Eu não sei se a relação entre Justiça, jornais e TVs é igual para Lula e para os outros. Esse é um problema que devemos nos pôr se vivêssemos em uma democracia ideal. Negri, notando o óbvio: que a mídia brasileira tem lado
Trecho de entrevista de Antonio Negri ao Estadão
O senhor conhece os programas sociais dos governos petistas. O senhor acha que eles não foram suficientes para criar uma nova identidade para a esquerda?
O governo Lula ficou muito limitado por suas contradições, não há dúvida.
Ele errou em duas coisas fundamentais.
A primeira é a reforma constitucional (ele se refere à reforma política).
Como se pode aceitar uma Constituição na qual a corrupção é necessária para fazer qualquer lei? Esse é um erro extraordinário.
A justificativa de Lula é: “Estávamos há muito pouco tempo em uma situação democrática para nos dar o luxo de reformar a Constituição”.
A segunda é o fato de não ter organizado os instrumentos midiáticos e de cultura popular que fossem à altura da estrutura esmagadora da grande produção midiática da burguesia. Esses são dois erros que eu aponto às pessoas do PT.
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Esses são erros que, infelizmente, devem ser pagos.
Não é possível ter uma Constituição desse tipo, na qual cada igreja protestante elege o seu deputado, na qual se pode ter um presidente com 70% dos votos nacionais e não ter uma maioria parlamentar.
São coisas que são incompreensíveis para qualquer constitucionalista europeu desde o século 19.
É enlouquecedor?
Sim, é uma loucura. Isso precisava mudar.
A experiência do PT deve ser reformada ou arquivada?
Eu não sei. Sei que na Europa, a corrupção se conhece desde sempre. Sou professor de direito constitucional. Estudei a histórica constitucional de todo o mundo.
A corrupção existe em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o lobby constituiu-se em poder.
Quando me encontro diante da miséria, não porque a quantidade é pequena, mas porque os personagens são míseros — e também os juízes –, vejo que se trata de uma comédia.
De uma trágica comédia, cujos personagens são figuras da commedia dell’arte (teatro popular surgido na Itália renascentista).
Como professor de direito constitucional, eu me pergunto: Como é possível que alguém, para governar um país, precise ter dinheiro para pagar essa quadrilha de deputados.
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