Caro amigo, você sabia que seu dinheiro está bancando o Santander na Espanha?

Tempo de leitura: 4 min

ASSIM É SE LHE PARECE

Dóris Castro e Roger Amarante, 10/05/2017, Diário do Capital

Durante reunião nesta terça-feira (09/Maio), a portas fechadas, no palácio do Planalto, com lideres políticos da sua base aliada e outras autoridades, para apressar as reformas trabalhistas e da Previdência, o patético e corrupto presidente da República do Brasil – que atende pelo nome de Michel Temer – finalmente disse alguma coisa inteligente: “Até parece que chegamos aqui para destruir os trabalhadores.” Folha de São Paulo, 09/Maio/2017.

Pirandello lhe responderia: assim é se lhe parece!

Portanto, está corretíssimo o chefe da atual quadrilha executiva, legislativa e judiciária encarregada pela burguesia para governar os seus negócios e a luta de classes no país.

Afinal, se os integrantes desta quadrilha não constituírem um governo, quer dizer, um comitê de negócios das classes dominantes que seja capaz de enfiar a faca da reforma trabalhista, da Previdência, etc. nas costas da classe trabalhadora, como ficaria os lucros dos seus patrões?

Talvez pensando nisso esse vírus obscurus que ocupa desajeitadamente o trono em Brasília desfiou romanticamente mais uma pérola para coroar sua jornada altamente filosófica: “O destino me colocou aqui, Deus me colocou aqui para cumprir uma missão difícil, complicada”.

Vejamos alguns importantes resultados imediatos dessa missão difícil e complicada do nosso enviado por Deus para nos governar.

No que diz respeito à grande massa de trabalhadores do exército industrial de reserva do país, que compõe pelo menos 90% da população nacional, a missão está sendo rigorosamente cumprida.

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Aqui a coisa tá brava. Tá pra lá de difícil e complicada.

Para a massa de trabalhadores produtivos a economia nacional já entrou em crise profunda.

Pergunte para qualquer um dos 14,2 milhões de desempregados observados no encerramento do 1º trimestre deste ano. Esta é a população de desempregados estrito senso, método estatístico oficial, tal como catalogado e apresentado pelo IBGE no seu relatório PNAD Contínua de 28/04/2017.

Os técnicos do IBGE observam que este contingente de “população desocupada” – 13,7% da população economicamente ativa – bateu o recorde da série histórica.

Cresceu 14,9% – mais 1,8 milhão de pessoas – frente ao trimestre anterior e 27,8% – mais 3,1 milhões de pessoas em busca de trabalho – em relação ao mesmo trimestre de 2016. São números subavaliados, mas, para a análise, a sanguinária tendência apontada é o mais importante.

Se for considerado o conceito estatístico amplo de desempregados – informais, ilegais, tempo parcial, desalentados, desempregados que desistiram de procurar emprego, etc. – haveria estatisticamente mais de 22 milhões de trabalhadores desempregados.

É uma população em condições de trabalhar maior que os habitantes totais na maioria dos países do mundo.

Na América Latina, por exemplo, só México e Argentina contabilizam um número de habitantes (população total) acima desta massa desta massa oficial de desempregados no Brasil.

Se os trabalhadores sentem a crise se aprofundar diariamente, o mesmo não se passa com as classes dominantes.

Para a burguesia proprietária dos meios de produção e demais parasitas que gravitam em torno dela – que somados não passam de 10% da população total do país, quer dizer, cerca de 22 milhões de cidadãos que vivem do sobre-trabalho e da mais-valia produzida pela estropiada massa de trabalhadores produtivos – a “difícil e complicada missão” do seu comitê de negócios instalado em Brasília não está lhes causando grandes danos.

Ao contrário. A crise parece não afetar seus negócios. Até estimula ainda mais seus lucros. Vejam, por exemplo, os lucros no primeiro trimestre do ano dos maiores bancos privados do Brasil.

● “O Itaú Unibanco, maior banco privado do país, registrou lucro líquido recorrente (que desconsidera efeitos extraordinários) de R$ 6,176 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O valor é 19,64% maior que o registrado no mesmo período de 2016 (R$ 5,162 bilhões)” – Portal G1 de O Globo, 03/05/2017.

● “O lucro líquido recorrente do Bradesco – que exclui despesas e receitas extraordinárias – cresceu no primeiro trimestre do ano e atingiu R$ 4,648 bilhões, alta de 13% em relação ao mesmo período de 2016” – Folha de São Paulo, 27/04/2017.

● “O lucro líquido do Banco Santander cresceu no primeiro trimestre do ano e atingiu R$ 2,28 bilhões, crescimento de 37,3% na comparação ao mesmo período de 2016. O resultado fez com que o braço brasileiro do Santander respondesse por 26% da participação no lucro da matriz espanhola, mesmo com a crise que afeta a economia. Historicamente, essa fatia variava entre 18% e 20%” – Folha de São Paulo, 26/04/2017.

“Mesmo com a crise que afeta a economia”, usando a expressão da Folha de São Paulo, os lucros dos bancos nunca foram tão elevados. Servem para até alavancar (caso do Santander) as dificuldades de obter lucro de suas matrizes no resto do mundo.

Mais além desses lucros fabulosos do capital no Brasil – apesar da profunda crise, repita-se – as classes dominantes no Brasil têm “uma missão difícil, complicada” a ser realizada: precisam assassinar grandes e crescentes contingentes da população trabalhadora.

Como? Na sua forma econômica, em primeiro lugar: política econômica que induza estagnação econômica, desemprego das massas trabalhadoras e reformas liberais dos direitos trabalhistas. Redução letal do custo unitário do trabalho.

Salários indianos. Ou pelo menos mexicanos. Não apenas para garantir seus lucros atuais, mas que essas massas de mais-valia extorquidas dos trabalhadores aumentem cada vez mais.

Ora, até agora essa “missão difícil, complicada” está sendo rigorosamente cumprida pela quadrilha executiva, legislativa e judiciária instalada em Brasília e adjacências. Assim é o que apenas parece ser. Quais são as possibilidades que essa carnificina continue?

A resposta é objetiva e clara. Só a classe que está sofrendo essa matança é que pode responder. Praticamente.

Só a classe que está sendo efetivamente assassinada pelas classes dominantes pode interromper e reverter essa ordem econômica de destruição militarizada pelo Estado do imperialismo.

Só a luta de classes pode decidir até quando continuará o genocídio econômico atual.

Quer dizer, só a classe que está sendo destruída – claramente identificada pelo nosso presidente enviado por Deus para nos governar – pode reverter a situação atual.

Só a classe que está sendo impiedosamente destruída pode fazer as classes que a destrói pagarem na mesma moeda (com juros e correção monetária, de preferência) pelos seus crimes atuais.

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Bel

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