Paciente que denunciou Prevent: “Sou testemunha viva da política criminosa da corporação”
Tempo de leitura: 3 minDa Redação, com G1 e Agência Senado
Nesta quinta-feira (07/10), o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de Brasília, falou à CPI da Pandemia sobre o seu atendimento na Prevent Senior, quando teve covid-19.
Em sua exposição inicial, Andrade relatou seu drama nos 120 dias em que ficou internado.
Ele foi intubado duas vezes, teve pneumonia, passou por hemodiálise e traqueostomia, além de ter sofrido com outros problemas por consequência da covid-19.
Ele contou que os médicos da Prevent Senior usaram o prontuário de outra paciente para tentar convencer a família dele a tirá-lo da UTI e enviá-lo aos cuidados paliativos.
Na época, Tadeu estava intubado. Segundo o relato dele, os médicos da Prevent alegavam que seu caso não tinha mais solução, pois ele estaria com rins e pulmões comprometidos.
Ele relatou que uma médica da Prevent disse a suas filhas que, nos cuidados paliativos, “teria maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias”. Os equipamentos da UTI que o mantinham vivo seriam desligados.
No depoimento à CPI, Tadeu contou que, primeiro, a médica da Prevent tentou obter de uma filha sua o consentimento para desligar os aparelhos que o mantinham vivo.
A filha recusou. Em seguida, segundo o relato, as duas filhas de Tadeu foram chamadas para uma reunião com três médicos da Prevent.
Foi nessa ocasião em que, segundo ele, os médicos apresentaram, como se fosse de Tadeu, um prontuário de outra pessoa, que apresentava comorbidades que o advogado nunca teve.
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— Nessa reunião, eles tentam convencer minha família de que, pelo prontuário na mão, eu tinha marcapasso, eu tinha sérias comorbidades arteriais e que eu tinha uma idade muito avançada. Esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marcapasso. A única coisa que tenho é pressão alta. Sempre tive–, relatou Andrade.
Ele contou ainda que, no prontuário dele, a médica incluiu que a família tinha permitido a ida para os cuidados paliativos, o que, segundo Andrade, é uma “mentira”.
— Ao final, diz no prontuário que está em mãos da CPI e do Ministério Público de São Paulo, ela [a médica] escreve: ‘em contato com a filha Maíra, a mesma entende e concorda [com os cuidados paliativos]’. Isso é mentira. Minha família não concordou–, continuou Andrade.
O advogado disse que a família ameaçou entrar na Justiça e recorrer à imprensa para que a Prevent o mantivesse na UTI. Neste momento, ele se emocionou e ficou com a voz embargada. Afirmou que, se não fosse essa atitude da família, ele não estaria vivo.
— Minha família não concordou nessa reunião com o início dos cuidados paliativos. Se insurge, ameaça ir à Justiça para buscar uma liminar para impedir que eu saísse da UTI e ameaça procurar a mídia. Nesse momento, a Prevent recua e cancela o início do cuidado paliativo. Ou seja, em poucos dias, eu estaria vindo a óbito. E hoje estou aqui–, completou Andrade.
Segundo o advogado, a médica disse à sua filha o que correria com ele nos cuidados paliativos. A orientação da Prevent era para a equipe não tentar reanimá-lo caso ele tivesse uma parada cardíaca:
— Seria ministrada em mim uma bomba de morfina, e todos os meus equipamentos de sobrevivência na UTI seriam desligados. Inclusive, se eu tivesse uma parada cardíaca, teria uma recomendação para não haver uma reanimação.
O ex-paciente da Prevent Senior disse que sobreviveu porque a família dele lutou “contra uma poderosa organização” e não aceitou a imposição de tratamento paliativo — prática adotada pela empresa para eliminar pacientes de alto custo, segundo ele.
O ex-segurado da Prevent Senior informou aos senadores que ouviu o termo “tratamento paliativo” pela primeira vez numa reunião da CPI.
A partir daí, foi incentivado a denunciar. Após fazer uma ressalva e elogiar a atuação de dezenas de profissionais de saúde que o atenderam, ele disse ser “testemunha viva da politica criminosa da corporação e de seu dirigentes”.
Tadeu Frederico de Andrade acredita que outros pacientes da Prevent Senior foram encaminhados para os chamados “cuidados paliativos”. Segundo parlamentares da CPI, a medida era adotada pela operadora de saúde para retirar pacientes dos leitos de UTI e reduzir custos.
— Pelo menos um caso. Uma das minhas filhas relatou que fez amizade com uma mulher que estava acompanhando a avó dela num leito de UTI próximo ao meu. Elas se encontraram várias vezes. Pelo que a gente sabe, essa senhora foi para cuidados paliativos e veio a óbito. Não posso generalizar, mas esse caso minha filha testemunhou. Eu não fui o único. Acredito que muitos mais tenham ido a cuidados paliativos — disse Tadeu de Andrade.
Comentários
Gonzales
Isto porque empresas privadas são virtuosas, imaginar que o sus faz parceria com empredas semelhantes.
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