Muy amigos
Mal completara dois meses à frente da Prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB) passou a ser cogitado para a disputa presidencial do próximo ano, em aposta precipitada que começa a exibir falhas de sustentação. A ascensão do prefeito não se deveu apenas a suas contínuas ações midiáticas, que lhe garantem exposição, por exemplo, quando empunha vassouras e pás fantasiado pelas ruas da cidade. Ajudou a alçá-lo a onda de investigações policiais que comprometeu, total ou parcialmente, o prestígio e o apelo eleitoral de expoentes tucanos como o senador Aécio Neves (MG) – hoje o caso mais extremo de descrédito na legenda – e o governador Geraldo Alckmin. Editorial do Otavinho detonando Doria
Da Redação
O prefeito paulistano João Doria sente o cheiro de sangue no ar. Como é que as pessoas não entendem que ele é “o novo”? O Trump? O Macron?
Como é que não sabem que Geraldo Alckmin e Aécio Neves são “o passado”, feito o ex-presidente Lula?
Aécio é tão jovem quanto Doria (57 anos de idade). O Mineirinho da Odebrecht, depois de ter gastado muita sola no Leblon para bater os tucanos paulistas e controlar o PSDB, não deve acreditar que agora vai ter de entregar o protagonismo a um paraquedista.
Pois Doria nem bem tucano é: é um lobista que se adapta às circunstâncias pretendidas pelo dinheiro grosso, chegando a flertar com o passado esquerdista do pai para, de maneira oportunista, parecer menos intragável que Jair Bolsonaro.
Porém, as facas no tinho tucano são afiadas, como os memoráveis embates entre José Serra e Aécio Neves demonstraram.
Antes de ser escolhido pela Globo para ser o Macron, o que só viria depois de um mandato de Rodrigo Maia — já fechado com Paulo Tonet, o lobista da Globo –, Doria teria de obter algum tipo de consenso no ninho paulista.
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Isso exige atropelar, pela ordem, Aécio Neves (por dentro da máquina partidária) e Geraldo Alckmin (com o eleitorado), já que Serra e FHC estão mortos.
Em editorial, a Folha de S. Paulo, de tendência serrista, já puxou a orelha do almofadinha.
Pó pará, prefeito, gritam tucanos de várias estirpes diante do açodamento de Doria:
Pressão de Doria acirra racha sobre futuro do PSDB
Declarações do prefeito sobre saída definitiva de Aécio do comando do partido e mudanças na Executiva provocam reações de tucanos
por Pedro Venceslau, no Estadão
A pressão desencadeada pelo prefeito João Doria pela saída definitiva e imediata do senador Aécio Neves (MG) da presidência do PSDB agravou ainda mais a crise no partido, que está dividido entre permanecer ou deixar o governo Michel Temer.
Os tucanos enfrentam agora outro racha, desta vez envolvendo a realização de uma convenção nacional tucana e a mudança da configuração de sua Executiva.
Parte da cúpula partidária avalia que Doria se excedeu ao defender publicamente, neste sábado (15), durante um evento na capital, a saída de Aécio “desde já” da presidência do PSDB.
O prefeito também pediu mudanças na Executiva da legenda para acomodar um representante dos prefeitos eleitos em 2016 e indicou para a vaga o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando.
Até aliados de Aécio reconhecem que o senador deve renunciar à presidência da legenda, mas esperam uma “saída honrosa”. Por isso, dizem acreditar que as declarações do prefeito dificultam o diálogo interno.
“João Doria é um prefeito desfocado. A cidade está piorando, os buracos aumentando, os faróis estão quebrados, o capim aumentando e ele desconhece isso. Fica brigando com o Lula e nomeando gente na Executiva. Esse cara está delirando. Precisa focar na Prefeitura e mostrar resultado. Tem gente tão ou mais competente do que ele pensando no Brasil”, disse o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela.
Aníbal é um dos mais próximos interlocutores de Aécio na cúpula tucana. O senador mineiro se licenciou da presidência do PSDB após a divulgação de um áudio no qual foi flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da JBS, para pagar custos de sua defesa na Operação Lava Jato.
O conteúdo da gravação está nas delações do Grupo J&F, que controla a JBS. O senador também foi afastado, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, das funções parlamentares, retomadas após decisão do ministro Marco Aurélio Mello. Aécio manteve, entretanto, o cargo de “presidente licenciado”.
A resposta do prefeito a Aníbal veio por meio do secretário adjunto das Prefeituras Regionais, Fábio Lepique. “Nunca convivi com alguém tão focado na cidade como o João. Mas, como líder político que é, sei que pensa um partido acima de interesses menores ou pessoais. Para ele, o Brasil está acima das boquinhas, sejam de governo, sejam de partido”, afirmou.
Configuração. Idealizada pelo deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB e aliado do governador Geraldo Alckmin, a proposta de mudar a estrutura da Executiva em uma convenção nacional, marcada para agosto, tem o apoio de parte dos prefeitos tucanos, entre eles Nelson Marchezan, de Porto Alegre, e Morando.
O senador tucano Tasso Jereissati (CE), que simpatiza com a tese, tentou duas vezes convocar a Executiva do PSDB em Brasília para formatar a convenção, mas esbarrou na relutância de parte da legenda.
O grupo de Aécio resiste à ideia de uma mudança total do comando partidário, que viria acompanhada de uma “autocrítica” e “atualização do programa” da legenda.
O meio-termo encontrado foi a realização, em agosto, de uma reunião ampliada com todos os membros do Diretório Nacional do PSDB. Nesse encontro, Tasso seria efetivado presidente do partido, e Aécio se afastaria.
Em seguida, o partido começaria um processo de convenções municipais e estaduais que elegeriam os delegados da reunião nacional. Só então, provavelmente entre outubro e novembro, é que haveria mudanças mais amplas no partido. “Não é o momento agora de se discutir espaços para cargos. Isso só vai acontecer após a posse do novo presidente do partido”, disse Torres.
O pano de fundo da disputa interna na legenda é a vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2018. A atual Executiva do partido foi composta por Aécio em maio de 2013, quando ele foi eleito presidente do PSDB e já era pré-candidato ao Palácio do Planalto para a disputa de 2014.
Mesmo após a derrota para Dilma Rousseff no ano seguinte, o senador mineiro continuou comandando a máquina partidária. Em dezembro de 2016, renovou o próprio mandato e de toda a Executiva até maio de 2018, o que irritou aliados de Alckmin. Procurado por meio de sua assessoria, Aécio não quis se manifestar.
O acirramento da disputa interna ocorre no momento em que a maioria dos deputados tucanos e o próprio presidente Tasso Jereissati pressionam a sigla a entregar os cargos no governo Temer.
“O PSDB está se suicidando, como o antigo PFL. Está entregando o futuro do País nas mãos da Procuradoria-Geral da República”, avaliou o professor da USP José Augusto Guilhon-Albuquerque.
Já o cientista político Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria, disse que a saída seria inócua. “Sair neste momento não significa para o PSDB o descolamento da imagem de Temer. A associação com o governo já está consumada.” COLABOROU ALBERTO BOMBIG
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