“Papeis Paradisíacos”: Meirelles e Maggi têm offshores no Caribe; a do ministro da Fazenda teria “propósitos de caridade”

Tempo de leitura: 4 min
31Brasília- DF, Brasil- Audiência na Comissão de Assuntos Econômicos, Henrique Meirelles disse que "trabalhar para criar empregos" é a principal medida do governo para tirar o país do Mapa da Fome. Foto: Lula Marques/AGPT

Créditos: Lula Marques/AGPT e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil, via Fotos Públicas

Novo vazamento global revela offshores de Henrique Meirelles no Caribe

André Shalders, Da BBC Brasil em São Paulo

Pelo menos dois ministros do governo de Michel Temer são mencionados em um grande vazamento de informações do escritório de advocacia Appleby, especializado em empresas offshores. Além de Henrique Meirelles (Fazenda), há também informações sobre uma empresa ligada ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

O vazamento está sendo chamado de “Paradise Papers”, e envolve figuras importantes do governo do presidente norte-americano, Donald Trump.

Antes de se tornar ministro de Temer, Meirelles presidiu o Banco Central brasileiro (de 2003 a 2010), durante o governo do ex-presidente Lula (PT). Na semana passada, Meirelles disse em entrevista à revista Veja que pretendia se candidatar à presidência da República.

Os dados – cerca de 1,4 terabytes de informações – foram encaminhados por uma fonte anônima ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, de Munique, e compartilhados com jornalistas de todo o mundo organizados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). No caso do Brasil, as informações são do site Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues.

Cidadãos brasileiros possuem o direito de manter empresas offshores – e as contas bancárias associadas a elas – no exterior.

A única exigência da lei é que os recursos sejam devidamente declarados à Receita, para que os impostos sejam pagos. Menções a pessoas e empresas na série “Paradise Papers” não significam necessariamente que tais pessoas estejam envolvidas em irregularidades.

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Meirelles enviou à reportagem do Poder360 cópia de sua declaração de Imposto de Renda, provando que a offshore dele está devidamente registrada.

Embora a prática seja legal, empresas offshore podem ser usadas também para cometer crimes, como sonegação de impostos, ocultação de patrimônio (no caso de pessoas que deixam de pagar dívidas) e evasão de divisas. Podem ser usadas também para criar “fundos paralelos” em empresas, possibilitando o pagamento de propinas sem que estas apareçam na contabilidade oficial da companhia. E ainda, para esconder dinheiro de origem ilícita.

Para o Ministério Público Federal, empresas offshores em países como Bahamas, as ilhas Cayman e Bermudas foram usadas pela empreiteira Odebrecht para viabilizar pagamentos a políticos, por exemplo.

“Propósitos de caridade”

Uma das offshores registradas em nome de Meirelles chama-se “The Sabedoria Trust”. A documentação da empresa diz que foi estabelecida “a pedido de Henrique de Campos Meirelles, especificamente para propósitos de caridade”, segundo um documento mencionado pelo Poder360.

“O objetivo é que, na eventualidade da morte (do ministro) os administradores do trust renunciarão aos seus direitos e apontarão novos beneficiários, cujos nomes estão indicados no testamento datado de 9 de dezembro de 2002”, diz o texto.

Crédito: Poder360 / ICIJ

O dispositivo sugere que a offshore de Meirelles foi criada para fins de sucessão – isto é, para facilitar e garantir a transmissão de uma herança após a morte do proprietário. É uma finalidade comum para o uso de offshores. A data de criação da offshore (23 de dezembro de 2009) coincide com a semana anterior à chegada dele ao Banco Central.

Meirelles também aparece nos arquivos vazados da Appleby relacionado a outra offshore, chamada “Boston – Administração e Empreendimentos Ltda”. Esta última foi criada em 1990 e encerrada em 2004. Na década de 1990, Meirelles chegou ao posto máximo no Bank of Boston, dos EUA, cargo que ocupou entre 1996 e 1999.

O ministro enviou à reportagem do Poder360 uma cópia de sua declaração de imposto de renda, na qual aparece o Trust Sabedoria. Em nota, o ministro disse ainda que o trust foi criado para que, na eventualidade de sua morte, uma parte de seus bens possa ser doado a entidades beneficentes da área de educação.

Blairo Maggi

O ministro da Agricultura aparece relacionado a uma offshore chamada Ammagi & LD Commodities SA. De acordo com os registros da Appleby, o ministro da Agricultura é diretor da offshore, junto com outros familiares.

A empresa tem o mesmo nome de uma empresa registrada no Brasil, da qual a empresa da família Maggi é sócia. Trata-se de uma joint venture entre os Maggi e o grupo multinacional de origem holandesa Louis Dreyfus Company, especializado na produção e comercialização de matérias primas, principalmente grãos.

A joint venture brasileira é a controladora da offshore em Cayman.

Maggi – que já foi governador de Mato Grosso (de 2003 a 2010), é senador licenciado pelo PP, cargo para o qual foi eleito em 2010. A empresa da família chegou a ser a maior produtora mundial de soja, nos anos 1990 e começo dos 2000. Em 2014, a revista Forbes publicou que Blairo Maggi era o segundo político mais rico do país, com uma fortuna estimada em R$ 960 milhões, pela mesma revista.

Segundo o Poder360, a Louis Dreyfus Company e a empresa dos Maggi firmaram uma parceria em 2009 com o objetivo de atuar no mercado de grãos na Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins. O objetivo seria a exportação.

Ao Poder360, o ministro negou qualquer tipo de irregularidade. Ele diz não ter recebido pagamentos diretos da empresa nas ilhas Cayman, e sim da empresa em solo brasileiro.

Vazamento global

A Appleby é uma das maiores empresas de criação de offshores do mundo. Conta com dez escritórios espalhados pelo globo, e cerca de 200 advogados para atender aos clientes. O vazamento deste domingo traz dados sobre milhares de pessoas – aparecem nos arquivos 31.180 endereços nos Estados Unidos, 14.434 no Reino Unido e 5.924 na China, por exemplo.

A investigação também encontrou offshores relacionadas a pessoas próximas ao presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Entre os citados estão o secretário de Comércio, Wilbur Ross.

Ao todo, participaram da reportagem 382 jornalistas de 67 países, atuando em 96 veículos de mídia. A BBC participou das investigações por meio do programa Panorama, do canal de TV britânico BBC One.

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Comentários

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Jose Carlos lima

Não vem ao caso…apesar das provas, não sendo pt, tá liberado
O conluio midiático penal através do juiz acusador, impede que a defesa de Lula tenha acesso a um programa de computador que está sendo usado por esse arremedo de Justiça para, depois de tantas tentativas sem sucesso, convencer a população de que Lula é criminoso. A farsa do triplex não colou e muito menos o aluguel do apto, o sítio….então inventaram essa arapuca cibernética quem sabe assim o juizeco convence….como é possível uma justiça nestes termos: baseada na convicção e não em provas, onde um juiz investiga e acusa e impede a defesa….grande FDP vendido pra americano destruir nosso país…o que me conforta é saber que MPF, judiciário e Globo terão seus ganhos arruinados por causa da Farsa Jato combustível do Golpe…com o país em frangalhos, será que essa canalhada dar de comer a 200 milhoes de brasileiros…mas o juizeco já está com seu tapete vermelho lhe aguardando…nos EUA, claro…

João Lourenço

BBC Brasil ,por favor libere a listinha toda vai !Não sejam tão sujinho assim e liberem respeito o verdadeiro jornalismo.Que tal?

Mario

Bando de picareta, só prega honestidade, mas nao fazem o que pregam. Rico é tudo espertão e os coxinhas pobres um bando de otário. Offshores em paraisos fiscais será que os paneleiros coxinhas classe media remediada tem ?

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