Fátima Oliveira: Chega de “elefantes brancos”! Postos de saúde precisam funcionar à noite e de domingo a domingo

Tempo de leitura: 2 min

A ociosidade dos equipamentos públicos da rede básica de saúde
O TERCEIRO TURNO E O FUNCIONAMENTO DE DOMINGO A DOMINGO

por Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO
Médica – [email protected] @oliveirafatima_

A garantia do exercício do direito constitucional à saúde é dever, primeiramente, do governo do local, ou seja, do prefeito. Um debate imprescindível na campanha eleitoral municipal de 2012 é a revitalização e a otimização da rede básica de saúde, composta pelas Unidades Básicas de Saúde (antigos postos de saúde), com consultas em clínica geral, pediatria, obstetrícia e ginecologia; e Programa de Saúde da Família (PSF).

É um debate não apenas político (a garantia de um direito), mas com dimensão pedagógica, de educação popular em saúde (garantir acesso ágil e sem distorções ao SUS), assegurando que prefeitos se envergonhem de transformar, na prática, UPAs em “postões de saúde” – a visão de UPA como panaceia – e nem se lixem para a rede básica de saúde com a qual, como esgoto que fica enterrado e ninguém vê, prefeito não se importa, pois não dá ibope!

Conforme as “portas de entrada”, a atenção à saúde é classificada em: atenção primária (rede básica de saúde); atenção secundária (serviços ambulatoriais e hospitalares de média complexidade, incluindo as UPAs); e atenção terciária (ambulatórios e hospitais de alta complexidade e alto custo – urgência e emergência, atenção à gestante de alto risco, especialidades, tais como cardiologia, oncologia, neurologia e atenção ao doente grave).

A importância de compreendermos a missão de cada serviço resulta em maior conscientização na busca do atendimento e em racionalização de investimentos, pois o uso adequado de cada serviço diminui gastos desnecessários. É consenso que uma boa atenção básica resolve em torno de 85% dos problemas de saúde da população. Paradoxalmente, prefeitos preferem “ganhar” UPAs e construir mais hospitais a revitalizar e fortalecer a rede básica, ou seja, habilitá-la para cumprir o seu dever.

Pouco adianta a população entender a missão da rede básica se ela não responder a contento à demanda, seja por inexistência, insuficiência, sucateamento, limitações de diferentes ordens, a saber: profissionais em número insuficiente para atender à demanda de sua circunscrição geográfica; número de consultas/dia muito reduzido; baixa resolutividade, em especial acesso dificultado a exames laboratoriais e de imagens, morosidade na entrega dos resultados, além de um gargalo que nos grandes centros urbanos tem sido muito cruel com a população que trabalha durante o dia: o funcionamento de postos e centros de saúde apenas em dias úteis e em “horário comercial”, das 7h às 17h.

Há anos defendo que o espaço físico da rede básica de saúde precisa ser melhor utilizado para facilitar a vida de quem trabalha e para acabar, de uma vez por todas, com a marca da ociosidade e da má fama de “elefantes brancos”. Nos centros urbanos não dá mais para postergar a ampliação do funcionamento de tais equipamentos, com a criação do terceiro turno de trabalho e até mesmo funcionamento de domingo a domingo.

Tal mudança exige retaguarda ágil para exames laboratoriais e de imagem, porque será de pouca valia assegurar consulta em tempo recorde e deixar os exames solicitados “pendurados na brocha eternamente em berço esplêndido bichado”, como ouvi de uma usuária: “A gente corre para pronto-socorro à toa, com necessidade de outro tipo. Sabe por que eu vim aqui? Eu trabalho; e, como a coceira continua, vim aqui. Não dá faltar para consultar, fazer e buscar exames. Aqui fazem os exames na hora. Por que não há posto que consulta à noite?”.

 

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Comentários

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Mari

Gostei do modo com que Fátima Oliveira aborda a otimização da Rede Básica existente. É uma proposta bem pé no chão e que a justificativa em si diz tudo. Também concordo com o comentário que diz que quem define o horário de trabalho do funcionalismo público é o gestor. O resto é mito.

Rudá

Não funcionam nem meio turno o que dirá 24hs?!
Piada de mau gosto no mínimo.

    Rubens Cardoso Mota

    Caro Rudá, piada de mau gosto por que? Não funcionam nem meio turno? Pois é aí que está o erro. Cabe à prefeitura cobrar cumprimento de horário, se ela não cobra são outros 500 anos…
    Por que na hora em que se fala algo que pode significar ganho real para o povo, aparece um Rudá da vida pra meter a colher podre? Tanto mais que ele mente ao dizer que a Rede Báscica não funciona nem meio turno. Em muitos lugares não. Portanto a generalização é burra e caluniosa.
    Piada de mau gosto é o seu comentário.

    Rubens Cardoso Mota

    Um acréscimo. Não há proposta de a Rede Básica de Saúde funcionar 24, mas tendo um terceiro turno à noite (tipo: 17 ás 21) e aos sábados e domingos.

Rubens Cardoso Mota

Quem decide como será conformada a Rede Básica de Saúde é o prefeito, como tambén é ele quem contrata, quem faz concursoe define horários de funcionamento. Cum prir horário é uma obrigação do funcionário e fazer cumprir horário é uma obrigação do secretário de saúde. Deixemos de lado os estereótipos sobre quem trabalha, quem não trabalha, quem cumpte horário e quem não cumpre; serviço
de saúde esculhambado é culpa do gestor e não de funcionários, bons ou relapsos. De acordo com a melhor utilização dos equipamentos da Rede Básica de Saúde.
E aparece gente sim para trabalhar em qualquer lugar. Quando Luiza Erundina foi prefeita de São Paulo, havia uma complementação salarial para todos os profissionais de saúde, chamada de verba deslocamento, que era muiuto atrativa e todo mundo queria trabalhar em lugares distantes.

Antonio R.

Drª Fátima de Oliveira, concordo plenamente com a sua posição e também não descarto as posições dos colegas Almir Macedo, strupicio e Marci. Infelismente nos deparamos com os bons e maus profissionais em todo ramo de trabalho. Isso é um problema cultural gravíssimo que perdura a séculos e vivemos as consequências disso. O ser humano é imprevisível e complexo em todo o seu contexto diário e, em se tratando de dinheiro e ociosidade, na maioria das vezes corrompível. O sistema é corrupto desde o maior patamar da administração pública e também privada. As excelentes idéias aqui no Brasil só frutificam quando existe um interesse financeiro ou de poder por trás. Gostaria muito que essa e outras excelentes posições fossem absorvidas pela população e administradores mas, como estamos em ano político, pode-se esperar de tudo daqueles que almejam o poder.

    Rubens Cardoso Mota

    Antônio R. Não sei o que pensa a dra. Fátima Oliveira sobre suas colocações, mas escrevi um comentário a respeito que espero ter dialogado com você.

Almir Macedo

Opinião muito boa. Se a Rede Básica pode resolver até 85% dos problemas de saúde do povo ela deve funcionar em abundância, até como medida de evitar gastos desnecessários em upas, ps, hospitais. Acho que esses prefeitos são uns burros. Ou não sabem fazer contas.

strupicio

isso nao existe..médico so trabalha quando quer…e geralmente nao quer..e ninguem manda neles

    Luc

    Realmente os médicos e todos os outros brasileiros trabalham quando querem, a abolição ocorreu em 1888. Escravidão é ilegal.
    Agora compromissos com o trabalho todos empregados possuem. Médicos não estão acima de nenhum outro trabalhador.
    Coisas óbvias.

    De onde vc veio heim Strupicio(sic)?

Marci

Aqui onde eu moro, esse horario de funcionamento é pura ilusao.
O medico passa num concurso pra trabalhar 20 h semanais, mas, vai ao posto 2x/semana, atende 20 pctes na maior pressa e vai embora!
Ah, o salario é pouco? E nao estava no edital do concurso? Vc so ficou sabendo depois?
Penso que a classe medica, assim como o judiciario, sao intocaveis no Brasil, acima do bem e do mal. Agem como querem sem a menor preocupacao de serem punidos!!

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