Pesquisa: 5,3 milhões de brasileiras sofreram abuso sexual ou foram forçadas a fazer sexo contra a vontade

Tempo de leitura: 5 min
Arte: montagem com ilustrações da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”

Da Redação

Nessa segunda-feira, 10/03, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou resultados os resultados da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”.

Entre homens e mulheres, foram ouvidas 2.007 pessoas de todas as classes sociais com mais de 16 anos, em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, incluindo regiões metropolitanas, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025.

Os resultados mostram que 37,5% das mulheres entrevistadas vivenciaram alguma experiência de violência ao longo dos últimos 12 meses.

Isso significa que mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses.

Outros dados revelados:

  • Uma em cada dez mulheres (10,7% do total) sofreu abuso sexual ou foi forçada a manter relação sexual contra a própria vontade no período. Algo em torno de  5,3 milhões de mulheres.
  • Os episódios de violência foram testemunhados por terceiros nos casos de 91,8% das vítimas; quase metade (47,3%) ocorreu na presença de amigos ou conhecidos e 27% na presença de filhos
  • 57% das mulheres ouvidas relatam que as ocorrências mais graves aconteceram em suas residências; cônjuges, companheiros ou namorados são responsáveis por 40% dos casos
  • Mais de 29 milhões de brasileiras (49,6%) foram vítimas de assédio no último ano, maior proporção desde o início da série
  • Apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência no último ano recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio com família e amigos; 47,4% afirmaram não ter feito nada.

Os números reforçam a sensação de que está crescendo no País a violência contra a mulher, observa Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A pesquisa mais uma vez nos mostra que não há lugar seguro para as mulheres no Brasil: em casa, na rua, no trabalho ou no transporte público, em todos os espaços as mulheres estão vulneráveis a situações de violência e assédio”, destaca Samira.

“As iniciativas para frear essa epidemia de violência têm sido insuficientes. Apesar da ampliação do arcabouço legal para proteção das mulheres, não temos visto políticas públicas de proteção tendo prioridade no orçamento público para acessar aquelas mais vulneráveis e que precisam de acolhimento”.

Principais Tipos de Violência

Ofensas verbais: 31,4% das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 17,7 milhões de brasileiras

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⦁ Agressão física: 16,9% das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior prevalência registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres foram vítimas desse tipo de violência

⦁ Ameaças de agressão: 16,1% das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão física, totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas

⦁ Stalking: 16,1% das mulheres foram vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5 milhões de brasileiras

⦁ Abuso sexual: 10,7% das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões de mulheres

Outros Tipos de Violência

⦁ Lesão por objeto atirado: 8,9% das mulheres sofreram lesão em decorrência de um objeto que lhes foi atirado, representando cerca de 4,4 milhões de vítimas

⦁ Espancamento ou tentativa de estrangulamento: 7,8% das mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, totalizando aproximadamente 3,7 milhões de vítimas

⦁ Ameaça com faca ou arma de fogo: 6,4% das mulheres foram ameaçadas com faca ou arma de fogo, afetando cerca de 3 milhões de brasileiras

⦁ Divulgação de fotos ou vídeos íntimos: 3,9% das mulheres tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, impactando cerca de 1,5 milhão de mulheres

Violência com testemunhas

A pesquisa também revela que 91,8% das mulheres que sofreram violência no último ano afirmaram que os episódios ocorreram na presença de terceiros.

Em 47,3% dos casos, quem presenciou foram amigos ou conhecidos; em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes.

De acordo com os dados, os principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros, com 40% das violências cometidas por cônjuges, companheiros ou namorados, e 26,8% por ex-cônjuges, ex-companheiros ou ex-namorados; 57% das mulheres entrevistadas indicaram que a violência mais grave ocorreu em sua residência, seguida pela rua, com 11,6% dos relatos.

Perfil das Vítimas

⦁ Faixa etária: 27,5% das vítimas de violência no último ano tinham entre 25 e 34 anos e 23,4% entre 35 e 44 anos, totalizando 50,9% das vítimas com idade entre 25 e 44 anos

⦁ Perfil racial: Comprovando a desigualdade racial nos números da violência, 64,2% das mulheres vitimadas no último ano eram negras e 28,9% eram brancas

⦁ Natureza do município: 53,6% das vítimas residiam em cidades do interior, e 46,4% em capitais ou região metropolitana

⦁ Existência de filhos: 71% das mulheres vítimas tinham filhos

Atitudes das Vítimas

A principal atitude em relação à agressão mais grave sofrida foi não fazer nada (47,4%).

Outras atitudes incluem buscar ajuda de um familiar (19,2%), procurar amigos (15,2%) e buscar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%) ou em uma delegacia comum (10,3%).

Apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência no último ano recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio com família e amigos.

Ciclo da violência

A pesquisa reforça que os episódios mais graves de violência não são fatos isolados, mas fazem parte de um amplo contexto de abusos físicos e emocionais.

As mulheres ouvidas pelo estudo relatam que, ao longo da vida e no âmbito de relações íntimas, a conduta do agressor incluiu desrespeito e menosprezo de forma reiterada (31,6%), intimidação (30,6%), comportamentos como olhar mensagens no celular ou no computador da mulher sem sua autorização (29,5%), impedir que a mulher trabalhasse ou estudasse fora (17,1%) e até ameaças de suicídio por estarem descontentes com elas (16,4%).

Assédio

Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas. Os tipos mais comuns de assédio incluem:

Cantadas e comentários desrespeitosos na rua: 40,8% das mulheres

Assédio no ambiente de trabalho: 20,5% das mulheres

Assédio em transporte público: 15,3% das mulheres

Agarradas ou beijadas sem consentimento: 9% das mulheres.

Para acessar a íntegra da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” , clique aqui, no site do FBSP.

É uma pesquisa quantitativa, elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aplicada pelo Instituto Datafolha e financiada pela Uber.

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