Empresa demite quatro grevistas e diz que não foi por causa da greve
Tempo de leitura: 4 minJustiça do Trabalho julgará demissões de jornalistas no Pará
16/12/2013 | Brasil
sugerido pela Amanda Aguiar, no Facebook
Rede Brasil Amazônia de Comunicação, grupo da família Barbalho, demitiu quatro profissionais que ajudaram a organizar greve histórica em setembro
Está marcada para esta terça, 17 de dezembro, às 8h45, na 5ª Vara do Trabalho de Belém, a audiência na ação coletiva ajuizada pelo Sindicato dos Jornalistas do Pará contra a Rede Brasil Amazônia de Comunicação – que inclui os veículos Diário do Pará, Diário Online (DOL) e RBA TV. O grupo, O grupo, fundado e administrado pela família Barbalho, demitiu os jornalistas Amanda Aguiar, Felipe Melo, Cris Paiva e Adison Ferrera – os quatro profissionais ajudaram a organizar a histórica greve dos jornalistas realizada no mês de setembro.
Os desligamentos ocorreram imediatamente após o período de estabilidade firmado no acordo coletivo que marcou o fim do movimento paredista. Há, portanto, claros indícios de que se trata de perseguição.
Minimizando o caso, em entrevista ao Portal Imprensa, o diretor-geral do grupo afirmou que as demissões constituem uma decisão meramente administrativa e negou que tenham sido motivadas pelo sentimento de vingança. Camilo Centeno disse que estas são acusações “totalmente infundadas”. “O grupo tem mais de 800 pessoas, estamos falando de quatro demissões. O número é absurdamente ridículo, é mínimo. É uma rotina, a empresa faz os ajustes conforme a necessidade dela. São ex-funcionários que por algum motivo não interessavam mais à gerência, não entendo essa ideia de retaliação”, disse.
Os quatro jornalistas foram desligados no dia 18 de novembro. Como agravante, as condições em que foram realizadas as demissões: no hall de entrada da empresa. Os trabalhadores foram impedidos de adentrar o prédio, submetidos à assinatura dos documentos no balcão de recepção, em uma situação vexatória.
ASSÉDIO
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As perseguições no grupo RBA começaram muito antes das demissões dos jornalistas Amanda Aguiar, Felipe Melo, Cris Paiva e Adison Ferrera. Antes de iniciado o movimento paredista, a própria Cris Paiva, então produtora da TV RBA, foi dispensada sem justa causa após divulgar seu contra-cheque numa rede social, em meio ao início da campanha Jornalista Vale Mais. O caso teve grande repercussão em Belém. Cris foi readmitida – e mandada embora novamente dois meses depois, desta vez, de forma definitiva.
O grupo da família Barbalho também já havia desligado arbitrariamente o jornalista Leonardo Fernandes, repórter no jornal Diário do Pará, tão logo a greve foi anunciada, em 16 de setembro. Leonardo era um dos jornalistas mais engajados na organização do movimento Jornalista Vale Mais.
Na cronologia das retaliações, o retorno dos grevistas ao trabalho foi marcado pela surpresa: todos os jornalistas que aderiram ao movimento foram remanejados para outros horários e editorias, em uma generalizada ‘dança das cadeiras’. Ficou explícita a perseguição quando profissionais do caderno de Cidades foram transferidos para o caderno de Polícia, considerado de menor importância até mesmo pela estrutura dispensada aos profissionais que atuam nessa área, como por exemplo os carros mais sucateados da empresa. Os grevistas ainda perderam o direito de assinar os próprios textos – mesmo que eles rendessem páginas inteiras e manchetes de capa. Cada editor dava uma explicação diferente para o fato. Também há suspeita de que a empresa tenha pago uma “bonificação” de R$ 300 para os funcionários que não aderiram à greve. O assédio moral tem se tornado ainda mais intenso na redação do Diário Online.
MOBILIZAÇÃO
No dia 20 de novembro, um ato público realizado em frente à sede da empresa, em uma das vias de maior circulação da capital paraense, reuniu jornalistas, movimentos sociais e demais apoiadores do movimento ‘Jornalista Vale Mais’ em um manifesto contra o assédio moral e as demissões arbitrárias no grupo RBA.
A campanha teve seguimento no dia 29 de novembro, última sexta-feira do mês, quando foi organizado um “dia de luto” em repúdio a qualquer tipo de perseguição e retaliação a jornalistas do Pará. A ação intitulada ‘Black Friday #JornalistaValeMais’ mobilizou a categoria. Diversos jornalistas compareceram às redações e demais empresas de comunicação vestindo negro.
A ação coletiva ajuizada contra a RBA pede a reintegração dos trabalhadores demitidos e indenização por danos morais – já que o direito de greve é assegurado pela Constituição Federal.
“Os trabalhadores desta empresa se utilizaram de um direito constitucional para garantir melhores condições de trabalho e salários mais dignos, pensando na melhoria da produção e da qualidade da empresa, e também na valorização do profissional jornalista. É inadmissível que o grupo RBA trate os seus funcionários como inimigos e aplique um processo de perseguição contra os que lutaram por melhorias, ferindo o direito de greve”, afirma a comissão de trabalhadores.
SOBRE A GREVE
A greve dos jornalistas do Diário do Pará, Portal Diário Online e TV RBA, no final de setembro, durou uma semana. O acordo entre o Sinjor-PA e o Grupo RBA, que viabilizou o retorno ao trabalho, assegurou a elevação do piso salarial da categoria de R$ 1.000,00 para R$ 1.300,00 a partir do dia 1º de outubro, com nova atualização para R$ 1.500,00 em abril de 2014. Assegurou, também, a estabilidade no emprego por 45 dias e o pagamento dos dias parados. Os grevistas também garantiram equipamentos de segurança para equipes que cobrem a editoria de polícia e distribuição de botas, capas e guarda-chuvas para todos os jornalistas da empresa.
SAIBA MAIS
Audiência na ação coletiva ajuizada pelo Sindicato dos Jornalistas do Pará contra a Rede Brasil Amazônia de Comunicação. Nesta terça, 17 de dezembro, às 8h45, na 5ª Vara do Trabalho de Belém (travessa Dom Pedro I, 750, bairro do Umarizal).
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Comentários
Joselio Assunção
Trabalhador não é e não pode ser tratado como mercadoria. É ser humano dotado de personalidade e sentimentos. A dignidade da pessoa humana tem que está acima de caprichos e diferenças. Penso que independente de ser público ou privado toda demissão tem que ser justificada de forma plausível. Toda relação social é regida pelo estado e têm que está acima de vontades particulares. Essa relação de mais valia tem que acabar. O lucro não pode a causa maior das empresas.
Leonardo.
Demitir funcionários é um direto sagrado do empregador. Estabilidade no emprego só existe no serviço público e é exatamente por isso que o Brasil nunca fecha suas contas, pois a folha de pagamento de pessoal leva quase 70% de tudo que se arrecada.
No caso em tese, o empregador respeitou o acordo com o sindicato do qual resultou o fim da greve —45 dias—.
Estabilidade no emprego é tão nocivo para a economia que, até CUBA está demitindo cerca de 1,5 milhão de servidores públicos. E olhe que lá, o salário médio de um servidor é de 30 reais/mês.
Urbano
Repercutir o que um ancestral disse lá pelo Século XIX é bem melhor do que forçar os dez neurônios e não sair nada…
renato
Credo!!!!!
Cabe uma investigação e uma nova greve!!!
Apesar que não há ambiente, mas vale o processo.
Rodrigo Leme
Demitidos logo após o período de estabilidade, após participarem de greve. E o indivíduo ainda tem a cara de pau de dizer que não tem nada a ver. Impressionante.
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