Por Marco Aurélio Mello
por Marco Aurélio Mello
Deve haver dentro da cabeça das pessoas uma chavinha, dessas que vira para um lado e para o outro.
Não é possível!
Se a história nos ensina a não repetir os mesmos erros, por que o fazemos?
Desconhecimento?
Omissão?
Maldade?
Violência gera violência.
No entanto, assistimos à escalada da violência pelas mãos do Estado e silenciamos como que consentindo.
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Vejamos a classe média, que foi para as ruas de amarelo pedindo o impeachment da presidenta eleita, por exemplo:
Será que no fundo, bem no fundo, ela não sabia que estava se aproveitando de uma oportunidade para impor sua vontade, já que não foi vitoriosa nas urnas?
Como pode esta mesma classe média agora fazer o caminho de volta?
Não pode.
Seu ódio não lhe permite ser justa.
Por isso, esta será aquela pessoa que vai desqualificar a vítima, quando receber notícia como a de ontem, da execução da vereadora Marielle, do PSOL.
– Também, quem mandou ela mexer com o crime organizado?
“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.”
Quem diz isso não sou eu, é uma das maiores pensadoras do século XX, Hannah Arendt.
Arendt, que em 1961 assistiu ao julgamento do carrasco nazista Adolf Eichmann, a convite da revista New Yorker, mostra como aquele monstro sanguinário ao longo do processo se “transformou” em um funcionário sem brilho, capaz de cumprir ordens apenas, sem refletir sobre a gravidade dos seus atos.
É em nome do individualismo, esta chaga do capitalismo, que muitos fecham os olhos para os abusos e bajulam aqueles que nos oprimem.
Mas não nos esqueçamos que abrir mão da crítica e abdicar de pensar também é um crime.
A filósofa e escritora judia de origem alemã desenvolveu um conceito que chamou de “banalidade do mal”.
A massificação da sociedade pelas vias do consumo e, acrescento eu, pelo caráter absolutamente alienante da TV, criou um monstro, uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais.
Por esta razão aceita e cumpre as ordens sem questionar.
Portanto, o mal do carrasco está em todos nós, em cada um dos funcionários zelosos, incapazes de dizer não diante do absurdo que se avizinha.
Até que o mal se torna algo corriqueiro, banal.
Bem-vindos ao Estado de exceção.
Nós já estamos nele.
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.
Comentários
joaoP
Excelente texto, Marco Aurélio; obrigado. Por gentileza, poderia me informar em que contexto foi tirada essa foto da matéria?
Marco Aurélio
Execução de judeus por alemães durante o nazismo.
Edgar Rocha
Acabei de ver a matéria da Globo no JH. Quanta hipocrisia. Que raiva que dá. Quanta manipulação, quanta cara de pau, da Globo e das autoridades que se manifestaram. Até falam em execução, mas jamais ligam os fatos à intervenção, jamais falam da corrupção institucional como a grande promotora do crime organizado. Jamais colocam a polícia na berlinda, mesmo admitindo que quem matou Mariele sabia do riscado. Fato isolado, fato isolado. Sempre. Maçã podre, etc. etc. Qualquer policial do país sabe muito bem legitimar os excessos com discursos evasivos, não admitem jamais que se critique a corporação, sempre tratam o cidadão como subordinado e inferior. Aí, vem a imprensa e critica o despreparo das polícias. Qual quê! Esta gente é muito bem preparada pra este fim! E cotidianamente a naturalização do abuso institucional e discurso subliminar de culpabilização da periferia forçam o cidadão da quebrada a se encaixar no cangaço pra sobreviver. Saltar deste processo para uma autêntica síndrome de Estocolmo é só um pulinho. O PM e o traficante são tratados como deuses e ambos se relacionam muito bem. Não precisa muito para se naturalizar o paralelismo institucional amplo e irrestrito.
A única pergunta que faço, com uma raiva da qual me recuso a abrir mão é a seguinte: por que as chamadas forças progressistas nunca reconheceram a questão da segurança pública e do avanço do crime organizado, bem como a ausência do estado de direito nas periferias como demandas sociais legítimas, denunciáveis e prioritárias.
Ao contrário. Não vou nem me estender muito pra não começar a me irritar mais.
Marco Aurélio
Boa pergunta, Edgar.
Pode ser medo?
Tendo a acreditar que sim.
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