Precisamos falar sobre Suicídio

Tempo de leitura: 2 min
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Por Marco Aurélio Mello

Tânia Rêgo/Agência Brasi

Rio de Janeiro –  Ato na orla de Copacabana  marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O evento faz parte da campanha Setembro Amarelo, que pretende informar para prevenir e estimular as pessoas a buscarem ajuda psiquiátrica. Tânia Rêgo/Agência Brasil, via Fotos Públicas

por Marco Aurélio Mello

Há uma ditadura nos meios de comunicação no Brasil.

A ordem é não noticiar casos de suicídio.

O argumento é o de que toda vez que um suicídio ganha as manchetes, outras pessoas são encorajadas a fazer o mesmo.

Haveria aí o componente da glamourização, da publicidade.

Ora, seguindo o mesmo raciocínio, então não devíamos divulgar crimes hediondos, nem sequestros, muitas vezes transmitidos ao vivo, em tempo real, certo?

O suicídio é mais comum do que imaginamos.

Só de pessoas conhecidas foram dois, em menos de doze meses.

Há outras tantas tentativas que tive notícia, mas que não chegaram a ser efetivadas.

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Se por incompetência do autor, ou apenas para chamar a atenção pouco importa.

O que leva a pessoa a tirar a própria vida?

Há várias hipóteses.

Pode ser uma obsessão, uma grande desilusão; um desequilíbrio psíquico ou, simplesmente, um gesto heroico, de coragem.

Isto mesmo, coragem.

Não estou querendo com isso enaltecer o gesto, longe de mim.

Só reconheço que é preciso de coragem para por fim à própria vida.

Por quê?

Porque o medo da morte é o que faz a gente viver.

Quando a gente desiste de viver é porque não vemos mais sentido em estar aqui e antecipamos a única certeza que temos, a de que vamos morrer.

No último fim de semana uma jovem de 30 anos, conhecida minha, foi encontrada morta em seu apartamento, em São Paulo.

Em respeito à família, aos amigos e à ela própria não vou divulgar sua identidade.

Posso testemunhar que ela carregava uma enorme tristeza, algo que nem ela sabia direito explicar porque.

Passou por tratamentos e acompanhamento médico.

Pode ser que fosse herança genética?

Pode, mas isso não é razão para que as pessoas da família se culpem.

Não há culpados, porque não há crime.

O que posso dizer é que todo nosso silêncio em torno do tema não a ajudou.

E, ao contrário dos ditadores da imprensa, não nos ajudará nunca.

Temos sim que falar sobre o suicídio.

Temos sim que tentar entender o que leva determinadas pessoas a agir de forma extrema.

Porque se houver um padrão de comportamento ele deve ser conhecido e estudado.

Ainda que, em respeito aos que optam por tirar a própria vida, venhamos a aceitar o suicídio passivamente no futuro.

Leia também:

Marilena Chauí: Sobre a destruição da democracia

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Marco Aurélio Mello

Jornalista, radialista e escritor.


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Comentários

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Emanuel E Hermano

Em um estado verdadeiramente democrático o suicídio deveria ser algo assistido e legalizado pelo poder constituído. O cidadão deveria poder arbitrar sobre a própria morte livremente. Num mundo melhor teríamos muito menos casos de suicídio, porém, no inferno em que vivemos, a tendência é que tais casos aumentem a cada ano.

    Marco Aurélio

    Concordo.

Marcia Matos

Pois é Marco Aurélio, não se trata de crime nem culpados, mas de compreender esse mal estar que devasta com a perspectiva de vida de um sujeito e que atinge a todos como um estilhaço de longo alcance. Um suicida diz de uma crise profunda entre o que se deseja e o que se julga possível realizar. Que impotência é essa que as sociedades vem gerando, alimentando, reproduzindo? Será que não temos todos um pouco haver com isso? Divulgar índices altos e constantes de suicídios significaria também termos de admitir que algo nessa “ordem social” não vai bem. Não se trata este espaço entre os que tiram a vida e os que olham pra vala. Esse lugar permanece em silêncio. E ganha amplitude cada vez maior. Poderia ser o motor para uma reflexão e diálogos sobre os que ficam. Os que permanecem. E que, atingidos de alguma forma, pudessem fazer algo a respeito. Tenho um livro lançado recentemente aqui em Sao Paulo pela editora Patuá, que trata sobre isso, chamado O vento que varre a Casa e que será debatido em setembro no CRP/sp. Este trabalho foi feito como forma de poder trazer para o diálogo o que tem sido do âmbito do silêncio e do trágico. Quem tiver interesse, pode saber mais na pagina do facebook O vento que varre a casa – Marcia Matos ou http://www.editorapatua.com.br

    Marco Aurélio

    Obrigado, Marcia.

João Lourenço

Perfeita observação e é uma coisa que precisa ser discutida pra valer nos meios de comunicação .Até uns anos atrás não tive isso preto de mim ,mas recentemente soube de filhos de amigos meus que infelizmente se foram.Os país acabaram reconhec ndo que faltou diálogo e amizade entre eles .Parabéns por sinalizar !

    Marco Aurélio

    Obrigado, João.

FrancoAtirador

SUICÍDIO DE JOVENS: UMA DAS TRAGÉDIAS
DAS SOCIEDADES DE CONSUMO DE MASSA

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde
mostram que o índice de suicídios cresceu 12%
entre 2011 e 2015 no Brasil.

Segundo a pasta, esta é a quarta maior causa
de mortes entre jovens de 15 e 29 anos no País.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513
https://www.unesp.br/aci/revista/ed13/com-saida
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2017/09/numero-de-suicidios-aumentou-12-no-brasil-mostra-ministerio-da-saude.html

Nonato Menezes

Boa crônica e apropriada para ajudar a acusar o silêncio sobre o tema. Só discordo da expressão: “Porque o medo da morte é o que faz a gente viver.” Não é o medo da morte que carrega a vida. A morte é contingente. A vida é uma “abstração da natureza” que ninguém escolhe começar, nem o fim a ter, sequer o caminho a fazer. Viver, talvez, tenha motivos naturais, mas não tem “razão humana” para acontecer. Logo, ninguém vive por querer, nem evita a morte por temer. Nasce-se, vive-se e morre-se em “momentos de descuido”. E isso não se entende e nada há que se possa compreender.

    Marco Aurélio

    Ótima reflexão. Obrigado.

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