Eu acho que (o futuro desta CPI) está em aberto. Conquistamos com todos os nossos esforços a queda de braço sobre a legitimidade dela, ninguém a defende mais. O silêncio do presidente da CPI sobre a legitimidade diz por si só. Então porque continuamos com alguma coisa que ninguém defende, mas sim como deve ser, e não golpista como tem sido feita? As forças da legalidade estão contra o que é importante: a legitimidade política e popular.
AMARILDO
Tinha (na primeira seção) uma plenária com porta aberta e vazia, e uma reunião a portas fechadas. A questão é que não é só a CPI, como não eram só os 20 centavos, é tudo. O regulamento da ditadura que tem aqui é para eles fazerem o que quiserem, para trazerem Felicianos, ruralistas e comissões interessadas em temas que não direitos humanos, CPI dos ônibus ou CPI de qualquer coisa.
Extrapolaram o desrespeito à ética, coisa que pro futuro vai ser importante e que tem que ser pensada e defendida agora. Sobre quem tem opinião contra a gente, a gente entende que estes são vítimas do sistema; eles têm medo e falamos por eles, mesmo que não queiram ou não se sintam representados – a gente tenta. Enquanto há injustiça social, não podemos parar. São poucos no poder e muitos com demandas. Mas quando a gente pede, ou é bomba ou é spray. Entendemos que eles não querem o povo discutindo o país, o futuro da nação e os jovens.
AMARILDO
Ignoraram a presença do povo no plenário e sua insatisfação e não fizeram nada. Dizem que essa casa é do povo, e não estava sendo espaço do povo. Nada mudou de fato, mas fizemos barulho necessário: a sociedade já sabe. Brazão está irredutível, a oposição tenta argumentar sobre proporcionalidade para alterar a mesa, e na minha opinião deveria se pedir a suspensão da CPI para que a investigação não termine em pizza, como a maioria.
Daí a importância do povo pressionar, porque é para todos, e daí a importância de sair do sofá e de seus afazeres, mesmo que um pouco, e vir reivindicar um governo que represente um poder do povo para o povo. Não vemos uma democracia representativa, mas a que representa os governantes. Mesmo depois de tudo o que vem acontecendo no país, eles fecham os olhos a atender nossas reivindicações.
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Comentários
renato
Não é estes ônibus de São Paulo, que tem uma máfia do tamanho de um bonde!
Falar em Máfia, agora a pouco a Globo disse que ia mostrar para os Cubanos que vem para cá, as condições que eles vão pegar a coisa.
Acham que vão mostrar o Hospital das Clinicas de Curitiba.
Luís
“Não é estes ônibus de São Paulo, que tem uma máfia do tamanho de um bonde!”
Gostaria de saber o que da fixação dos governistas, dos militontos acéfalos e da pelagada em geral por São Paulo.
Urbano
Uma cpi sem farsa não é cpi… Como em qualquer lugar há sempre pelo menos um silvério dos reis, então a cpi é sempre boicotada por ambos os lados, assim no estilo da que houve para apurar as decências do cachoeira-primeirodeabril.
JP
O que fazer nesta situação? Por que precisamos de CPIs; um processo arcaico que sempre não dá em nada? O ministério publica não é capaz de investigar e punir de verdade? Não podemos participar nas decisões para criar um novo modelo de mobilidade para o RJ?
Participação popular através de certificados digitais é o caminho para reduzir os custos de 500 milhões dos referendos, plebiscitos e pesquisas de opinião e muito mais!!! Vamos lutar por isto JÁ!!. “Programa Mais Democracia“.
Écim
Boechat, este sobrenome diz tudo. É PIG!!!
Raquel Boechat
Sou nada! ;)
Luiz Salamon
Sem pressão não vai rolar nada.
Por isso acampar e pressionar é o que devemos fazer.
rui
Todo mundo está cansado de saber que CPI não dá em nada, no Rio em Brasília, ou qualquer outra cidade, e é o sonho de consumo dos políticos, para aparecerem nas vitrines da mídia. Com o sistema de coligações partidárias, o executivo quase sempre também faz a maioria no legislativo. Parem de pedir CPI e pressionem o Ministério Público, este sim tem que tomar uma atitude, ou corre o risco de prevaricação.
BACAMARTE
Acho que a senha já está dada.
2014 vai trazer grandes novidades !
Julio Silveira
Isso não constitui novidade, com a turma que puseram para fazer a CPI estava na cara que só poderia vir uma farsa. O pior é a cara de laje que apresentam, nem é mais de pau.
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