Especialista adverte: “Vender 49% da Gaspetro sem licitação é ilegal”; compradora é acusada de integrar cartel que fraudava Metrô paulista
Tempo de leitura: 5 minpor Conceição Lemes
Em 22 de setembro de 2015, a Petrobras divulgou comunicado sobre a venda de participação nas distribuidoras de gás natural.
Leia-se venda de 49% dos ativos da Petrobras Gás S/A – Gaspetro, subsidiária responsável pela comercialização do gás natural nacional e importado.
O comunicado diz:
Petrobras informa que está em negociação final com a Mitsui Gas e Energia do Brasil Ltda para a venda de 49% da holding que consolidará as participações da Petrobras nas distribuidoras estaduais de gás natural. Esta operação, realizada através de processo competitivo, faz parte do Programa de Desinvestimentos previsto no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019.
A conclusão dessa transação está sujeita à aprovação de seus termos e condições finais pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração da Petrobras, assim como dos órgãos reguladores competentes.
Fatos relevantes sobre esse tema serão tempestivamente comunicados ao mercado.
Desinvestimento, em português claro, significa privatização.
O Viomundo perguntou então à Petrobras, via sua assessoria de imprensa.
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— Houve licitação? Se sim, quando?
Resposta: “A venda de 49% da holding está em negociação”
— Entendi os 49%. A minha pergunta é outra: foi feita licitação ou a Petrobras vai simplesmente entregar 49% da Gaspetro para a Mitsui?
Resposta: “A Lei de Licitação existe para compra de bens e serviços. Nesse caso, é negociação para venda de ativos”.
Parêntese do Viomundo. A Lei de Licitação, a lei nº 8.666/1993, dispõe tanto sobre compra de bens e serviços quanto em relação à alienação de bens:
Artigo 1o Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Artigo 2o As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei (negritos nossos). Fechando o parêntese.
— Por que a Mitsui?
Petrobras não responde.
— Por que a Mitsui? – esta repórter insisti.
Resposta: “A Petrobras não comenta”.
“A venda de 49% da Gaspetro sem licitação é ilegal”, adverte Paulo César Ribeiro Lima, consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área de Minas e Energia.
“Existe previsão em lei para aquisições por meio do procedimento simplificado da Petrobras, mas não para usar esse procedimento no caso de alienações”, ele explica. “Assim, a venda de ativos relativa ao plano de desinvestimento da empresa está ocorrendo ilegalmente.”
Paulo César Ribeiro Lima é mestre em Engenharia pela Coppe-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Engenharia pela Universidade de Cranfield, Inglaterra.
É considerado hoje um dos maiores especialistas brasileiros nas áreas de petróleo, gás natural e biocombustíveis.
Em 1987, aprovado em primeiro lugar no curso de formação da Petrobras, ele escolheu o Centro de Pesquisas da empresa, onde trabalhou como engenheiro por 16 anos, atuando sempre na Superintendência de Pesquisa em Exploração e Produção. Suas teses de doutorado e mestrado relacionam-se à produção e ao escoamento de petróleo e gás natural em águas profundas.
Em 2002, ele passou em concurso público para Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados na área de Minas e Energia. Atualmente, está envolvido com os temas royalties, pré-sal, minerais estratégicos e fontes alternativas de energia.
Paulo César Lima detalha por que a venda sem licitação é ilegal:
* O artigo 67 da Lei do Petróleo — a lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 –, dispõe que contratos celebrados pela Petrobras para aquisição de bens e serviços devem ser precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em Decreto do Presidente da República.
* Em 24 de agosto de 1998, foi publicado então o decreto nº 2.745, que regulamentou o artigo 67 da Lei do Petróleo, tendo como único anexo o Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras.
* O capítulo VIII desse anexo delibera sobre a alienação de bens, com óbvia afronta ao disposto no artigo 67 da Lei do Petróleo, que, como já dissemos, dispõe apenas sobre aquisições.
* Dessa forma, qualquer venda de bens com base no decreto nº 2.745/1998 é ilegal.
“Enquanto não for regulamentado o estatuto jurídico das empresas públicas e sociedades de economia mista, de que trata o artigo 173, § 1º, da Constituição Federal, a Petrobras tem que atender aos requisitos da lei geral de licitações, a Lei nº 8.666/1993”, enfatiza Paulo César Ribeiro Lima. “A Lei nº 8.666/1993 exige publicidade e transparência na venda de ativos como os que constam do plano de desinvestimento da Petrobras.”
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MITSUI É ACUSADA DE INTEGRAR O CARTEL ENVOLVIDO NO PROPINODUTO TUCANO
Mitsui Gas e Energia do Brasil Ltda faz parte da multinacional japonesa Mitsui & CO Ltd.
“A Mitsui Gas é uma subsidiária 100% da Mitsui & Co, a empresa é independente e conta com um time diretivo próprio”, informa-nos a empresa, através de sua assessoria de imprensa no Brasil.
Acontece que a Mitsui & CO é uma das empresas acusadas de integrar o cartel que fraudava as licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e irrigava o propinoduto do tucanato paulista, também conhecido como trensalão.
A Siemens, vale relembrar aqui, fez acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Ministério Público Federal e do Estado de São Paulo (MPF e MPE-SP), e abriu o bico em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos envolvidos na armação.
A multinacional alemã confessou como ela e outras companhias formaram cartel para manipular e superfaturar concorrências, quais empresas integravam o esquema de corrupção, entre as quais a Mitsui & CO, e como elas corromperam autoridades ligadas ao PSDB e a servidores públicos de alto escalão.
Cruzando os contratos em que o Cade reconhece a ação do cartel metroferroviário com informações deles publicadas no Diário Oficial do Estado de São Paulo e no site Negócios Públicos, chegava-se ao seguinte resultado, em abril de 2014: os contratos do Metrô e da CPTM sob suspeição já somavam pelo menos R$11,2 bilhões, em valores corrigidos pelo IGP-DI.
Segundo o MPE-SP, o superfaturamento chegou a cerca de 30% dos respectivos valores nos contratos em que houve a ação do cartel.
Quanto à propina paga, segundo um dos denunciantes ao MPE-SP, era, em média, de 8%. O que corresponderia a cerca de R$ 900 milhões ao longo dos últimos 20 anos.
Em dezembro de 2014, a Justiça Federal em São Paulo determinou o bloqueio de cerca de R$ 600 milhões de empresas acusadas de formação de cartel. Foram alvo do sequestro de bens as companhias Alstom, CAF, Siemens, Bombardier, TTrans e a Mitsui.
O Viomundo questionou então a Petrobras e a Mitsui a respeito das acusações.
— O que a Mitsui tem a dizer a respeito dessa denúncia?
Resposta: “A Mitsui & Co (Brasil) tem conhecimento sobre as investigações relacionadas ao suposto cartel, em conexão com o metrô de São Paulo. Se solicitado, a Mitsui colaborará diligentemente com as autoridades brasileiras e como a investigação está em andamento, a empresa não comentará o caso”.
— Diante dessa denúncia já fartamente divulgada, a Petrobras vai prosseguir na negociação para vender 49% da Gaspetro à Mitsui?
Resposta: “A Petrobras não comenta”.
A essa altura, a pergunta óbvia que muitos já devem estar fazendo:
— Depois de tantos problemas decorrentes de corrupção, tem sentido a Petrobras negociar, sem transparência — lembrem-se de que algumas perguntas desta repórter ficaram sem resposta! –, a venda de 49% da Gaspetro a uma empresa denunciada por participação em cartel fraudador de licitações e superfaturamento?
Agir como “empresa de mercado”, além de ilegal, não condiz com a grandeza da Petrobras nem com as expectativas do povo brasileiro.
Que a Petrobras mantenha e aumente seus ativos, e eles contribuam para a melhoria do Brasil!
Leia também:
Propinoduto tucano: Contratos com o governo chegam a R$ 40 bilhões
IstoÉ: Máfia dos trens superfaturou em quase R$ 1 bi na gestão Serra
O dia em que Alckmin foi à Alstom e autorizou trens que seriam superfaturados
Comentários
joselito
“Paulo César Ribeiro Lima é mestre em Engenharia pela Coppe-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Engenharia pela Universidade de Cranfield, Inglaterra.”
Aguardando um especialista da área jurídica comentar o assunto.
Petroleiro
Gostaria de deixar aqui meu protesto, pois nunca se deve generalizar. Quando a repórter fala “a Petrobras” acaba generalizando e denegrindo a imagem de milhares de trabalhadores brasileiros, que diariamente dão seu sangue e suor por essa empresa, que pela vontade de seus trabalhadores deveria servir ao povo brasileiro, não façam o mesmo, pois isso só ajuda a entregar esse patrimônio brasileiro ao capital estrangeiro. Dêem nomes aos bois, digam que o plano de desinvestimento do presidente da Petrobras, o banqueiro, Aldemir Bendine, indicado por Dilma Roussef, foi reprovado pelos trabalhadores, pois todos sabem que isso é uma forma de privatização. A Petrobras é boa para o Brasil, não podemos deixar que ela seja privatizada, pois todos nós sairemos perdendo.
Queremos que a Petrobras seja 100% do povo brasileiro.
Cláudio
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: * * * * 19:13 * * * * Ouvindo A Voz do Bra♥S♥il e postando:
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Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !
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Nelson
Após o início da abertura da economia por Collor de Mello, exigida pelo duo FMI/Banco Mundial, o Brasil enviava R$ 700 milhões anuais para o exterior a título de lucros e dividendos. [1]
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No início de outro governo neoliberal, o de FHC, esta remessa já estava na casa dos R$ 2,4 bilhões ao ano. Passados alguns anos, lá pelo fim da década de 1990 – agravada em muito pelas grandes privatizações -, essa remessa já estava em R$ 7 bilhões anuais. [1]
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No ano passado, foram remetidos, como lucros e dividendos, quase R$ 100 bilhões.
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A entrega de mais um pedaço da economia brasileira a grupos estrangeiros, com o objetivo único de juntar recursos para garantir o pagamento dos juros da dívida, só vai contribuir para ampliar a remessa de lucros e dividendos e descapitalizar o país.
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De resto, tem razão a Conceição quando afirma que “Desinvestimento, em português claro, significa privatização”.
Nelson
Complementando o comentário:
1 – Esses dados são disponibilizados pelo jornalista Aloysio Biondi em seu livro “O Brasil Privatizado”.
Nelson
O Sr Lukas sempre se fazendo de tanso e tentando convencer inocentes e incautos de suas supostas verdades.
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Ele sabe muito bem que nem as ações da empresa estão no chão e nem o PT “quase quebrou a Petrobras”. Ele sabe que se houve decisões políticas que fizeram com que as ações perdessem valor, foram as decisões dos governos dos EUA e da Arábia Saudita, de manter ou até de elevar a produção de petróleo.
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O objetivo dos EUA/Arábia: jogar os preços no chinelo – caíram de algo em torno de 100 dólares para menos de 50 o barril para detonar as economias de países grandes produtores de petróleo como Iran, Rússia e Venezuela, porque os governos desses países ousam não se submeter aos ditames dos governos estadunidenses.
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O PT acumulou erros na condução da Petrobras? Sim, mas não foram esses. Faltou, por exemplo, impulsionar um modelo de administração plenamente transparente na maior empresa brasileira, onde a participação popular pudesse impedir essas negociatas todas.
emerson57
Essa venda é fim de feira.
Espertalhões estão se aproveitando da “hora da xepa”.
Alguns que ainda não tiveram a oportunidade de se locupletar, estão no ataque agora.
É rouboooooooooooooooooooo.
Caso de polícia!
Mello
“Alienação: todo e qualquer ato com o objetivo de transferência definitiva do direito de propriedade sobre bens da Petrobras.”
Os 49% não são um número cabalístico: com a venda de 49% da Gaspetro, a Petrobras mantém o controle acionário da empresa. Ou seja, ela não faz a transferência definitiva definida no seu Manual.
Mesmo assim, essa negociação, e a comunicação acima, não seguem o Código de Ética da empresa que diz: “No exercício da Governança Corporativa, o Sistema Petrobras compromete-se a: (1.2) conduzir seus negócios com transparência e integridade, cultivando a credibilidade junto a seus acionistas, investidores, empregados, fornecedores, clientes, consumidores, poder público, imprensa, comunidades onde atua e sociedade em geral, buscando alcançar crescimento e rentabilidade com responsabilidade social e ambiental;”
martins pz
por que se vende para empresas multinacionais e nao se vende para o povo brasileiro que esse lucro ficaria aqui e todo o lucro seria bem divido e nao para um pequeno grupo. Ta na hora de mudar quando e para pagar a conta e o povo na hora de dividir o lucro e so para meia duzia . Acorda DILMA E PT a petrobras e do povo e tem que servir ao povo nao as multinacionais .
Urbano
O que mais me entristece e angustia é saber que o Brasil poderia ser o país mais belo, rico, justo e humano, porém os bandidos fascistas desde sempre o levam para o lado diametralmente oposto a tudo isso… Para quem herdou o DNA divino isso dói muito.
C.Paoliello
WikiLeaks: EUA pretendem recolonizar América Latina através de golpes e assassinatos de Presidentes:
http://actualidad.rt.com/actualidad/187440-wikileaks-estrategia-eeuu-america-latina-golpe
FrancoAtirador
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Governo de Joelhos ao Capital Estrangeiro
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Julio Silveira
Mais um fonte de exposição para o governo, que se mostra um apêndice para articulações de pessoas comprometidas com os antigos comportamentos da politica, verificadas em passado recente mas ainda presente, que queremos abolir.
Tomara que, comprovadas irregularidades, gerem responsabilizações criminais pelos prejuízos que chegarão a companhia, para os oportunistas, mas também para os omissos, inocentes uteis, para aprenderem a ficar expertos.
Roberto Locatelli
Infelizmente, a direção da Petrobras é quase toda tucana. O PT não mexeu onde tinha que ter mexido.
Lukas
Basta ver o histórico de decisões meramente ideológicas e prejudiciais á empresa para se verificar que a diretoria é tudo, menos tucana. Ações da empresa estão no chão por conta de decisões políticas.
PT quase quebrou a PETROBRAS, estão tentando salvá-la.
titus
resposta para lukas!!!
menino presta atencao!! nao e politica e geopolitica!
http://actualidad.rt.com/actualidad/187440-wikileaks-estrategia-eeuu-america-latina-golpe
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