Luiz Cláudio Cunha: Após vetar memorial a Jango, governador de Brasília sugere área distante do QG do Exército
Tempo de leitura: 3 minApós bronca de general, governador de Brasília sugere área para Memorial Jango distante do QG do Exército
por Luiz Cláudio Cunha, especial para o Viomundo
Continua o estranho impasse em Brasília sobre a construção do Memorial da Liberdade e Democracia, dedicado ao presidente João Goulart (1919-1976) e foco do último projeto desenhado por Oscar Niemeyer.
“Quero resolver essa história”, disse o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) ao anoitecer desta segunda-feira (26), ao receber uma delegação de cinco senadores — Cristovam Buarque, Telmário Mota e Lasier Martins (todos do PDT), Paulo Paim (PT) e Randolfe Rodrigues (Rede). Os parlamentares queriam reverter a surpreendente decisão do governador socialista que, em agosto passado, declarou nula a cessão de um terreno no Eixo Monumental onde seria erguida a construção branca e ondulada de 1.200 metros quadrados onde se destaca uma cunha vermelha encravada na cúpula do monumento, com uma data maldita: 1964.
Pelo local, transitam diariamente por ali os generais mais estrelados do país, a caminho de seu local de trabalho, o Quartel-General do Exército. Entre eles, o chefe de todos, o comandante da força terrestre, o general quatro estrelas Eduardo Dias da Costa Villas Boas.
Dias antes do recuo inesperado do governador Rollemberg, o general Villas Boas reclamou para a senador Vanessa Grazziottin (PCdoB):
— Este memorial não pode ser construído ao lado do Quartel-General. Isso é uma afronta ao Exército!
Por mera coincidência, dias depois, Rollemberg anunciou a anulação do ato que liberava a construção, assinado em 2004 ainda no governo de Joaquim Roriz. Na conversa com os senadores, o governador não passou recibo pela bronca do general, que não mereceu citação de ninguém.
Rollemberg, sempre simpático, lembrou aos visitantes que seu pai, o juiz Armando Leite Rollemberg, foi nomeado ministro do Tribunal Federal de Recursos (TFR) justamente pelo presidente Goulart, sete meses antes de ser derrubado pelo golpe militar.
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O terreno original, logo atrás do Memorial JK, fica a um quilômetro em linha reta do QG do Exército. O governador está sugerindo, agora, um outro terreno 8,5 quilômetros mais longe, a uma distância segura para não ofender a sensibilidade dos generais, ainda afrontados pela memória do presidente que derrubaram há meio século.
A proposta de Rollemberg é destinar uma área na outra ponta do Eixo Monumental, logo atrás da Praça dos Três Poderes e do mastro da gigantesca bandeira nacional que tremula entre os palácios do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.
O problema será ainda maior: ali está instalado o Bosque dos Constituintes, uma verdejante coleção de 600 árvores plantadas pelos integrantes da Assembleia Constituinte de 1987 para homenagear a promulgação da nova Carta. A primeira pá de terra, para cultivar as mudas de ipê, jacarandá, cedro, jequitibá e angico, entre outras árvores típicas do país, foi dada pelo presidente da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães.
O terreno de 76 mil metros quadrados é tombado pelo patrimônio urbanístico da capital e não permite nenhuma alteração. Depois de recuar diante das tropas do general Villas Boas, o governador de Brasília certamente não terá fôlego para enfrentar as legiões civis da cidade. Ou seja, a encrenca continua.
A família do ex-presidente pretende entrar na Justiça contra o Governo do Distrito Federal (GDF) para defender os direitos do Instituto Presidente João Goulart (IPG).
A Petrobrás e a Eletrobrás arcaram com os custos iniciais de R$ 1,7 milhão para os furos de sondagem no terreno desprezado pelo governador após a bronca do general. Os fundos resevados junto ao Ministério da Cultura, que ajudariam a financiar os R$ 19 milhões estimados para a construção do memorial, acabaram revogados pelo atraso das obras.
“Espero que o governador Rodrigo Rollemberg, que agora mostra boa vontade em encontrar uma solução, nos ofereça uma área no Eixo Monumental que esteja à altura da memória de João Goulart, o único presidente brasileiro morto no exílio. Jango foi perseguido, cassado e mantido longe de sua pátria por 12 anos. Só voltou ao Brasil morto, em 1976. Não é possível que, agora, Jango seja novamente cassado e perseguido. Ele faz parte de nossa história e da memória do Brasil. Jango exige respeito”, diz o seu filho, João Vicente Goulart.
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Comentários
Carlos
Que “legiões civis” de Brasília o Rollemberg vai ter que enfrentar?? Os mercenários maltrapilhos que organizam protestos pagos com dinheiro público pelas lideranças comunistas que os manipulam como massa de manobra, desviando suas verbas de gabinete do Congresso para remunerar tais mercenários que ousam se autodenominar “movimentos sociais”???
marcio ramos
… democracia maravilhosa esta nossa, nao e verdade?
Mauricio Gomes
Quando teremos coragem de dizer NÃO à esses milicos que JAMAIS se desculparam pelo golpe e pelas atrocidades que fizeram? E que, esses dias, ainda tiveram a ousadia de homenagear o porco assassino e torturador do Ustra, isso sim uma afronta ao povo brasileiro. Chega de baixar a cabeça pra esses milicos, eles devem acatar a construção e ponto final…
Francisco
E se o general não gostar da cor do azulejo do banheiro? Ai sim, é crise!
PS.
1) O general é um servidor público. Só.
2) O Exercito brasileiro não é uma quadrilha de estupradores.
3) O Exercito que tem Rondon, não precisa buscar como referencia moral um Costa e Silva.
4) O Exercito brasileiro rachou em 1964: uma metade se tornou piratas amotinados rapidamente incontroláveis (porque amotinados…) e outra fiel na defesa da Constituição.
5) Qual Exercito homenagear e louvar é tarefa do patrão que remunera o servidor público Exercito brasileiro: o povo.
L@!r M@r+35
1) O general é um servidor público. Só.
Mas parece uns 30!
2) O Exercito brasileiro não é uma quadrilha de estupradores.
Mas tinha lá sua facção que curtia um estupro de presas políticas. Basta ver a Comissão da 1/2 verdade
3) O Exercito que tem Rondon, não precisa buscar como referencia moral um Costa e Silva.
Isso é verdade! Parece que só esperaram ele morrer pra dar o golpe civil-militar.
4) O Exercito brasileiro rachou em 1964: uma metade se tornou piratas amotinados rapidamente incontroláveis (porque amotinados…) e outra fiel na defesa da Constituição.
Pelo visto, existem metades maiores que outras.
5) Qual Exercito homenagear e louvar é tarefa do patrão que remunera o servidor público Exercito brasileiro: o povo.
Quá quá quá
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