‘Ladrões’ podem estar ‘roubando’ os seus ossos, previne Gilberto Vieira, professor de Endocrinologia da Unifesp. Aprenda a combatê-los
Tempo de leitura: 4 minPrevenção é a única arma eficaz contra “ladrões” de ossos. Conheça-os e aprenda a se proteger da osteoporose.
por Conceição Lemes
Sabia que osso é órgão extremamente vivo e ativo? E que você forma e perde osso o tempo inteiro? Pois isso é o que acontece ao longo da nossa vida. Com uma diferença: no início, a aquisição de osso supera a perda; depois, ocorre o inverso. Ao entrar no climatério, entre 45 e 50 anos, as mulheres perdem anualmente mais de 2% da massa óssea, devido à redução dos estrógenos, os hormônios femininos. No homem, essa redução acontece aos 65, 70 anos, e não de forma tão drástica.
Consequência: até a velhice é normal perder quase metade da massa óssea (do esqueleto), em especial as mulheres.
É como se o osso fosse um caminhão de areia. É preciso enchê-lo bastante no começo do percurso, já que o material será descarregado aos poucos até o final da viagem. Se não se fizer isso direito e na hora certa, a carga acaba antes. É a osteoporose. A doença leva à perda progressiva da densidade dos ossos, que enfraquecem e ficam mais sujeitos a fraturas. A mais temida é a do colo do fêmur — uma causa importante de internação e óbito entre as mulheres com mais de 50 anos. A mais comum, a fratura vertebral: provoca dor, piora a qualidade de vida e aumenta a mortalidade. No Brasil, a osteoporose afeta cerca 3 milhões de pessoas, das quais 80% são mulheres.
“O principal responsável pela doença é a quantidade máxima de osso atingida por cada pessoa — o chamado pico de massa óssea”, informa o médico endocrinologista José Gilberto Vieira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A carga genética contribui com 60%; os 40% restantes são ambientais.”
O grande pico de massa óssea ocorre dos 10 aos 18 anos. Dos 20 aos 25, atinge-se o patamar máximo. Só que, na infância e na adolescência, “ladrões” podem impedir o caminhão de alcançar a carga ideal, arriscando o futuro ósseo. Da maturidade até a velhice, os “assaltantes” podem esvaziá-lo mais cedo.
“O sedentarismo é um dos grandes ‘ladrões’; em silêncio, ‘rouba’ massa óssea em todas as fases da vida”, alerta Vieira. “E osso perdido não tem retorno; não existe remédio para repô-lo.”
OUTROS “LADRÕES” IMPORTANTES
* Uso contínuo de certos medicamentos — Os corticosteroides são um deles. Empregados em asma, algumas doenças renais e psoríase, por exemplo, por mais de dois meses, mesmo em doses baixas, eles já têm efeito no esqueleto. Atuam sobre o metabolismo ósseo, comprometendo muito a aquisição de massa óssea na infância e na adolescência. Anticonvulsivantes à base de fenobarbital, diuréticos e hormônio da tireóide são remédios que também “roubam” osso.
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* Imobilização por acidente, cirurgia ou outra razão qualquer — Ao ficar imóvel, o organismo “entende” que não precisa muito de osso para manter a estrutura do corpo. O osso, então, vai atrofiando, jogando cálcio fora. E o cálcio é o mineral responsável pelo endurecimento do osso, que é basicamente cartilagem, como a orelha e o nariz. O osso, aliás, só existe por causa da força da gravidade e da musculatura. Tanto que, se a musculatura atrofiar por causa de poliomielite ou acidente vascular cerebral, o AVC, o osso atrofia junto.
* Doenças prolongadas — Por exemplo, câncer, diabetes tipo 1, insuficiência renal crônica e aids. Elas consomem o organismo e “roubam” massa óssea. Com o agravante de que, em várias moléstias, as medicações também são lesivas ao osso, como os imunossupressores usados nos transplantados e os quimioterápicos nos pacientes de câncer.
* Fumo — Estudos sugerem que o tabaco tem ação tóxica sobre os osteoblastos (células formadoras de osso), diminuindo a formação do osso e acelerando a sua reabsorção.
* Alimentos embutidos, enlatados e refrigerantes à base de cola — Em excesso, podem prejudicar, segundo o médico Gilberto Vieira. São muito ricos em fosfato, que não deixa o cálcio ser absorvido.
* Carnes e sódio — Proteína e sal de cozinha em exagero também são ruins para o osso. Induzem à perda de cálcio pela urina.
PREVENÇÃO EM TODAS AS IDADES
A boa notícia é que a osteoporose é perfeitamente evitável. O certo é começar a prevenir aos 5, 6 anos de idade, e não na vida adulta.
“Prevenção é a única arma eficaz contra os ‘ladrões’ de ossos e a decorrente osteoporose”, avisa Vieira. “Tem de se investir tudo na prevenção, e em todas as fases da vida”.
Da infância à terceira idade, a receita para obter e manter ossos fortes e se proteger contra a osteoporose é esta:
* Combater o sedentarismo. A atividade física regular estimula a formação óssea e fortalece a musculatura. Para a criança, basta deixá-la brincar: correr, andar de bicicleta, jogar bola, patinar. Para os adultos, caminhar, correr, andar de bicicleta e praticar dança de salão são ótimos. A natação e a hidroginástica não aumentam a massa óssea, já que a atividade aquática elimina a força da gravidade. Porém, ambas têm efeito na diminuição de fraturas, pois aumentam a mobilidade e a noção de equilíbrio.
* Dieta balanceada e saudável, com moderação nos refrigerantes, enlatados, embutidos, sal de cozinha e carnes em geral.
* Ingestão adequada de cálcio. Leite e derivados são a sua principal fonte. Tanto que, no Brasil e nos Estados Unidos, são recomendados pelo Ministério da Saúde. No entanto, contêm muita gordura saturada, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares. Por isso, pelo menos para os adultos e idosos, há especialistas que acham que os suplementos de cálcio são a melhor maneira de a pessoa na meia-idade ou idosa suprir as necessidades diárias do nutriente, embora os produtos desnatados sejam uma alternativa para quem gosta de leite.
* Livrar-se do cigarro.
Agora, se são inevitáveis as situações que “roubam” osso, principalmente na infância e na adolescência, é vital a prevenção para reduzir o tamanho do “assalto” e, assim, evitar a osteoporose à frente.
“Além de dieta e exposição solar adequadas, é necessária a suplementação de cálcio e de vitamina D para prevenir a perda óssea”, afirma Vieira. A vitamina D é fundamental para o osso. Ela é que faz com que o cálcio seja absorvido pelo intestino e depositado no esqueleto.
Comentários
Márcia Martins
Uma abordagem com uma nova visão e de muita utilidade
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