André Sampaio: Nos EUA, que Bolsonaro ama, sanções à carne e soja brasileiras são vistas como arma para detê-lo
Tempo de leitura: 3 minEm Washington DC, manifestantes protestam contra incêndios na Amazônia. Reunidos em frente à embaixada brasileira, o grupo também defendia sanções econômicas contra o Brasil.
por André Neves Sampaio, especial para o Viomundo
Centenas de manifestantes se reuniram em frente à embaixada do Brasil em Washington DC, EUA, nesta segunda-feira (26) para protestar contra o governo Bolsonaro e os incêndios na Amazônia.
Os manifestantes pediam uma política ambiental mais efetiva no combate ao fogo e ao desmatamento na Amazônia e também sugeriram sanções econômicas contra o Brasil como medida mais drástica contra a política ambiental do governo federal.
Para o Viomundo, Nancy Wallace, membro do Green Party (Partido Verde), afirmou que a política do governo federal brasileiro em relação ao meio ambiente é um “desastre” e que os Estados Unidos precisam agir diante essa crise.
“Nós podemos ajudar com os equipamentos necessários para conter o fogo, mas nós temos que parar de comprar carne vermelha e soja provindas do Brasil. Infelizmente eu acho que o Bolsonaro só vai passar a ouvir a comunidade internacional com possíveis ameaças econômicas”.
Os manifestantes também fizeram um minuto de silêncio em homenagem à floresta que foi queimada.
A brasileira Natascha Otoya, doutoranda em História Ambiental da Amazônia na Universidade de Georgetown e integrante do grupo “Brazilians for Democracy and Social Justice”, analisa com espanto os primeiros meses do governo Bolsonaro em relação a políticas ambientais.
“Como pode ter acontecido tanta destruição em tão pouco tempo, sendo que o Brasil estava ficando cada vez melhor em proteger a Amazônia? Entre 2004 e 2014, houve uma redução de 82% no desmatamento na Amazônia, e agora, só neste ano, já são 75 mil focos de incêndio, é uma loucura. Está fugindo do controle muito mais rápido do que qualquer previsão pessimista poderia imaginar”.
Ela acredita que a pressão internacional é necessária para tentar conter a política ambiental ineficaz do governo, mas diz se preocupar em defender a soberania nacional.
“É necessária a pressão da comunidade internacional, sanções comerciais, como, por exemplo, um boicote à carne brasileira. Mas também temos que tomar cuidado para não ceder a sanções imperialistas. Como eu disse antes, o Brasil já provou que é capaz de preservar a Amazônia”.
Na última semana o presidente do Brasil afirmou que ONGs internacionais poderiam estar por trás dos incêndios no Brasil.
Para Diana Ruiz, representante do Greenpeace, as declarações de Bolsonaro são “absolutamente falsas”: “Estamos em um momento histórico crítico. Crítico para humanidade e para o clima. Nós precisamos ver uma mudança e líderes globais precisam de soluções efetivas para conter a crise climática, e não fazer o que o governo Bolsonaro está fazendo agora, alimentando a crise ambiental e desmantelando a proteção ambiental”.
Após a concentração em frente à embaixada, os manifestantes, acompanhados pela polícia, continuaram o ato pela Massachusetts Avenue, avenida que reúne diversas embaixadas.
Até o fechamento da reportagem, nenhuma autoridade da embaixada brasileira emitiu uma resposta oficial sobre a manifestação.
Comentários
sao carlos
Parabéns pelo artigo,adorei!
Zé Maria
Falando neles …
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“Quem Tem Apenas Aspirações Individuais
Jamais Entenderá uma Luta Coletiva”
#SomosTodosCNPq
Os Evangélicos Norte-Americanos e a Política (II).
“Como se Fabrica uma Nação Cristã”
Por Reginaldo de Moraes*, no Jornal da Unicamp
A história política norte-americana
cruza com a religião a todo momento.
Desde a fundação das treze colônias.
Mas a mitologia da nação cristã é também o fruto
de um cuidadoso trabalho de imaginação e propaganda.
O melhor roteiro para começar a entender
essa trajetória talvez seja o livro de Kevin M. Cruse:
“One Nation Under God: How Corporate America Invented Christian America”,
Basic Books; 2016.
Pelo menos se não quisermos recuar muito no tempo,
apanhando o ponto crucial dos anos 30, logo depois
da Grande Depressão.
Kevin insiste na ideia de que, a partir desse momento-chave, a nação cristã foi cuidadosamente engendrada como uma espécie de reação de grandes empresários contra o New Deal de Roosevelt, suas reformas econômicas, suas leis reguladoras e políticas sociais. Roosevelt, para muitos deles, ultra-conservadores, era uma espécie de antessala do socialismo, da invasão do Estado sobre a liberdade econômica.
Alguns desses magnatas, eles próprios vinculados a igrejas, sondaram, localizaram e recrutaram ativistas religiosos para lançar campanhas com lemas como “liberdade sob a ordem de Deus”.
Franklin Delano Roosevelt [FDR] era o oposto disso tudo.
O seu New Deal era uma resposta intervencionista à crise do liberalismo econômico.
Uma espécie de keynesianismo e social-democracia à americana.
Os “liberais”, na América do Norte, passavam a ser
identificados com os reformistas europeus.
Intervenção governamental nos negócios privados, regulação dos bancos, da indústria, do comércio, leis trabalhistas, políticas de obras públicas, de apoio aos camponeses, etc.
Os empresários mais conservadores rangem os dentes diante do “coletivismo” de FDR.
íntegra:
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/reginaldo-correa-de-moraes/os-evangelicos-norte-americanos-e-politica-ii-como-se-fabrica
*Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes é professor aposentado,
colaborador na pós-graduação em Ciência Política do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
da Unicamp.
É também coordenador de Difusão do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos
sobre Estados Unidos (INCT-Ineu).
Seus livros mais recentes são:
“O Peso do Estado na Pátria do Mercado – Estados Unidos como país em desenvolvimento” (2014) e
“Educação Superior nos Estados Unidos – História e Estrutura” (2015),
ambos pela Editora da Unesp.
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