Randolfe: Imposto sobre grandes fortunas poderia render R$ 10 bi

Tempo de leitura: 2 min

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No Swiss Leaks, o Brasil é o quarto maior em número de clientes. São 8.667 que tinham cerca de U$ 7 bi depositados no HSBC em 2006/2007. Quantos sonegaram impostos? Alguém acredita que o Fernando Rodrigues/UOL, parceiro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos no Brasil, vai divulgar toda a lista? E o governo Dilma, vai ficar esperando?

Randolfe ataca ‘pacote de maldades’ e diz que grandes fortunas renderiam mais de R$ 10 bi

BRASÍLIA, 12 – O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) atacou hoje o ajuste fiscal do Governo Dilma como um ‘pacote de maldades’ do Governo Dilma Rousseff, baseado em duas Medidas Provisórias— 664 e 665 —, que reduzem os benefícios de trabalhadores e aposentados e restringe o acesso ao seguro-desemprego.

Randolfe, em discurso na tribuna do Senado Federal nesta tarde, propôs que o Governo Federal apoie a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), que segundo ele “atenderia mais da metade dos R$ 20 bilhões que o Governo pretende arrecadar com o seu infeliz Pacote de Ajuste Fiscal”.

O senador do PSOL citou um relatório de 2014 do banco Credit Suisse, com sede em Zurique, na Suíça, listando cerca de 1.900 pessoas com um patrimônio líquido superior a US$ 50 milhões (cerca de R$ 130 milhões), que poderiam ser alcançadas pelo Fisco brasileiro para “dar um quinhão maior de contribuição no combate à desigualdade de renda no País”.

Randolfe Rodrigues destacou, em seu discurso, que cerca de 10 mil famílias no Brasil se enquadram na moldura das grandes fortunas. “Nesse universo privilegiado, metade — ou 5 mil famílias — teria um patrimônio somado equivalente a 40% do PIB brasileiro, a sétima maior economia do mundo, que representa uma riqueza de US$ 2,24 trilhões”, destacou Randolfe.

Nessa conta, lembrou o senador do PSOL, cerca de US$ 900 bilhões estariam concentrados nas mãos das 5 mil famílias mais ricas do País. O Imposto sobre Grandes Fortunas foi aprovado pela Constituição de 1988 (Artigo 153, Inciso VII), mas até hoje não foi regulamentado: “Passaram-se mais de 26 anos e o Brasil ainda não estabeleceu as regras que tornariam viável este imposto ainda intocado pelo Fisco”, reclamou Randolfe.

O senador do PSOL lembrou que “reduzir direitos sociais, aumentar tarifas e preços públicos vai na contramão não só do que defendeu a presidente Dilma Rousseff  na campanha eleitoral, mas também do que quer, deseja e merece o povo brasileiro”. E fez um alerta: “O povo que foi às ruas em 2013 e em 2014, com certeza, retomará as ruas em 2015 por mais e melhores direitos. A sociedade não aceita mais pagar, com os impostos mais caros do mundo, uma estrutura política apodrecida que frauda e corrói seus direitos mais elementares”.

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Comentários

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O Mar da Silva

O PSoL precisa ‘ajudar’ o PT a ouvir o povo. Mas precisa ir às ruas dizer o que pensa também. Já que no PT parece que não houve senador eleito para defender o trabalhador dos sonegadores, dos Levy’s, Marinhos e cia ilimitada.

Eduardo

Dizem que o Fernando Rodrigues tem a lista completa. Porque ele não publica? Interesses não confessáveis? Não existe outro repórter mais isento para furá-lo?

Julio Silveira

Começo a firmar a convição de que para o Brasil, e seu povo que elege como representantes a coronelada que está no congresso, esse tipo de projeto está proibido. Projeto bom para nosso povo, apesar das reclamações fajutas, é aumentar impostos para a maior parte da população, que por sinal e não por acaso são os mais pobres.

FrancoAtirador

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Aritmética dos Mercados Financeiros

US$ 900 Bilhões (40% do PIB do braZil)
com as 5.000 FamíGlias + Ricas do País.

5.549 Contas Bancárias Secretas
de braZileiros no HSBC da Suíça.
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FrancoAtirador

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Site angolano divulga nomes de portugueses descobertos no Swissleaks

A Espírito Santo Ativos Financeiros, do Grupo Espírito Santo,
é a maior depositante institucional portuguesa.
Sílvia Ruivo Caçador, a maior investidora.

Na lista revelada pelo Maka Angola surgem ainda clientes portugueses
ligados a outros países, como a luso-angolana Elsa Maria Matos Almeida Teixeira, com 20 milhões de dólares depositados,
e Maria José de Freitas Jakurski, portuguesa com residência no Brasil, que tem 114,8 milhões de dólares.

O brasileiro Jacob Barata, que o Maka Angola qualifica como o “rei do ónibus”, tinha 95,2 milhões de dólares.

http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FEconomia%2FSite-angolano-divulga-nomes-de-portugueses-descobertos-no-Swissleaks%2F7%2F32850

Raimundo furtado de farias

Como podemos levar a serio um governo que leva 26 anos para regulamentar uma lei que seria justa, pois recolheria impostos de grandes fortunas muitas vezes conseguida com lavagem de dinheiro, tráficos e outras mazelas ilícitas, e cria impostos que corrói os salários do trabalhador que nunca teve renda com seus míseros salários e em menos de cinco dias e enquadrado para recolher impostos, juros altos e inflação galopante. É uma vergonhosa incapacidade de um partido que se diz a favor do povo ,criando bolsas esmolas inclusive para sustentar criminosos. Precisamos de uma lei justa que puna os corruptos que consomem o trabalhador mantendo precárias educação, saúde,segurança, infraestrutura, destruindo o meio ambiente causando transtornos ate na natureza,

FrancoAtirador

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A Linguagem do Horror e o Horror da Linguagem

A Linguagem e o Horror

Expressões como ‘austeridade’, ‘guerra ao terror’,
‘corrupção da política’, escondem significados
que não estão expressos formalmente nas palavras.

Por Tarso Genro, na Carta Maior

[…]
Não estaremos, hoje, acossados pela linguagem, nos submetendo a um futuro horror?

O significado de palavras como “austeridade”, “equilíbrio macrofinanceiro”,
“guerra ao terror”, “corrupção da política”, não escondem objetivos
que não estão expressos formalmente nas palavras, mas que querem dizer
– mais além das palavras – que, para sermos bons e justos,
devemos compartilhar de uma visão de mundo, que vem do cálculo econômico imediato,
não do humanismo intuitivo ou das fórmulas iluministas mais justas?

Passo a exemplificar: “austeridade”, reflete em quem?
Quem precisa ser “austero”, para sairmos de uma crise?
Os que têm excessos de bens e recursos, para viver a vida livre e fartamente,
ou os que tem o mínimo para uma vida decente, com três refeições diárias
e um teto razoável?

Vejam: se “austeridade” significar menos, para os que tem menos,
na verdade a palavra “austeridade” fica esvaziada do seu significado originário
e passa a ser “captura”. Captura de direitos, para não mexer nos privilégios,
consolidados na sociedade dividida em classes.

É o percurso do horror, ou seja:
descartamos os corpos que descem o rio,
a fome dos povos despojados dos seus direitos,
conquistados na modernidade democrática
(pelos impulsos socialistas e socialdemocratas do século passado)
e consideramos como “direito adquirido”,
o direito de acumular riqueza de maneira infinita.

(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-linguagem-e-o-horror/4/32847)
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    FrancoAtirador

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    .
    “… o Trabalho ainda está ligado à Idade Industrial, ao Capitalismo de Ordem Imobiliária.

    Àquele tempo em que o Capital expunha garantias notórias:
    indústrias bem implantadas, lugares bem identificáveis: fábricas, minas, bancos, imóveis arraigados em nossas paisagens, inscritos em cadastros.

    Pensamos viver ainda na época em que se podia calcular sua superfície, julgar sua construção, avaliar seu custo.

    As fortunas encontravam-se fechadas em cofres.

    Os intercâmbios passavam por circuitos verificáveis.
    Patrões com estado civil bem definido; diretores, empregados, operários deslocando-se de um ponto a outro, cruzando-se sobre o mesmo solo.

    Sabia-se onde estavam e quem eram os dirigentes, quem desfrutava o Lucro.

    Geralmente havia na chefia um único homem, mais ou menos poderoso, mais ou menos competente, mais ou menos tirânico, mais ou menos próspero, que possuía bens, manejava o dinheiro.
    Quanto à empresa, ele era o proprietário (com ou sem sócios igualmente identificáveis).
    Um indivíduo tangível, com um nome, de carne e osso, que tinha herdeiros e, quase sempre, também era um deles.

    Podia-se avaliar com um simples olhar a importância da empresa; sabia-se onde estava acontecendo o labor necessário, assim como se sabia onde eram produzidas (geralmente em condições escandalosas) a “condição operária” e as famosas “criações de riquezas”, então chamadas “benefícios”.

    Os produtos manufaturados (as Mercadorias), a negociação, a circulação das matérias-primas tinham uma importância essencial, enquanto a empresa tinha uma razão social e uma função conhecidas. Diríamos certificadas?

    Era possível circunscrever suas configurações, até mesmo internacionais, e separar a parcela do comércio, da indústria e dos jogos financeiros.

    Sabia-se, eventualmente, quem e o que contestar, e situar assim os locais da contestação.
    Tudo ocorria entre nós, dentro da nossa geografia, em ritmos familiares, mesmo quando eram excessivos.
    E isso era anunciado em nossas línguas, em nossa linguagem.

    Vivíamos uma distribuição de papéis geralmente desastrosa, mas vivíamos todos dentro do mesmo romance.

    Ora, esse mundo em que o local de trabalho e o local da economia se fundiam, em que o trabalho de numerosos executantes era indispensável para os que tomavam decisões, parece que está escamoteado.

    Com ele são escamoteados os modelos intermediários que pouco a pouco o sucederam, fazendo a transição para o mundo atual, das Multinacionais, das Transnacionais, do Liberalismo Absoluto, da Globalização, da Mundialização, da Desregulamentação, da Virtualidade.

    Esses modelos, quando ainda são encontrados, aparecem como totalmente subalternos, em vias de desaparecimento e quase sempre sob a dominação de potências distantes e complicadas.

    Quanto ao modelo inédito que se instala sob o signo da Cibernética, da automação, das tecnologias revolucionárias, e que agora exerce o poder, este parece ter-se desviado, isolado em zonas estanques, quase esotéricas.

    Não está mais em sincronia conosco.

    Entre esses dois universos, nada mais que uma solução de continuidade.

    O antigo periclita e sofre longe do outro, que ele nem sequer imagina.

    O outro, reservado a uma Casta, penetra numa ordem inédita de “realidade”, ou, se preferirmos, de “desrealidade”, onde a horda dos “solicitantes de emprego” representa apenas uma pálida legião de fantasmas que não voltarão para assombrar ninguém.

    Por que razão essa Casta se preocuparia com multidões inconscientes que, como maníacas, insistem em ocupar perímetros concretos, estabelecidos, situados, onde possam bater pregos, apertar parafusos, carregar cacarecos, arrumar coisas, calcular troços, intrometer-se em tudo, verdadeiros desmancha-prazeres, com circuitos lentos como os movimentos do próprio corpo, esforços patentes, cronologias e ritmos já fora de moda, e, depois, suas vidas, seus filhos, sua saúde, sua moradia, sua comida, seu salário, o sexo, a doença, o lazer, os direitos?

    Eles, em outras esferas, dedicam-se a fazer nascer o Virtual, a combinar, sob a forma de “Produtos Derivados” [Derivativos], Valores Financeiros não mais sustentados por Ativos Reais e que, Voláteis, Inverificáveis, geralmente são Negociados, Sacados, Convertidos antes mesmo de haverem existido.

    Os homens de decisão de nosso tempo tornaram-se aquilo que Robert Reich (REICH, 1993) chama de “manipuladores de símbolos”, ou, se preferirmos, “analistas de símbolos”, que não se comunicam, ou muito pouco, nem mesmo com o antigo mundo dos “patrões”.

    O que é que eles iriam fazer com todos esses “empregados” tão dispendiosos, inscritos na Previdência Social, tão incertos e contrariantes em comparação com máquinas puras e duras, ignoradas de qualquer proteção social, manobráveis por essência, econômicas ainda por cima e desprovidas de emoções duvidosas, de queixas agressivas, de desejos perigosos?

    Máquinas que abrem para outra Era, que talvez seja também a nossa,
    mas sem que tenhamos acesso a ela.

    Trata-se de um mundo que, por causa da Cibernética, das tecnologias de ponta, vive à velocidade do imediato;
    um mundo em que a velocidade se confunde com o imediato em espaços sem interstícios.
    A ubiqüidade, a simultaneidade aí é Lei.
    Os que lá se movem não partilham conosco
    nem esse espaço, nem a velocidade, nem o tempo.
    Nem os projetos, nem a língua, menos ainda o pensamento.
    Nem as cifras nem os números. Nem, sobretudo, a preocupação.
    Nem, por sinal, a moeda.

    Eles governam a economia mundializada
    por cima de todas as fronteiras e todos os governos.

    Os países, para eles, fazem o papel de municipalidades.

    Uma quantidade importante de Seres Humanos já não é mais necessária
    ao pequeno número que molda a Economia e detém o Poder.

    Segundo a lógica reinante, uma multidão de seres humanos
    encontra-se assim sem razão razoável para viver neste mundo,
    onde, entretanto, eles encontraram a vida.

    Para obter a faculdade de viver, para ter os meios para isso,
    eles precisariam responder às necessidades das Redes que regem o Planeta, as Redes dos Mercados.

    Ora, eles não respondem – ou antes, são os Mercados
    que não respondem mais à sua presença e não precisam deles.
    Ou precisam muito pouco e cada vez menos.
    Sua vida, portanto, não é mais “legítima”, mas tolerada.

    Importuno, o lugar deles neste mundo lhes é consentido por pura indulgência, por sentimentalismo, por reflexos antigos, por referência ao que por muito tempo foi considerado sagrado (teoricamente, pelo menos).
    Pelo medo do escândalo.
    Pelas vantagens que os Mercados ainda podem tirar disso.
    Pelos jogos políticos, pelas jogadas eleitorais baseadas na impostura de ver em curso uma crise” provisória que cada campo pretende ser capaz de estancar.

    E depois, determinado bloqueio atávico das consciências impede de aceitar de imediato uma tal implosão.

    É difícil admitir, impensável declarar que a presença de uma multidão de humanos se torna precária, não pelo fato inelutável da morte, mas pelo fato de que, enquanto vivos, sua presença não corresponde mais à lógica dominante, uma vez que já não dá Lucro, mas, ao contrário, revela-se dispendiosa, demasiado dispendiosa.

    Ninguém ousará declarar, numa Democracia, que a Vida não é um direito, que uma multidão de vivos está em número excedente.

    Mas, num Regime Totalitário, será que não se ousaria?
    Já não se ousou?

    E, embora deplorando, será que já não admitimos o princípio, quando a uma distância igual àquela de nossos locais de férias a fome dizima populações?

    As privações sofridas hoje por um número já considerável de indivíduos,
    e que vai aumentando, correm o risco de ser apenas preliminares
    a uma rejeição (que pode se tornar radical) daqueles que as suportam;
    elas não têm tendência a se enfraquecerem e a diminuírem,
    como pretendem, sem convicção, os discursos políticos dos que enunciam
    e não agem, mas sim a enfraquecer ainda mais, e no mínimo afastar,
    aqueles que são suas vítimas.

    O discurso econômico (dos que agem, mas não enunciam) vai nessa direção:
    as massas aqui são vagas abstrações e ninguém se preocupa com disparidades, a não ser para puxar para baixo as pequenas conquistas dos elementos mais frágeis, logo excluídos, ou incluídos muito antes na privação.

    Se já não há muito lugar e se esse pouco se vai encolhendo pelo fato de o trabalho estar desaparecendo – trabalho sobre o qual a sociedade ainda se baseia e do qual ainda depende a sobrevivência dos viventes –, esse desaparecimento não incomoda em nada os verdadeiros poderes, os da Economia de Mercado.

    Mas a miséria causada por esse desaparecimento também não é seu objetivo.

    Eles a consideram, antes, um inconveniente colocado em seu caminho e do qual podem tirar partido – sabemos que a miséria beneficia geralmente o Lucro.

    O que lhes importa e que deixa na sombra todos os outros fenômenos são as massas monetárias, os jogos financeiros – as especulações, as transações inéditas, os fluxos impalpáveis, aquela realidade virtual, hoje mais influente que qualquer outra.

    Ora, é forçoso constatar que, da parte deles, só existe razão.
    Essa conjuntura e esses fenômenos correspondem totalmente à sua vocação, aos seus deveres profissionais e até ao seu sentido de ética.
    E depois, a paixão, tão embriagadora, por demais humana, do poder e do Lucro encontra aqui ao mesmo tempo suas fontes e os territórios onde expandir-se, irresistível, devorante e devoradora.

    Os que participam dessa potência encontram nesse contexto suas funções naturais.

    O drama reside, sobretudo, no fato de que as outras funções jazem abandonadas.

    Uma longa história, muito longa e muito paciente, subterrânea e secreta, desenvolvida na sombra, deve ter provocado o abandono dessas funções.

    Demissões que facilitaram a Hegemonia de uma Economia Privada
    que se tornou Anônima e que Fusões Maciças, em Escala Planetária,
    reagruparam em Redes Entrelaçadas, inextricáveis, mas tão móveis,
    de uma ubiqüidade tal que não são mais identificáveis, escapando assim
    a tudo o que poderia pressioná-las, vigiá-las ou mesmo observá-las.

    Será necessário um dia empreender o estudo desse fenômeno,
    estabelecer a história clandestina dessa evolução imperceptível, porém radical.

    O que se pode medir hoje é a Amplitude da Progressão das Potências Privadas, devida em grande parte à das Prodigiosas Redes de Comunicação, de intercâmbios instantâneos, aos fatores de ubiqüidade que daí decorrem e dos quais elas foram as primeiras a dispor, as primeiras a explorar, abolindo assim as distâncias e o tempo – o que não é pouco! – em seu próprio proveito.

    Multiplicação vertiginosa da quantidade de valores variados que elas podem abranger, dominar, combinar, duplicar sem se preocupar com leis e pressões que, num contexto assim mundializado, elas são capazes de contornar com facilidade.

    Sem se preocupar muito com Estados, geralmente tão desprovidos em comparação a elas, entravados, controlados, contestados, colocados na berlinda, enquanto elas avançam, mais livres, mais motivadas, mais móveis, infinitamente mais influentes que estes, sem preocupações eleitorais, sem responsabilidades políticas, sem controles e, bem entendido, sem sentimentos ligados àqueles que elas esmagam, deixando a outros o cuidado de demonstrar que é para o bem deles – e para o de todos, já que o bem de todos, é claro, passa pelos seus próprios “bens”.

    Elas estão acima das instâncias políticas e não levam em conta nenhuma ética, nenhum sentimento.
    No limite, nas suas mais altas esferas, lá onde o jogo se torna imponderável, elas nem respondem mais por sucessos ou por fracassos, e não têm outros interesses a não ser elas próprias e aquelas transações, aquelas especulações repetidas sem fim, sem qualquer outro objetivo que seu próprio movimento.
    Não encontram outros obstáculos a não ser aqueles, ferozes, erguidos pelos seus pares.
    Mas estes últimos seguem o mesmo caminho que elas, rumo aos mesmos objetivos, e se alguns dentre eles tentam atingir alguns desses objetivos antes dos outros, ou em vez dos outros, isso não altera em nada o sistema geral.

    A concorrência desenfreada, dentro de redes tão complexas, na verdade as aproxima, aguçando sua energia centrada para os mesmos fins, dentro de uma ideologia comum, jamais formulada, jamais confessada: em ação.

    Essas redes econômicas privadas, transnacionais, dominam então cada vez mais os poderes estatais; muito longe de ser controladas por eles, são elas que os controlam e formam, em suma, uma espécie de nação que, fora de qualquer território, de qualquer instituição governamental, comanda cada vez mais as instituições dos diversos países, suas políticas, geralmente por meio de organizações consideráveis, como o Banco Mundial, o FMI ou a OCDE.

    Um exemplo: as Potências Econômicas Privadas geralmente detêm o controle das dívidas de Estados que, por essa razão, dependem delas e elas os mantêm sob seu Domínio.
    Esses Estados não hesitam em converter as dívidas de seus protetores em dívidas públicas, que tomam assim a seu cargo.
    Elas serão então honradas, sem compensação nenhuma, pelo conjunto dos cidadãos.
    Ironia: recicladas para o setor público, essas dívidas do setor privado aumentam muito a dívida que compete aos Estados, colocando estes últimos ainda mais sob a Tutela da Economia Privada.
    Essa dívida, assumida aqui (como em geral) pelo Estado e, portanto, pela comunidade, nem por isso é tratada como… “assistida”!

    Eis então a Economia Privada solta como nunca em plena liberdade – essa liberdade que ela tanto reivindicou e que se traduz por desregulamentações legalizadas, por anarquia oficial.
    Liberdade provida de todos os direitos, de todas as permissividades.

    Desenfreada, ela satura com suas lógicas uma Civilização
    que está se acabando e cujo naufrágio ela ativa.

    Naufrágio camuflado, posto na conta de “crises” temporárias
    a fim de que passe despercebida uma nova forma de Civilização
    que já desponta, onde só uma pequena porcentagem da população terrestre encontrará funções.

    Ora, dessas funções dependem os modos de vida de cada um e, mais ainda,
    para cada um, a faculdade de viver. O prolongamento ou não de seu destino.

    Segundo o costume secular, atua aqui um princípio fundamental:
    para um indivíduo sem função, não há lugar,
    não há mais acesso evidente à Vida, pelo menos ao seu alcance.

    Ora, as funções hoje desaparecem irrevogavelmente, mas esse princípio perdura, mesmo que doravante ele não possa mais organizar as sociedades, mas apenas destruir o estatuto dos humanos, deteriorar vidas ou até mesmo dizimá-las.

    Ninguém tem a coragem de admitir, nem de considerar, menos ainda de mencionar esse perigo.

    Omissão de Suma Gravidade, literalmente Vital – ou Mortal –, porque ninguém então enfrenta a Ameaça Oculta, ninguém se opõe a ela nem tenta inverter a corrente, menos ainda identificar e expor o Credo que agencia essas Sinistras Virtualidades.

    Ninguém sugere tentar uma gestão lúcida que talvez oferecesse
    um lugar para cada um, mas num jogo reconhecidamente diferente.

    Em vez de enterrar vivos, com ele, aqueles que dependem de um sistema falecido.

    Drama e desastre que poderiam ser evitados, e talvez até sem prejuízo
    para os atores, para os beneficiários do credo!

    Credo jamais enunciado, mas que seria impiedoso contestar.

    A dúvida está implicada na fé, mas proibida no diktat econômico.

    Será que alguém se arrisca a murmurar algumas tímidas reservas,
    a demonstrar certa Vertigem em face da Hegemonia de uma Economia Mundializada Abstrata, Desumana?

    Não demoraram muito para nos calar o bico com os Dogmas dessa mesma Hegemonia na qual, sejamos realistas, nos encontramos aprisionados.

    Não demoraram muito para nos opor as leis da concorrência, da competitividade, o ajustamento às regras econômicas internacionais – que são as da desregulamentação – e de nos entoar loas sobre a flexibilidade do trabalho.

    Cuidado então para não insinuar que, por essa razão, o trabalho se acha, mais do que nunca, submetido ao bel-prazer da especulação, às decisões de um mundo considerado rentável em todos os níveis, um mundo totalmente reduzido a ser apenas uma vasta empresa – aliás, não forçosamente administrada por responsáveis competentes.

    Alguns diriam: um Vasto Cassino
    […]
    Quando perceberemos, por exemplo, que as riquezas já não se “criam” tanto a partir de “criações” de bens materiais, mas a partir de especulações totalmente abstratas, sem vínculos – ou muito fracos – com investimentos produtivos? As “riquezas” colocadas na vitrine, em grande parte, são apenas vagas entidades que servem de pretexto ao desenvolvimento de “produtos derivados”, que já não têm grande relação com elas.

    “Produtos Derivados” [Derivativos] que hoje invadem a Economia, reduzindo-a a Jogos de Cassino, a práticas de bookmakers.

    Os Mercados dos Produtos Derivados [Derivativos] são hoje mais importantes que os Mercados Clássicos.

    Ora, essa nova forma de Economia não mais investe, ela aposta.
    Ela pertence à ordem da aposta, mas de apostas sem prêmios reais, em que não se joga mais tanto com valores materiais ou mesmo com intercâmbios financeiros mais simbólicos (mas ainda indexados na fonte, mesmo distante, sobre ativos reais) do que com valores virtuais inventados com o fim único de alimentar seus próprios jogos.
    Ela consiste em apostas engajadas sobre os avatares de negócios que ainda não existem, que talvez nem venham a existir.

    E, a partir daí, com relação a eles, sobre jogos em torno de títulos, de dívidas, de taxas de juros e de câmbio, já destituídos de qualquer sentido, referentes a projeções puramente arbitrárias, próximas da fantasia mais desenfreada e de profecias de ordem parapsicológica.

    Ela consiste, sobretudo, em apostas sobre os resultados de todas essas apostas.
    Depois, sobre os resultados das apostas feitas sobre esses resultados etc.

    Todo um tráfico no qual se compra e se vende o que não existe;
    um intercâmbio não de ativos reais nem mesmo de símbolos baseados nesses ativos, mas no qual se compram, no qual se vendem, por exemplo, os riscos assumidos por contratos a médio ou a longo prazo e ainda por concluir, ou que são apenas imaginados;
    no qual são cedidas dívidas que serão, por sua vez, negociadas, revendidas, resgatadas sem limites;
    no qual se fecham, em geral amigavelmente, contratos recheados de vento, sobre valores virtuais ainda não criados, mas já garantidos, que suscitarão outros contratos, também fechados amigavelmente, referentes à negociação desses contratos!

    O Mercado de Riscos e de Dívidas permite dedicar-se
    com toda a falsa segurança a essas pequenas loucuras.

    Negociam-se sem fim essas garantias sobre o virtual,
    trafica-se em torno dessas negociações.

    Tantos negócios imaginários, especulações que têm como sujeito e objeto elas mesmas e que formam um Imenso Mercado Artificial, Acrobático, baseado sobre Nada, a não ser sobre ele mesmo, distante de qualquer realidade, a não ser a sua, em círculo fechado, fictícia, imaginada e incessantemente complicada com hipóteses desenfreadas a partir das quais se extrapola.

    Especula-se infinitamente, de Forma Abissal, sobre a Própria Especulação.
    E sobre a Especulação das Especulações.

    Um Mercado Inconsistente, Ilusório, baseado em Simulacros,
    mas Arraigado, Delirante, Alucinado a ponto de ser Poético.

    “Opções sobre Opções sobre Opções”, dizia rindo uma noite destas,
    no canal de televisão, o ex-chanceler [alemão] Helmut Schmidt,
    embora parecesse assustado por garotos travessos.

    Ele confirmava que nesses Mercados Surrealistas
    se fazem “cem vezes mais intercâmbios” do que nos outros.

    Assim, aquela famosa Economia de Mercado considerada fundamental, séria,
    responsável pelas populações, uma potência em si – a Potência, na verdade –,
    é colocada em Dependência, presa na Febre, pode-se dizer na Droga das Negociações,
    das Manipulações em torno de suas próprias Traficâncias, que desembocam, aliás,
    em Lucros Gigantescos, Rápidos, Brutais, mas que parecem quase Secundários
    em relação à Embriaguez Operacional, ao Prazer Maníaco,
    ao Poder Demente, Inédito, que eles suscitam.

    Esse é o sentido que assumem as ‘criações de riquezas:
    tornam-se os pretextos distantes, cada vez mais evanescentes, supérfluos também,
    para essas operações obsessivas, para essas danças de São Guido
    de que dependem cada vez mais o planeta e a vida de cada um.

    Esses Mercados não desembocam em nenhuma ‘criação de riquezas’, em nenhuma produção real.
    Não necessitam sequer de endereços imobiliários.
    Não utilizam pessoal, já que bastam alguns telefones e computadores para atingir Mercados Virtuais.

    Ora, nesses Mercados, que não implicam o trabalho de outras pessoas, que não são produtores de bens reais, as empresas (entre outros) investem, cada vez com mais freqüência e cada vez mais, parcelas de seus ganhos, já que o Lucro aqui e mais rápido, mais importante que em outros lugares, e é para permitir tais Jogos Neofinanceiros, muito mais rentáveis, que chegam muitas vezes as subvenções, as vantagens concedidas a fim de que essas mesmas empresas criem ‘empregos’!”

    VIVIANE FORRESTER
    (“O Horror Econômico”. UNESP. 1997.)

    Íntegra do Livro
    Em Português: (http://abre.ai/livro_o-horror-economico_viviane-forrester)
    Em Espanhol: (http://www.ddooss.org/libros/Viviane_Forrester.pdf)
    .
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