Em carta a Damares, ex-presa política denuncia destruição deliberada da Comissão de Anistia pelo governo Bolsonaro e deixa órgão; leia íntegra

Tempo de leitura: 6 min

por Conceição Lemes

A advogada Rita Sipahi, uma das grandes ativistas da luta pela memória, verdade e justiça no Brasil, não é mais conselheira da Comissão de Anistia.

Na tarde de sexta-feira passada, 24/05, se concretizou o que ela havia anunciado em 20 de maio.

Em carta enviada à ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Bolsonaro, Damares Alves,  Rita solicitou em caráter irrevogável o desligamento da Comissão.

Cearense, iniciou a sua graduação em Direito, em Fortaleza, concluindo-a em Recife em 1964.

Ingressou na militância política em 1962, através da Juventude Universitária Católica (JUC) e da recém-criada Ação Popular (AP), ambas ligadas ao Movimento Estudantil.

Foi uma das vítimas da violência da ditadura militar no Brasil.

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Em 1971, foi presa pelo DOI-Codi, no Rio de Janeiro, onde vivia com seus dois filhos pequenos.

Transferida para São Paulo, passou pelo DOI-Codi, Deops e, por último, no presídio Tiradentes, cuja ala feminina tinha o apelido de “torre das donzelas”.

Aí, ao lado da ex-presidenta Dilma Rousseff e de Elza Lobo, ficou presa quase um ano.

“A Elza Lobo foi a presa política que me recebeu na entrada do presídio Tiradentes, um momento do qual vou sempre me lembrar”, diz, emocionada.

Desde então é defensora incansável dos direitos humanos.

Em 2009, tomou posse como conselheira da Comissão de Anistia, representando anistiados e anistiandos, cargo sem remuneração que ocupou até a sexta-feira passada.

Ao longo desses dez anos, Rita foi uma referência. Seu trabalho é reconhecido e respeitado por todos os que atuam na área.

A carta de Rita a Damares (na íntegra, ao final), comunicando a sua saída, é um documento histórico desses novos tempos bicudos que exigem todos os cuidadis.

Um documento substantivo, factual, em que Rita põe o dedo na ferida: a nomeação de sete militares para conselheiros da Comissão de Anistia.

Para Rita, é a inversão da política da anistia:

A iniciativa de nomear, como conselheiros, pessoas que não os consideram como resistentes e perseguidos (as) políticos(as), que não reconhecem as violências – agressões, intimidações, choques, torturas de todo tipo, inclusive diferenciadas quando a vítima era mulher – significa uma inversão da política de anistia, uma violação do direito conquistado.

 Os anistiandos, protagonistas desta história, devem ser respeitados; muitos enfrentam todos os dias as lembranças do tempo da ditadura; as marcas estão impressas em seus corpos e cérebros e são indeléveis.

Em tom sereno mas muito firme, ela denuncia:

A atual gestão da Comissão de Anistia não se pauta pelos princípios constitucionais estabelecidos na Constituição Cidadã. Do mesmo modo, não reconhece os valores de transparência, de publicidade e todos os que compõem os direitos humanos como fundamento do Estado Democrático de Direito.

Rita vai mais longe e põe em xeque a nova comissão:

Sua legitimidade está comprometida e os fatos relatados demonstram que os rumos estabelecidos pelo atual Governo são contrários aos valores defendidos e às conquistas realizadas, que continuarão a ser defendidos pelas entidades de anistiados e anistiandos e seus familiares, bem como pelas mulheres e homens conscientes de seus direitos e dos direitos humanos.

A carta de Rita Sipahi a Damares é um documento de memória, verdade e justiça.

Eu entrevistei-a a respeito.

Viomundo –  O que sentiu na hora em que enviou, por e-mail, a sua carta, comunicando o afastamento definitivo da Comissão de Anistia?

Rita Sipahi  — Desde a audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, em 3 de maio, ficou mais forte a preocupação do que significava continuar na Comissão .

Enviar a carta significou o momento da concretização da decisão, que se construiu com a discussão e a redação.

Momentos difíceis, uma sensação de perdas, a serem enfrentadas não mais por dentro da Comissão.

Viomundo – Você discutiu com anistiados e anistiandos a tua saída?

Rita Sipahi – Claro! A decisão é pessoal. Porém, a representação é coletiva, logo não poderia ser uma atitude pessoal.

Discuti com anistiados e anistiandos em São Paulo. Entendo que a minha continuidade seria a  legitimação da Comissão da Anistia, embora esta não fosse a posição da maioria.

A resistência no governo Temer foi um aprendizado que deu a dimensão das dificuldades. Havia na Comissão interlocutores, a disputa fazia parte.

Viomundo – Tentaram demovê-la da decisão?

Rita Sipahi – Alguns achavam que eu devia continuar… dar um tempo. Mas com muito respeito e solidariedade, compreenderam a minha posição. Foram muitas emoções, de certeza, de dúvida.

Viomundo – Há quantos anos você atuava na Comissão de Anistia, representando anistiados e anistiandos?

Rita Sipahi – Desde 2009. Portanto, há dez anos.

Por indicação do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e da direção do Grupo Tortura Nunca Mais, principalmente, eu fui convidada a participar da Comissão por Paulo Abrão, então seu presidente.

Um dos critérios era ter atuação reconhecida na área dos direitos humanos.

Além disso, revelou-me Paulo Abrão na época, a minha indicação acrescentava a experiência de ter sido presa política.

Seria importante ter na composição do Conselho a participação de uma pessoa que fora perseguida política, de uma organização clandestina.

Viomundo — Desde o golpe de 2016, a Comissão da Anistia vem sendo destroçada.  De lá para cá qual o momento mais difícil que você enfrentou?

Rita Sipahi – Foi no governo Temer, quando o pedido de desculpas foi subtraído dos anistiados da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Viomundo – Explique mais.

Rita Sipahi –  Em 7 de novembro de 1988, os 30 mil metalúrgicos da CSN iniciaram uma greve e ocuparam a Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda (RJ).

Em 9 de novembro, tropas do Exército invadiram a empresa e assassinaram  a tiros três trabalhadores, além de ferir outras 31 pessoas. A tragédia ficou conhecida como ‘massacre de Volta Redonda’.

A ditadura militar havia acabado, mas a repressão seguia os mesmos moldes.

Pois bem, em 2018, o presidente da Comissão de Anistia do governo Temer sugeriu que o pedido de desculpas fosse eliminado no caso dos trabalhadores anistiados da CSN.

O pedido de desculpas foi então discutido na reunião administrativa da Comissão de Anistia.

O argumento era que cabia ao ministro da Justiça desculpar-se. E aos conselheiros, se os trabalhadores insistissem na responsabilização jurídica.

O Estado, através de um governo autoritário, não reconhecia o que estava escrito na Constituição Federal.

Viomundo — A eliminação  do pedido de desculpas aconteceu só no caso dos anistiados da CSN?

Rita Sipahi — Lamentavelmente, não. A partir daquele dia, o pedido de desculpas foi retirado do ritual da Comissão de Anistia. Era comum ouvirmos dos(as) anistiados(as) ser aquele momento o mais importante de todo o processo.

Viomundo — Entre os novos integrantes da Comissão de Anistia há vários militares apoiadores do golpe de 1964, defensores da  ditadura e do uso de tortura. Chegou a se reunir alguma vez com eles?

Rita Sipahi – Nenhuma. Houve uma reunião administrativa no dia 4 de maio, mas eu não compareci por problema de saúde.

Viomundo – Os militares estão de volta ao poder. Há relação entre esse retorno e o fato de a anistia ter perdoado os que perpetraram crimes lesa-humanidade na ditadura?

Rita Sipahi — Acho que os militares voltaram devido à política de esquecimento que desde sempre existiu no Brasil. A impunidade que lhe foi atribuída na Lei 6.683/79, a chamada Lei da Anistia, continuou vigorando

As tentativas de esclarecimento, através das diversas Comissões, não foram suficientes para que o conhecimento dessa história de violações dos militares chegasse a toda a sociedade.

Viomundo – O fato de a Comissão da Verdade não ter recomendado a punição dos torturadores e assassinos da ditadura contribuiu para que não se fizesse  o acerto de contas com o passado, permitindo o retorno dos militares ao poder?

Rita Sipahi — O Estado Democrático de Direito foi conquistado por uma grande mobilização das entidades da sociedade. Penso que a continuidade das articulações no sentido de assegurar as conquistas foram ou institucionalizadas ou fragmentadas. Assim, as violações de direitos humanos não foram interpretadas como consequências a serem radicalmente enfrentadas.

Viomundo — Qual a perspectiva para uma Comissão de Anistia de um governo cujo presidente aplaude torturadores, defende abertamente a tortura e a morte de ativistas de esquerda?

Rita Sipahi —  A perspectiva para a continuidade da Comissão de Anistia é hoje responsabilidade da sociedade civil através das organizações , entidades de direitos humanos e partidos, a  partir do entendimento de que a Justiça de Transição — Memória, Verdade e Justiça tem que continuar. Deve ser inscrita em todas as pautas das lutas sociais e políticas.

Um exemplo de luta imediata é a do Memorial da Anistia Política, que desde o governo Temer teve a sua continuidade suspensa e todas as investigações feitas não comprovaram irregularidades.

Os processos que constituem o acervo da Comissão de Anistia deverão integrar o memorial. Ele representa parte importante da história de violações recentes contadas pelos protagonistas, a memória dos que resistiram ao golpe civil militar de 1964.

As lutas pela continuidade da Comissão de Anistia e pela instalação do Memorial da Anistia Política, a ser concluído em Belo Horizonte, são batalhas que devemos continuar tendo como fundamentais. Pensar como fazer é ato de criação permanente.

Carta à ministra Damares Alves by Conceição Lemes on Scribd

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Maceió (AL) Praça do centenário 13h Pedro
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Serrinha (BA) Praça Luis Nogueira 7h30
Feira de Santana (BA) Praça Tiradentes 08h30
Valente (BA) Praça do Forrodrómo 8h30
Juazeiro (BA) Em frente ao INSS 15h

Recife (PE) Rua Aurora 15h (https://www.facebook.com/events/851047115272181/)
Caruaru (PE) Grande hotel 8h (https://web.facebook.com/events/899001680445302/)
Vitoria de Santo Antão (PE) Próximo ao CAV 13h
Araripina (PE) Praça da Igreja Matriz 8h
Guaranhuns (PE) Praça Colunata 10h
Petrolina (PE) Praça do Bambuzinho 15h
Surubim (PE) Pátio da Usina 8h

INTERNACIONAIS
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Estados Unidos – Nova York NY – Washington Square Park 15h (https://www.facebook.com/events/294435714835331/?notif_t=plan_user_invited&notif_id=1558828939619320)
Estados Unidos – Califórnia Los Angeles – 800 N Alameda St, 13h (https://www.facebook.com/events/876487739367337/)
Irlanda – Dublin – Spire of Dublin 18h (https://m.facebook.com/events/449858885774114)
Suíça – Genebra – Rue De Lausanne, 1202 16h (https://www.facebook.com/events/685514118586423/)
Holanda – Amsterdam – Dam 1 17h (https://www.facebook.com/events/2431750803503893/?ti=icl)
Portugal – Lisboa – Praça Luis Camões 18h (https://www.facebook.com/events/312365419702612/)
Portugal – Coimbra – Praça da República 17h (https://www.facebook.com/events/419427981942258/)
Estados Unidos – Flórida 12h (https://www.facebook.com/events/187287855512631/)
Luxemburgo – Luxemburgo – Place d’Armes 14h30 (https://m.facebook.com/events/1647997805344246?ref=bookmarks&_rdr)

#NaLutaPelaEducaçao #Dia30VaiSerMaior

UNE, via GGN

https://jornalggn.com.br/educacao/30-de-maio-nas-ruas-de-novo-defendendo-a-educacao/

cesar

Destruição de documentos e memórias…
Apagar a história.
Nomear gafanhotos para cuidar do jardim

Cláudio

:
: * * * * 04:13 * * * * * Ouvindo A(s) Voz(es) do BraSil e postando no Viomundo :

Viva Lula 2019 ! ! ! ! !
#LulaLivre
#AssangeLivre #FreeAssange
#Lula2019

:.:

a.ali

e assim rumamos ao fundo do poço: de ataques e achaques!

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