Altamiro Borges: Futricas que custam R$ 1,4 bi em dinheiro público
Tempo de leitura: 3 minDilma em Lisboa e as contas de Aécio
Por Altamiro Borges, em seu blog
Desde sábado (25), a mídia tucana – que no ano passado recebeu mais de R$ 1,4 bilhão em verbas de publicidade do governo federal – não para de falar na tal escala da presidenta Dilma Rousseff em Portugal e do seu jantar em Lisboa. Jornalões e emissoras de rádio e tevê despejam uma overdose de futricas sobre o assunto.
De nada adiantou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, explicar que a escala foi determinada pela aeronáutica por motivos técnicos de segurança e que as despesas foram bancadas pelos integrantes da comitiva presidencial.
De nada adiantou, também, a própria Dilma ter explicado que ela e sua comitiva pagaram a conta no restaurante. O governo alimenta cobras, despejando verbas publicitárias na mídia tucana, e sofre as consequências do seu denuncismo seletivo e da sua escandalização da política. Deve ser masoquismo!Com base neste novo bombardeio da mídia, o seu fiel dispositivo partidário (PSDB, DEM e PPS) tenta fazer a farra com objetivos eleitoreiros. Os tucanos até ingressaram com pedido de apuração dos gastos da viagem no Conselho de Ética da Presidência da República, que nesta quarta-feira (29) considerou a solicitação improcedente.
O ridículo pedido – que se soma às queixas patéticas contra o cartão de natal da presidenta e ao seu pronunciamento de final de ano na tevê – só demonstra o desespero do PSDB, que não tem propostas e conta um cambaleante presidenciável. Por falar nele, Aécio Neves também expressou “indignação com os excessos” da presidenta Dilma em Lisboa. Haja cinismo!
O mineiro é famoso por suas noitadas no Rio de Janeiro, com voos subsidiados pelo Senado. Até os bafômetros da cidade maravilhosa conhecem as suas baladas!Em março de 2013, o Estadão publicou curiosa notinha sobre o “indignado” tucano.
“Representante de Minas, o senador Aécio Neves fez para o Rio de Janeiro 63% das viagens bancadas pela verba de transporte aéreo (VTA) do Senado. Desde o início do mandato, ele pagou com dinheiro público 83 voos, dos quais 52 começaram ou terminaram na capital fluminense. Na maioria dos casos, ele embarca rumo ao Aeroporto Santos Dumont, o mais próximo da zona sul da cidade, onde passou parte da juventude, cursou a faculdade, mantém parentes e costuma ser visto em eventos sociais. O Senado pagou R$ 33,2 mil pelos voos a partir do Rio ou para a capital fluminense. Dos 25 que aterrissaram ali, 22 foram feitos de quinta a sábado; dos 27 que decolaram, 22 saíram entre domingo e terça”.
Ainda segundo a reportagem do jornal serrista, “as passagens de Aécio pelo Rio costumam aparecer em colunas e redes sociais que, não raro, registram sua presença em baladas e eventos cariocas nos fins de semana. Em tom bem-humorado, em 27 de agosto a imprensa do Rio registrou a participação do senador numa celebração do ‘PC (Partido do Chope)’, num bar em Copacabana, três dias antes. O Senado pagou R$ 939 pelo voo entre São Paulo e a cidade naquele dia, uma sexta-feira, e mais R$ 172 pelo trecho Rio-Belo Horizonte na segunda-feira seguinte. De 24 para 25 de novembro de 2011, quinta para sexta, o tucano foi fotografado em casa noturna de São Paulo deixando o aniversário do piloto Dudu Massa, na companhia de uma socialite. No sábado, foi para o Rio com passagem que custou R$ 420 ao Senado”.
A notinha do Estadão, jornal comprometido com o paulista José Serra nas sangrentas bicadas tucanas contra o mineiro Aécio Neves, logo caiu no esquecimento. Não foi manchete nos jornalões e nem motivo de comentários venenosos nos telejornais. Já a notícia sobre a escala da presidenta Dilma em Lisboa virou o principal tema da atualidade.
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Ela deu brecha até para Aécio Neves, “quarto senador do Rio de Janeiro”, como já é conhecido, mostrar sua indignação. Até agora, pelo menos, o grão-tucano FHC não seguiu a trilha da mídia seletiva e evitou tratar do tema do momento.
Ele parece não se embriagar tão facilmente como seu pupilo mineiro e sabe que toda ação gera uma reação.Como antidoto a uma possível recaída do ex-presidente, o jornalista Paulo Moreira Leite até relembrou, “em nome do bom senso e da memória”, uma reportagem publicada pela Agência Brasil sobre a viagem de FHC a Lisboa, em 2002.
O texto relata que “Fernando Henrique Cardoso cumpre agenda privada hoje em Portugal. Durante a manhã ele fará um passeio turístico acompanhado de dona Ruth Cardoso, do embaixador do Brasil em Portugal, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Não há compromissos oficiais no período da tarde”. Na época, a mídia amiga não fez qualquer estardalhaço. Neste caso, dinheiro gasto em publicidade oficial foi bem aplicado!
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Comentários
FrancoAtirador
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MÍDIA BANDIDA DEFLAGRA OPERAÇÃO SALVE ALCKMIN (PSDB-SP)
Rede Globo, Folha, Estadão e Veja bombardeiam Padilha.
Não deram nem tempo do ex-Ministro da Saúde se aprumar.
Manter o Governo do Estado de São Paulo na mão do PSDB
é questão de sobrevivência para a Organização Criminosa.
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Apavorado com a cara-de-pau humana.
como explicar esta radicalização protofascista?
Verdade: yahoo, Brasil 247, Yahoo mulher, estão lotados de gente dessa categoria espiritual.
As escolas paulistas estão devolvendo alunos pra casa por falta de professores. Faltam 40.000, uma cidade. E ninguém se importa.
Apavorado com a cara-de-pau humana.
Desculpe, vergonha de ter uma Agencia desreguladora assim, e um presidente assim,
Amaro Doce
Relato sobre uma viagem de FHC a Portugal, em 2002
Em nome do bom senso e da memória, transcrevo reportagem de doze anos atrás:
FHC CHEGA A LISBOA SEM COMPROMISSOS OFICIAIS NESTE DOMINGO
10/11/2002 – 9h04
Por Paulo Moreira Leite
Lisboa, 10/11/2002 (Agência Brasil – ABr) – O presidente Fernando Henrique Cardoso, cumpre agenda privada hoje em Portugal. Durante a manhã ele fará um passeio turístico acompanhado de dona Ruth Cardoso, do embaixador do Brasil em Portugal, José Gregorio, governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e do senador eleito pelo Ceará, Tassio Geressaiti (PSDB). Não há compromissos oficiais para o período da tarde, às 18h30 (16h30 horário de Brasília) o presidente participa de lançamento de um livro sobre o trabalho da embaixado do Brasil em Portugal na residência oficial do embaixador.
O presidente Fernando Henrique Cardoso iniciou neste sábado a sua última viagem à Europa, como chefe de Estado. Sua primeira escala está sendo em Lisboa (Portugal), onde permanece até 3a feira (12).
Nesta segunda-feira (11) , às 10h30 (11), Fernando Henrique participa da VI Cimeira Brasil-Portugal, no centro cultural de Belém. Com objetivo de avaliar as relações bilaterais, os chefes de governo dos dois países encontram-se periodicamente nas cimeiras, quando também são assinados acordos que permitam a convivência harmônica entre seus povos. No mesmo dia FHC se encontra com o presidente português, Jorge Sampaio, que o homenageia com um jantar.
Na 3a feira (12), Fernando Henrique participa de reunião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, a qual preside desde julho último. Após a reunião, ele será homenageado com o prêmio Personalidades do Ano, na Câmara de Comércio Luso-Brasileira. No mesmo dia, Fernando Henrique deve participar da exposição sobre o presidente Juscelino Kubistcheck no Espaço Cultural do Chiado. Ainda há a possibilidade do presidente discursar no encerramento de um seminário sobre investimentos no Brasil.
Durante a viagem a Portugal, o presidente volta a se encontrar com José Gregori, que ocupa a embaixada brasileira naquele país desde que deixou o ministério da Justiça, em outubro do ano passado. Acompanham o presidente na escala portuguesa os ministros Celso Lafer (Relações Exteriores), Francisco Weffort (Cultura) e Sérgio Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), além do diretor-geral do departamento da Europa do ministério das Relações Exteriores, Marcelo de Andrade de Moraes Jardim.
De Lisboa, o presidente segue para o Reino Unido, onde recebe mais uma homenagem, desta vez da tradicional Universidade de Oxford. Sua chegada à cidade britânica está prevista para o final da manhã de 4a feira (13). Neste dia, o presidente faz uma palestra no Saint Anthony’s College e depois participa de jantar com intelectuais britânicos. No dia seguinte, às 14 horas (horário local), recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Oxford, onde também visita o centro de estudos brasileiros do campus.
Nesta parte da viagem, a única mudança na comitiva presidencial será a presença do embaixador do Brasil no Reino Unido, Celso Luiz Nunes Amorim. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati, também integram a comitiva.
A segunda fase da viagem será pela América Central. O presidente participa da sua última Cúpula Ibero- Americana na capital da República Dominicana, Santo Domingo. Realizada pela 12a vez, a cúpula tem como tema central o Desenvolvimento Agropecuário, Meio Ambiente e Turismo Sustentáveis. Fernando Henrique e os demais chefes de Estado integrantes da Cúpula ainda concentrarão as discussões em temas específicos como a governabilidade democrática, a segurança regional e cooperação na luta contra o terrorismo e o narcotráfico.
Acompanham o presidente, o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer; o embaixador do Brasil na República Dominicana, Fernando Fontoura, e o subsecretário de Assuntos Políticos Multilaterais do ministério das Relações Exteriores, embaixador Luiz Augusto Saint-Brisson de Araújo Castro. O retorno do presidente a Brasília está prevista para 17 de novembro, pela manhã.
FrancoAtirador
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“A Classe Média opera com Signos de Prestígio.”
Marilena Chauí
(http://www.youtube.com/watch?v=KrN_Lee08ow)
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Fascismo à Brasileira
Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil
que importantes setores da classe média e classe alta
simpatizam com ideais semelhantes aos que formaram
o caldeirão social do fascismo
Por Leandro Dias*, no Pragmatismo Político
Historicamente a adesão inicial ao fascismo foi um fenômeno típico das classes dominantes desesperadas e das classes médias empobrecidas e apenas pontualmente conquistou os estratos mais baixos da sociedade, ideologicamente dominados pelo trabalhismo social-democrata ou pelo comunismo.
Nos mais diversos cantos do mundo, dos nazistas na Alemanha e camisas-negras na Itália, aos integralistas brasileiros e caudilhistas espanhóis seguidores de Franco, as classes médias, empobrecidas pelas sucessivas crises do pós-guerra (1921 e especialmente 1929), formaram o núcleo duro dos movimentos fascistas.
Esse alinhamento ao fascismo teve como fundo principal uma profunda descrença na política, no jogo de alianças e negociatas da democracia liberal e na sua incapacidade de solucionar as crises agudas que seguiam ao longo dos anos 1910, 20 e 30.
Enquanto as democracias liberais estavam estáveis e em situação econômica favorável, com certo nível de emprego e renda, os movimentos fascistas foram minguados e pontuais, muito fracos em termos de adesão se comparados aos movimentos comunistas da mesma época.
Porém, uma vez que a democracia liberal e sua ortodoxia econômica mostraram uma gritante fraqueza e falta de decisão diante do aprofundamento da crise econômica nos anos 1920 e 30, a população se radicalizou e clamou por mudanças e ação.
Lembremos que, quando os nazistas foram eleitos em 1932, a votação foi bastante radical se comparada aos pleitos anteriores; 85% dos votos dos eleitores alemães foram para partidos até então considerados mais radicais, a saber, Socialistas (social-democracia), Comunistas e Nazistas (nacional-socialistas), os dois primeiros à esquerda e o último à direita.
Os conservadores ortodoxos, anteriormente no poder, estavam perdidos em seu continuísmo e indecisão, sem saber o que fazer da economia e às vezes até piorando a situação, como foi o caso da Áustria até 1938, completamente estagnada e sem soluções para sair da crise e do desemprego, refém da ortodoxia de pensadores da escola austríaca, tornando-se terreno fértil para o radicalismo nazista (que havia fracassado em 1934).
Além disso, o fascismo se apresentava como profundamente anticomunista, o que, do ponto de vista das classes dominantes mais abastadas e classes médias mais estáveis (proprietárias) menos afetadas pelas crises, era uma salvaguarda ideológica, pois o “Perigo Vermelho”, isto é, o medo de que os comunistas poderiam de fato tomar o poder, era um temor bastante real que a democracia liberal parecia incapaz de “resolver” pelos seus tradicionais métodos, especialmente após a crise de 1929.
O fascismo desta maneira se apresentou como último refúgio dos conservadores (sejam de classe média ou da elite) contra o socialismo.
Os intelectuais que influenciavam os setores sociais menos simpáticos ao fascismo, o viam como um mal menor “temporário” para proteger a “boa sociedade” das “barbáries socialistas”, como o guru liberal Ludwig von Mises colocou, reconhecendo a fraqueza da democracia liberal face ao “problema comunista”:
“Não pode ser negado que o Fascismo e movimentos similares que miram no estabelecimento de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que suas intervenções, no momento, salvaram a civilização européia. O mérito que o Fascismo ganhou por isso viverá eternamente na história. Mas apesar de sua política ter trazido salvação para o momento, não é do tipo que pode trazer sucesso contínuo. Fascismo é uma mudança de emergência. Ver como algo mais que isso, seria um erro fatal”. (L. von Mises, Liberalism, 1985[1927], Cap. 1, p. 47).
Além da descrença na política tradicional e do temor do perigo vermelho num cenário de crise, houve ainda uma razão fundamental para as classes médias adentrarem as fileiras do fascismo:
o medo do empobrecimento e a perda do status social.
Esse sentimento – chamado de declassemént ou declassê no aportuguesado, algo como ”deixar de ser alguém de classe” – remetia ao medo de se proletarizar e viver a vida miserável que os trabalhadores, maior parte da população, viviam naquela época.
Geralmente associava-se ao receio de que o prestígio social ou o reconhecimento social por sua posição econômica esmorecessem, mesmo para pequenos proprietários e profissionais liberais sem títulos de nobreza (ver Norbet Elias, Os Alemães).
Esse medo entra ainda no contexto de uma evidente rejeição republicana, uma reação conservadora do etos nobiliárquico que dominava as classes altas e parte das classes médias urbanas nos países fascistas, à consolidação dos ideais liberais (mais igualitários) na estrutura social de poder e de privilégios, isto é, na tradição social aristocrática.
Não foi por acaso que o fascismo foi uma força política exatamente onde os ideais liberais jamais haviam se arraigado, como Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Brasil.
Por fim, cumpre lembrar que os fascistas apelam à violência como forma de ação política.
Como disse Mussolini: “Apenas a guerra eleva a energia humana a sua mais alta tensão e coloca o selo de nobreza nas pessoas que têm a coragem de fazê-la” (Doutrina do Fascismo, 1932, p. 7).
A perseguição sem julgamento, campos de trabalho e autoritarismo não só vieram na prática muito antes do genocídio e da guerra, mas também já estavam em suas palavras muito antes de acontecerem.
No discurso e na prática, a sociedade é (ou destina-se) apenas para aqueles que o fascista identifica como adequados; há um evidente elitismo e senso de pertencimento “correto” e “verdadeiro”, seja uma concepção de nação ou de identidade de raça ou grupo.
E essa identidade “verdadeira” será estabelecida à força se preciso.
Mas porque estamos falando disso?
Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil que importantes setores da classe média e classe alta simpatizam com ideais semelhantes aos que formaram o caldeirão social do fascismo?
Vimos em texto recente (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/brasil-elite-e-capitalismo.html)
que a sociedade brasileira, em particular a classe média tradicional e a elite, carrega fortes sentimentos anti-republicanos (ou anticonstitucionais), herdados de nossa sucessão de classes dominantes sem conflito e mudança estrutural, sem qualquer alteração substancial de sua posição material e política, perpetuando suas crenças e cultura de Antigo Regime.
Privilégios conquistados por herança ou “na amizade”, contatos pessoais, indicações, nepotismos, fiscalização seletiva e personalista; são todas marcas tradicionais de nossa cultura política.
A lei aqui “não pega”, do mesmo jeito que para nazistas a palavra pessoal era mais importante que a lei.
Há um paralelo assustador entre a teoria do ‘fuhrerprinzip’ (http://en.wikipedia.org/wiki/Fuhrerprinzip)
e a prática da pequena autoridade coronelista, à revelia da lei escrita, presente no Brasil.
Talvez por isso, também tenhamos, como a base social do fascismo de antigamente, uma profunda descrença na política e nos políticos. Enojada pelo jogo sujo da política tradicional, das trocas de favores entre empresas e políticos, como o caso do Trensalão ou entre políticos e políticos, como os casos dos mensalões nos mais variados partidos, a classe média tradicional brasileira se ilude com aventuras políticas onde a política parece ausente, como no governo militar ou na tecnocracia de governos de técnicos administrativos neoliberais.
Ambos altamente políticos, com sua agenda definida, seus interesses de classe e poder, igualmente corruptos e escusos, mas suficientemente mascarados em discursos apolíticos e propaganda, seja pelo tecnicismo neoliberal ou pelo nacionalismo vazio dos protofascistas de 1964, levando incautos e ingênuos a segui-los como “nova política” messiânica que vai limpar tudo que havia de ruim anteriormente.
Por sua vez, como terceiro ponto em comum, partes das classes médias tradicionais e a elite tem um ódio encarnado de “comunistas”, e basta ler os “bastiões intelectuais” da elite brasileira, como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino ou Olavo de Carvalho ou mesmo porta-vozes do soft power do neoconservadorismo brasileiro, como Lobão e Rachel Sherazade.
É curioso que o mais radical deles, Olavo de Carvalho, enxergue “marxismo cultural” em gente como George Soros (mega-especulador capitalista), associando-o ao movimento comunista internacional para subjugar o mundo cristão ocidental.
Esse argumento em essência é basicamente o mesmo de Adolf Hitler:
o marxismo e o capital financeiro internacional estão combinados para destruir a nação alemã (Mein Kampf, 2001[1925], p. 160, 176 e 181).
E, ainda, somam-se a isso tudo o classismo e o racismo elitista evidentes de nossa “alta” sociedade.
Da “gente diferenciada” que não pode frequentar Higienópolis,
passando pelo humor rasteiro de um Gentili,
ou o explícito e constrangedor classismo de Rachel Sherazade (http://www.youtube.com/watch?v=8hZ4cewFSl4),
que se assemelha à “pioneira revolta” de Luiz Carlos Prates (http://www.youtube.com/watch?v=QIKvrC5gOa4) ao constatar que “qualquer miserável pode ter um carro”,
culminando com o mais vergonhoso atraso de Rodrigo Constantino (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/o-rolezinho-da-inveja-ou-a-barbarie-se-protege-sob-o-manto-do-preconceito/) em sua recente coluna, mostrando que nossos liberais estão mais inspirados por Arthur de Gobineau e Herbert Spencer (http://en.wikipedia.org/wiki/Herbert_Spencer#Social_Darwinism)
do que Adam Smith ou Thomas Jefferson.
A elite e a classe média tradicional (que segue o etos da primeira), não têm mais vergonha de expor sua crença no direito natural de governar e dominar os pobres, no “mandato histórico” da aristocracia sobre a patuléia brasileira.
O darwinismo social vai deixando o submundo envergonhado da extrema direita para entrar nos nossos televisores diariamente.
Assim, com uma profunda descrença na política tradicional e no parlamento, somada a um anti-republicanismo dos privilégios de classe e herança, temperados por um anticomunismo irracional sob auspícios de um darwinismo social histórico e latente, aliado a uma escalada punitivista alinhada a “ciência” econômica neoliberal, temos uma receita perigosa para um neofascismo à brasileira.
Porém, antes que corramos para as montanhas, falta um elemento fundamental para que esse caldeirão social desemboque em prática neofascista real: crise econômica profunda.
Apesar do terrorismo midiático, nossa sociedade não está em crise econômica grave que justifique esta radicalização filo-fascista recente.
Pela primeira vez em décadas, o país vive certo otimismo econômico e, enquanto no final dos anos 1990, um em cada cinco brasileiros estava abaixo da linha da pobreza, hoje este número é um em cada 11.
A Petrobrás não só não vai quebrar como captou bilhões recentemente.
A classe média nunca viajou, gastou no exterior e comprou tanto quanto hoje, nem mesmo no auge insano do Real valendo 0,52 centavos de dólar.
O otimismo brasileiro (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,taxa-de-otimismo-do-brasileiro-cai-pela-primeira-vez-desde-2009-revela-ibope,1117414,0.htm) está muito acima da média mundial, mesmo que abaixo das taxas dos anos anteriores.
No entanto, apesar de tudo isso, parte das antigas classes médias e elites continuam se radicalizando à extrema direita, dando seguidos exemplos de racismo, intolerância, elitismo, suporte ao punitivismo sanguinário das polícias militares, aplaudindo a repressão a manifestações e indiferentes a pobres sendo presos por serem pobres e negros em shopping centers.
Isso tudo com aquela saudade da ditadura permeando todo o discurso.
Se não há o evidente declassmént, o empobrecimento econômico, ou mesmo um medo real do mesmo, como explicar esta radicalização protofascista?
Não é possível que apenas o tradicional anti-republicanismo, o conservadorismo anti-esquerdista e o senso de superioridade de nossas elites e classes médias tradicionais sejam suficientes para esta radicalização, pois estes fatores já existiam antes e não desencadeavam tamanha excrescência fascistóide pública.
Não.
O Brasil vive um fenômeno estranho.
As classes médias tradicionais e elite estão gradualmente se radicalizando à extrema direita muito mais por uma sensação de declassmént do que por uma proletarização de fato, causada por alguma crise econômica.
Esta sensação vem, não do empobrecimento das classes médias tradicionais (longe disso), mas por uma ascensão econômica das classes historicamente subalternas.
Uma ascensão visível.
Seja quando pobres compram carros com prestações a perder de vista; frequentam universidades antes dominadas majoritariamente por ricos brancos; ou jovens “diferenciados” e barulhentos frequentam shoppings de classe média, mesmo que seja para olhar a “ostentação”; ou ainda famílias antes excluídas lotando aeroportos para visitar parentes em toda parte.
Nossa elite e antiga classe média cultivaram por tanto tempo a sua pretensa superioridade cultural e evidente superioridade econômica, seu sangue-azul e posição social histórica; a sua situação material foi por tanto tão sem paralelo num dos mais desiguais países do mundo, que a mera percepção de que um anteriormente pobre pode ter hábitos de consumo e culturais similares aos dela, gera um asco e uma rejeição tremenda.
Estes setores tradicionais, tão conservadores que são, tão elitistas e mal acostumados que são, rejeitam em tal grau as classes historicamente humilhadas e excluídas, “a gente diferenciada” (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/etnografia-do-201crolezinho201d-8104.html) que deveria ter como destino apenas à resignação subalterna (“o seu lugar”), que a ascensão destes “inferiores” faz aflorar todo o ranço elitista que permanecia oculto ou disfarçado em anti-esquerdismo ou em valores familiares conservadores.
Não há mais máscara, a elite e a classe média tradicional estão mais e mais fazendo coro com os históricos setores neofascistas, racistas e pró-ditadura.
Elas temem não o seu empobrecimento de fato, mas a perda de sua posição social histórica e, talvez no fundo, a antiga classe média teme constatar que sempre foi pobre em relação à elite que bajula, e enquanto havia miseráveis a perder de vista, sua impotência política e vazio social, eram ao menos suportáveis.
*Leandro Dias é formado em História pela UFF e editor do blog Rio Revolta. Escreve mensalmente para Pragmatismo Politico.
Texto revisado por Carolina Dias
(http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/01/fascismo-brasileira.html)
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Luís Carlos
Bom texto. Obrigado pela leitura FrancoAtirador.
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