Seminário: Como a ditadura moldou o Brasil contemporâneo

Tempo de leitura: 3 min

enviado por Andre Roschel, via e-mail

O golpe brasileiro ainda não foi suficientemente acusado. O Brasil é o único país sul-americano onde torturadores nunca foram condenados. Não houve justiça de transição.

Em 2008, passados 20 anos da promulgação da Constituição vigente, pesquisadores reuniram-se na USP com o objetivo de discutir as heranças autoritárias deixadas pelo regime civil-militar de 1964. A pergunta que se formulou na ocasião e que batizaria o livro dela decorrente, “O que resta da ditadura?”, ensejou que fossem postas em questão as formas encontradas pela ditadura para permanecer em nossa estrutura jurídica, nas práticas políticas, na violência cotidiana e em nossos traumas sociais.

Seis anos se passaram, mas a questão não só permanece como se coloca de maneira mais urgente. O fato, entretanto, não se deve à mera proximidade da data histórica em que o golpe completa 50 anos. Por um lado, assistimos nesse entretempo a repugnante intensificação da violência de Estado, que, se jamais foi completamente extinta, tornou-se escancarada pela resposta dada às manifestações populares que tomaram as ruas desde junho. Por outro, tomaram corpo desde então, como prova a proliferação de Comissões da Verdade em diversas instituições brasileiras, esforços notáveis em revolver o solo de brutalidade política em que se assenta nossa experiência contemporânea.

Unindo-se a esses esforços, o Centro Acadêmico de Filosofia da USP, com apoio da Boitempo Editorial, propõe outra ocasião para pensar sobre esse engodo de transição em que nos metemos desde que os militares saíram do poder. Trata-se do seminário “50 anos do golpe: legados da Ditadura que moldaram o Brasil contemporâneo”. Além do ciclo de debates que, às quintas-feiras, reunirá diferentes perspectivas de pesquisadores, ativistas, cineastas e estudantes envolvidos com a questão, serão exibidos, na véspera, filmes que antecipam o tema da mesa do dia seguinte.

DEBATES

27 FEV |

A repressão na cidade e no campo: os trabalhos da Comissão da Verdade com Ivan Seixas (Comissão Estadual da Verdade), Tatiana Merlino (Comissão Nacional da Verdade – CNV) e Larissa Bombardi (USP/CNV)

6 MAR |

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Transição e justiça com Fábio Venturini (PUC) e Edson Teles (Unifesp)

13 MAR |

O empresariado e a ditadura (quem encomendou o serviço) com Maria Aparecida de Paula Rago (PUC), Rodolfo Machado (PUC/CNV) e Projeto Memória da Oposição Metalúrgica de SP

20 MAR |

Partidos políticos e transição na América Latina com Lincoln Secco (USP) e Osvaldo Coggiola (USP)

27 MAR |

Cinema e transição com Rubens Machado (USP), Rubens Rewald (USP), Rossana Foglia e Thiago Mendonça (Cordão da Mentira/Coletivo Zagaia)

3 ABR |

A atualidada da violência de Estado: uma transição desenhada para não terminar com Paulo Arantes, Dario de Negreiros (Margens Clínicas), MPL, MTST, Mães de Maio e Metroviários + Lançamento do livro O que resta da transição, org. de Milton Pinheiro, pela editora Boitempo.

MOSTRA DE FILMES

26 FEV |

Você também pode dar um presunto legal, de Sérgio Muniz [1971, 39 min.]

Brazil, a Report on Torture,de Saul Landau & Haskell Wexler [1971, 60 min.]

12 MAR |

Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski [2009, 93 min.]

19 MAR |

Rua Santa Fé, de Carmen Castillo [Chile, 2007, 163 min]

26 MAR |

Corpo, de Rossana Foglia e Rubens Rewald [2007, 90 min.]

Blablablá, de Andrea Tonacci [1968, 32 min.]

2 ABR |

Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós [2014, 90 min.]

Ninjas, de Dennison Ramalho [2010, 25 min.]

Leia também:

Bruno Gilga: Tropa do Braço viola direito à livre manifestação

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Leo V

Documentário do Carlos Pronzato, saído do forno, sobre o MPL-SP.

Para quem quer entender mais sobre o assunto.

http://www.youtube.com/watch?v=UNBm-dt2LRs

A história e as ações do Movimento do Passe Livre – SP. Um desdobramento do A Partir de Agora – as Jornadas de Junho no Brasil.

Direção, roteiro e concepção: Carlos Pronzato
Direção de produção: Cristiane Paolinelli
Edição: Juca Badaró
Edição: abertura, teasers e pesquisas de imagens adicionais: Richardson Pontone
Trilha: Apanhador Só – “Feliz 2014” , El Efecto – “Pedras e sonho” , Anthrax “in to the end”

Realização: Lamestiza Audiovisual

Brasil, fevereiro de 2014.

    Mário SF Alves

    Leo,

    Leo,

    Não vejo a hora de assistir o “A história e as ações do Movimento do Passe Livre – SP”, conforme sugerido.

    Antes, se possível, e francamente, gostaria de lhe dizer que:

    Fico em dúvida se você tem certeza de que não está idealizando esse auê contra tudo o que aí está; esse auê travestido de #nãovaitercopa visando ferrar com a ordem vigente. Tem certeza de que o Leo não está sendo atropelado por este Leo V ansioso e apaixonado por este “movimento” que tanto corta de um lado como pode (o mais comum em se tratando de Brasil) serrar do outro? Tem certeza de que tem se dado ao trabalho de tentar fazer uma avaliação correta sobre a sequência de atrasos e reações antibertárias que tem sido essas tais primaveras?

    Sei que você já demonstrou ser cético quanto ao fato de golpes de estado necessariamente desembocarem em ditaduras, mas, e quanto ao que aconteceu na Líbia, você entendeu e/ou concordou com aquilo que aconteceu lá?

Julio Silveira

O Brasil é um pais sui generis. Aqui criminosos costumam ter mais direitos legais que o cidadão vitima, que sempre ficam obrigados a arcar com os próprios prejuízos, por que o estado, com seus sistemas capengas e viciados fazem pouco e acreditam que a cidadania por sua vez deve se contentar também com esse pouco, como se isso devesse ser a coisa mais natural no mundo. As vezes, e não são poucas, a cidadania paga com a vida sendo que a conta desse grande prejuízo fica por conta apenas da vitima, ainda hajam choros e velas. Aqui a policia costuma recomendar ao cidadão a não reação ao delito e aos delituosos. Que se ande sempre com numerarios a mão para facilitar a vida do “cidadão” ladrão, para ele não sentir-se ofendido e cometer alguma represália contra o indignado otário. Faz isso, face a conhecida inoperância no cumprimento de seu papel constitucional. Em nosso país as leis são projetadas para promoverem o engessamento da cidadania, ser auxiliar na cultura da covardia nacional, pelo cidadão de bem, para minar a inteligencia e o sentimento critico. Alguns poderão dizer que viajei na maionese, que os assuntos não são correlatos, mas são no meu entender. A cidadania nacional é culturalmente adestrada para se acovardar ante seus infortúnios, para se resignar ante os mal feitores. E, geralmente, quando se indigna não foi por causas naturais, mas provocadas para atender algum interesse. Acabam manipuladas, dirigem sua fúria de forma a atender aos interesses de algum grande espertalhão nacional e geralmente contra os próprios. E ai esta a grande correlação, a covardia e a acomodação nacional, que beneficiam os infratores em todos os níveis.

Leituras

DITADURA E DEMOCRACIA RESTRITA: A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE DESCOMPRESSÃO CONTROLADA NO BRASIL (1972-1973), Rejane Hoeveler, Instituto de História CFCH-UFRJO rientador: Prof. Dr. Renato Luís do Couto e Lemos Rio de Janeiro2012, http://www.academia.edu/3563103/Ditadura_e_democracia_restrita_a_elaboracao_do_projeto_de_descompressao_controlada_no_Brasil_1972-1973_

O SATÂNICO DOUTOR GO: A IDEOLOGIA BONAPARTISTA DE GOLBERY DO COUTO E SILVA, Vânia Noeli Ferreira de Assunção, Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Sociais, sob orientação da Profª Drª Vera Lúcia Michalany Chaia, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1999 ,
http://www.verinotio.org/di/di17_golbery.pdf
DE CASTELLO A FIGUEIREDO UMA INCURSÃO NA PRÉ-HISTÓRIA DA “ABERTURA”, Sebastião C. Velasco E. Cruz, Carlos Estevam Matins, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 8-90.
http://books.scielo.org/id/b4km4/pdf/sorj-9788599662632-03.pdf

ricardo silveira

O Brasil não pode continuar adiando esse enfrentamento com a verdade. Essa covardia já custou muito ao Brasil que se quer democrático e para todos. A Globo, por exemplo, é claramente fruto da Ditadura, apoiou, se beneficiou, foi porta-voz e agora diz que foi um erro. Mas continua monopolizando a comunicação, o que é inconstitucional, atuando como partido político de oposição e o Ministério das Comunicações nada faz.

FrancoAtirador

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A imprensa brasileira em cinco títulos

Livros retratam as experiências de jornalistas e a imprensa no Brasil

Por Maria do Rosário Caetano, de São Paulo, no Brasil de Fato

‘A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil na Queda do Governo Goulart (1961-1964)’, publicado em 2010,
e ‘O Caso Última Hora e o Cerco da Imprensa ao Governo Vargas’ (2012),
ambos de autoria de Aloysio Castelo de Carvalho, editados pela Nitpress-EdUFF, estão disponíveis nas livrarias e no site da editora da Universidade Federal Fluminense.

O primeiro tem prefácio de Maurício Azedo e “orelha” de José Silveira.
Azedo, depois de constatar que o livro não traz “qualquer réstia de tom panfletário”, comenta:

“Carvalho faz serena análise dos textos sob um viés estritamente político, sem chamar a atenção para o tom raivoso e feroz com que estes escritos (em especial os de Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, mas não só) buscaram, com êxito, envenenar a opinião pública da qual se diziam porta-vozes.
Essa serenidade é um dos muitos pontos altos deste trabalho, que enriquece a massa de informações sobre este momento desafortunado da vida nacional”.

Silveira, por sua vez, testemunha:

“De todos os livros que li sobre este tema (o papel da imprensa na derrubada do governo Goulart), nenhum, tem a profundidade deste. Mesmo agora, depois da redemocratização e da liberdade de imprensa, em que o jornal pode opinar nos editoriais e nos destaques, eles operam em coro, principalmente no enfoque do noticiário”.
E cita um exemplo: “Nas páginas (de nossos jornais contemporâneos), a Guerra Fria continua.

O Irã não pode enriquecer urânio porque o único país que jogou duas bombas sobre população desarmada, veta. Todos jornais acompanham”.

Este livro de Aloysio Castelo de Carvalho vem acompanhado de CD com fac-similes de matérias publicadas nos veículos estudados, entre 22 de outubro de 1963 e 19 de março de 1964.

‘O Caso Última Hora e o Cerco da Imprensa ao Governo Vargas’, publicado dois anos depois (2012) de ‘A Rede da Democracia’ é fruto de tese de doutorado, defendida por Carvalho na USP, em 2000, sob orientação da professora Maria Aparecida de Aquino, ela mesma autora de um livro (Caminhos Cruzados: Imprensa e Estado Autoritário no Brasil – 1964-80), no qual estudou jornais como UH e Estadão.
A “orelha” do livro-tese de Carvalho traz texto de Alberto Dines.

Dines, que comanda o Observatório da Imprensa, na TV Brasil (todas as terças-feiras, 20h), escreve (depois de relembrar as inovações trazidas pelo Diário Carioca, em 1952, e pelo Jornal do Brasil, 1956):

“Na fase imediatamente anterior, está o lançamento de dois vibrantes vespertinos (A Tribuna da Imprensa, em 1949, e a Última Hora, em 1951), que se tornarão vetores deste apaixonante relato de Aloysio Castelo de Carvalho, dirigidos por dois extraordinários profissionais, ex-amigos e ex-camaradas (Carlos Lacerda, Samuel Wainer), que a paixão política e a Guerra Fria converterão em ferozes adversários”.

Vale registrar que o professor Aloysio Castelo de Carvalho, doutor em História Social pela USP, conhece o ofício de jornalista como poucos e foi coordenador de informação da CBN, no Sistema Globo de Rádio.

‘Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter’

‘Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter’, de Samuel Wainer.
A primeira edição, com coordenação editorial de Augusto Nunes, saiu em 1987, pela Record.
Ou seja, sete anos depois da morte do jornalista, que deixou seu depoimento gravado em diversas fitas.
A Record lançou 10 reimpressões do livro.
O prefácio, como pedira o editor de UH, trazia a assinatura de Jorge Amado.

Em 2005, a Editora Planeta assumiu o livro e relançou-o com maior apuro gráfico e revelando segredo que Wainer pedira que só viesse a público depois de certa quantidade de anos: ele nascera, sim, na Bessarábia (na época território russo, hoje parte da Romênia).
O nome do livro sofreu leve modificação: ‘Samuel Wainer – Minha Razão de Viver – Autobiografia’.

Wainer narra sua história como menino de família judia pobre, radicado no Bom Retiro paulistano, que se tornou jornalista e conheceu fama nacional ao entrevistar, em fevereiro de 1949, o ex-ditador Getúlio Vargas.
O político gaúcho prometia regressar ao cargo de presidente da República (De Vargas para Wainer: “Voltarei como líder de massas”) disputando o cargo nas eleições de outubro de 1950.
Foi eleito, tomou posse em janeiro de 1951 e “saiu morto” (dissera a Wainer: “Só morto saio do Catete”) do palácio presidencial, em agosto de 1954, antes de completar seu mandato.
Acuado por forças lideradas por Carlos Lacerda, “o Corvo”, Vargas suicidou-se.
O livro mostra que, empossado, Vargas ajudou Wainer a viabilizar, via empréstimo do Banco do Brasil, o diário Última Hora, um “jornal vibrante, uma arma do povo”.

No dia em que Última Hora noticiou a morte de Getúlio Vargas, 800 mil exemplares foram vendidos (há foto no livro que mostra populares disputando um exemplar).
O próprio Wainer registra, em suas memórias, o que ouvira de seu chefe de oficina: “No Brasil, jornal que passasse dos 15 mil exemplares virou macho”.
Defensor atuante do monopólio do petróleo (e da criação da Petrobrás), UH cresceu bastante.
E causou grande incômodo aos opositores de Vargas.
Até CPI foi instalada para investigar os capitais que possibilitaram sua afirmação.

No Governo Goulart, Última Hora continuou crescendo e incomodando seus adversários (com Lacerda sempre à frente).
O jornal definhou com o triunfo do golpe de 64.
Suas edições carioca e paulista ganharam sobrevida com outros proprietários.
Mas nos anos de 1970, o jornal era uma sombra do que fora outrora.

Na página 278, Wainer conta que um coronel do Exército, insatisfeito com Prá Não Dizer Que Não Falei das Flores (1968), de Geraldo Vandré, promoveu um concurso de poesias que servissem de resposta ao compositor.
Oito mil aspirantes mandaram seus versos.

UH publicou o soneto vencedor, de autoria de um tal Bastos.
Wainer tinha opinião formada sobre o que sairia na capa de seu combalido jornal:
“um soneto primário, uma coisa ridícula”, que versejava: “Tu, Vandré, que andas pela noite no chopinho do Castelinho, que sabes de nossa Pátria?”.
O texto saiu na capa do jornal, que ao longo dos anos 1950 e, até 1964, estivera na vanguarda da imprensa brasileira.
Todas as edições do livro (da Record e da Planeta) estão esgotadas.

‘Jornalistas e Revolucionários – Nos Tempos da Imprensa Alternativa’

‘Jornalistas e Revolucionários – Nos Tempos da Imprensa Alternativa’ – De Bernardo Kucinski.
Primeira edição, pela Scritta, em 1991.
Segunda edição revista, ampliada e fartamente ilustrada, pela EdUSP (2003).
As duas edições estão esgotadas.
Este livro é fruto de tese de doutorado, defendida pelo jornalista e cientista político, Bernardo Kucinski, na USP.

O pesquisador recupera a memória de importante período da imprensa brasileira, aquele em que circularam jornais como O Pasquim, Opinião, Movimento, Coojornal, Versus, Em Tempo, entre outros vinculados ou não a partidos políticos de esquerda.
Todos foram implantados em tempo de dura censura à imprensa imposta pela ditadura militar (1964-1984).

Bernardo Kucinski foi jornalista ativo nos jornais Opinião, Movimento e Em tempo.
Hoje é professor da USP.
Foi assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro governo (2002-2006).

‘A Regra do Jogo’, de Cláudio Abramo

‘A Regra do Jogo’, de Cláudio Abramo (Companhia das Letras, 1988) – Coletânea de textos e depoimentos do jornalista Cláudio Abramo (1923-1987), organizada por seu filho, Claudio Weber Abramo.
Integrante de uma família de artistas e intelectuais de esquerda, de origem italiana (a atriz Lélia Abramo, o gravador Lívio Abramo), Cláudio participou da renovação gráfica de O Estado de S. Paulo (1952-1963) e da Folha de S. Paulo (1975-1979).

O livro tem prefácio de Mino Carta, criador do Jornal da República, de curta duração, e da revista Carta Capital – nas bancas, primeiro mensalmente, depois semanalmente, há 20 anos, já beirando as 800 edições.

(http://www.brasildefato.com.br/node/27530)
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    ricardo silveira

    Obrigado pelas informações bibliográficas.

FrancoAtirador

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Digamos que a Ditadura Militar (1964/1985) moldou politicamente o Brasil,

preparando o terreno para que o Neoliberalismo moldasse economicamente o País,

concluindo um ciclo de aculturamento do qual a Rede Globo foi protagonista.
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FrancoAtirador

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O GOLPE NO UCRANISTÃO

O que houve na Ucrânia?

Na Ucrânia houve de tudo, menos uma revolução popular.
Três grandes jogadores estão assentados neste terreno:
a Rússia, a União Europeia e os EUA.

Por Flávio Aguiar, na Carta Maior (*)

Na Ucrânia houve de tudo, menos uma revolução popular.

Tudo começou com uma série de manifestação empilhadas umas sobre as outras: uma juventude ansiosa por se identificar com a União Europeia, uma classe média cansada pelas sucessivas vagas de corrupção dos sucessivos governos, uma insatisfação com o autoritarismo e o fechamento do governo de Viktor Yanukovitch, o desejo de maior ascendência de grupos do oeste do país em detrimento de grupos do leste do país.

A repressão que o governo desencadeou abriu caminho para uma intensificação do descontentamento, açulado pelos partidos de oposição representados no Parlamento e pelo encorajamento internacional – da União Europeia a políticos norte-americanos, republicanos e democratas. De todos os mais animado foi o senador republicano John McCain, em dezembro, gritando na praça da Independência (Maidan), foco e espaço das concentrações: “O mundo livre está com vocês! A América está com vocês!” Melhor lembrança da Guerra Fria e do dito “A América para os [norte-]americanos” seriam impossível. Como nos velhos “bons” tempos, o alvo continua sendo a Rússia.

No pano de fundo destas confrontações estão as desigualdades do país. O leste e o sul – junto à Rússia e ao Mar Negro são mais desenvolvidos e industrializados do que o oeste, mais pobre. O leste, de um modo geral, tem seu foco econômico voltado para a vizinha Rússia, de que depende o abastecimento de gás do país, vital para a indústria e para o aquecimento durante o rigoroso inverno. Se a Rússia endurecer a questão do fornecimento de gás, cortando-o ou simplesmente cobrando o preço de mercado, a Ucrânia literalmente congela – em todos os sentidos. Entretanto para o oeste, mais próximo da União Europeia, a aproximação com esta significaria em tese uma maior autonomia em relação ao governo central e às demais regiões do país, além de mais oportunidades de colher investimentos. Pelo menos em tese.

Há também a questão do histórico repúdio aos russos, maior no oeste, um repúdio cujas últimas e trágicas edições foram uma relação ambígua – para dizer o mínimo – de movimentos nacionalistas ucranianos com o regime nazista da Alemanha, e um conflito sangrento e frequentemente descrito como “inútil” com o regime soviético. No leste há também um fator étnico: o número de habitantes russos é muito grande, o que mexe com os brios dos movimentos nacionalistas. E é bom lembrar que na Europa, ao contrário da América Latina, nacionalismo é sempre coisa de direita.

Se este é o pano de fundo , deve-se levar em conta o que acontece nos bastidores e também no palco da política ucraniana. Nos bastidores pairam as sombras dos grupos econômicos – assim como na Rússia liderados pelos chamados “oligarcas” – que se formaram depois do desmanche da ex-União Soviética, dos processos de privatização de tudo, feitos a toque de caixa, e da independência. Estes grupos de oligarquias é que dão as cartas – o poder do dinheiro – para os que estão no palco, os políticos e seus partidos.

Entretanto na Ucrânia não houve, pelo menos até o momento, um Vladimir Putin que, na Rússia, digamos, “botou a casa em ordem”, oferecendo aos oligarcas a manutenção de suas fortunas recém feitas (sobretudo durante o governo de Boris Yeltsin) desde que não se metessem em política. Enfiando os principais desobedientes na cadeia ou mandando-os para o exílio – confortável, na verdade – Putin e seu neoczarismo disfarçado de república impuseram uma espécie de “pax romana” em seu território. Na Ucrânia não houve este Putin, mas uma guerra de grupos ora antangônicos, ora aliados, pelas benesses dos oligarcas e pelos espaços de poder, o que conduziu todos a uma política onde alianças ocasionais são apenas passos para uma ideal tomada total do poder, no melhor estilo do “para mim e os meus tudo, para os demais os rigores da lei”. Este foi o conflito que se estabeleceu entre o atualmente já ex-presidente Viktor Yanukovitch e sua maior rival, Yulia Tymoschenko, que já fora primeira-ministra por duas vezes, líder do partido chamado de União de Toda a Ucrânia – Pátria Mãe, diríamos em português, embora em ucraniano seja “Pátria Pai”.

Yanukovitch, chegando à presidência em 2010, ensaiou e pôs em prática uma reforma consitucional para aumentar a concentração de poderes em torno da presidência, alijando os demais partidos – inclusive o do Tymoschenko – até mesmo das suas franjas. E através de denúncias de corrupção e de um julgamento carregado de suspeitas botou Yulia na cadeia. Aqui pode-se ter uma ideia das complicações da política ucraniana. Yanukovitch é visto em geral como próximo da Rússia e Tymoschenko como aliada da União Europeia. Pois o primeiro processo aberto contra ela acusava a ex-primeira ministra de abuso de poder e super-faturamento no contrato de fornecimento de gás para Gazprom, a principal empresa russa do setor e uma das maiores do mundo que, como a Petrobrás, reúne capitais privados mas tem seu controle acionário e de fundos nas mãos do Estado.

Entrementes, o pró-Rússia Yanukovitch se aproximava da União Europeia e aprestava-se a assinar um acordo de livre-comercio com ela. Nesta altura, Moscou acendeu a luz vermelha. Para se entender isto precisamos sair do teatro da política ucraniana e olhar o terreno em volta onde ele está localizado. Três grandes jogadores estão assentados neste terreno, como os bispos de um jogo de xadrez, mais um cavalo que joga com dois deles, contra o terceiro. Os jogadores são a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos, e o cavalo é a OTAN, a aliança militar que teve como principal inimiga a antiga União Soviética e que agora, além de policiar o norte da África e áreas próximas, continua, nem que seja por força do hábito, a cercar seu adversário histórico, atraindo para si os ex-satélites deste.

Os interesses dos Estados Unidos e da UE não são coincidentes na região, pois na atual conjuntura interna de Washington não interessa atiçar o confronto – a não ser na retórica – com a Rússia, devido às necessidades de acertos na Síria, no Irã, etc. Já a UE tem interesse em desembarcar seus avatares dentro do teatro ucraniano, ampliando sua área de influência econômica, seu mercado e suas ‘reformas de austeridade’. Outro fator que complica este movimento é o temor histórico dos EUA de que, mesmo com rivalidades marcantes, a proximidade entre Alemanha e Rússia termine por forjar uma aliança estável e poderosa que desenvolva um outro núcleo regional de poder. Na base de um movimento destes estaria novamente o gás russo, de que a Alemanha já depende e vai depender mais quando – e se – cumprir a promessa de desativar suas usinas nucleares.

De um modo ou de outro, o fato é que a Rússia colocou um sinal de “Pare!” nos movimentos de Yanukovitch: prometeu 15 bilhões de euros em empréstimos quase a fundo perdido – coisa que a UE, às voltas com suas próprias quebradeiras, não tem condições de oferecer à quebrada Ucrânia – baixou ainda mais o preço do gás e pôs à disposição um acordo de livre-comércio consigo mesma, mais outros países da região, ex-repúblicas, como a Ucrânia, da antiga URSS. Yanukovitch, que já estava com a caneta na mão e embarcando para Bruxelas, tampou aquela e desceu do avião. Junto aos projetos de novos capitalistas e da classe média do oeste ucraniano (onde o desemprego também é grande entre os jovens), que já sentiam o doce odor dos euros ao alcance da mão, este recuo foi a gota d’água.

Voltando ao cenário político, a gôta d’água acabou se transformando num mar de sangue. É verdade que as manifestações foram reprimidas duramente pela polícia. Mas rapidamente sua linha de frente e também seu espaço foram ocupados por movimentos de extrema-direita, nacionalistas xenófobos, antirrussos, anti-direitos humanos, anti-imigrantes, antissemitas, anti-etc., tradicionais na Ucrânia. São grupos de combate, armados, que fizeram frente a uma polícia que progressivamente foi se tornando caótica e desorganizada. Estes grupos são ligados, mas não necessariamente subordinados, ao Partido Svoboda, de extrema-direita, que tem representação no Parlamento. Na última semana os confrontos chegaram ao paroxismo.

Na frente de negociação assentaram-se à mesa três ministros de Relações da União Europeia (Alemanha, França e Polônia), Yanukovitch, três partidos de oposição e mais um representante da Rússia. Enquanto isto, na praça em frente, o conflito de agudizou, com armas de fogo de parte a parte, e franco-atiradores que provavelmente eram de ambos os lados, embora a polícia tivesse ainda maior poder de fogo. O resultado foi de centenas de feridos e muitas dezenas de mortos; as cifras destes últimos variavam entre cerca de 50 a mais de 70, com pelo menos 11 policiais. A certa altura o noticiário chegou a informar que 70 policiais tinham sido “sequestrados” pelos “manifestantes”.

Coloquei “manifestantes” agora, logo acima, entre aspas, porque houve um movimento constante por parte da mídia do Ocidente de idealizar o que ocorria na praça principal de Kiev, apresentando os acontecimentos como um confronto desproporcional entre a brutal repressão do governo e os “amantes da liberdade”.

Apesar desta cortina de fumaça, logo começaram a vazar as informações de que estes últimos eram na maioria e na verdadeira verdadeiras gangues neo-fascistas que não aceitavam nenhuma negociação nem nada , a não ser a queda de Yanukokovitch e o afastamento da arqui-inimiga Rússia.

Na mesa de negociação chegou-se a um acordo, envolvendo um recuo nas reformas constitucionais promovidas pelo presidente, eleições em dezembro deste ano e a formação de um governo provisório de coalizão. Mas na praça a força policial vinha recuando cada vez mais diante dos “manifestantes”, a tal ponto que estes ampliaram os espaço sob seu controle, chegando inclusive a tomar as entradas do palácio presidencial. Sentindo-se sem condições de segurança, Yanukovitch deixou a capital em direção ao nordeste do país.

Seguiu-se nesta altura um verdadeiro golpe de estado no novo estilo “legalizado” corrente em várias ocasiões neste século XXI (Honduras, Paraguai, Grécia, Itália…): o Parlamento declarou que Yanukovitch “abandonara o cargo” e destituiu-o da presidência, com vários ex-membros de seu partido bandeando-se para o lado da oposição, antecipando as eleições para maio e libertando Tymoschenko, que já declarou-se candidata.

Que acontecerá no futuro? É uma boa pergunta. Antes de conjeturar, um parêntese: e as Forças Armadas da Ucrânia? Trata-se mesmo de um parêntese. Depois da independência em relação à ex-União Soviética, as FFAA abriram mão do arsenal nuclear que estava acantonado em seu território, passando-o à nova Rússia emergente, e diminuiram seu contingente de quase 800 mil para pouco mais de 300 mil homens. Estão entre a cruz e a caldeirinha, realizando manobras tanto com a Rússia quanto com a OTAN, que já se declarou de braços abertos para receber este novo aliado quando ele quiser aderir. O namoro está no ar, e só não se concretizou por causa da vigilância do chá-de-pera Rússia. Até o momento, pelo menos, as FFAA ucranianas parecem estar olhando para o lado – pois nem mesmo a segurança do presidente foram capazes de garantir.

A este caldo complicado junta-se a ameaça do país rachar em dois (pelo menos): a Criméia já manifestou desejos de se separar do restante do país e pedir sua reintegração à Rússia. E no oeste também há manifestações de separatismo e aproximação com a UE, à revelia das outras regiões.

O que vai acontecer vai depender das mensagens que estarão neste momento sendo trocadas entre Moscou, Washington, Bruxelas, Berlim, Paris e em menor grau outras capitais europeias, como Londres e Varsóvia. Qual será o novo arranjo entre os partidos políticos ucranianos? É uma boa pergunta. Tymoschenko vai mesmo recuperar seu antigo espaço na oposição que liderava, hoje ocupado por Vitali Klitschko, do Partido Democrático Aliança pela Reforma? O Svoboda vai aumentar seu poder de fogo? O que fará Yanukovitch? Os movimentos de trabalhadores, sobretudo no leste, ainda se mantinham a seu favor, embora no momento, com seu enfraquecimento, isto não tenha significado muito no tabuleiro enxadrístico ucraniano. E o que farão os grupos neofascistas que mantém Kiev sob seu controle?

O que estes farão ainda não se sabe. Mas já se sabe o que estão fazendo. No domingo pela manhã (23), enquanto eu redigia estas notas, corria a notícia – em tom discreto, ao lado da retumbância triunfal dada ao discurso de Yulia Tymoschenko na praça da Independência – de que a Embaixada de Israel na Ucrânia emitira um comunicado pedindo que todos os judeus se abstivessem de sair às ruas de Kiev ou até mesmo deixassem a capital, se pudessem, diante dos ataques contra eles que vem se sucedendo e intensificando nas ruas, com espancamentos, perseguições e outras coisas deste tipo.

Como em velhos mas nada bons tempos, brinca-se com fogo por aqui.

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-que-houve-na-Ucrania-/6/30327)

(*) Publicado originalmente no Blog do Velho Mundo, na Rede Brasil Atual.

(http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-do-velho-mundo)
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    FrancoAtirador

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    Mentiras e verdades sobre a situação na Venezuela

    Mídia venezuelana e internacional
    difundem uma versão distorcida dos fatos;
    a aposta da direita é tornar o país ingovernável

    Por Igor Fuser*, no Brasil de Fato

    Nos últimos dias a Venezuela voltou às manchetes dos jornais do mundo devido a uma série de manifestações de rua.

    Abaixo, apresento uma série de mentiras alardeadas pela chamada “grande mídia” e as suas respectivas verdades.

    Mentira: Os opositores saíram às ruas porque estão descontentes com os rumos do país e querem melhorar a situação.

    VERDADE: O que está em curso na Venezuela é o chamado “golpe em câmera lenta”, que consiste em debilitar gradualmente o governo até gerar as condições para o assalto direto ao poder.
    O atual líder oposicionista, Leopoldo López, não esconde esse objetivo, ao pregar aos seus partidários que permaneçam nas ruas até o que ele chama de “La Salida”, ou seja, a derrubada do governo.
    O roteiro golpista, elaborado com a participação de agentes dos Estados Unidos, combina as manifestações pacíficas com atos violentos, como a destruição de patrimônio público, bloqueio de ruas e atentados à vida de militantes chavistas. A mídia venezuelana e internacional tem um papel de destaque nesse plano, ao difundir uma versão distorcida dos fatos.
    A aposta da direita é tornar o país ingovernável.
    Trata-se de criar uma situação de caos até o ponto em que se possa dizer que o país está “à beira da guerra civil” e pedir uma intervenção militar de estrangeiros.
    Outro tópico desse plano é a tentativa de atrair uma parcela das Forças Armadas para a via golpista.
    Mas isso, até agora, tem se mostrado difícil.

    Mentira: A Venezuela é um regime autoritário, que impõe sua vontade sobre os cidadãos e reprime as manifestações opositoras.

    VERDADE: Existe ampla liberdade política no país, que é regido por uma Constituição democrática, elaborada por uma assembleia livremente eleita e aprovada em plebiscito.
    Nos 15 anos desde a chegada de Hugo Chávez à presidência, já se realizaram 19 consultas à população – entre eleições, referendos e plebiscitos – e o chavismo saiu vitorioso em 18 delas.
    Foram eleições limpas e transparentes, aprovadas por observadores estrangeiros das mais diferentes tendências políticas, inclusive de direita.
    O ex-presidente estadunidense Jimmy Carter, que monitorou uma dessas eleições, declarou que o sistema de votação venezuelano é “o melhor do mundo”.
    Esse mesmo sistema eleitoral viabilizou a conquista de inúmeros governos estaduais e prefeituras pela oposição.
    Há no país plena liberdade de expressão, sem qualquer tipo de censura.

    Mentira: Quem está protestando contra o governo é porque “não aguenta mais” os problemas do país.

    VERDADE: A tentativa golpista, na qual se inserem as manifestações da direita, reflete o desespero da parcela mais extremista da oposição, que não se conforma com o resultado das eleições de 2013.
    Esse setor desistiu de esperar pelas próximas eleições presidenciais, em 2019, ou mesmo pelas próximas eleições legislativas, em 2016, ou ainda pela chance de convocar um referendo sobre o mandato do presidente Nicolás Maduro, no mesmo ano.
    Essas são as regras estabelecidas pela Constituição – qualquer coisa diferente disso é golpe de Estado.
    A direita esperava que, com a morte de Chávez, o processo de transformações sociais conhecido como Revolução Bolivariana, impulsionado pela sua liderança, entrasse em declínio.
    Apostava também na divisão das fileiras chavistas, abrindo caminho para seus inimigos.
    A vitória de Maduro – o candidato indicado por Chávez – nas eleições de abril de 2013, ainda que por margem pequena (1,7% de diferença), frustrou essa expectativa.
    Uma última cartada da oposição foi lançada nas eleições municipais de dezembro do ano passado.
    Seu líder, Henrique Capriles (duas vezes derrotado em eleições presidenciais), disse que elas significariam um “plebiscito” sobre a aprovação popular do governo federal.
    Mas os votos nos candidatos chavistas superaram os dos opositores em mais de 10%, e o governo ganhou em quase 75% dos municípios.
    Na época, a economia do país já apresentava os problemas que agora servem de pretexto para os protestos, e ainda assim a maioria dos venezuelanos manifestou sua confiança no governo de Maduro.
    Diante disso, um setor expressivo da oposição resolveu apelar para o caminho golpista.

    Mentira: O governo está usando violência para reprimir os protestos.

    VERDADE: Nenhuma manifestação foi reprimida. O único confronto entre policiais e opositores ocorreu no dia 17 de fevereiro, quando, ao final de um protesto, grupos de choque da direita atacaram edifícios públicos no centro de Caracas, incendiando a sede da Procuradoria- Geral da República e ferindo dezenas de pessoas.
    Nestas últimas semanas, as ações violentas da oposição têm se multiplicado pelo país.
    A casa do governador (chavista) do Estado de Táchira foi invadida e depredada.
    Caminhões oficiais e postos de abastecimento têm sido destruídos.
    Recentemente, duas pessoas, que transitavam de motocicleta, morreram devido aos fios de arame farpado que opositores estendem a fim de bloquear as ruas.

    Mentira: O governo controla a mídia.

    VERDADE: Cerca de 80% dos meios de comunicação pertencem a empresas privadas, quase todas de orientação opositora.
    Mas o governo recebe o apoio das emissoras estatais e também de centenas de rádios e TVs comunitárias, ligadas aos movimentos sociais e às organizações de esquerda.
    Isso garante a pluralidade política e ideológica na mídia venezuelana – algo que, infelizmente, não existe no Brasil, onde a direita controla quase totalmente os meios de comunicação.

    Mentira: Os Estados Unidos acompanham a situação à distância, preocupados com os direitos humanos e os valores democráticos, para que não sejam violados.

    VERDADE: Desde a primeira posse de Chávez, em 1999, o governo estadunidense tem se esforçado para derrubar o governo venezuelano e devolver o poder aos políticos de direita.
    Está amplamente comprovado o envolvimento dos Estados Unidos no golpe de 2002, quando Chávez foi deposto por uma aliança entre empresários, setores militares e emissoras de televisão.
    Desde então, a oposição tem recebido dinheiro e orientação de Washington.

    Mentira: Os problemas no abastecimento transformaram a vida cotidiana num inferno.

    VERDADE: Existe, de fato, a falta constante de certos bens de consumo, como roupas, produtos de higiene e limpeza e peças para automóveis, mas o acesso aos produtos essenciais (principalmente alimentos e medicamentos) está garantido para o conjunto da população.
    Isso ocorre graças à existência de uma rede de 23 mil pontos de venda estatais, espalhados por todo o país, sobretudo nos bairros pobres.
    Lá, os preços são pelo menos 50% menores do que os valores de mercado, devido aos subsídios oficiais.
    É importante ressaltar que o principal motivo da escassez não é nem a inexistência de dinheiro para realizar importações nem a incapacidade do governo na distribuição dos produtos.
    Grande parte das mercadorias em falta são contrabandeadas para a Colômbia por meio de uma rede clandestina à qual estão ligados empresários de oposição.

    Mentira: A atual onda de protestos é protagonizada pela juventude, que está em rebelião contra o governo.

    VERDADE: Os jovens que participam dos protestos pertencem, na sua quase totalidade, a famílias das classes alta e média-alta, que constituem a quarta parte da população.
    Isso pode facilmente ser constatado pela imagem dos estudantes que aparecem na mídia.
    São, quase todos, brancos – grupo étnico que não ultrapassa 20% da população venezuelana, cuja marca é a mistura racial.
    E não é por acaso que os redutos dos jovens oposicionistas sejam as faculdades particulares e as universidades públicas de elite.
    Os jovens opositores são minoria.
    Do contrário, como se explica que o chavismo ganhe as eleições em um país onde 60% da população têm menos de 30 anos?
    Uma pesquisa recente, com base em 10 mil entrevistas com jovens entre 14 e 29 anos, revelou que 61% deles consideram o socialismo como a melhor forma de organização da sociedade, contra 13% que preferem o capitalismo.

    Mentira: A economia venezuelana está em colapso.

    VERDADE: O país enfrenta problemas econômicos, alguns deles graves, como a inflação de mais de 56% nos últimos 12 meses.
    Mas não se trata de uma situação de falência, como ocorre na Europa.
    A Venezuela tem superávit comercial, ou seja, exporta mais do que importa, e possui reservas monetárias para bancar ao menos sete meses de compras no exterior.
    É um país sem dívidas.
    A principal dificuldade econômica é a falta de crédito, causada pelo boicote dos bancos internacionais.

    Mentira: A insegurança pública está cada vez pior.

    VERDADE: A Venezuela enfrenta altos níveis de criminalidade, assim como outros países latino-americanos, inclusive o Brasil.
    Esse tema é uma das prioridades do governo Maduro, que chegou a mobilizar tropas do Exército no policiamento de certas áreas urbanas, com bons resultados.
    A melhoria da segurança pública foi justamente o tema do diálogo entre o governo e a oposição, iniciado no final do ano passado, por iniciativa do presidente.
    O próprio Chávez, em seu último mandato, criou a Polícia Nacional Bolivariana, a fim de compensar as deficiências do aparato de segurança tradicional, famoso pela corrupção.
    Outra estratégia é o diálogo com as “gangues” juvenis a fim de afastá-las do narcotráfico e atraí-las para atividades úteis, como o trabalho na comunidade e a produção cultural.
    A grande diferença entre a Venezuela e o Brasil, nesse ponto, é que lá o combate à criminalidade ocorre num marco de respeito aos direitos humanos.
    A política de segurança pública venezuelana descarta o extermínio de jovens nas regiões pobres, como ocorre no Brasil.

    *Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e do curso de Pós-Graduação em Energia, também da UFABC.
    Doutor em Ciência Políica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2011).
    Mestrado em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação Santiago Dantas (Unesp, Unicamp, PUC-SP) (2005).
    Graduação em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo (1982).
    Reuter Fellow pelo Green College, University of Oxford (1993).
    Autor dos livros “Energia e Relações Internacionais” (Saraiva, 2013), “Petróleo e Poder – O Envolvimento Militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico” (Ed.Unesp, 2008), “Geopolítica – O Mundo em Conflito” (Ed.Salesiana, 2006), “A Arte da Reportagem” (org. Ed.Scritta, 1996) e “México em Transe” (Ed.Scritta, 1995).
    Pesquisador nas áreas de Política Externa Brasileira, Geopolítica da Energia, Política na América Latina e Política Externa dos EUA.
    Experiência de mais de vinte anos como jornalista especializado em Assuntos Internacionais, exercendo o cargo de editor na Folha de S.Paulo, Veja e Época, entre outras publicações.
    Colaborador e membro do Conselho Editorial dos jornais Brasil de Fato e Le Monde Diplomatique Brasil.
    (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4756106U7)

    (http://www.brasildefato.com.br/node/27564)
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