Bogossian: Combate à corrupção não pode destruir a engenharia nacional
Tempo de leitura: 2 minDesmonte da engenharia nacional
por Francis Bogossian*
em O Globo – 12/05/17 – via Clube de Engenharia
A engenharia nacional está sendo desmontada. A situação do país é extremamente preocupante! Não me lembro de uma época tão atribulada quanto esta.
Não há investimentos e nem perspectivas para o setor de obras públicas, a curto prazo. O déficit dos governos federal, estaduais e municipais é monumental. Há dívidas do setor público para com as entidades privadas.
A crise que assola o Brasil exige que se busque um consenso em torno de soluções, tendo por base o interesse nacional. Não existe nação forte sem empresas nacionais fortes.
Agiria de modo mais consequente o poder público se, antes de adotar medidas de tal forma drásticas, constituísse comissão notável para estudar o problema e propor uma solução emergencial.
Comissão esta que reunisse entidades nacionais de engenharia — tais como a Academia Nacional de Engenharia, os clubes e institutos de Engenharia do Brasil — para, em prazo emergencial pré-estabelecido, apresentar alternativas que visem a preservar a engenharia brasileira, setor fundamental ao desenvolvimento científico e tecnológico, ao progresso, à infraestrutura e à subsistência do país.
O combate à corrupção é essencial e deve ser mantido, mas não pode ser usado para provocar a estagnação da economia nacional.
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Não se pretende deixar de culpar os comprovadamente ilegais.
A proposta a ser estudada teria como meta que as punições aconteçam, preservando ao máximo as empresas como um todo, sem levar ao desemprego profissionais probos, competentes e, ainda, a mão de obra dita “não especializada”, que está sem seu pão a cada dia.
Hoje, o setor que mais atua nas empresas de engenharia, ocupando patrões e empregados, é o de Recursos Humanos, para homologar indesejadas e desgraçadas rescisões contratuais. E já está começando a faltar dinheiro até para isso.
Empresas são formadas, majoritariamente, por profissionais, que aplicam seus conhecimentos e habilidades no desenvolvimento de equipes técnicas formadas e treinadas ao longo de décadas. Estas equipes estão sendo desmanteladas.
As construtoras brasileiras, por exemplo, também têm o papel de educar. São estas empresas que empregam mão-de-obra não qualificada e analfabeta.
Cursos de alfabetização são comuns nos canteiros de obras, assim como o treinamento dos trabalhadores sem qualificação, que são contratados como serventes e se profissionalizam como pedreiros, encanadores, etc.
É por eles que precisamos lutar! Colapsar as empresas brasileiras de engenharia é extinguir nossa soberania.
O Brasil tem extraordinários feitos em ciência aplicada e engenharia, tais como as conquistas do setor elétrico nos últimos 60 anos, o Pró Álcool, a recuperação do cerrado, a produção de petróleo em águas profundas e muitos outros que são referências internacionais.
Necessitaria então, realmente, se valer de maciça participação de empresas estrangeiras em nossos projetos de engenharia para sua recuperação econômica?
*Francis Bogossian é professor, presidente da Academia Nacional de Engenharia, membro das academias Brasileira da Educação e Pan-Americana de Engenharia e ex-presidente do Clube de Engenharia.
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