Israel exige evacuação imediata do único hospital no norte de Gaza. Médicos apelam ao mundo; vídeos
Tempo de leitura: 5 minRedação Viomundo
A situação no norte de Gaza é catastrófica.
As forças de ocupação israelenses, não tendo conseguido evacuar o norte, começaram a atacar diretamente o sistema de saúde.
O vídeo logo abaixo mostra imagens externas registradas na semana passada de um dos pátios do Hospital Kamal Adwan, o único no norte de Gaza ainda não totalmente destruído por Israel.
Lá dentro, ao lado de pais desesperados, as reduzidíssimas equipes de saúde lutam para salvar a vida de crianças feridas pelos bombardeios.
Várias instalações estão arrasadas e os equipamentos, aniquilados.
Parte de seus médicos especialistas foi morta nos bombardeios ou está detida pelas forças de ocupação.
Um dos pátios do Hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza. Este, como mostram as imagens, está devastado. Vídeo gravado na semana passada
Em 25 de novembro de 2024, o diretor do Kamal Adwan, o dr. Hussam Abu Safiah, gravou o vídeo postado abaixo.
O hospital já estava sitiado, e as condições para atendimento dos pacientes eram precaríssimas.
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O dr. Abu Safiah falava a partir da unidade de cuidados intensivos, a única instalação deste tipo no norte de Gaza.
”Mesmo que só possamos prestar o mínimo de serviços, prosseguiremos nesta missão humanitária ao lado do nosso povo no norte de Gaza”, disse ele no vídeo.
De lá para cá, a situação agravou-se bastante.
Nesta segunda-feira, 23/12, o dr. Abu Safiah relata:
”Ontem [domingo, 22/12], de repente, tanques e bulldozers aproximaram-se do portão ocidental do Hospital Kamal Adwan, que está sob forte tiroteio.
As balas atingiram a unidade de cuidados intensivos, a maternidade e o serviço de cirurgia especializada. Felizmente, já tínhamos evacuado os pacientes para os corredores do hospital
Além disso, um dos geradores foi atingido e ficou completamente fora de serviço devido a um incêndio. Houve também tentativas de atingir o depósito de combustível, mas, felizmente, este não explodiu.
Atualmente, temos 91 doentes hospitalizados, entre adultos, crianças e mulheres”.
”As forças israelenses de ocupação exigem, agora, a imediata evacuação do hospital”, denuncia o dr. Munir Al-Bursh, diretor do Ministério da Saúde Palestino em Gaza.
”Mais uma vez, pedimos ao mundo que tome medidas imediatas para impedir esses ataques, que colocam em risco a vida de pacientes e equipe médica”, diz o dr. Munir Al-Bursh em nota divulgada no sábado, 21/12.
Segue a íntegra do comunicado dele:
‘‘O Hospital Kamal Adwan está agora em uma situação catastrófica, pois a ocupação exige a evacuação imediata do hospital. Enquanto isso, o hospital está sob bombardeio direto, além de ser alvo de atiradores e bombardeios de tanques direcionados a seus vários departamentos.
A unidade de terapia intensiva, a unidade neonatal e o departamento de exames médicos estão sendo alvos de projéteis, que atingem os telhados e pátios do hospital.
Este ataque ao hospital não tem precedentes, e as equipes médicas se reuniram em um só lugar buscando segurança.
Os projéteis estão penetrando paredes e atingindo o interior dos departamentos, causando danos graves.
Este ataque reflete violações graves e representa um ataque flagrante ao sistema de saúde, com ataques diretos às unidades pediátricas e de terapia intensiva.
Apesar de nossos apelos repetidos por mais de 70 dias, não recebemos nenhuma resposta da comunidade internacional.
Mais uma vez, pedimos ao mundo que tome medidas imediatas para impedir esses ataques que colocam em risco a vida de pacientes e equipe médica.
Apelamos para que sejam esclarecidas as violações e agressões sem precedentes contra o setor da saúde”.
O que os sionistas de Israel estão fazendo em Gaza não tem precedentes na história da humanidade, diz ao Viomundo o médico Ahmed Shehada, presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal).
”É genocídio, limpeza étnica, matança deliberada de crianças, invasão de hospitais, ataques de hospitais, igrejas e mesquitas”, pontua.
”No momento, eles querem matar todas as condições de vida no norte de Gaza para completar esta limpeza étnica”, prossegue.
Dada a proximidade do Natal, o presidente do Ibraspal também faz um apelo ao povo brasileiro, independentemente de religião:
”O pastor/padre/rabino que apoia o genocídio praticado por Israel contra o povo palestino em Gaza não é uma pessoa de Deus. Está distorcendo as palavras, mentindo. Não acredite nele, pois é um criminoso e não um religioso”.
Vídeo gravado em 25 de novembro de 2024 pelo dr. Hussam Abu Safiah, diretor do Hospital Kamal Adwan, no norte Gaza, a partir da unidade de cuidados intensivos.
Segue a transcrição completa das legendas traduzidas para o português.
”Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso. Sou o dr. Hussam Abu Safiah, diretor do Hospital Kamal Adwan, atualmente sitiado no norte de Gaza.
Falo-vos a partir da unidade de cuidados intensivos, a única instalação deste tipo no norte de Gaza.
Isso após mais de 50 dias de cerco à área e apesar dos nossos repetidos apelos ao mundo para o envio de cirurgiões, suprimentos médicos essenciais e consumíveis, bem como o fornecimento de combustível para uma única ambulância.
As forças de ocupação israelenses, não tendo conseguido evacuar o norte, começaram a atacar diretamente o nosso sistema de saúde. Durante sete dias consecutivos, fomos alvo de ataques diretos.
Por vezes, o serviço de urgência e recepção é bombardeado, ferindo membros da nossa equipe médica.
Outras vezes, o pátio do hospital, os pontos de montagem dos geradores, a estação de oxigênio, a rede de água, os reservatórios de água e as infraestruturas são deliberadamente visados.
O objetivo é claramente perturbar e incapacitar a nossa capacidade de prestar serviços humanitários, apesar de existir leis internacionais que deveriam protegem os sistemas de saúde e os seus trabalhadores.
Temos mais de 20 pessoas feridas no hospital — todas feridas enquanto trabalhavam no Hospital Kamal Adwan.
Tragicamente, os ataques tornaram-se uma ocorrência diária.
Uma nova arma utilizada pelo exército israelita envolve drones (quadricópteros) que lançam bombas, contendo estilhaços minúsculos, quase invisíveis a olho nu, mas capazes de penetrar nos corpos dos trabalhadores, causando hemorragias internas e lesões nos órgãos.
Em meu nome e em nome de todo o pessoal deste sistema de cuidados de saúde, apelamos ao mundo, à Organização Mundial de Saúde, a todos os defensores da democracia e da humanidade, ao Escritório de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA) e a qualquer entidade com influência para que assegurem a proteção internacional do nosso sistema de cuidados de saúde — não só do hospital, mas também do seu pessoal.
Estamos a cumprir uma missão humanitária e continuaremos a fazê-lo ao lado do nosso povo no norte de Gaza.
Mesmo que só possamos prestar o mínimo de serviços, continuaremos a fazê-lo, porque se trata de um dever humanitário exigido pelas leis divinas e terrenas.
Infelizmente, nas últimas semanas, a nossa equipe médica foi detida e ninguém interveio ou tomou medidas.
Continuamos a ser mortos, mas ninguém impede o derramamento de sangue que continua no norte de Gaza.
Diariamente testemunhamos cenas de horror no Hospital Kamal Adwan.
Recebemos pedidos de socorro de pessoas presas sob os escombros, mas, infelizmente, não temos os recursos e as ferramentas básicas para resgatá-las.
No dia seguinte, muitas vezes descobrimos que aqueles que procuraram ajuda tornaram-se mártires.
Nossas casas visadas transformaram-se em sepulturas para os seus moradores.
Esta é a dura realidade: um genocídio em grande escala que tem como alvo pessoas, árvores e pedras.
Mesmo o sistema de saúde não é poupado, seja através de bombardeamentos, mísseis, ataques de drones ou helicópteros Apache.
Não sabemos que crimes cometemos para merecer esta perseguição e matança implacáveis.
Mais uma vez, apelamos urgentemente ao mundo para que intervenha de imediato para pôr termo ao derramamento de sangue no norte de Gaza e que cessem os ataques ao nosso sistema de saúde.
Exigimos também a libertação imediata do nosso pessoal médico que foi detido nos seus locais de trabalho no Hospital Kamal Adwan.
Eles foram agredidos, espancados e insultados.
Até hoje, não há qualquer informação sobre o paradeiro ou destino deles.
Cada ataque resulta na destruição de tanques de água, das redes de oxigênio e do único gerador que fornece energia ao hospital e das infraestruturas.
Após cada ataque, tentamos reparar os danos”.
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