Com sete novos casos em Coari, já são 41 os pacientes mortos por falta de oxigênio na Amazônia

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O ministro trapalhão foi à Amazônia promover curas falsas. Divulgação
A nota oficial

Da Redação

A Prefeitura Municipal de Coari, uma cidade de 60 mil habitantes às margens do Solimões, no Amazonas, confirmou que 7 pessoas que estavam intubadas no Hospital Regional morreram hoje cedo por falta de oxigênio.

A Prefeitura atribuiu as mortes ao fato de que um vôo vindo de Manaus com o insumo passou direto em direção a Tefé e não pode retornar a tempo porque o aeroporto de Coari não opera vôos noturnos.

Os sete pacientes morreram na manhã desta terça-feira, pouco antes da chegada da remessa.

O ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, disseminou nas redes sociais que foram 28 os mortos por asfixia quando a crise desatou dias antes, no Pronto Socorro 28 de Agosto, na capital.

Ele não informou de onde tirou a informação, mas o ex-prefeito certamente tem contatos com funcionários públicos e médicos da cidade que comandou.

A denúncia

Autoridades locais e federais trocam acusações sobre a responsabilidade pelas mortes.

O Procurador-Geral da República, Augusto Aras, mandou investigar o prefeito de Manaus e o governador do Amazonas.

Partidários do presidente Jair Bolsonaro tentaram eximí-lo de responsabilidade dizendo que o STF impediu o presidente da República de agir.

O STF emitiu uma nota desmentindo e afirmou que o combate à pandemia cabe também à União.

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A pedido do ministro do STF Ricardo Lewandowski, a Advocacia-Geral da União confirmou que o governo Bolsonaro foi informado no dia 8 de janeiro da possível falta de oxigênio.

Ou seja, seis dias antes das mortes denunciadas por Arthur Virgílio, que podem não ter sido as primeiras.

No dia 11 de janeiro o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, esteve em Manaus. Reuniu-se com o governador e o prefeito, mas incrivelmente a falta de oxigênio não foi assunto.

O Ministério da Saúde publicou nota sobre a visita em que a palavra “oxigênio” não é mencionada:

Durante o evento, o Ministério da Saúde lançou o aplicativo TrateCOV – ferramenta que irá implantar um novo método científico para detectar casos de Covid-19 nos postos de saúde. Por um aplicativo de celular, profissionais de saúde irão utilizar um protocolo clínico para fazer um diagnóstico rápido da doença através de um sistema de pontos que obedece rigorosos critérios médicos. Manaus será a primeira cidade a testar o aplicativo que, após, poderá ser ampliado para outros municípios. “O diagnóstico não é do teste, é do profissional médico. O tratamento, a prescrição, é do médico. E a orientação é precoce. E essa é a orientação de todos os conselhos de medicina”, disse Pazuello, defendendo o tratamento precoce contra a Covid-19. 

O ministro e o presidente da República, Jair Bolsonaro, defendem o “tratamento precoce”, que é realizado com drogas sem eficácia cientificamente comprovada.

Com isso, mesmo em casos de suspeita de covid o paciente pode receber receita para consumir cloroquina, ivermectina, azitromicina e outros.

Mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ao autorizar em caráter de emergência o uso de duas vacinas no Brasil, frisou que não existe tratamento para a covid.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Amazonas abriu investigação sobre as mortes por falta de oxigênio no estado.

O município de Faro, no Pará, também viveu colapso no fornecimento de oxigênio.

A prefeitura confirmou que seis pacientes morreram asfixiados no hospital da cidade.

O colunista Altamiro Borges já havia alertado que o problema registrado inicialmente em Manaus poderia se alastrar:

Falta de oxigênio pode afetar outros estados

Por Altamiro Borges, em seu blog

As cenas chocantes do Amazonas — com as mortes por asfixia devido à falta de oxigênio nos hospitais — podem se repetir em outros estados brasileiros. Vários estudiosos da Covid-19, como o cientista Miguel Nicolelis, já alertaram para o risco iminente de colapso no sistema de saúde.

O jornal O Globo confirma os piores temores. “A falta de oxigênio nos hospitais em Manaus com a escalada de casos de coronavírus é um alerta para o restante do país, na avaliação de especialistas. Para eles, há risco de novas falhas no abastecimento, em especial na Região Norte”.

Segundo a matéria, o drama amazonense reflete “a combinação da falta de ação planejada com a indústria — que agora se desdobra para elevar a produção — e uma complexa estrutura de escoamento que pode levar dias para entregar um produto que precisa ser reposto em caráter imediato”.

Falta de planejamento público

Com o aumento do número de infectados e hospitalizados, a demanda explode rapidamente. Na primeira onda de Covid-19, no ano passado, o consumo de oxigênio era de 30 mil metros cúbicos em Manaus, patamar muito acima do registrado antes da pandemia. Agora, a demanda já chegou a 70 mil metros cúbicos diários.

A mesma explosão de demanda pode ocorrer em outros estados da federação, que abrandaram as regras de isolamento social nas festanças do final de ano.

Além disso, a maioria não se preparou para o pior. Para Vinícius Picanço, professor de Gestão de Cadeia de Suprimento do Insper, faltou planejamento público:

“Não dá para dizer que era imprevisível a escassez. Por mais que a demanda tenha comportamento exponencial, existem modelos matemáticos para isso. A questão envolve logística e previsão de estoque. Houve tempo de posicionar estoques adequadamente, de armazenar insumos em regiões estratégicas”.

Incompetência ou genocídio premeditado?

Para o especialista entrevistado pelo jornal O Globo, “o que está acontecendo em Manaus, com a nova cepa, pode se repetir em outras localidades com limitações na infraestrutura de transportes, em parte do Nordeste e no interior, o que evidencia a importância do planejamento”.

Diante da falta de planejamento, que asfixia brasileiros em hospitais sem oxigênio, fica a dúvida: é incompetência ou genocídio deliberado? Nos dois casos, já dá para condenar o negacionista Jair Bolsonaro e o incompetente Eduardo Pazuello. No segundo caso, da necropolítica, a pena seria bem maior.


Sobre a questão da condenação da dupla de criminosos, vale a leitura do contundente artigo de Cristina Serra publicado na Folha nesta sexta-feira (15):

Bolsonaro merece um tribunal de Nuremberg

Depoimentos de médicos e enfermeiros em redes sociais, imagens de desespero nos hospitais, documentos, ordens para aplicar cloroquina ou “tratamento precoce” contra o vírus, testemunhos de parentes das vítimas.

Tudo o que puder ser usado como prova de crime contra a saúde pública deve ser guardado pelos cidadãos. Há de chegar o dia em que os responsáveis por essa tragédia brasileira irão sentar-se no banco dos réus.

Se as nossas instituições parecem sedadas, quem sabe organismos multilaterais, como o Tribunal Penal Internacional (que já examina uma ação contra Bolsonaro anterior à pandemia) ou o Conselho de Direitos Humanos da ONU, atentem para a gravidade do que acontece aqui.

Bolsonaro e sua gangue precisam ser levados a um tribunal de Nuremberg da pandemia. Só uma investigação com a mesma amplitude será capaz de explicar o mal em grande escala praticado contra a população brasileira. Isso terá que ser exposto, em caráter pedagógico, para ser conhecido pelas próximas gerações e evitar que se repita. Como Nuremberg fez com os crimes de guerra dos nazistas.

Há vários níveis de responsabilidade no morticínio brasileiro. É preciso assinalar que, no caso do Amazonas, o governador Wilson Lima também terá que responder pelas mortes por falta de oxigênio em Manaus.

Eleito na carona do bolsonarismo, revelou-se incompetente e covarde ao ceder às pressões contra o lock down, mesmo com inúmeros alertas de cientistas sobre uma segunda onda. No meio do ano, Lima chegou a ser alvo de buscas da PF, em investigação de desvios na compra de respiradores.

Outras cidades estão na rota do colapso. O Brasil governado por criminosos não é um perigo mortal apenas para os brasileiros. Países já nos fecham as portas. O Brasil tornou-se um pária sanitário. Quem permite que essa situação continue por tempo indefinido também tem as mãos sujas de sangue. Seremos julgados, no futuro, por nossas ações e omissões.

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Zé Maria

“Pedalada fiscal [SIC] não pode.
Matar pessoas [sem O₂ e vacina],
tudo bem.”
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