Fátima Oliveira: Sem misericórdia para com as Santas Casas

Tempo de leitura: 3 min

Sem misericórdia para com as Santas Casas brasileiras

Vivem passando o pires, sob a alegação de que vão fechar

Fátima Oliveira, em O TEMPO
[email protected] @oliveirafatima_

Defendi, no Twitter, o #PelaEstatizaçãodasSantasCasas, por conta dos prováveis roubos na Santa Casa do Rio de Janeiro.

Para o desembargador Gama Malcher, “Foi um rombo monstruoso”: o provedor Dahas Zarur vendeu 248 imóveis da instituição, inclusive túmulos nos cemitérios que controla, e ficou com a grana (O Globo, 5.3.2014).

Dahas Zarur foi para a Santa Casa do Rio de Janeiro em 1953; lá virou advogado e administrador de empresa; em 1967, chegou a diretor geral; e, em 2004, a provedor. Disse o desembargador: “É inacreditável… Nos contam histórias de arrepiar. O dinheiro saía da Santa Casa em sacolas de supermercado”. Os fatos colocam sob suspeição a administração das Misericórdias do Brasil, que merecem uma devassa, pela importância que elas têm para o SUS.

Há indícios de falcatruas em demasia, desde que algumas são propriedades familiares às eternas declarações de contas no vermelho: “passam o pires”, desde o Brasil Colônia, no governo – uma contradição, pois não há provedor de Santa Casa pobre, em geral são muito ricos e elas, um sumidouro de dinheiro público!

Foram criadas, em 1498, pela rainha d. Leonor de Lencastre, viúva de d. João II, inspiradas nas Santas Casas da Misericórdia de Florença, fundadas em 1244 por são Pedro Mártir. Sob o compromisso das 14 obras da misericórdia, eram instituições privadas laicas, porém cristãs, e caritativas, para assistir a pobres doentes e presos, expandidas depois para cuidar de crianças órfãs e abandonadas.

Nos primórdios, administradas pelos irmãos da misericórdia (Irmandade ou Confraria da Misericórdia), porém com manutenção da caridade pública e dos governos. O governo português delegou às Santas Casas o direito e controle único dos jogos de azar, chegando ao século XX donatárias de vultuosos recursos das loterias. Em solo português, são cerca de 400, excluindo a de Lisboa, estatizada em 1843, talvez por falcatruas! A ideia aportou no Brasil em 1543, quando Braz Cubas fundou a Santa Casa de Misericórdia de Santos!

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O site da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) afirma que hoje elas “somam mais de 2.500 e são responsáveis por cerca de 50% dos leitos hospitalares do país”. A CMB existe desde 10.11.1963 e a Confederação Internacional das Misericórdias, desde 1978, pois estão na Índia, China, nas Filipinas, no Japão e são mais de 400 na Europa.

Ventila-se que as Santas Casas respondem por 50% da assistência à saúde pelo SUS. Sem elas, o SUS ficaria em maus lençóis! Não entendo: recebem pelos serviços prestados ao SUS, têm as isenções tributárias da filantropia e contas perdoadas pelo governo. A maioria vive na Justiça do Trabalho, herança do modus operandi na escravidão: eram senhoras de escravos e recebiam muitos de doações. É a cultura de não pagar pelo trabalho necessário. Jamais pediram perdão!

Escrevi em “Paralelos entre o SUS e a tragédia de William Shakespeare”: “Ninguém nega que, por aqui, abaixo de Deus, só as Santas Casas. Mas vivem passando o pires no governo, sob alegação de que vão fechar as portas. Isso tem nome, que nem preciso dizer… Tem razão o meu leitor: tais instituições não são mais de caridade; recebem por procedimentos feitos – aquilo que você já ficou rouca de dizer: o grande mérito do SUS foi acabar com o indigente da saúde. E é verdade: não há mais indigentes, há perambulantes…” (O TEMPO, 23.8.2011). Sem dúvida, há algo de podre no reino das Santas Casas a exigir providências, inclusive divina.

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Comentários

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Vilma Brandão

Dahas Zarur, de samaritano à pilantra
Jorge Schweitzer

Quando cheguei ao RJ, há 40 anos, Dahas Zarur era decantado como um samaritano elevado a condição de novo messias…

Na rádio Globo eu estava os prodígios caridosos do Zarur eternizado como santo irretocável…

A cada vez que um ouvinte carente se dizia acometido de alguma moléstia o apresentador ligava, ao vivo, para o Zarur que aviava o doente para atendimento aos médicos da Santa Casa…

Transparecia que Zarur era tão caritativo que enfiava dinheiro do próprio bolso para bancar a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro…

Todos locutores da Globo anunciavam e repetiam exaustivos que Zarur doava seu tempo e energia em prol dos pobres sem receber um centavo em troca…

Na própria página de hoje da Santa Casa, Dahas Zarur é descrito como protetor de criancinhas…

Dahas Zarur construiu, na surdina, uma fortuna difícil de calcular o valor…

A Santa Casa de Misericórdia do RJ está falida e dilapidada enquanto Dahas Zarur está rico…

Dahas Sarur tem mãos trêmulas, pernas bambas e sua memória, apesar de firme, não recorda mais quantas propriedades comprou a custas de safadeza…

Muitos morreram nos corredores por carência de recursos da Santa Casa enquanto Dahas Zarur roubava amiúde…

Dahas Zarur não irá para a cadeia apesar de pilhar até sepulturas…

Dentro de poucos dias Dahas Zarur morrerá e seus filhos e netos herdarão sua fortuna incalculável construída sobre os cadáveres da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro…

Dahas Zarur é destas figuras abjetas glorificadas pela Globo que somente a democracia da Internet recontou seu verdadeiro curriculum de bandido…

http://taxiemmovimento.blogspot.com.br/2013/08/dahas-zarur-de-samaritano-pilantra.html

Vilma Brandão

Sobre Dr. Dahas Chade Zarur

Advogado, administrador, Professor, jornalista, conferencista e escritor. Diplomado em Direito pela Faculdade do Distrito Federal, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Foi articulista do Diário de Noticias, colaborador de O Dia, O Globo, Jornal do Comercio, entre outros. Foi Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa.
Como Professor foi laureado com o título de “Doutor Honoris Causa” da Universidade Gama Filho.

Membro da Academia Nacional de Medicina, Sindicato dos Escritores, Academia Carioca de Letras, Academia Guanabarina de Letras, Pen Club do Brasil, Academia Duquecaxiense de Letras, entre outras.

Publicou diversos livros, destacando-se as obras sobre as unidades da Irmandade da Santa Casa. São mais de 17, nas quais pesquisou e apresenta a trajetória de todos os estabelecimentos pios, com destaque para a Mordomia dos Presos. Neste volume é contada a história do nascimento da justiça gratuita no Brasil. Em “A Vida dos Mortos” Dr. Zarur relata rituais funerários de diversos povos.

Fez inúmeros cursos de extensão, especialização e aperfeiçoamento, inclusive na área administrativa. Ingressou na Santa Casa em 1953. Passou por diversos setores até chegar a Diretor Geral em 1967. Foi Mordomo do Contencioso e Escrivão da Irmandade. Grande conhecedor da história da Santa Casa do Rio de Janeiro e atuante Irmão, assumiu a Provedoria em 2004.
Sempre atento às novidades e melhorias que possam dinamizar mais ainda a atuação da Santa Casa.

Obras publicadas:
• COLÔNIA, Império e República
• Hospital Geral
• Hospital São Zacharias
• Hospital Nossa Senhora das Dores
• Hospital Nossa Senhora da Saúde
• Hospital Nossa Senhora do Socorro
• Hospital São Zacharias
• Repouso Santa Maria-São Manoel
• Educandário Romão de Mattos Duarte
• Educandáro Santa Teresa
• Educandário da Misericórdia
• Um Santo fundou a Santa Casa – Anchieta
• Cemitérios
• A Vida dos Mortos
• Vidas Preciosas
• Mordomia dos Presos – Tiradentes
• Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso
• Capela Nossa Senhora da Misericórdia – Capela Imperial

http://www.santacasarj.org.br/pal_curriculo.htm

Enedina Xavier

As Santas Casas não fazem caridade, são empresas que visam lucro como qualquer outra empresa médica.
Acontece que elas recebem mais que as outras empresas porque não pagam impostos, recebem doações e como disse a autora vivem passando o pires no governo e na sociedade.
O governo é refém das Santas Casas, mas deveria criar vergonha e tomar a atitude de não aceitar ser chantageado.

m.a.p

Vergonha é espetarem a conta da quebra da Varig nas costas do povo brasileiro.
Enquanto isso para as Santas Casas ” aqui Óoooooooooooo!

Marta D.

As Santas Casas precisam de uma auditoria pente fino. Acho que nenhuma é FICHA LIMPA

Hospitais suspeitos de atrasar cirurgias oncológicas em BH
MPMG apura se unidades filantrópicas teriam adiado procedimentos para beneficiar empresas

É de arrepiar até quem não tem cabelo!!!!
http://www.otempo.com.br/cidades/hospitais-suspeitos-de-atrasar-cirurgias-oncol%C3%B3gicas-em-bh-1.806835

Edson Paz

As Santas casas precisam ser moralizadas; devem passar para as mãos do Estado brasileiro.

    Luciano Rosa

    Claro, Edson, tudo aquilo que permite ganhar dinheiro de forma ilícita deve passar às mãos vorazes dos políticos que dominam o Estado.

Mauro Assis

Porque não privatizar, em vez de estatizar?

    Edson Paz

    AS Santas casas já são privatizadas, meu chapa; são instituições privadas filantrópicas, ou seja ZERO de imposto, mas parece que pedem ZERO de obrigações trabalhistas, como quando tinham escravos

Vlad

Nisso que dá terceirizar a saúde.

carlos-fort-ce

estatizar, meus amigos, tudo bem, contanto que se tenha em vista a racionalização dos serviços prestados pelo sus evitando a sua superposição.
antes fazer uma devassa e dá nomes aos bois nessa pouca vergonha que de misericórdia não tem coisa nenhuma.

Apavorada com a cara-de-pau humana.

Gente: Os novos não se lembram, mas os hospitais, lá pelos 80,90 nem só as Santas casas,atendiam os mendigos tipos uns 3, e no final do mês faziam mutirão para preencher fichas falsas e enviar ao INPS (INSS antigo ou parte deste) e assim os governos pagavam sem fiscalizar. Milhões e vários governos. Até que um dia a coisa ficou apavorante.
Daí criaram o outro tipo de atendimento. Imediatamente perguntei na NET quem iria fiscalizar. Nunca vi resposta de governos vários em nenhum lugar. Óbvio que se roubavam antes, uma simples mudança do nome do convenio não os faria
parar de roubar. Venho falando sobre isso sem resposta desde que a NET chegou ao Brasil. Pelo jeito é geral, e interessa a muita gente.

    Apavorada com a cara-de-pau humana.

    E havia hospitais de médicos chiquetões classe média, como sempre, envolvidos,

    Apavorada com a cara-de-pau humana.

    Lembrei mais isto:

    Um dia, antes do governo Lula, e bem poderia ser governo Sarney mas não me lembro – telefonei pra um faleconosco do governo para denuncia de corrupção. Delatei ao menos um caso, antes de terminar minha fala a linha caiu. Daí minha ficha também caiu e não tentei outra vez.

Apavorada com a cara-de-pau humana.

O Zarur fugiu?

E quem era Alziro Zarur? da LB ? Era parente deste ou nada tem a ver?

    Apavorada com a cara-de-pau humana.

    Acabo de ver que há mais coisas na NET.

    Apavorada com a cara-de-pau humana.

    Que houve sim, pedido de prisão mas foi negado.

ricardo silveira

Mais uma das mazelas do Brasil, As Santas Casas que de misericórdia nada têm. Ingenuamente imaginei que com a participação popular por meio das Conferências de Saúde, que vieram junto com a criação do SUS, a questão do mau atendimento à saúde dos brasileiros seria resolvida. Que nada, a descentralização do planejamento para os municípios apenas tornou a saúde um saco sem fundo de recursos públicos e o que se assiste, longe da melhoria da saúde, é a aberração de uma desumanidade absurda com a população que precisa de atendimento. E assim segue sem culpados, melhor, o culpado é sempre o governo, qualquer governo.

Isabela

Eu sempre digo isso: as Santas Casas são uma vergonha nesse país. Abram a caixa preta e o que há de mais pobre vai sair e fedendo muito. Conheço casos de vereador que foi eleito por ser assistente social da Santa Casa e consegue votos por que consegue leitos: compra de voto pura e simplesmente, barganhando um direito de qualquer cidadão. Por aqui, a entidade passa o velho livro de ouro e o jornal publica a foto da entrega do livro pelos bons homens da cidade. É tão retrógrado, tão demodê que sinto nojo…

FrancoAtirador

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Finalmente! Uma pessoa qualificada da área médica

denuncia no Brasil essa imoralidade na área da Saúde.

Santas Casas são a infecção hospitalar nacional.

“Recebem pelos serviços prestados ao SUS,
têm as isenções tributárias da filantropia
e as contas perdoadas pelo governo.
A maioria vive na Justiça do Trabalho.”

Verba estatal, a fundo perdido, indo pelo ralo insalubre.

A União deveria promover a intervenção nas Santas Casas,

e imediatamente instaurar processos de desapropriação,

deixando a administração ao encargo das Prefeituras.

Para começo de conversa. Os pequenos municípios agradecem.
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Claudio-SJ

até porque se estatizar o roubo acaba, né?

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