Cimi denuncia novo ataque de garimpeiros aos Yanomami: “Negligência e omissão do Estado brasileiro”

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Impacto do garimpo na região de Waikás, Terra Yanomami, em dezembro de 2020|. Foto: Divulgação
Novo ataque contra o povo Yanomami revela omissão do Estado em coibir violência permanente causada pelo garimpo

O Cimi repudia este novo ataque violento contra os povos Yanomami e Ye’kuana, ocorrido nesta segunda-feira (10), e denuncia a negligência e omissão do Estado

Cimi

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi manifesta sua profunda indignação e repúdio por mais um ataque violento de garimpeiros contra uma comunidade indígena dentro da Terra Indígena Yanomami.

No conflito, denunciado pela Hutukara Associação Yanomami – HAY e confirmado em Ofício da Fundação Nacional do Índio (Funai) na tarde do dia 10 de maio de 2021, indígenas e garimpeiros ficaram feridos.

Conforme os relatos, grupos de garimpeiros armados chegaram em sete embarcações até a aldeia Palimiu, na região do Uraricoera, e começaram a atirar com armas de fogo contra os indígenas.

Áudios atribuídos aos garimpeiros e imagens que circularam em meios de comunicação de âmbito nacional revelam o mais absoluto desprezo pela vida dos indígenas e esquemas organizados de ação violenta, bem como a completa liberdade de circulação destes grupos de garimpeiros pelas principais vias fluviais dentro da terra indígena.

Este ataque não é um fato isolado.

A presença de cerca de 20.000 garimpeiros dentro da Terra Indígena (TI) Yanomami representa uma violência permanente contra os povos Yanomami e Ye’kuana e contra seu território.

Nesta mesma região do rio Uraricoera, a Hutukara Associação Yanomami – HAY já denunciou em fevereiro de 2021 um conflito na aldeia Helepi envolvendo também grupos de garimpeiros armados.

Na região de Palimiu, onde ontem se deflagrou o novo ataque, as lideranças indígenas já haviam denunciado em abril outro tiroteio por parte de garimpeiros, após a interceptação por parte dos indígenas de uma carga de quase mil litros de combustível.

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Em junho de 2020, dois indígenas Yanomami foram assassinados na região do Parima por outro grupo de garimpeiros armados.

Esta escalada de conflitos se dá em meio a uma pandemia que atinge duramente os povos Yanomami e Ye’kuana e a um aumento nos índices de malária, fatores que encontram na presença do garimpo um vetor fundamental de disseminação.

As operações de combate ao garimpo dentro da TI Yanomami mostraram-se até o momento claramente insuficientes e ineficazes, e não atingem as redes de sustento do garimpo e os esquemas de enriquecimento ilegal ao longo da cadeia da exploração mineral.

Decisões no âmbito da Justiça Federal em 2018 e 2020 obrigam a União a adotar todas as medidas cabíveis para efetivar a retirada imediata e completa dos garimpeiros de dentro da TI Yanomami e a proteção do território.

No entanto, é no governo federal que o garimpo encontra hoje seu principal aliado.

O presidente Bolsonaro tem manifestado abertamente em diversas ocasiões seu apoio e incentivo à atividade ilegal do garimpo dentro das terras indígenas.

Recentemente, em vídeo publicado em redes sociais, manifestou a intenção de visitar garimpeiros dentro das terras indígenas da região norte do país para conversar com eles sem pretender prendê-los.

Com isso, dá cobertura e legitima uma ação criminosa, principal fonte de violência contra os povos indígenas e principal vetor de disseminação da pandemia de covid-19 dentro de seus territórios tradicionais.

As ações e o discurso do presidente da República acirram conflitos e podem potencializar novos ataques contra indígenas em outras regiões do país.

No mesmo dia de ontem, notícias também veiculadas pela mídia em nível nacional descreviam o descaso no atendimento à saúde dos povos Yanomami e Ye’kuana com aumento da malária e da desnutrição infantil crônica e o desabastecimento de remédios nos postos de saúde, além de falta de profissionais e de condições para o atendimento nas comunidades.

O Cimi repudia este novo ataque violento contra os povos Yanomami e Ye’kuana e denuncia a negligência e omissão do Estado brasileiro na proteção da vida e do território Yanomami e no atendimento à saúde.

Exigimos o cumprimento por parte do Poder Executivo de suas obrigações constitucionais e das decisões proferidas pela Justiça Federal para garantir a retirada definitiva dos garimpeiros de dentro da terra indígena e a apuração e punição de responsabilidades de todos os envolvidos no esquema de exploração ilegal e enriquecimento ilícito.

Exigimos também que o Estado brasileiro garanta a reparação dos danos ambientais e morais que os povos Yanomami e Ye’kuana vêm sofrendo há décadas em seu território.

Demandamos, enfim, a efetivação de um plano de enfrentamento à covid-19 e a outras doenças dentro da TI Yanomami.

O Cimi manifesta sua solidariedade e apoio irrestrito aos povos Yanomami e Ye’kuana e a todos os povos indígenas cujos territórios estão sendo invadidos de forma permanente e violenta pela ação do garimpo.

Reafirmamos nosso compromisso na defesa dos direitos dos povos indígenas e apelamos à sociedade para somar esforços na superação de toda violência e depredação.

11 de maio de 2021

Conselho Indigenista Missionário

Impacto do garimpo na região de Waikás, Terra Yanomami, em dezembro de 2020. Foto: Divulgação

URGENTE: Conflito armado de garimpeiros contra indígenas deixa baleados em terra yanomami

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

O conflito armado de garimpeiros contra indígenas deixou ao menos cinco pessoas feridas na comunidade de Palimiú, em Roraima, onde fica o território Yanomami. A informação é da Hutukara Associação Yanomami.

De acordo com a entidade, o confronto se deu quando, por volta das 11h30 desta segunda-feira, sete embarcações de garimpeiros atracaram na comunidade e deram início ao ataque contra os indígenas. Quatro garimpeiros e um indígena, de raspão, foram baleados.

De acordo com Dario Kopenawa Yanomami, houve tiroteio em conflito aberto “por cerca de meia hora”.

– As embarcações dos garimpeiros saíram para a proximidade e ameaçaram voltar para vingança – diz Dario.

Em ofício enviado ao Exército, à Polícia Federal, à Funai e ao Ministério Público de Roraima, a entidade pede aos órgãos que atuem “com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu” .

A Hutukara já recebeu um ofício no último dia 30 de abril para os órgãos sobre a ocorrência de tiroteios entre indígenas e garimpeiros no Palimiu, na subida do rio em direção à base de Korekorema, no rio Uraricoera. Cinco garimpeiros foram expulsos após o tiroteio.

Procurada, a Funai ainda não se manifestou.

No final de março, O GLOBO revelou que o garimpo ignorou a pandemia e avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020 , com 500 hectares devastados de janeiro a dezembro.

No total, o garimpo ilegal já destruiu o equivalente a 2,4 mil campos de futebol em todo o território. Pouco ou quase nada se fez para conter os invasores, que já beiram os 20 mil na região. Os dados constam do relatório “Cicatrizes na Floresta: a evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami”.

A TI Yanomami é um dos sete terras indígenas com uma presença de concessão à espera de um plano do governo para uma retirada de invasores.

O Supremo Tribunal Federal (STF) já deu prazo para que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal apresentem um plano de desintrusão, o que, segundo o ministro Luis Roberto Barroso, já foi apresentado.

Completam a lista como terras Karipuna, Uru-EuWau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku e Trincheira Bacajá.

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