Michel Zaidan Filho: AI-5 padrão Fifa

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AI-5 padrão Fifa

por Michel Ziadan Filho*, via José Luiz Gomes da Silva, por e-mail

Quando Hitler quis dissolver o Parlamento e implantar o 3. Reich, inventou um incêndio no Reichstag.

Quando Vargas quis dar o Golpe que instaurou a ditadura do Estado Novo, no Brasil, providenciou a fraude do Plano Coehn.

Agora, pelo visto, estão atrás de um pretexto para criminalizar os movimentos sociais, proibir qualquer manifestação de protesto social (a não ser as autorizadas pela polícia, com prévia consulta) e votar uma clara lei de exceção no país.

O que mais incomoda é que esse estupro das liberdades democráticas no Brasil está sendo perpetrado com o apoio e a aquiescência da imprensa “livre” e “democrática”.

Acham os jornalistas, e as entidades que os representam (como as que representam os donos dos veículos de comunicação) que os ditadores fornecem salvo-conduto ou beneplácitos para os profissionais da imprensa, enquanto amordaçam os demais setores da oposição ao governo e ao capitalismo.

Não sabem eles que uma vez perpetrado o atentado contra o direito de livre manifestação, os próximos serão eles, quando começarem a denunciar a violência, o arbítrio da polícia contra os próprios profissionais da imprensa.

Como, aliás, já aconteceu entre nós.

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Não ha regime de meia liberdade, como não há meia-virgindade, meia-gravidez. Há, é verdade, hímen complacente.

E complacência é o que está havendo da parte da imprensa (os inocentes úteis) na preparação de pequeno golpe contra o direito ao dissenso, o direito à crítica, o direito à oposição.

Não há (e nunca houve no Brasil) o menor indício de ações terroristas contra minorias étnicas, religiosas ou raciais.

Há homofobia e preconceito racial. Mas isso é crime, perfeitamente tipificado no código penal brasileiro.

Outra coisa muito distinta é contratar indivíduos ou grupos para, infiltrados nas manifestações, provocarem ações que amedrontem a opinião pública e venham justificar leis de exceção ou leis que coíbam, contrariem o legitimo direito de protestar.

Os movimentos sociais não são criminosos, amorais, genocidas ou contra os direitos humanos.

Mas há muitos “pescadores de águas turvas” (localizados em vários aparelhos) que desejam plantar provas ou indícios de que as manifestações de rua são ilegais e criminosas.

Esta tese é muito conveniente a um governo e um país que convive com uma guerra civil surda, provocada pela crise das instituições de controle social, o despreparo de sua polícia e a desigualdade social.

As elites governantes e proprietárias desse país têm que decidir o que é prioritário na agenda das políticas públicas: transferir bilhões de reais para empreiteiras, empresas privadas, hotéis, shopping centers etc. Ou cuidar do bem-estar da população brasileira.

Se optarem por usar o fundo público para o enriquecimento de uma minoria, não se surpreendam com a reação da parte sã, republicana da sociedade brasileira.

Violência só gera violência.

Protesto social só se responde com políticas públicas redistributivas, que melhorem a qualidade de vida da população e criem mais oportunidades para os mais pobres.

Combater o protesto com mais violência e arbítrio, só vai alimentar as “vinhas da ira” e provocar mais derramamento de sangue no Brasil.

*Michel Zaidan Filho, professor da Universidade Federal de Pernambuco

PS do Viomundo: O mais espantoso é ver gente de esquerda pregando o “pogrom” de intelectuais que seriam os “manipuladores” da violência nas ruas durante protestos; essa é a esquerda que não acha que as pessoas sejam capazes de ações autônomas — ainda que desastradas e eventualmente criminosas — e endossa a caça as bruxas baseada em supostos crimes “por associação”. Curiosamente, inclui gente que condenou o uso, pelo STF, da teoria do domínio do fato para condenar José Dirceu e outros petistas, mas agora quer usar a mesma teoria para perseguir adversários políticos em sindicatos, universidades e partidos políticos, como pede o jornal O Globo. Quem quebra, vandaliza, agride e mata deve responder pelos crimes que cometeu, para os quais já existem leis. Como escrevi em outro lugar, o Brasil está inventando o macartismo de esquerda.

Leia também:

Bonifa: Batman, Sininho e o teatro do absurdo nas ruas do Rio

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Comentários

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damastor dagobé

e pensar que venderam a alma ao diabo (bancos, midia, evangelicos, telefonicas, sarney, maluf..e um vasto etc) por uma tal “governabilidade’..
bem feito.

Lafaiete de Souza Spínola

Movimentos Black Blocs ou similares, surgem, individualmente ou organizadamente, porque faltam lideranças verdadeiramente interessadas em organizar o povo na direção de passarem a ser os autores da história. Só pensam no poder pelo poder!

Isso que afirmo atinge o mundo atual. As informações corretas ou falsas não transitam mais por pombos correios. Estamos na era da internet!

Há muitos fatores que conseguem atrasar esse processo de mudança global:

A manipulação do poder econômico que tem conseguido controlar a mídia.
O apego das organizações consideradas de esquerda às estruturas partidárias antigas.
O sentimento de líderes desses partidos, considerando-se insubstituíveis.

Em nosso meio, considero o pífio investimento na educação básica como o maior empecilho.
Não vejo mobilização pela educação do nosso povo. Poucos dão a importância que ela merece.
Muitos ficam esperando o salvador da pátria, o líder que comande o rebanho.

Poucos notam que essa época está passando. Precisamos unir forças em torno dessa prioridade!
Se ficarmos só discutindo as mazelas, estaremos dificultando essas mudanças que se aproximam.
Precisamos de um projeto para a educação no Brasil. Uma verdadeira mobilização!

QUEREMOS MUDANÇAS OU SÓ DISCUTIR AS MAZELAS?

PRECISAMOS DE UM NOVO PARTIDO!

Muito diferente dos que aí estão!

Partido não pode continuar sendo como time de futebol que, cegamente, muitos, com paixão, comemoram até gol de mão.
Em todo mundo, não só no Brasil, os partidos apresentam estruturas centralizadoras, superadas para os dias atuais.

Tenho lido programas de vários partidos.

Em nenhum deles encontro clareza, definições de programas.

Fiquei, recentemente, entusiasmado com um resumo histórico de quase tudo que tem acontecido em nossa história, das críticas de como vêm sendo acumuladas todas as mazelas, em nosso país.

O entusiasmo durou pouco, pois, deram ao referido resumo; criado por um dos partidos mais recentes; a titularidade de PROGRAMA!
Sim! Os partidos estão surgindo, porém não apresentam projetos concretos!

Daqui a vinte anos, muitos desses dirigentes continuam lá e outros saem, apenas, para fundar outro partido com as mesmas características!

Proliferam teorias, ideias, discussões. Muitas mostraram e mostram o caminho para mudar o mundo. Porém, entre a teoria, a ideia e o discurso permeia um vasto mundo de contradições que conduzem ao divórcio da práxis. Outras teorias, ideias e discussões surgem, então, para explicar os motivos da trágica separação.

Um observador mais atento pode notar algo comum permeando entre os mundos da teoria e da prática: Sempre está presente um eterno grupo seleto a conduzir a evolução dos acontecimentos e um rebanho de seguidores, pouco comprometido, atuando na condução de uma multidão de não participantes. Com o tempo, dessa maioria não participativa surgem as contestações, quase sempre, oriundas das falhas que originaram esse divórcio entre teoria e prática. Assim, depois do nascente desconforto, proliferam antagonismos difusos.

Fica claro, que a falta de participação conduz à procura de outras soluções.

Um texto do Bruno Fiuza pode esclarecer a muitos que partido não é time de futebol!

Já no início, ele começa a desnudar os rótulos familiares que levaram e levam intelectuais e líderes populares a se afastarem da realidade que os cerca. São desinformados, pois estão voltados para o próprio umbigo e cacoetes.

Cita o feitiço reinante que se apoderou e se apodera das burocracias sindicais e partidárias. Dentro desse modelo surgiu o sindicalismo com líderes insubstituíveis e o famoso político profissional. Tudo pela moda antiga!

“O cidadão comum percebeu que a política não é propriedade privada dos políticos profissionais”.

Muitos que não pertencem a grupos extremamente radicais percebem perfeitamente tudo isso. Professores protestando, em massa, nas ruas, estão ecoando essa indignação. Outros grupos não têm o direito de alterar seu modo de protestar!

Sobre esse distanciamento entre sindicatos, partidos e povo que leva à lógica de quem chega ao poder, supondo que a política é assunto para “especialistas”: “Ora, foi justamente isso que levou às ruas em junho: a revolta contra o distanciamento entre aqueles que formulam a política e aqueles que apenas sofrem suas consequências”.

As pessoas sentem-se excluídas e começam a odiar os partidos. Daí pode surgir um funesto salvador da pátria. Foi assim que surgiu: UM POVO, UMA NAÇÃO, UM LÍDER!

Estou cansado de ouvir: “Todos são iguais!” Por quê dizem isso?

Sem organização; sem partidos diferentes dos atuais; não será possível qualquer mudança construtiva. Execrar o sistema partidário atual é bem diferente de condenar, genericamente, a existência de partidos.
Foi essa distância entre povo e lideranças vitalícias que levou ao naufrágio tanto do Leste Europeu quanto da União Soviética. Muitos não gostam de ouvir essa verdade!

“Foi um grito contra o abismo que existe entre a política institucional e o cidadão comum, criado por políticos profissionais”.

Tenho dificuldades, diante de pessoas não politizadas, em defender a tese de que há políticos honestos. O descrédito é geral! Por isso martelo, em meus comentários, sobre a necessidade de uma mobilização, de uma união, em torno da educação básica por considerar que um grande investimento nessa área poderá ser o ponto de partida para mudanças em nossa sociedade.

Sinto certa indiferença da sociedade pela educação, inclusive na internet. A educação é pouco discutida! Muitos estão esperando o estabelecimento de uma sociedade mais justa para que a educação receba a devida atenção, quando o caminho seria somar forças, exigindo mais investimento, para termos uma sociedade mais e mais exigente. Quando converso com pessoas de nível educacional mais simples, sobre como a educação deveria ser tratada, simplesmente dizem:” Maravilhoso, mas os políticos não querem”; “só Jesus Salva”; “eles querem um povo burro”; “mudar isso é impossível” etc.

A classe média coloca seus filhos nas escolas particulares, muitas de péssima qualidade. Continuamos, assim, mantendo uma sociedade para 15 a 20% da população.

Diante dessas discussões, para que ocorram transformações profundas, temos que partir para um novo projeto:

SE DESEJARMOS SOLUÇÃO PARA AS MAZELAS DESTE PAÍS, AFIRMO QUE NECESSITAMOS DE UM PARTIDO NOVO, EM TUDO, QUE DÊ ALTA PRIORIDADE À EDUCAÇÃO.

DISCUTIR UM PROJETO PARA ESSE PARTIDO É A GRANDE LACUNA DENTRO DO NOSSO PAÍS.

NADA DE PODER SÓ PELO PODER QUE É A NASCENTE DE PARTIDO SÓ PELO PARTIDO.
EXISTE, HOJE, UM PARTIDO QUE QUE LUTE PARA A APLICAÇÃO DE 15% DO PIB NA EDUCAÇÃO?

CURATIVOS NÃO RESOLVEM!

DIZEM LOGO: É MUITO, É UTÓPICO, O PAÍS VAI QUEBRAR ETC.ETC.
DEVEMOS DISCUTIR AS FONTES DESSES RECURSOS!

Paulo Roberto

A comparação com Hitler é ridícula, nojenta e MENTIROSA. A menos que o professor tenha, pelo menos indícios, de que o governo Dilma está por trás dos Black Blocs. É o estilo Gilmar Mendes fazendo escola. Já passou da hora de fazermos uma análise ISENTA do que está acontecendo no Brasil. Podemos começar com a constatação de que, nos últimos 30 anos, o país teve centenas de manifestações populares, sem NENHUM tipo de confronto com a polícia. Eu mesmo participei de incontáveis, que incluem desde o Diretas Já até passeatas sindicais. Além disso, como militante sindical, participei de movimentos grevistas com piquetes extremamente tensos. E nunca apanhei de polícia. Será que a polícia enlouqueceu de um ano para cá ? Ou será que o governo Dilma se tornou uma ditadura ? Ou será exatamente isto que querem vender para o povo ? A classe média já comprou e o que se ouve nas universidades é mais ou menos isto, que vivemos numa ditadura. Isto é verdade ?

    abolicionista

    “Será que a polícia enlouqueceu de um ano para cá ? “, acho que você errou no timing. A polícia militar nasceu de um ato de loucura, como a Hidra de Lerna. Ela é filha das Danaides da ditadura. Ela enloqueceu quando colocou em seu brasão uma estrela em homenagem ao massacre de Canudos outra em homenagem à “Revolução de 1964”. A polícia militar é louca, psicótica, sedenta de sangue, fascista e corrupta. Sem um pingo de exagero. Conheci um PM que tinha uma bandeira nazista em casa. Não é brincadeira, a foto da bandeira está no facebook dele, pra quem quiser ver. Como professor, já participei de muitas manifestações que acabaram em conflito com a polícia, a única diferença em relação a junho é a quantidade de gente que participava e o destaque por parte da mídia. Sempre que uma manifestação de esquerda começa a crescer demais, a PM usa bala de borracha e gás pimenta. É o seu modus operandi. Na favela, é bala de chumbo mesmo. Na nunca, à queima-roupa. Com a vítima deitada no chão. Aluno meu já morreu assim. Por causa de um baseado. O laudo da PM, nesses casos, inclusive, é o mesmo utilizado pelos nazistas: “resistência seguida de morte”.

abolicionista

No fim das contas, o Badinguet não era o ferreiro, mas sua herdeira infiel. O golpe veio no interregno entre nada e lugar algum. Não foi de faca, de tiro seivoso ou de rojão. A peste veio de instrumento mais insidioso e melífluo, de triunvirato ínfero, papel, pena e martelo. Morre aquela que nunca nasceu, filha retinta e bastarda, ágora subalterna, mísera espera.

Francisco

Mas o AI-5 foi imposto a um Congresso amordaçado e durante uma ditadura totalmente ilegitima.

Durante a ditadura militar aquela esquerda não saiu matando gente pelo meio da rua, nem tocando fogo no fusca de um trabalhador.

E quem dera que a esquerda que lutou contra a ditadura conseguisse reunir tantos “heróis” contra o regime…

Contando com personagens da Disney, como Sininho e da DC Comics, como o Batman!

Como tem revolucionario no Brasil quando não há perigo, não?

O Brasil é uma democracia pluripartidária com voto universal e direto, que envia projetos a um Congresso livre e eleito pelo voto universal e direto, todos devidamente cobertos por uma imprensa que pode reclamar de tudo na vida, mas não tem uma virgula a dizer sobre ser censurada em qualquer nível. Muito pelo contrário…

Então, me poupe…

Terror vocês vão ver se um gaiato desses tocar fogo no meu Chevete! Ai, meu rei, não vai ter AI-5 que me segure!

Leo V

Pro pessoal que repete o que o tal PIG diz sobre o Black Bloc, esse editorial do Globo faz lembrar que com o MST não é diferente, acusado de tentar invadir o STF: http://oglobo.globo.com/opiniao/quando-os-black-blocs-o-mst-se-encontram-11597555

Tago Elewa Dahoma

“Não há (e nunca houve no Brasil) o menor indício de ações terroristas contra minorias étnicas, religiosas ou raciais”. Provavelmente o autor deve estar falando de um outro país, ou focando em determinado contexto histórico que restringe em muito a ação do Estado no que diz respeito às minorias. Vivemos em um Estado terrorista sim, que aplica o terror às pessoas que se encontram no meio do caminho ao “progresso”.. Basta ver o que o Estado brasileiro permitiu e permite, ao que acontece aos quilombolas, aos periféricos (negros). Aqui se há o induto para caçar e matar, sem julgamento. Invadir templos religiosos de matriz africana, sendo o algoz ou o poder público por meio da polícia ou determinado segmento social, sem que o poder público nada faça.

Acho que seria melhor pro autor descer dos escritos na hora de fazer uma análise mais real do país que ele fala.

Bode do Lula

Como dizia um velho brizolista, para que o povo possa comer uma boa chuleta bem assada, antes precisa sangrar alguns porcos

Péricles

Isso parece religião. A esquerda está errada, o governo está errado, a direita está errada. Apenas cada um dos escribas está inteiramente correto, embora cada discurso seja incompatível com o dos demais.
Estamos com um problema a administrar: manifestações acéfalas só servem para a desestabilização seja lá do que for. No caso, da democracia. E, segundo alguns dos iluminados autores acima (ou abaixo), estão conseguindo. Por falta de tirocínio seguimos comparando-as com fatos passados incomparáveis ou destilando acusações inconsistentes alicerçadas a rótulos, quase sempre infelizes. Parece que, todos ou quase todos (mesmo os mais iluminados, o que não é o meu caso) concordamos que manifestações acéfalas e com bandeiras genéricas funcionam mais ou menos como soltar um macaco sem dono numa sala de cristais. Não há nem mesmo com quem negociar. Muito menos sobre o que. Com isso os desideratos dos poderosos estarão confortáveis.
E talvez seja de bom alvitre não confundir ter a presidência da república com poder. Especialmente quando no governo a maioria dos aliados é inimiga. E uma suposta esquerda no parlamento fala como tal, mas suas ações beneficiam, via de regra, o lado oposto.

Edno Lima

“O que mais incomoda é que esse estupro das liberdades democráticas no Brasil está sendo perpetrado com o apoio e a aquiescência da imprensa “livre” e “democrática”. O autor do texto só esqueceu de mencionar que o estupro está sendo perpetrado e sob o comando do partido dos trabalhadores (A imprensa não possui base aliada). O melhor do texto foi o PS.

Fabio Nogueira

* “Pobre votou no Lula e na Dilma porque foi comprado com a esmola do bolsa família”, dizem os conservadores de direita.

* “Ele é pobre, não tem discernimento, foi aliciado”, disse o advogado (que também é acusador!, ei OAB!) do rapaz preso.

* “Esses encapuzados estão recebendo R$150,00 do PSOL pra fazer manifestação contra a Dilma”, dizem alguns amigos governistas, repetindo as notícias veiculadas pela Veja.

DARCY BRASIL RODRIGUES DA SILVA

De repente, constato uma insensata perseguição revanchista movida por simpatizantes do PT contra o Psol. Embalada pelo ódio derivado do processo do “mensalão”, em que vimos um massacre midiático contra o PT e vários de seus dirigentes históricos – massacre esse amplificado na zona de influência política de partidos como o PCB, o Psol e o PSTU – o grosso da militância petista resolveu……se vingar.

O sentimento de vingança jamais foi um bom conselheiro político. Muito menos é “um prato que se come frio”. Cegos por esse sentimento irracional, a maioria da militância petista tornou-se incapaz de perceber que a manipulação midiática contra a qual estamos a lutar intensamente nos últimos ( pelo menos) oito anos, continuava a ser , nesse episódio, a mesma ameaça,e que se rege pelos mesmos interesses que levaram José Dirceu e José Genuíno para trás das grades do presídio de Pedrinhas, e que tentará derrotar Dilma em outubro deste ano.

Nesse sentido, uma matéria que acabo de ler no jornal 247 soa como leviandade oportunista, e de direita. Nela, o depoimento de um acusado é , de forma quase sensacionalista, despreocupada com a apuração dos fatos denunciados, replicado pelo portal com ar quase vitorioso, semelhando alguém que , com um chinelo na mão , tivesse acabado de esmagar uma barata.

Apresentar uma lista de doadores ligados ao Psol como financiadores de atos de vandalismo, como se cada um dos nomes daquela lista tivessem consciência de uma suposta utilização violenta do recurso que doava ( se é que , de fato, o receptor destas doações desviou-as para as mãos de elementos do grupo Black Bloc), é ato de calúnia e difamação. Enquanto calúnia e difamação leviana, lembrou-me imediatamente a acusação de lavagem de dinheiro do ministro Gilmar Mendes, em desrespeito às pessoas que desembolsaram recursos de suas economias domésticas para pagar a multa dos injustamente condenados dirigentes do PT.

Nós que militamos em um partido de esquerda em algum momento de nossas vidas pelo menos, sabemos que todo partido de esquerda para sobreviver precisa contar com uma rede de doadores, quer estejam entre os seus militantes mais dotados de recursos financeiros, quer estejam entre simpatizantes dispostos a ajudar no crescimento político daquele partido, por manter identidade política com o seu programa. Desde de suas fundações, durante a clandestinidade ou na legalidade,assim foram mantidos financeiramente o velho partidão, o MR8 e o PdoB , por exemplo. O próprio PT teve durante muitos anos nas doações de seus militantes a sua principal fonte de financiamento(sinceramente, olhando para os números divulgados pelos seus próprios balanços de campanha, onde a ingerência da influência de grandes empresas no comportamento político do PT pode ser , de certa forma,intuída, não creio que estas sejam atualmente as principais origens dos recursos que custeiam a atividade do PT, ).

Ao ler a matéria do portal 247, uma coisa me revoltou um pouco mais, de forma um tanto quanto pessoal: na lista divulgada hoje por este portal (replicando a grande mídia, tomada oportunisticamente como fonte fidedigna, em se tratando de acusações passíveis de serem usadas contra o Psol e contra Marcelo Freixo), li um nome de um amigo de mais de 25 anos, contemporâneo de meus tempos de estudante do alojamento estudantil da UFRJ. Trata-se do brilhante juiz João Batista Damasceno. Embora não me comunique com o juiz Damasceno há mais de 15 anos, por conta de minha saída do Rio de Janeiro para Minas Gerais, sempre tive informações sobre ele através de minha família, com quem ele sempre interagiu. Há entre o juiz meu amigo e o deputado Marcelo Freixo um ponto comum (desconhecia a ligação de meu amigo com o Psol, embora isto não represente nenhuma surpresa para mim. Em tempos de movimento estudantil, também divergíamos organicamente). Esse ponto comum reside na ameaça de morte por parte do chamado crime organizado. No caso do juiz Damasceno , esta ameaça teria partido de traficantes de Nova Iguaçu, o que levou a que ele se transferisse momentaneamente para outra comarca, visando preservar sua integridade física.

Fico aqui a imaginar um homem que conheço, absolutamente íntegro, que não vacilou em fazer o que era o seu dever, atuando com firmeza contra a violência do tráfico em uma região das mais violentas , como é a Baixada Fluminense, a ponto de ter que se cercar de ostensivas medidas de segurança, lendo-se agora acusado de financiador de ações violentas do grupo Black Bloc.

Por não ter me comunicado com o juiz Damasceno, farei uma defesa possível de todos os nomes dos doadores listados pelo portal 247, interpretando essa lista de forma menos manipuladora do que o referido portal. Estes eram, ao que tudo indica, financiadores regulares do Psol, tal como os que atualmente continuam financiando o PCdoB, por exemplo. Ao se comprometer em doar, por exemplo, R$ 100,00 por mês ao partido, o doador o faz como gesto político de quem deseja viabilizar o funcionamento daquele partido, que realiza muitas despesas , como pagamento de aluguéis de sede, de água, luz, telefone, etc. Jamais ocorreria a um doador habitual, motivado por razões ideológicas, estar pagando a compra de máscaras ou rojões para um grupo inteiramente distinto do partido com que se identifica.

O Portal 247, ao publicar essa matéria, perdeu o direito de denunciar a mídia corporativa. Perdeu também esse leitor. Não comungo e jamais comungarei com as concepções políticas puristas moralistas do Psol, uma estranha agremiação difícil de classificar, que consegue parecer ora reformista, ora esquerdista. Suas posições ante o julgamento da Ação Penal 470 foram deploráveis. Mas , se me indignam os atos do oportunismo de esquerda, também repúdio as ilações do oportunismo de direita. Ambas são bumerangues políticos que , uma vez lançados , terminam por regressarem contra os arremessadores.

Fernando Garcia

Azenha, comecei a ler o texto umas três vezes, porque a primeira frase é daquelas que faz alguém que busca algo “razoável” e “coerente” desistir de ler o texto, mas tomei coragem e segui em frente… no entanto, é sempre bom repetir que não há nada sendo perpetrado pelo Estado Brasileiro hoje que guarde qualquer paralelo com a ascensão nazista na Alemanha. Isto é recurso retórico puro… e não acho que este tipo de recurso deva ser usado em uma discussão honesta.

No mais, o texto me parece fraco, e tentarei explicar porque acho isso, vamos lá: toda vez que alguns falam sobre regulação da mídia, dedos da mídia patronal acusam uma inexistente tentativa de censura. Aqui, dedos são apontados para, por exemplo, uma possível regulamentação do direito à manifestação. O dedo aponta tentativa de criminalizar movimentos sociais e proibir protestos. Até aqui, não vi nada de concreto nessa direção.

Sobre a questão, penso que não é democrático permitir que 1000 indivíduos paralisem avenidas principais de cidades de milhões de habitantes. Mas ao mesmo tempo, se 10, 100 ou 1000 indivíduos querem se manifestar na Av. Paulista, eles precisam ter garantido este direito. Desta maneira, só vejo que o direito a manifestação precisa ser regulamentado e isso significa que passeatas precisam ter itinerário, hora para começar e hora para acabar. No mais, ao autorizar o evento, o Estado, ele mesmo, torna-se responsável por sua segurança.

O texto do Prof. Zaidan apenas mostra uma eterna desconfiança (até saudável) que alguns setores da esquerda cultivam em relação ao Estado de direito. Algumas pessoas destes setores, com as quais debato a questão dizem: “na Europa tudo bem ser regulamentado, mas aqui no Brasil isso não daria certo…” Isso não é “vira-latisse”?

No mais,

“Não há (e nunca houve no Brasil) o menor indício de ações terroristas contra minorias étnicas, religiosas ou raciais.”

Sério?

Abraços,

PS: sobre seu PS, concordo plenamente. Mas vamos esperar para ver se algo substancioso vem disso aí. Minha experiência é no meio acadêmico de São Paulo e, por aqui, a ideia de movimentos manipulados por professores é uma falácia. Por aqui, intelectuais adoram manifestações… para serem estudadas, “teorizadas” e evocadas de maneira a sustentar o discurso preferido de cada um.

Alemao

Eu desafio o blog a publicar a letra da lei.

Elias

O final do PS do Viomundo me deixou meio confuso. “Macartismo de esquerda” seria uma nova roupagem, por sua vez, bem mais ácida para se aliar à “patrulha ideológica”, proposição do cineasta Cacá Diegues feita em fins da década de 1970?

    Luiz Carlos Azenha

    Mais que patrulha ideológica. É macartismo, mesmo: criminalizar por associação e por ideias com as quais não se concorda. É bem mais grave do que o vc pensa.

    Leo V

    Então se entendi, um exemplo é mesmo a Itália no fim dos anos 70. O chamado Compromisso Histórico, em que a Democracia Cristã dividiu o governo com o Partido Comunista. Muita gente foi perseguida e presa, inclusive professores universitários, com a acusação de serem ‘mentores’ das Brigadas Vermelhas.

    Eu posso ter mil e uma críticas à garotada que em geral tem participado dos black blocs ou da tática em si, mas no momento, se eu não defendê-los com unhas e dentes, para barrar essa criminalização da contestação, dos movimentos sociais e agora até da solidariedade, o próximo perseguido será eu.

Leo V

Muito bom o texto, e mais um vez excelente PS.

Gente de “esquerda” macartista que só consegue enxergar as próximas eleições, como um investidor de curto prazo, ou porque o único projeto que possui é se manter no poder.

Já disse para alguns amigos que o momento no Brasil lembra a Itália do final dos anos 70 – claro, guardando as proporções e diferenças. E lá, em abril de 1979, professores do departamento de Ciência Política da Universidade de Pádua foram presos. Um deles ficou mais famoso: Toni Negri, que amargou anos de prisão e foi até mesmo condenado como “mentor” das Brigadas Vermelhas. Algo que hoje em dia seria algo risível para qualquer um. O mesmo tipo de associação querem fazer por aqui, e juntos nisso estão Estado, governistas, burguesia, grande imprensa…

Fernando

Só vale o que o poder quer, virou uma graça de desgraça esse país porque também tal como isso, petistas que acusam outros de considerarem só o desejam, agem da mesma maneira com os outros… A ditadura está abrindo as portas.

Urbano

Apenas a pulha de sempre, até para esconder o terrorismo de Estado que sempre abraçaram… O tio é expert nisso e obviamente os fascistas da oposição ao Brasil seguem fielmente. Agora o que entristece é quando a gente vê certos políticos bem conceituados e vivenciados embarcarem nessa canoa furada. A coisa é tão pueril de se esquadrinhar que basta fazer um pequeno levantamento de pessoas e entidades que são a favor dessa treta de Lei contra o terrorismo.

Fernando

O artigo e o PS estão perfeitos.

O resto é conversa afiada.

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