Ângela Carrato: Midiona brasileira ignora que dono da Tesla admite atuação dos EUA no golpe que derrubou Evo Morales
Tempo de leitura: 10 minA VELHA MÍDIA E OS GOLPES
por Ângela Carrato, especial para o Viomundo
Tudo poderia ter se limitado a uma divergência, comum no Twitter, se não estivesse em pauta a atuação do oitavo homem mais rico do mundo, um dos bilionários estadunidenses e a indignação que ele provocou em parte de seus seguidores.
A pessoa em questão é o arrogante Elon Musk (49 anos), dono das empresas Tesla Motors e Space X, conhecido por suas posições extremamente controvertidas.
Na sexta-feira (24/7), em resposta a um de seus seguidores sobre o seu interesse e o dos Estados Unidos em tirar Evo Morales do poder, Musk respondeu: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”.
Em outras palavras, ele estava defendendo o “direito” dos Estados Unidos recolonizarem a América Latina e se apropriarem dos recursos naturais da região.
Imediatamente as suas redes sociais pegaram fogo e o próprio Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, respondeu que estava confirmado o que sempre disse: “os Estados Unidos estão por trás do golpe que me derrubou do poder”.
É compreensível que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vive grudado no Twitter, tenha fingido que não viu nada.
Atrás de Joe Biden, candidato do Partido Democrata, na corrida para a Casa Branca, Trump não quer nem ouvir falar em assuntos indigestos que lhe possam tirar votos. E, sem dúvida, o golpe de Estado na Bolívia, em novembro do ano passado, é um deles.
Sobre esse assunto, Trump vem sendo questionado até por parlamentares de seu partido. É o caso do senador Richard Black, da Virgínia, que tem exigido que o governo de seu país ponha fim à política de ingerência tanto na Bolívia quanto na Venezuela.
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“DEEP STATE” E SILÊNCIO
É igualmente compreensível que a mídia corporativa dos Estados Unidos não tenha dado atenção ao assunto.
Além de o país estar mergulhado em inúmeros problemas, a exemplo do recorde mundial em mortes por covid-19 e manifestações contra o racismo estrutural, #BlackLivesMatter, presentes de Norte a Sul, a Bolívia nunca foi assunto por lá.
Some-se a isso que as empresas de Musk são grandes investidoras e possuem estreita relação com o chamado “deep state”, o estado profundo, que dá as cartas em Washington, independente de quem esteja no poder.
O que causa estranheza, no entanto, é o silêncio da mídia corporativa brasileira sobre o assunto, por se tratar de um país vizinho, cuja situação envolve também a América Latina.
TV Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, o principal tripé dessa mídia, ignorou o fato, diferentemente da grande repercussão que teve e continua tendo na Europa e em países como México, Cuba, Chile, Equador e Argentina.
A título de exemplo, o diário espanhol El País, além de noticiar o tweet, ainda publicou uma longa reportagem sobre a atuação da empresa Space X, sob o título “Os satélites de Elon Musk estragaram o céu”.
A reportagem mostrou o alerta de astrônomos para os riscos que representam os projetos da Space X, que colocam dispositivos na órbita da terra para vender serviços.
Na vizinha Argentina, o assunto ganhou destaque inclusive em diários com linhas editoriais opostas.
Conhecido por sua ferrenha campanha contra os governos progressistas de Néstor e Cristina Kirchner, Clarín estampou a seguinte manchete em 25/07: “Guerra por el lítio: Elon Musk sugirió apoyar um golpe de Estado em Bolívia em Twitter y desafó uma ola de críticas”.
Já o progressista Página 12, no mesmo dia, foi mais incisivo: “Elon Musk reivindico el golpe em Bolivia y Evo Morales lo cruzó”.
Todos os estudos sobre mídia apontam que tão importante quanto o que é publicado é o que se omite, o que deixa de ser divulgado para o público.
Nesse sentido, o que a mídia corporativa brasileira estaria querendo ocultar em se tratando de Musk, da Tesla, do golpe na Bolívia e de suas implicações em relação ao Brasil e à região?
LÍTIO, UM RECURSO ESTRATÉGICO
Bolívia, Argentina e Chile concentram mais de 50% dos depósitos de lítio do mundo.
Os desertos montanhosos da Bolívia possuem, de longe, as maiores reservas conhecidas. O Brasil também possui depósitos consideráveis de lítio, especialmente em Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No Brasil, o lítio é utilizado basicamente na fabricação de vidros e cerâmicas, mas ele é um mineral estratégico, fundamental para indústrias de ponta como baterias altamente resistentes, telefones celulares, aviões e foguetes espaciais.
Nos anos em que esteve no poder, Evo Morales deixou claro que não iria entregar esse recurso a empresas multinacionais.
Concretamente, estava dizendo que o acordo envolvendo o lítio deveria ser feito em conjunto com as estatais Comibol e a Yacimentos de lítio.
Vale dizer: os recursos advindos desse minério deveriam ir para os cofres públicos bolivianos, a fim de serem utilizados em programas sociais de que o país tanto necessita.
Um dos grandes projetos de Musk, através da Tesla, é a produção de carros elétricos, que utilizam lítio em suas baterias.
O empresário estadunidense está se baseando em estudos que indicam que já nas próximas duas décadas, o consumo de energias renováveis deverá aumentar significativamente e ele quer estar à frente desse novo bilionário negócio
Só que Evo Morales, com suas preocupações nacionais e sociais, estava atrapalhando.
Tanto que três multinacionais que atuavam na área na Bolívia e queriam ampliar sua participação na exploração do lítio – FMS, dos Estados Unidos, Eramet, da França, e Posco, da Coreia do Sul – deixaram o país e se instalaram na Argentina, então governada pelo neoliberal Maurício Macri. Agora também estão às voltas com o governo comprometido com o social do justicianista Alberto Fernández.
A partir de então, a elite boliviana (na realidade uma oligarquia) considerou que o melhor caminho para resolver o problema era inviabilizar a nova vitória de Morales, que certamente teria acontecido, se não fosse o golpe de Estado de que foi vítima.
O principal adversário de Morales, o empresário Carlos Mesa, uma espécie de Aécio Neves de lá, passou toda a campanha eleitoral atacando o governo, sem nada propor. Na noite da eleição, se valendo da mídia corporativa boliviana que o apoiava, denunciou que estava acontecendo “uma fraude monumental”.
O resto da história é conhecido. A violência tomou conta das ruas das principais cidades bolivianas e foi fortemente potencializada por um “relatório preliminar” da Organização de Estados Americanos (OEA), controlada pelos Estados Unidos, “atestando” a fraude.
A OEA posteriormente admitiu que não havia elemento que justificasse falar em fraude, mas já era tarde.
BOLSONARO E MUSK
Papel importante nessa deposição teve também o governo Bolsonaro. Nos dias seguintes ao golpe, o avião presidencial boliviano fez 25 voos para várias cidades do Brasil, entre elas Brasília, Rio de Janeiro e Manaus.
Segundo denúncias de Morales, não só a Embaixada Brasileira em Laz Paz participou da articulação do golpe, como empresários brasileiros e grupos religiosos neopentecostais igualmente participaram do processo de desestabilização política que levou ao golpe.
Mais ainda: Morales afirma que nesse episódio “Bolsonaro trabalhou para os Estados Unidos”.
A acusação é muito grave, pois mostra o governo Bolsonaro atuando contra a democracia e a soberania de um país vizinho. Mesmo assim, a mídia corporativa brasileira ignorou o assunto.
Admirador declarado de Trump, a ponto de dizer “I love you” para o presidente dos Estados Unidos e de comemorar o 4 de Julho, com os filhos, na embaixada estadunidense em Brasília, Bolsonaro agora se articula diretamente com os golpistas bolivianos e também com Musk.
Ele e Musk, aliás, já deveriam ter se encontrado em Miami no início do ano. Como não foi possível, o dono da Tesla pode vir ao Brasil ainda em 2020.
Ele quer sediar sua fábrica de veículos elétricos aqui, possivelmente em Santa Catarina. Para tanto, precisa ter certeza que poderá contar com o lítio brasileiro, uma vez que o boliviano já dá como certo.
Musk aposta na total simpatia da “presidente interina”, Jeanine Áñez, que é candidata nas próximas eleições. Seu vice, o empresário Samuel Doria Medina, não se cansa de tecer elogios e de dar boas vindas à Tesla na América do Sul.
O problema é que o candidato de Evo Morales, o economista Luis Arce, lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto, o que talvez explique o fato dessas eleições, marcadas agora para 18 de outubro, já terem sido adiadas duas vezes.
Em qualquer mídia minimamente séria, as informações envolvendo a vizinha Bolívia deveriam estar sendo divulgadas permanentemente.
Ainda mais quando envolvem de forma tão direta o governo brasileiro. Como isso não está acontecendo, algumas suposições podem ser levantadas.
“TEORIA DA CONSPIRAÇÃO”
A primeira delas é de que a mídia corporativa brasileira não tem como abordar a realidade política na Bolívia sem reconhecer que aqui também houve um golpe de Estado, que ela insiste em denominar de “impeachment”. Corroborando esse ponto de vista estão as similaridades entre o que se passou com Evo Morales e com Dilma Rousseff.
A quarta vitória seguida do Partido dos Trabalhadores e a política de defesa dos recursos naturais brasileiros, em especial do pré-sal, então recém descoberto, levaram as elites brasileiras (“as elites do atraso, como prefere defini-las o sociólogo Jessé Souza) ao desespero.
O que elas e seus sócios multinacionais queriam para si, o governo pretendia destinar para a saúde e para a educação do povo brasileiro.
Daí o impeachment sem crime de responsabilidade contra Dilma Rousseff.
Daí, também, uma das primeiras medidas do governo ilegítimo de Michel Temer ter sido o “pacote de isenções” para favorecer as empresas multinacionais que atuam aqui nas atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural.
É importante lembrar que em 2014, a Petrobras e a própria Dilma já tinham sido alvo de espionagem pelo governo dos Estados Unidos, através da National Security Agency (NSA), que integra o Departamento de Defesa daquele país.
Denúncia nesse sentido foi feita por um de seus técnicos, Edward Snowden, que tornou público detalhes de vários programas que constituem esse tipo de espionagem, conhecido como sistema de vigilância global.
Dilma levou o assunto para a abertura da sessão anual da ONU, em setembro de 2014, assinalando que a espionagem dos Estados Unidos feria a soberania do Brasil e o próprio direito internacional.
O então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não disse nada e, menos ainda, pediu desculpas.
A segunda suposição é de que caiu por terra o argumento da “teoria da conspiração”. Aquele que dizia ser falsa a atribuição a interesses do “império” os golpes e desestabilizações que passaram a acontecer na América do Sul desde o impeachment “relâmpago” de que foi vítima o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em 2012.
Antes dos mais recentes vazamentos do site The Intercept BR, em parceria com a agência de jornalismo investigativo Pública, quem falasse que a NSA e a própria Central Intellligence Agency (CIA) estavam envolvidas na deposição da ex-presidente Dilma e na própria prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva certamente seria acusado de ver chifre em cabeça de cavalo.
Só que os chifres existem e as conspirações, também.
Está provado e documentado que houve cooperação ilegal entre o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o FBI e os procuradores da Operação Lava Jato, responsáveis diretos pelas acusações, sem provas, contra Lula.
Acusações que levaram à sua condenação e o impediram de participar das eleições presidenciais de 2018, quando liderava a disputa.
O medo que Lula desperta nas elites brasileiras é semelhante ao que Evo desperta nas oligarquias bolivianas.
Como a mídia brasileira foi partícipe do golpe contra Dilma, ao insuflar o ódio contra o PT e as esquerdas, e ao fazer coro com a Operação Lava Jato, da qual se tornou porta-voz informal, não há como, agora, sem se desmoralizar, divulgar as comprovadas denúncias do site The Intercept Br.
Assim, da mesma forma que uma ilegalidade acaba puxando outra e um crime puxa outro, a mídia brasileira encontra-se cada dia em situação mais delicada.
ENREDOS SEMELHANTES
Guardadas as especificidades, as semelhanças entre o que aconteceu no Brasil e na Bolívia são enormes. Como são enormes também as semelhanças com o que se passa no Equador. E nada disso foi informado ou noticiado para o público brasileiro.
De 2007 a 2017, o economista Rafael Correa esteve à frente do governo e seu partido, o Alianza País, venceu todas as eleições. Correa implementou uma postura nacionalista, oposta ao que defende para os outros países os Estados Unidos e organismos multilaterais como o Banco Mundial e o FMI.
Ele também colocou em prática uma maior participação do Estado na exploração do petróleo. Equador e Venezuela são os únicos países sul-americanos a integrarem a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que sempre incomodou muito aos Estados Unidos.
Basta lembrar que Trump acusou os integrantes da Opep de manter os preços do petróleo “artificialmente altos”, quando na realidade o que esses países fazem é defender o valor desse estratégico recurso mineral em benefício de suas populações.
Sob o argumento de que havia liderado um esquema de corrupção na Petroamazonas, a petroleira do Equador, Correa passou a ser perseguido pela Justiça.
A semelhança com o enredo colocado em prática pela Lava Jato contra Lula e a Petrobras é tão grande, que até a empreiteira escolhida como alvo da investigação é a mesma, a Odebrecht.
Num julgamento marcado por tantos arbítrios quantos os cometidos contra Lula, Correa foi condenado a oito anos de prisão.
Como ele é casado com uma belga, vive na Bélgica e possui dupla nacionalidade, não há chance de ser preso ou extraditado. Mas o objetivo principal dos seus adversários foi atingido: acabar com a política de valorização do petróleo e seu uso social.
O que pensaria o leitor, ouvinte ou telespectador brasileiro diante de enredos tão semelhantes? Dificilmente não seria levado a fazer novas perguntas ou a buscar mais informações sobre o assunto. Só que isso é tudo o que a mídia corporativa brasileira não quer.
Não deixa de ser significativo, além de reforçar ainda mais as semelhanças com o enredo colocado em prática contra a Petrobras, o fato de, na semana passada, o governo do Equador, ter privatizado a maior das três refinarias que possuía, a de Esmeraldas.
E o motivo é exatamente o mesmo alegado pelo governo Bolsonaro para idênticas privatizações de refinarias aqui: cortes de gastos e prejuízos, quando uma rápida análise no balanço dessas empresas, tanto lá quanto aqui, indica que são muito lucrativas, além do papel estratégico que desempenham na área de energia, vital para qualquer país soberano.
Mas se Bolívia e Equador são ausências gritantes na mídia corporativa brasileira, a Venezuela é uma presença constante.
Só que pelo lado negativo. Tudo o que o governo de Nicolás Maduro faz é apresentado como sendo ruim e ele próprio, mesmo tendo vencido seguidas eleições, é definido como “autoritário” ou “ditador”.
Na realidade, a mídia corporativa brasileira comprou como sua a guerra híbrida que os Estados Unidos, desde o governo de Obama e acentuado por Trump, move contra o país que possui a maior reserva de petróleo do planeta.
A parcialidade da mídia brasileira é tamanha, que ela teve a coragem de noticiar que a Inglaterra decidiu entregar as 30 toneladas de ouro que o governo da Venezuela tinha depositado em seu Banco Central, não para Maduro, o governante legítimo, mas para o autoproclamado presidente, Juan Guaidó, uma figura no mínimo grotesca.
Em outras palavras, o governo inglês, numa ação desprovida de qualquer legalidade, entregou para um golpista o ouro que pertence ao povo venezuelano.
Outra prova dessa parcialidade é que a mídia corporativa brasileira noticiou que o governo Trump resolveu anunciar uma recompensa pela captura de Maduro, sob a acusação de que seria um “narcotraficante”.
Só que não há qualquer comprovação envolvendo o dirigente venezuelano e traficantes de drogas, o mesmo não podendo ser dito, por exemplo, do governo brasileiro, aliado de Trump.
O assunto sumiu da mídia, mas está longe de ter sido minimamente esclarecido o episódio em que 39 quilos de cocaína foram encontrados em uma aeronave da comitiva presidencial de Bolsonaro, quando fez escala na Espanha, a caminho da cúpula do G-20, no Japão.
Com a arrogância que lhe é peculiar, Musk acabou expondo e deixando em maus lençóis a subserviente velha mídia brasileira.
A pouca credibilidade que ainda restava aos jornalões, rádios e TVs está cada dia mais abalada, não só pela crescente força dos sites, blogs e portais independentes na internet, mas pelo desserviço que ela presta ao Brasil e aos interesses da população brasileira
*Ângela Carrato é jornalista e pofessora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.
Comentários
Nelson
Quanto à credibilidade da mídia hegemônica, eu digo que, para mim, já faz muito tempo que ela minguou, irremediavelmente, terminando por desaparecer por completo.
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Uma rápida olhada no nosso passado recente, pós-ditadura civil-militar, já nos basta para confirmar isso. Nesse período, iremos encontrar uma miríade de casos e situações em que essa mídia optou por jogar por terra qualquer traço de crediblidade que pudesse ter.
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Na cobertura dos planos econômicos, por exemplo. Todos os planos, sem exceção, Cruzado, Bresser, Verão, Collor e Real [o pior de todos] se ancoraram, uns com maior intensidade outros com um pouco menos, em arrochos impostos à classe trabalhadora e ao povão em geral.
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Ou seja, além de perder quando da inflação alta ou hiperinflação, a grande maioria do povo brasileiro seguia perdendo na vigência de tais planos. Algo lógico, pois os planos eram aplicados para salvar o sistema econômico, o capitalismo, e não o povo.
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Mas, os órgãos da mídia hegemônica e seus comentaristas escondiam essa lógica. E despejavam propaganda a favor dos planos, procurando convencer os brasileiros de que, sem aqueles sacrifícios, não havia outra maneira de salvar o país e de garantir uma vida melhor para todos. Vida melhor que, para uma vastíssima camada, segue tardando em chegar.
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Outra situação vergonhosa, que arrasou com qualquer credibilidade da mídia hegemônica, foi, e continua sendo, a cobertura acerca das privatizações. Tal como fizera na cobertura dos planos econômicos, a grande mídia “esqueceu-se” por completo de cumprir, minimamente, sua função.
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Para ser justo, preciso registrar que umas poucas, pouquíssimas, avis raras do jornalismo brasileiro, como Jânio de Freitas e Aloysio Biondi, não deixaram de cumprir sua nobre função e se dedicaram a expor a verdade acerca das privatizações.
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Mas, no geral, a mídia hegemônica e seus comentaristas tornaram-se meros propagandistas das privatizações da era tucana de Fernando Henrique Cardoso. Nada diziam em contrário, escondendo do povo brasileiro os enormes prejuízos que teríamos ao entregarmos nosso patrimônio e riquezas nas mãos de umas poucas grandes corporações privadas, seja nacionais, seja estrangeiras.
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E a postura da mídia seguiu sendo a mesma durante as privatizações feitas pelos governos do PT e pelo desgoverno de MiShell Temer. Já no atual desgoverno, de Bolsonaro, não vimos qualquer mudança na forma como a grande mídia divulga as ruinosas privatizações. Segue atuando como uma mera propagandeadora.
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Citei só duas situações das tantas que jogaram por terra a credibilidade da mídia hegemônica. Algumas a própria professora Carrato já mencionou em seu artigo.
Mark Twain
Excelente reportagem! :)
Parabéns ao Viomundo e a jornalista Ângela Carrato.
Nelson
Mais um excelente artigo da professora Ângela Carrato. Porém, creio que ela esqueceu-se de mencionar um outro golpe de Estado embalado pelo “Deep State”, que acostumei a chamar de Sistema de Poder que domina os Estados Unidos.
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Trata-se de um Sistema que domina o que chamam de democracia estadunidense. Para os mais atentos, teríamos aí uma contradição, pois, como é que se poderia qualificar de democracia um regime que é controlado por um pequeno grupo de megacorporações e bilionários? Mas, como a esmagadora maioria não presta a mais mínima atenção ao que seriam somente detalhes….
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Voltando ao golpe ao qual fiz menção. Eu quis me referir à derrubada de Manuel Zelaya, perpetrada há 11 anos, em 2009. Para derrubá-lo, a oligarquia local, secundada pela mídia hegemônica hondurenha e do restante do continente – todos trabalhando conforme os ditames do “Deep State” – inventaram os motivos mais estapafúrdios possíveis.
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Contudo, reforçando o que afirmei antes, a esmagadora maioria não prestou a atenção ou não se interessou pelos detalhes da derrubada do governo legítimo e passou a acreditar que o culpado pelo golpe era a própria vítima, Zelaya.
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Às custas de uma grande campanha midiática de desinformação, Zelaya passou a povoar as mentes de centenas de milhões pelo mundo afora como mais um dirigente de uma pequena republiqueta latino-americana com tendências ditatoriais que estaria a querer o poder só para si. Seria justo, então, apeá-lo do governo.
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