O soco inglês de Carlos Alberto Brilhante Ustra
por Mariana Lacerda
Em 1967, o Banco do Estado realizou o primeiro concurso público que permitia a participação de mulheres.
Entre as aprovadas no concurso, estava a jovem Lúcia Skromov, com 21 anos de idade.
As mulheres tiveram pela primeira vez permissão para ingressar em um concurso público para trabalhar no banco, mas isso não queria dizer que seus direitos estavam equiparados aos dos homens.
Lúcia relata que recebia um salário menor que o de seus colegas do sexo masculino, ainda que tivessem o mesmo cargo.
Isso gerou revolta entre as trabalhadoras, que passaram a ser cada vez mais presentes dentro do Sindicato dos Bancários.
Nesse período, a ditadura militar estava instalada no país e qualquer tipo de reivindicação era vigiada.
Agora com mais idade, Lúcia contava a sua história sentada na poltrona da sala de sua casa que era silenciosa e tranquila, com janelas bonitas e arejada.
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Enquanto expunha a realidade dura que viveu, a senhora de 73 anos não estremeceu nem por um segundo, descascou uma manga e comeu tranquilamente enquanto conversávamos sobre como ela conheceu Coronel Ustra, líder torturador do regime militar.
Um ano após começar a trabalhar no Banco do Estado, Lúcia foi presa pela primeira vez em uma passeata e levada ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), um dos principais órgãos repressores do governo, responsável por vigiar e espionar qualquer tipo de organização popular.
Lá teve sua primeira experiência com a violência e a repressão do governo dos anos de chumbo, que estava apenas começando.
Em 1969, Emílio Garrastazu Médici assume a presidência.
Lúcia relata que esse foi um período de transição de uma ditadura tímida pra uma ditadura policial.
Mesmo com o endurecimento da repressão, a bancária não deixou suas atividades com o sindicato.
Alguns anos depois, em 1973, Lúcia teve o desprazer de conhecer as instalações do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna), mais um órgão repressor gerido pelo exército, este em especial era visto com mais prestígio, talvez por ter sua atuação pautada em táticas de guerra com a finalidade de aniquilar ‘’inimigos’’.
Esses inimigos poderiam ser qualquer cidadão que se articulasse ou participasse de organizações de caráter social.
Ao chegar no DOI-CODI, Lúcia foi recebida por Aparecido Laertes Calandra, conhecido como Capitão Ubirajara, outro nome que ficou bastante conhecido por sua atuação de torturador durante a ditadura militar.
Um homem se aproximou e acariciou sua face suavemente.
Logo em seguida, o mesmo desferiu um golpe contra o seu rosto.
Este era Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar homenageado pelo atual presidente da república, Jair Messias Bolsonaro.
“Dele eu recebi um tapa, mas não foi um tapa qualquer, foi um tapa com soco inglês”, relata.
Fazia cerca de três dias que Lúcia estava confinada, sem poder vestir nenhuma roupa e sem se alimentar: “Eu tive o desprazer de conhece-lo de uma forma completamente vulnerável. E eu tava completamente nua, né? Porque eles tiram as roupas das pessoas, que é pra você já se sentir vulnerável’’.
Para Lúcia, pior que os choques, o pau de arara e outros tipos de torturas praticadas ali, era ser obrigada a ficar nua, em pé com as costas em uma parede.
Ficava 24 horas completamente estática, sem poder dar um passo ou mudar de posição. Não podia comer e nem beber.
Quando os militares passavam bebendo café, água ou até álcool, jogavam bebida em seu rosto.
As celas no DOI-CODI eram coletivas e as mulheres ficavam separadas dos homens.
As moças que não eram casadas podiam ser utilizadas como “carne de canhão’’ — como disse Lúcia — o que significa que eram constantemente estupradas por soldados.
Lúcia sobreviveu as torturas, mas ficou com sequelas: uma de suas vistas foi prejudicada e teve que fazer uma cirurgia corretora para as pernas. Mas nem os danos físicos que teve foram capazes de frear seus ideais e sua luta.
Em 2004, a ONU decidiu realizar uma missão de “paz’’ no Haiti que contou com a participação do exército de 40 países, entre eles o Brasil, que chefiou a ação.
Lúcia se deslocou até lá diversas vezes para prestar solidariedade ao povo haitiano, que sofria com os conflitos causados pela ação da ONU, e se tornou membro do Comitê Pró-Haiti.
Em 2016 participou da Marcha Antifascista. “Eu tenho orgulho, na altura dos meus 70 anos de idade, em dizer que hoje estou numa praça falando com jovens e dizendo pra eles: Não permitam! Porque vocês serão as vítimas amanhã”, discursou Lúcia, sobre o avanço do autoritarismo no Brasil.
No ano seguinte foi até São Petersburgo, na Rússia, comemorar os 100 anos da Revolução Socialista.
Foram horas de conversa sobre um assunto que nem todos estão a vontade para falar a respeito, uma conversa tão delicada pode reacender traumas e abrir feridas.
Não deve ser fácil descrever como foi o encontro com seu torturador, mas durante o tempo que conversamos ouvi uma única lamentação: “Acho que eu seria uma pessoa melhor se não tivesse passado por isso”.
PS do Viomundo: 26 de junho é o Dia Internacional de Apoio às Vítimas da Tortura.
Comentários
Sukhoi
Com tanta desinformação, inverdades e mesmo puras mentiras, propagandas pela militância marxista contra o regime militar, que inclusive eram treinados a relatar, mesmo que falsamente, para a imprensa que quando eram detidos eram logo torturados, como vamos acreditar que essa senhor estaja realmente sendo honesta com suas afirmações?
José Valadares de Campos
tendenciosas que apresentassem o governo brasileiro como um contumaz violador dos direitos humanos.” — Essa modalidade de ação política de viés psicológico que pode ser chamada de proselitismo vitimista, é deflagrada por um grupo ou organização através de propagação de mentiras específicas sobre os seus opositores, para estabelecer entre as pessoas alvos da campanha a idéia de que o grupo disseminador foi ou está sendo vítima de práticas abomináveis, como prisões arbitrárias, cerceamento do direito de defesa e de expressão, torturas, violências sexuais contra mulheres, execuções sumárias, etc (entre as atrocidades praticadas pelos governos militares inventadas pela FBI para atingir seu execrável objetivo, incluiam-se também o extermínio planejado de povos indígenas, e de criminosos comuns, que estariam sendo sumariamente executados pelos chamados esquadrões da morte). Através do sentimento de repulsa, da indignação e dos impulsos de solidariedade que a realidade desumana artificialmente criada desperta em favor da organização difusora, ela acaba auferindo importantes simpatias e revoltadas adesões para a sua causa. Desnecessário dizer que esse tipo de ação visa também criar rejeição às idéias e posições defendidas pelos seus adversários.
Marcia Luiza Cerqueira
Torturas nao houve, como dizem. Se era comunista, tinha que ser contida, como os seus camaradas. Mentem desbragadamente para incitar as pessoas contra os militares, nossos herois, que nos salvaram de ser hoje uma “CUBA”. Eles e outros civis deram suas vidas para livrar o Brasil do Comunismo. Quem nao apoia a Direita, tem mente subversiva cintra o proprio povo.Nao merecemos isso.
Maria Terra
Cuba é uma democracia. Ninguém morre de fome ou por falta de tratamento médico. Têm os melhores médicos do mundo. É uma população culta. Se é pobre é por conta do bloqueio comercial Norte americano. Precisa desenhar?
cleonilda
a ditadura foi uma coisa muit nojenta vergonhosa, monstruosa.
paulo
E os venezuelanos?
Voces nao tem pena?
Rosalete Beatriz Baldessarini
Pena dos venezuelanos porque?Venezuelanos são livres e apoiam seu presidente, lutam unidos para não se tornarem capachos dos EUA. Temos que ter pena de nós mesmos, que vivemos em um país governado por um louco que não pensa no povo, pensa só em dinheiro…
Sergio Tavares Costa
Não entendi o que é que tem a ver o venezuelanos nessa história.
Zé Maria
Somos todos torturados num governo fascista.
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