Mistério: Quem contou a Moro que o caso do tríplex iria para Curitiba?
Tempo de leitura: 3 minTriplex: Moro antecipou a Dallagnol decisão que seria tomada pela Justiça de SP
“Nobre, isso não pode vazar, mas é bastante provável que a ação penal de SP seja declinada para cá se o LL não virar Ministro antes”, escreveu Moro em 13 de março de 2016
Jornal GGN – Em uma das conversas privadas com Deltan Dallagnol no Telegram, Sergio Moro antecipou uma decisão que seria tomada no dia seguinte por uma juíza de São Paulo. Na pauta: Lula e o apartamento no Guarujá.
Em 13 de março de 2016, Moro escreveu a Dallagnol: “Nobre, isso não pode vazar, mas é bastante provável que a ação penal de SP seja declinada para cá [Curitiba] se o LL não virar ministro antes.” Dallagnol respondeu: “Ok. Obrigada.”
No dia seguinte, 14 de março, uma segunda-feira, o Estadão noticiou, por volta das 15h, que a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, de São Paulo, dividiu o caso Bancoop, apresentado pelos procuradores paulistas, e transferiu para a 13ª Vara Federal de Curitiba os trechos que citavam Lula e o apartamento no Guarujá. O despacho divulgado pelo Estadão não contém data, mas o jornal afirma que a decisão foi tomada no dia 14.
O Ministério Público de São Paulo havia denunciado Lula, Marisa Letícia e mais 14 pessoas e pedido a prisão preventiva do ex-presidente, a quem foram imputado os crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro com a ocultação da propriedade do imóvel no Guarujá.
Na decisão, a juíza Maria Priscilla entendeu que o apartamento tinha relação com propinas da Petrobras e, por isso, declinou a competência para Moro. Exatamente como o então juiz de Curitiba havia antecipado na noite anterior a Dallagnol.
O que permaneceu em mãos do Ministério Público de São Paulo não foi suficiente para levar os réus à condenação e, em 2017, a magistrada absolveu todos.
Na mensagem do dia 13, Moro também denotou que já estava preocupado com as movimentações em Brasília para Lula virar ministro de Dilma Rousseff.
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Em 16 de março de 2016, ele vazou para a imprensa um áudio de conversa entre a então presidenta e Lula, sobre o termo de posse no Ministério da Casa Civil. O vazamento ilegal também foi objeto de diálogo fora dos autos entre Moro e Dallagnol, como mostrou o The Intercept Brasil.
“Você é o cara”
No mesmo dia em que recebeu a notícia de que a ação penal contra Lula que tramitava em São Paulo seria remetida para Curitiba, Dallagnol parabenizou Moro pela repercussão dos protestos a favor da Lava Jato que aconteceram naquele domingo, 13 de março, reunindo milhares de pessoas em várias capitais do País.
Moro respondeu que estava satisfeito com o apoio público, mas que não tinha fé na capacidade do Supremo Tribunal Federal em processar e julgar tantos políticos – que seriam implicados em delações geradas a partir de empresários presos em Curitiba. Dallagnol replicou que a solução era mudar o sistema.
“O próximo passo que podemos dar é o fim do foro por prerrogativa de função, reservando-o para 15 pessoas. Teremos voz para isso, porque os casos do Supremo não andarão com 1/10 da celeridade [de Curitiba]. (…) Foi em razão da experiência com o Banestado que no ano passado investi tanto tempo nas 10 medidas. Se não mudarmos o sistema, sabemos o que acontecerá com os casos [da Lava Jato]”, disse o coordenador da força-tarefa.
Dallagnol finalizou com um apelo a Moro: “Preciso que você assuma mais as 10 medidas. (…) Você é o cara. Não é por nós nem pelo caso (embora afete diretamente os resultados do caso), mas pela sociedade e pelo futuro do país.”
PS do Viomundo: A Petrobras fica no Rio de Janeiro, Lula mora em São Bernardo e o apartamento fica no Guarujá. Por decisão superior, Moro ficou com todos os casos da Lava Jato ligados à Petrobrás. O caso de Lula foi arrastado para Curitiba, o que garantiu a condenação em segundo grau em tempo recorde, tirando o ex-presidente da disputa eleitoral de 2018. Na sentença, Moro admite que não ficou provado que Lula teria recebido o tríplex que nunca ocupou como compensação por contratos da empreiteira OAS junto à Petrobrás.
Comentários
Zé Maria
É óbvio que o desmembramento do Processo em São Paulo ocorreu por combinação do Moro com a tal juíza Maria Priscilla, que só mencionou a vinculação do triplex com a Petrobrás para fundamentar a decisão de enviar o processo de Lula para a 13 ª Vara Federal de Curitiba para o juiz Moro julgar.
Mariana
Concordo. E nunca lembramos de nos perguntar “quanto valeu isso”? Essa passagem foi de graça? Duvido.
André Caldas
Tem que quebrar sigilos telefônicos. Tem que interrogar a tal juíza.
Marcelo Carlos dos Santos
Outro fato que chama a atenção na mensagem é Moro ter se referido a Lula como LL, que nos permite inferir com Lula ladrão, haja vista que ele diz “…se o LL não virar ministro antes.”
Percebe-se, portanto, que mesmo antes de julgar o caso, o “juiz imparcial de Curitiba” já tinha opinião formada, sem mesmo ter todos os fatos do processo, ou seja, já estava contaminado pela parcialidade.
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