A “bomba” contra Dilma teve impacto nulo
08 de Setembro de 2010
Por Marcos Coimbra*
No Correio Braziliense, reproduzido pelo DIAP
Quem, nas duas últimas semanas, leu os colunistas dos “grandes jornais” (os três maiores de São Paulo e Rio) deve ter notado a insistência com que falaram (ou deixaram implícito) que as eleições presidenciais não estavam definidas.
Contrariando o que as pesquisas mostravam (a avassaladora dianteira de Dilma), fizeram quase um coro de que “nada era definitivo”, pois fatos novos poderiam alterar o cenário.
Talvez imaginassem (desconfiassem, soubessem) que uma “bomba” iria explodir. Tão poderosa que mudaria tudo. De favorita inconteste, Dilma (quem sabe?) desmoronaria, viraria poeira.
Veio o fato novo: o “escândalo da Receita”. Durante dias, foi a única manchete dos três jornais. É muito? Certamente que sim, mas é pouco, em comparação ao auxílio luxuoso da principal emissora de televisão do país.
Fazia tempo que um evento do mundo político não ganhava tanto destaque em seus telejornais. Houve noites em que recebeu mais de 10 minutos de cobertura (com direito a ser tratado com o tom circunspecto que seus apresentadores dedicam aos “assuntos graves”).
Hoje, passados 15 dias de quando “estourou” o “escândalo”, as pesquisas mostram que seu impacto foi nulo. A “bomba” esperada pelos que torciam pelo fato novo virou um traque.
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Por mais que os “grandes” jornais tenham se esforçado para fazer do “escândalo da Receita” um divisor de águas, ele acabou sendo nada. Tudo continuou igual: Dilma lá na frente, Serra lá atrás.
Tivemos, nesses dias, uma espécie de dueto: um dia, essa imprensa publicava alguma coisa; no outro, a comunicação da campanha Serra a amplificava, dando-lhe “tom emocional”. No terceiro, mais um “fato” era divulgado, alimentando a campanha com um novo conteúdo. E assim por diante.
Um bom exemplo: o “lado humano” da filha de Serra ser alvo dos malfeitores por trás do “escândalo”. Noticiado ontem, virou discurso de campanha no dia seguinte, com direito a tom lacrimejante: “estão fazendo com a filha do Serra o mesmo que fizeram com a filha do Lula”.
Há várias razões para que a opinião pública tenha tratado com indiferença o “escândalo”. A primeira é que ele, simplesmente, não atingiu a imensa maioria do eleitorado, por lhe faltarem os ingredientes necessários a se tornar interessante.
O mais óbvio: o que, exatamente, estava sendo imputado a Dilma na história toda? Se, há mais de ano, alguém violou o sigilo tributário de Verônica Serra e de outras pessoas ligadas ao PSDB, o que a candidata do PT tem a ver com isso? É culpa dela? Foi a seu mando? Em que sua candidatura se beneficiou?
A segunda razão tem a ver, provavelmente, com a dificuldade de convencer as pessoas que o episódio comprove o “aparelhamento do Estado pelo PT” ou, nas palavras do candidato tucano, a “instrumentalização” do governo pelo partido. Será que é isso mesmo que ele revela?
Se a Receita Federal fosse “aparelhada” ou “instrumentalizada”, por que alguém, a mando do PT (ou da campanha), precisaria recorrer a um estratagema tão tosco? Por que se utilizaria dos serviços de um despachante, mancomunado com funcionários desonestos? Não seria muito mais rápido e barato acessar diretamente os dados de quem quer que seja?
Não se discute aqui se alguém quis montar um dossiê anti-Serra ou se ele chegou a existir. Sobre isso, sabemos duas coisas: 1) é prática corrente na política brasileira (e mundial) a busca de informações sobre adversários, que muitas vezes ultrapassa os limites legais; 2) o tal dossiê nunca foi usado. As vicissitudes da candidatura Serra ao longo da eleição não têm nada a ver com qualquer dossiê.
O próprio “escândalo” mostra que a Receita Federal possui sistemas que permitem constatar falhas de segurança, rastrear onde ocorrem e identificar responsáveis. É possível que, às vezes, alguém consiga driblá-los. No caso em apreço, não.
No mundo perfeito, a Receita é inexpugnável, não existem erros médicos na saúde pública, todos os professores são competentes, não há guardas de trânsito que aceitam uma “cervejinha”. Na vida real, nada disso é uma certeza.
Todos esperam que o governo faça o que deve fazer no episódio (e em todas as situações do gênero): investigue as falhas e puna os responsáveis. Ir além, fazendo dele um “escândalo eleitoral”, é outra coisa, que não convence, pelo que parece, a ninguém.
(*) Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi
Comentários
anita-mg
Está no MSN uma informação de que o PSDB estuda uma forma de blindar AÉCIO NEVES diante das acusações (ou evidências?) de suas ações para quebra de sigilo de pessoas do tucanato que se opunham à candidatura do Neves Júnioir.
Baixada Carioca
É ilário a comemoração da turma do contra porque o tucano mentiroso parou de cair e Dilma perdeu dois pontos.
Agora, dizem, começa um trabalho de recuperação. Será que dá?
sergio
A opinião destoou do resultado exibido na noite. Dois pontos percentuais, mesmo estando dentro da margem de erro, é muita coisa para apenas um dia, onde apenas 1/4 das pesquisas foram trocadas. Torço imensamente para que seja apenas um ponto fora da curva, mas se não for, é sinal que o PIG e a oposição estão conseguindo seu intento em levar esta eleição para o segundo turno. Tudo bem que pelo jeito que capitou os votos foram os indecisos e a Marina Silva. Mas eu acredito piamente que se a Marina crescer a ponto de poder passar para o segundo-turno, o já falecido José Serra abandona o barco e vai tentar transferir o pouco cacife que lhe resta para a Marina.
Baixada Carioca
A Marina nunca passará o tucano mentiroso, sabe por quê Sérgio? O PIG não deixa. Se Marina ameaçar o segundo lugar do careca, aparece um monte de coisa da Marina e ela some do noticiário do PIG (a não ser para notícia negativa). O PIG não perdoa a quem ameace sua posição.
ruypenalva
A pergunta que todos devem se fazer é: Se a Verônica fosse ficha limpa estaria alguém interessado no sigilo dela?
Coimbra: Jornais se esforçaram para fazer do ‘escândalo da Receita’ um divisor de água | Maria Frô
[…] No Correio Braziliense, reproduzido do Viomundo […]
ruypenalva
Os jornais da Globo hoje são todos sincronizados com a propaganda do Serra. Por certo que existe um público incauto a quem eles se dirigem (Serra e a Globo) senão não estariam repisando uma matéria tão inverossímel. Certamente atingirão gente da classe B e A, mas não penetrarão nas classes C, D. Houve, isso é inegável, uma certa moleza da parte do Lula em combater o poder da Globo. A Globo continua onipotente, distorcendo, editando, difamando, criando ídolos de pés de barro e o PT não enfrentou essa que é uma batalha crucial. Eu penso que se o PT e o Lula não der nomes aos bois, Globo, Imprensa, PIG, Dilma poderá perder uns pontinhos, embora ainda vença.
Jairo_Beraldo
Desculpe Professor, mas discordo da sua colocação. Nulo = 0. E o impacto não poderia ser ZERO, já que Dilma subiu 5 pontos e Serra desceu 8 pontos, numeros identificados pelo IG/BAND/VOXPOPULI.
Mônica Rangel
Geente! A "bomba" saiu hoje na revista: "FHC DIZ QUE A CAMPANHA DE SERRA NUNCA ESTEVE SINTONIZADA COM O POVO!" Hum…que "revelação bombástica",hein?! ÃAAhh…
Jairo_Beraldo
Não é por acaso que é o "Principe dos Sociólogos Brasileiros".
Jose Emilio G. Lages
O mais surpreendente dessa história toda, oa vazamentos na receita federal, é que quando o Serra estava na liderança das pesquisas , nunca se falou nesse assunto. Agora como as perspectivas do voto vão se minguando eles aparecem com esse alvoroço todo. Vá fazer comício tucanada! Vá encher as praças desse país à caça de votos, parem com esse negócio de tapetão. Ou vocês não consequer colocar o povo numa praça? Já dizia minha vó e outras pessoas, quem não tem competência, não se estabeleça!
Dartalian
Parabenizo o Escritor pelo excelente texto.
Dilma em frente e prá cima sempre.
Vamos vencer no primeiro turno e de goleada.
Nós Brasileiros e Brasileiras merecemos continuar sendo felizes, sem privatizações, sem revanchismos, sem mágoas, enfim sem medo de sermos felizes.
Daratalian
Fernando da Silva
Pelo menos alguém que não chame o eleitor de idiota. Artigo simples, direto e verdadeiro, tudo que os "kombistas" não gostariam de ler.
CabraL ObseVadoR
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O Que o PIG não entendeu ou não quer acreditar é que o povo aprendeu. O Brasil de Hoje com alguma exceção no Estado de São Paulo tem uma realidade muito superior, mesmo tendo passado pelas crises e Golpes baixos que sofreu somados a uma oposição raivosa.
Mas tudo passa, só não esta melhor pelo fato da nossa candidata esta cansada devido a intensa maratona pelo nosso pais e picuinhas esperadas dos adversários. De mais é só alegria o nascimento de seu neto, a militância, as pesquisas…
Aproveito para parabenizá-los.
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grima grimaldi
Sou videomaker faz 26 anos e além de muitas campanhas diretamente na direção de PGMs conheço a raça. nesses 26 anos TB dirigi PGMs e document;arios para TV aberta e TV a cabo sempre como frila. Na TV Cultura em 2002 me ofereceram emprego fixo com carteira assinada para ser diretor fixo na emissora e não aceitei. Nunca quiz ter como patrões essa turma dona da grande midia. O filho do da RBS afiliada dda Globo junto com outro coleguinha embebedaram uma menina de 14 anos e a estruparam Até a ANJ jogou para debaixo do tapete. Perguntinha: e se fosse um parente do Lula ou da Dilma? nem preciso responder.
Ricardo Valentim
Verdade absoluta, o texto.
Os perdedores são assim.
Será muito bom que depois das eleições isso seja levado em consideracão.
Manoel Stone
Acredito que o pó seria mais pó se alguém viesse a publico e explicasse com provas que esse fato é prática contumaz e corriqueira. Colocando até declarações do Sr. Serra sobre o assunto. Vi em outro blogg v[ídeo dele falando na maior simplicidade que isso não tem relevancia e é impossivel de acabar.
O grande público deveria ver esse vídeo com as declarações do hoje tão magoado e sofrido Serra.
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