Os jornais acima publicam reportagens em conjunto: máquina golpista?
Liberdade de expressão para todos
Maximilien Arvelaiz*, publicado em O Globo, 06.09.2013
Há hoje um embate frequente entre duas formas de encarar a questão da liberdade de expressão. A primeira concepção, tradicionalmente defendida pelas grandes empresas de comunicação, relega a um papel menor o acesso aos meios pelos quais a liberdade de expressão pode ser de fato exercida. Os efeitos são altamente nocivos, como a concentração de poder nas mãos de poucos e a homogeneização do noticiário em torno de um pensamento único.
Mas existe uma segunda concepção que identifica o acesso aos meios de difusão da informação como passo imprescindível para se falar em liberdade. Por uma razão lógica: a de que, sem a democratização dos meios, não se garante efetivamente o direito à voz e à opinião dos diferentes grupos sociais. Essa vertente tem colhido reações.
A mais recente foi a série de reportagens do Grupo de Diários América (GDA), veiculadas no Brasil pelo GLOBO, que trouxe de volta o surrado roteiro de acusar que o “fim da democracia e da liberdade de expressão” são características do atual governo venezuelano.
Pelo que vivi e conheço da democracia na Venezuela, questiono-me se essa associação é fruto apenas do desconhecimento da realidade de meu país. É preciso buscar o contexto venezuelano e lembrar que, em 2002, ocorreu um golpe de Estado com a participação direta da mídia. A partir desse episódio, o movimento do governo no sentido de democratizar os meios de comunicação foi fundamental para fazer um contrapeso à atuação política das empresas de comunicação e estabilizar a sociedade venezuelana.
Com uma visita à Venezuela é possível constatar que os principais jornais em circulação hoje são claramente simpáticos à oposição. O mesmo se dá nos meios de radiodifusão. Atualmente, o total de concessões públicas a rádios privadas é de 466 e de 61 para emissoras de televisão — expansão de 34,7% e 90,6%, respectivamente, desde 1998, quando Chávez foi eleito. Em nenhum caso, ao contrário do que se lê nos jornais brasileiros e internacionais, há controle de conteúdo por parte do governo.
Armand Mattelart nos ensina que o termo “liberdade de expressão” é compreendido hoje muito mais como “liberdade de propriedade” do que como “democratização no acesso aos meios de comunicação” Por isso, cada vez que vê seus interesses econômicos ameaçados, a mídia tradicional recorre ao termo, defendendo assim uma comunicação unilateral e que, muitas vezes, não reflete as reais preocupações e formas de ver a realidade dos inúmeros grupos sociais.
Apoie o VIOMUNDO
É justamente essa situação que o presidente Hugo Chávez tentou reverter com sua política de comunicação, agora levada a cabo pelo presidente Nicolás Maduro. O governo venezuelano, respaldado pela Constituição, investe prioritariamente em comunicação pública e descentralizada, para que a população organizada nos bairros também tenha direito à liberdade de expressão. Há, neste momento, 37 experiências de televisão comunitária; em rádio, são mais de 240 concessões comunitárias e cerca de 80 públicas.
A internet também contribui para o cenário de debate democrático na sociedade venezuelana. Somos um dos países da América Latina com mais contas na rede social Twitter, que se popularizou e se converteu em ferramenta massiva de intercâmbio de opinião. Isso, graças ao esforço do governo de Hugo Chávez em democratizar o acesso à internet, reconhecido pela Unesco por meio de prêmio.
É preciso esclarecer aos leitores brasileiros que o pilar das ações e políticas públicas venezuelanas está na compreensão de que dar voz aos cidadãos é primordial no processo de com bate às desigualdades socioeconômicas, no combate às velhas relações de dominação e, ainda, no processo de integração cultural e simbólica entre os países do continente latino-americano.
*Maximilien Arvelaiz é embaixador da Venezuela no Brasil
Leia também:
“Segredo no inquérito 2474 vai na contramão da Lei da Transparência”
Guilherme de Alcantara: Resposta a O Globo sobre greve no Rio
Fernando Brito: A Globo se defende em Nuremberg
Tariq Ali: A revolta dos vassalos do Reino Unido
Fátima Oliveira:”Vou chamar a polícia para deixar de ser safado”
CA da USP: Declaração de Maristela Basso sobre a Bolívia é degradante
Weissheimer: A caixa preta da relação da mídia com a ditadura
Comentários
FrancoAtirador
.
.
GDA?
Grupo de Dominação da América?
ou
Golpe, Ditadura e Autocracia?
.
.
Mauro Santayana: Já vimos esse filme da Síria no Iraque – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Embaixador rebate propaganda do Grupo de Diários América […]
Leila Jinkings
Ótimo texto. Resposta de nível, com embasamento claro, didático. Coisa que é impossível à golpistas, à direita, aos vira latas e aos papagaios
Bacellar
Boa resposta, melhor ainda essa definição do GDA: Maquina golpista. Perfeita. Maquina lubrificada a mentiras e movida pela energia do grande capital.
Getulio
Todo mundo sabe de que lado está essa velha imprensa, do lado da papulação nunca esteve. A liberdade de imprensa nesse sistema de exclusão é uma antiga piada que se conta aos marcianos quando aparecem aqui na terra; quanto a maioria dos profissionais,segue à risca os manuais de redação.
Altemar
Infelizmente ele não poderia encerrar, por razões óbvias, com uma expressão forte ao final do texto, mas eu posso.
Seus merdinhas!
Deixe seu comentário